sábado, 7 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20128: Os nossos seres, saberes e lazeres (353): Casa da Cerca: a mais bela vista de Lisboa, na outra margem do Tejo (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2019:

Queridos amigos,
À frente deste espantoso projeto esteve uma figura cimeira das Artes Plásticas, Rogério Ribeiro, tive o privilégio de o entrevistar para a colaboração que mantive durante 28 anos no Jornal de Notícias, vi nascer o esplêndido acervo com centenas de obras de arte e alguns dos nomes mais importantes da Arte Contemporânea Portuguesa, aqui tiveram lugar exposições de altíssima qualidade, vi nascer o Jardim Botânico, o Chão das Artes, que tem como missão a exploração da ligação entre a arte e a ciência, possui uma coleção de plantas cujos componentes vegetais são matéria-prima para o fabrico de materiais utilizados na prática artística. E o serviço educativo anda sempre numa dobadoura. O que aqui não fica dito nem mostrado é que a Casa da Cerca tem uma vista esplendorosa, como iremos depois mostrar.

Um abraço do
Mário


Casa da Cerca: a mais bela vista de Lisboa, na outra margem do Tejo (1)

Beja Santos

Regressar à Casa da Cerca, no Almada Velho, é um renovado prazer. O edifício está construído com arenito da arriba fóssil da zona, o corpo mais antigo é frontal ao Tejo e a Lisboa, tem séculos com remodelações à mistura. Conheceu diferentes proprietários, esteve muito ligada à família Teotónio Pereira, Pedro Teotónio Pereira, figura grada do Estado Novo, imprimiu-lhe várias remodelações, mas nunca chegou a habitá-la. Em 1974, o Hospital de Almada ocupou a casa e em 1983 iniciaram-se obras de transformação para um empreendimento turístico, a autarquia não aceitou e comprou em 1988 a propriedade. Iniciava-se a vida do Centro de Arte Contemporânea, artes plásticas centradas no desenho, era esse o projeto do seu primeiro diretor, o pintor Rogério Ribeiro, o projeto inicial previa que aqui se exibisse o acervo artístico municipal bem como doações. A Casa da Cerca abriu em 1993 com a exposição dedicada ao desenho de Amadeo de Souza-Cardoso. Para comemorar o primeiro quarto de século, à Casa da Cerca regressou Amadeo, acompanhado de alguns contemporâneos, como vamos ver.




Como se escreve no desdobrável oferecido ao visitante: “Para trazer Amadeo de volta à Casa da Cerca, escolhemos um livro ilustrado intitulado ‘Gustave Flaubert – La Légende de Saint Julien L’Hospitalier’, o qual parte de um conto homónimo do escritor francês. Flaubert, que foi um dos percursores do modernismo, inspira Amadeo, um pioneiro das vanguardas do início do século XX. Um século depois desafiámos dois artistas e um poeta a responder ao livro de Amadeo. Ana Jotta, Jorge Queiroz e Matilde Campilho iniciaram um diálogo criativo e estimulante com o passado. Sobem-se as escadas e começa a nossa conversa com Amadeo.


Em 1912, na Bretanha, Amadeo cria um livro de artista no qual copia integralmente e ilustra o conto “A Lenda de São Julião Hospitaleiro” de Flaubert. Transformando a escrita num poema visual, este livro-objeto exemplifica as linhas fundamentais da estética deste artista e é paradigmático de uma afinada modernidade vanguardista que vai desde o cubismo, passando pelo futurismo, até à abstração, ao mesmo tempo que evoca os copistas medievais. Na impossibilidade de permitir a cada visitante folhear este livro, quis-se transformar o exercício individual e privado de leitura numa experiência coletiva física de habitar um livro, propondo que cada um navegue por entre as suas páginas.




Jorge Silva, curador da exposição A Luta Continua! – 140 anos de Ilustração Portuguesa, afirma que “esta mostra sintética passeia por 140 anos de artes visuais portuguesas, acompanhando o afiado realismo oitocentista à volta dos deserdados da fortuna, e surpreende o reverso do brilho corrupto dos anos vinte”. É uma mostra preciosa de grandes mestres da ilustração. Se o leitor visitar em breve a Casa da Cerca será sempre surpreendido pela variedade de exposições que se espalham pela Galeria Principal, pela Capela, pela Galeria do Pátio, pelo Átrio de Receção, podendo ir até ao Parque de Escultura e mesmo àquilo que se chama o Chão das Artes, um mundo floral que intervém na elaboração dos materiais com que se faz a arte. Não nos esqueçamos que o acervo da Casa da Cerca é bem rico, quem quer estudar tem um centro de documentação e investigação, a Casa da Cerca dispõe de serviço educativo e todos os anos faz gala em organizar a Festa da Casa da Cerca, várias horas de atividades inteiramente gratuitas e destinadas aos mais diversos públicos. Aliás, a entrada na Casa da Cerca é gratuita.





(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20048: Os nossos seres, saberes e lazeres (347): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (9) (Mário Beja Santos)

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