quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20366: Historiografia da presença portuguesa em África (187): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (3): "Racismos, Das Cruzadas ao Seculo XX", por Francisco Bethencourt (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Dezembro de 2018:

Queridos amigos,
Quando “Racismos” apareceu em finais de 2015, o professor Diogo Ramada Curto escreveu “Um marco da historiografia portuguesa. Um grande livro que revela uma maturidade excecional, única no caso de um historiador português”. Francisco Bethencourt é autor da primeira história do racismo, das Cruzadas ao século XX. O seu enfoque não está centrado, como o do professor Charles Boxer nas relações raciais no império português, é muitíssimo mais abrangente, abarcará as Cruzadas, os encontros entre povos decorrente dos Descobrimentos, as sociedades coloniais, as teorias de raça e a emergência dos nacionalismos até chegarmos aos fenómenos mais insidiosos, como o nazismo.
A pretexto da pureza de sangue, da casta, da religião, temos aqui uma longa e dolorosa viagem com matanças, escravidão, imolações, genocídios, tráfico de seres humanos, espezinhamento de direitos. Isto para sublinhar que o colonialismo e as sociedades coloniais, na sua amplitude, são uma das dimensões do racismo.
O que se passou no pós-guerra, com a ascensão dos nacionalismos e o clamor pela libertação do jugo colonial deve ser encarado como a reposição da identidade nacional, mesmo sabendo-se, no caso de África e da Ásia, que muitos novos Estados não tinham a configuração de nações, e no seu interior mantiveram-se (e nalguns casos mantém-se) tremendos conflitos interétnicos.

Um abraço do
Mário


A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (3)

Beja Santos

Entendamo-nos: não há uma modalidade única de racismo, daí ser completamente inútil procurar comparar as práticas de racialidade no nosso colonialismo multisecular com outras práticas de outras potências coloniais. A obra monumental intitulada “Racismos, Das Cruzadas ao Século XX”, por Francisco Bethencourt, Temas e Debates, Círculo de Leitores, 2015, é um completo guia para analisar a teoria das raças, o conceito de racismo num arco histórico que vai desde a Idade Média ao nosso tempo, e nos diferentes continentes. Como observa o historiador português que é titular da cátedra Charles Boxer de História no King’s College de Londres, a discriminação e os preconceitos vêm de muito longe, atenda-se ao que sabemos da Antiguidade Clássica, dos povos bárbaros que invadiram a Europa Ocidental, dos muçulmanos, do que ocorreu na Reconquista Cristã, o tratamento dado a judeus ou a ciganos.

A exploração oceânica trouxe mais conhecimentos e basta ver as representações dadas por cartógrafos ou artistas através de imagens dos povos do mundo conhecido para se sentir claramente que havia hierarquias, categorizações, gente que se dava como superior e que subjugava a gente dada como inferior, em tantos casos os despojos das conquistas.

Francisco Bethencourt
Francisco Bethencourt lembra-nos o príncipe jalofo Bemoim que governava um território próximo da foz do rio Senegal, onde os portugueses comerciavam escravos e ouro, o príncipe foi deposto em 1488, e partiu para Lisboa, em busca de ajuda militar junto de D. João II. Foi recebido com honras de Estado, Bemoim era muçulmano, decidiu que seria convertido ao cristianismo, partiu para recuperar o seu domínio com 20 caravelas comandadas por Pêro Vaz da Cunha. Ao chegarem à foz do rio Senegal, por razão ainda não hoje compreensível, o capitão português mandou matar Bemoim e regressou a Lisboa, o capitão reprovado com veemência, mas o temível monarca não mandou castigar o capitão. O que esta história revela é a força do preconceito étnico. Está hoje bem estudado o projeto político que acompanhou esta aventura dos Descobrimentos, havia necessidade de alianças em África, elas materializaram-se no Congo, em finais da década de 1480, início da de 1490.

