quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20103: Dossiê Guileje / Gadamael (33): "Basófia muita, ciência pouca e assistência benévola ou ignorante" (diz o cor art ref Morais da Silva, antigo professor de tiro de artilharia da EPA e da Academia Militar), a propósito da comunicação de Osvaldo Lopes da Silva, apresentada em Coimbra, em 23/5/2013

1. Comentário do cor art ref António Carlos Morais da Silva, membro da nossa Tabanca Grande [, foto atual à esquerda], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972, professor de tiro de artilharia na Escola Prática de Artilharia e da Academia Militar  (*)


A narrativa artilheira deste senhor [Osvaldo Lopes da Silva] é uma salgalhada sem ponta por onde pegar.

"Calcula" coordenadas geográficas de que locais? Das posições? Para quê,  se não as tem do objectivo pois procurou obter orientação azimutal via clarões das bocas de fogo de Guilege?! 

Ligou as posições com uma poligonal?! Como assim? Como define azimutes sem linha de vista? Como calcula distâncias? A passo, a corta-mato?! E como orienta a caminhada? 

Ou também calculou latitudes e longitudes? Apurou a posição relativa das bocas de fogo de Guilege! Para quê? Fazer de cada uma um objectivo?!

Enfim, basófia muita, ciência pouca e assistência benévola ou ignorante. 

O que certamente aconteceu foi ajustar fogos com observação avançada consentida pelo "recolhimento" das NT.  Assim aconteceu em Fevereiro de 71, em Gadamael, mas felizmente os intervenientes na observação e no cálculo eram analfabetos na direcção do tiro. Tomadas medidas de interdição,  nunca mais o conseguiram fazer,  passando a executar fogos escalonados em alcance (tiro rolante). 

Na Guiné, as artilharias das NT e do IN eram baratas tontas que actuavam por "intuição" a partir do som e do conhecimento do terreno (quem o conhecia a palmo). 

Muitas vezes pedi ao meu Cmdt-Chefe que me arranjasse um radar contra-morteiro e o problema da artilharia IN era assunto arrumado. Infelizmente nunca recebi o "presente".

Morais da Silva
Coronel de Artilharia
Professor de tiro de Artilharia na EPA [Escola Prática de Artilharia] e na Academia Militar

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 27 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20100: Dossiê Guileje / Gadamael (32): O texto, inédito, de Osvaldo Lopes da Silva, um dos principais cérebros da Op Amílcar Cabral; mesa-redonda em Coimbra, 23/5/2013: " O ataque a Gadamael, na sequência da queda de Guileje, não foi a melhor opção. Melhor seria um ataque a Quebo (Aldeia Formosa) com forte pressão sobre Tombali. Com a queda de Guileje, Gadamael tornara-se uma inutilidade que não incomodava a ninguém. A sua guarnição devia ser deixada entregue aos mosquitos e ao tédio."

8 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caro coronel, meu caro professor, camarada, grã-tabanqueiro:

Parece que não é só o Euromilhões que cria "excêntricos", a guerra também. A guerra e a guerrilha e a contra-guerrilha, e muitas outras atividades humanas, da política ao desporto, da arte à cultura...

A "guerra da Guiné" foi fértil em mitos, de um lado e do outro... Limitando.me aos "operacionais", podíamos citar, de cor, o 'Nino' Vieira (comandante de região), o Osvaldo Lopes da Silva (artilharia),o Manecas (Strela), do lado do PAIGC; Alpoim Calvão, Marcelino da Mata, sargento aviador Honório, do lado das NT...

Sem esquecer, o "capitão-diabo", o Teixeira Pinto das "campanhas de pacificação" (1913-1915).

Não fui artilheiro, fui infante, mas gosto de ouvir as lições dos artilheiros para os infantes... Afinal, a guerra é uma arte e uma ciência... Ou é mais arte do que ciência ?

PS - Os académicos também têm culpa na criação de alguns destes mitos... Como vivem, uma boa parte deles, nas "redomas de vidro dos laboratórios sociais", desatam às vezes a falar do sexo dos anjos... Foi por isso que Bizâncio perdeu a guerra contra os otomanos...