Lembra-nos o autor que Duarte Barbosa, feitor do rei português na costa de Malabar, descreveu pela primeira vez o sistema de castas em termos europeus, entre 1512 e 1515.
E escreve:  
“Os clérigos das dioceses portuguesas do Estado da Índia receavam o impacto do sistema de castas nas relações entre hindus e a comunidade cristã, já que os convertidos eram considerados inferiores às castas mais honradas, pois eles tinham de se misturar com indivíduos de diferentes origens. As resoluções do sínodo de Goa proibiam os cristãos de alimentar os indianos contra a sua vontade. O princípio indiano de hierarquia, por oposição ao princípio cristão e muçulmano de igualdade entre os crentes levantaria a questão no seio das comunidades cristãs na Índia suscetíveis ao conceito de pureza”.
E, mais adiante:  
“O conceito português de casta, aplicado ao sistema social indiano, disseminou-se, durante os séculos XVII e XVIII, pelo trabalho de autores franceses, holandeses e ingleses. O conceito de pureza e impureza era expresso através da descrição das fórmulas estabelecidas de tratamento dos alimentos, bem como da sua confeção e apresentação às castas mais elevadas”.
Esta impressionante investigação abarca a perceção europeia da China e do Japão, e voltando à Europa somos confrontados com a questão dos cristãos-novos e de novo com a pureza de sangue, a condição judaica. E assim chegamos às sociedades coloniais e as suas classificações étnicas. Bethencourt fala-nos dessa classificação em África, verifica-se que a taxonomia andava muito próxima nos vocabulários espanhol e português, e que os holandeses no golfo da Guiné adaptaram as anteriores práticas portuguesas no terreno.

Mais adiante, no capítulo que dedica às sociedades coloniais em África, o historiador dá-nos um apontamento de muita utilidade para entender o colonialismo português:
“Os portugueses viviam acima de tudo em portos ou em enclaves onde comerciavam escravos ou ouro, como por exemplo, na Mina, na Costa do Ouro do Golfo da Guiné. Em cada entreposto residia um número limitado de brancos, os quais estabeleciam uniões mistas e tinham filhos com nativas, mas estes descendentes eram reabsorvidos pela sociedade nativa local, pois não existia uma verdadeira colónia de dimensões mínimas. Na África Ocidental, na região dos rios da Guiné, muitas centenas de portugueses conhecidos como lançados ou tangomaus instalaram-se nas comunidades locais. Os tangomaus introduziram-se nas chefaturas locais e desempenharam um papel importante como mediadores entre as potências africanas e a portuguesa.
Nas últimas décadas do século XV criou-se uma sociedade colonial nas ilhas de Cabo Verde. Durante quase dois séculos, as ilhas funcionaram como plataforma para o comércio negreiro a partir da África Ocidental. Em 1582 viviam cerca de 16 mil pessoas nas ilhas, sendo a sua grande maioria escravos (87% da população total). Brancos e mulatos viviam lado a lado num curioso agrupamento de 1600 ‘vizinhos’, havendo já 400 negros livres casados e provavelmente menos de 200 brancos. Em 1731, os escravos representavam apenas 15% da população; a maior parte dos habitantes eram indivíduos livres de raça mista e negros”.

No prosseguimento de uma investigação tão gigantesca como esta, Bethencourt analisa os projetos e as políticas das principais potências coloniais, os modos de discriminação e segregação e envolve-se nas teorias da raça, uma matéria que é verdadeiramente fascinante para nos ajudar a compreender aquilo que se chamou racialidade científica e depois o arianismo forjado pelos ideólogos nazis.
Nas conclusões, Bethencourt dá como comprovado que o racismo foi motivado historicamente por projetos políticos e falando dos dias de hoje, deixa-nos uma importante chamada de atenção:
“A norma do comportamento antirracista prevalece agora na maior parte do mundo. Todavia, o racismo não desapareceu. Abandonou, isso sim, a reivindicação de diferenças físicas, substituindo-as pela incapacidade cultural. A migração não é criticada com argumentos físicos, mas sim através da ideia de atraso cultural e de incapacidade de adaptação. O argumento da inferioridade foi abandonado no debate político; agora, os imigrantes são acusados de desfrutarem de assistência social que não foi criada para eles. Continua a haver disputas sobre a identidade e exclusão; os critérios para a atribuição da cidadania são ainda a principal ferramenta para definir a pertença. Não obstante, as identidades nem sempre coincidem com a cidadania formal, já que as formas informais de discriminação podem ser extremamente poderosas sem enquadramentos institucionais ou a sua aplicação estatal. Sem este o estado da discussão no mundo ocidental, isso não quer dizer que os velhos problemas tenham sido resolvidos, quer aí, quer em qualquer outra parte. A violência diária entre etnias continua a ser visível em diferentes partes do mundo, tal como o são a escravatura e a escravidão, frequentemente baseadas nos preconceitos relacionados com a descendência étnica. Em resumo, é preciso ainda percorrer um longo caminho para cumprir o sonho da dignidade humana e da real implementação dos direitos humanos”.

Para conhecer mais sobre o pensamento de Francisco Bethencourt e os fundamentos deste monumental trabalho, ver o site do jornal Ionline

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20341: Historiografia da presença portuguesa em África (186): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (2): "Portugal Vasto Império", por Augusto da Costa (Mário Beja Santos)

22 comentários:

antonio graça de abreu disse...