António J. P. Costa disse...

Olá António

Venho só recordar-te que os radares contra-morteiro, que já existiam no nosso tempo e poderiam ser comprados no "mercado local" a dinheiro (claro), nunca estiveram nas perspectivas dos nossos bem-amados chefes, mentores, motores e garantes ideológicos.
Eles não acreditavam naquela traquineta que o Exército tinha deixado de usar, mas que os exércitos estrangeiros e fabricantes produziam. E a tua extinta DAA ia por essa ideia, lembras-te?
A compra de uma dessas traquinetas, como calculas, arrastar-se-ia no tempo entre subornos, consultas ao mercado e pareceres "ténicos".
Daí que a necessidade imediata não seria satisfeita.
Além disso era necessário preparar pessoal para operar e isso, como sabes era cá um dificuldade que nem imaginas...
Por outro lado, a guerra tinha de ser barata e um radar contra-morteiro ou um referenciador pelo som ou pela luz (que também tinham existido) custava os olhos da cara ao erário público.
Só o pessoal era (talvez) barato e podia ser rapidamente(?) substituído.
Por acaso, recentemente, descobri que desde os turnos de 1970/71 o pessoal tinha começado a ser artigo crítico, "mas isso são outras lendas, outros mitos e, seguramente outros caminhos da História".
Um Ab. para ti e todos os outros
PK

Anónimo disse...

Rectifico data do ataque a Gadamael: Fevereiro de 1971. As minhas desculpas pelo lapso.
Morais Silva

Anónimo disse...

Caro PK
Na EPA lembro-me de ter visto o material que referes mas nunca operamos com ele. Apareceu por cá graças ao levantamento da divisão SHAPE. Nunca consegui saber porquê não se adquiriu o radar contra-morteiro que pedi, insistentemente, e que teria permitido congelar a ameaça da artilharia do PAIGC sobre as unidades de fronteira na Guiné. "Malhas que o Império tece".

Anónimo disse...

Resposta a PK é do Morais Silva

António J. P. Costa disse...

Oh António!

Porque é que não se comprou? Atão não se vê porquê?
Tazarénar!
Na EPA, até havia folhetos na Secção Técnica (lembras-te?) sobre esse aparelho...
E não era só para ti. As companhias deveriam ter uma traquineta daquelas e devidamente melhorada. Mas não era necessário!
Os PAIGC's atacavam sempre da "bolanha do costume" os nossos quartéis instalados em localidades que vinham no mapa e estavam bem iluminadas, e a malta respondia com brevidade e na direcção devida. Se eles estavam inspirados era uma chatice: caiam todas lá dentro. Se tinham feito uma daquelas preparações topográficas que ouviste descrever ´távamos safos. O resto era com Jesus Cristo.
Já em 1968, Cameconde foi atacada com Mort 120 mm. Ninguém sabia o que era e todos perguntámos a todos donde vinha, até que houve uma que acertou primeiro numa árvore e explodiu quase à superfície do solo. Já se justificava, portanto a distribuição de um aparelho daqueles, só que...
Seria boa ideia termos algo que localizasse as "saídas", mas como não davam, era a olhómetro mão-travessa, como dizia o "Americano" dos motores...
Um Ab.
PK

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caro Morais da Silva, já retifiquei: fevereiro de 1971... Eu, que até fui de armas pesadas de infantaria, em teoria (já que munca exerci), não sabia desse radar anti-morteiro. Aa coisas que a gente aprende com este blogue!

Anónimo disse...

Caro Luís Graça o que me continua a incomodar é não perceber como gente inteligente permitiu que a nossa artilharia na Guiné actuasse como uma "barata tonta".
Notar que o radar, que insistentemente pedi, não só detecta a origem da trajectória dos fogos IN como permite a observação electrónica e consequente ajustamento dos fogos amigos.
Tal como o Strella reduziu a liberdade do nosso movimento aéreo o radar de localização de armas (vulgo contra-morteiro) teria congelado a artilharia do PAIGC.

Morais Silva