“Uma História que não aceita nenhum símbolo nacional, não aceita nenhum herói, não aceita nenhuma causa, não aceita nenhum objectivo estratégico do país, não aceita o país."Palavras de Jaime Gama, em Outubro passado no jornal Observador, a propósito
da criação da nova disciplina de História, no 12ª. ano do ensino secundário. Segundo Jaime Gama vai ensinar-se "uma História militante", que "não aceita símbolos nacionais" e procura "a penitência dos países." Tudo isto aparece numa boa polémica onde depois entra o Diogo Ramada Curto, defensor desta moderníssima leitura, visão e feitura da nossa História.
Abraço,

António Graça de Abreu

antonio graça de abreu disse...

Já agora, para concluir, porque não tenho nenhuma vontade de falar mais destes assuntos, cito António Barreto, em artigo no Público de 27 de Outubro de 2019:

"Jul­gar e con­de­nar ou ab­sol­ver a his­tó­ria pa­re­ce inú­til. Mas não é. Há sem­pre uma “agen­da ocul­ta” e um pro­pó­si­to im­plí­ci­to. Aque­les que, ho­je, em Por­tu­gal e no mun­do, lu­tam pa­ra cul­par os ho­mens, os bran­cos, os adul­tos, os oci­den­tais, os cris­tãos, os ri­cos, os he­te­ros­se­xu­ais, os de­mo­cra­tas, os ca­pi­ta­lis­tas e os mi­li­ta­res es­tão evi­den­te­men­te a ten­tar cri­ar uma or­to­do­xia, uma cul­tu­ra pre­do­mi­nan­te e, so­bre­tu­do, a cons­truir um “cre­do” que per­mi­ta con­de­nar e proi­bir, as­sim co­mo li­mi­tar a li­ber­da­de de ex­pres­são."
(...)
Se as cul­pas não fo­rem mi­nhas, são ob­jec­ti­vas e his­tó­ri­cas. Se não fos­te tu, fo­ram os teus avós. Ou te­tra­vós. Se não fos­te tu, fo­ram os cris­tãos. Ou os bran­cos. Ou os por­tu­gue­ses. Ou os eu­ro­peus. Ou qu­em quer que se­ja. Mas de uma coi­sa po­des es­tar se­gu­ro: és cul­pa­do, de­ves ter re­mor­sos, tens de pe­dir per­dão e, even­tu­al­men­te, pa­gar re­pa­ra­ções, con­ce­der pri­vi­lé­gi­os, ba­ter no pei­to, dei­xar pas­sar à fren­te e re­co­lher-te à tua in­sig­ni­fi­cân­cia da­do que al­guém, al­gu­res e em qual­quer tem­po, mal­tra­tou, rou­bou, opri­miu e tor­tu­rou. Evi­den­te­men­te, as cul­pas têm mo­men­tos his­tó­ri­cos e ob­jec­tos pre­ci­sos. Ho­je, por exem­plo, pe­dir-se-á per­dão aos ne­gros afri­ca­nos e aos mu­çul­ma­nos (des­de que não se­jam ri­cos…), mas não aos re­tor­na­dos, aos re­pa­tri­a­dos, aos fra­des, aos mon­ges, aos aris­to­cra­tas e aos pro­pri­e­tá­ri­os.

De­cre­tar o bem e o mal, con­de­nar a his­tó­ria com cem ou mil anos, cul­par por lei acon­te­ci­men­tos his­tó­ri­cos e pe­dir per­dão por fac­tos lon­gín­quos: é es­tú­pi­do, mas é mo­da. Vai ser di­fí­cil afas­tar es­ta pra­ga: es­ta­be­le­ci­da uma or­to­do­xia do pen­sa­men­to, du­ra sem­pre anos. Pe­na é que o plu­ra­lis­mo e a li­ber­da­de fi­quem a per­der. Mas ga­nha a mo­da que é a de pe­dir per­dão pe­lo que ou­tros fi­ze­ram. Pe­dir per­dão pe­lo que an­te­pas­sa­dos, não im­por­ta quão re­mo­tos, fi­ze­ram ou be­ne­fi­ci­a­ram com o mal e o so­fri­men­to de ou­tros. Pe­dir per­dão a es­cra­vos que ser­vi­ram mes­tres, a ne­gros usa­dos pe­los bran­cos, a sol­da­dos que obe­de­ce­ram a ofi­ci­ais, a tra­ba­lha­do­res ex­plo­ra­dos por pa­trões, a mu­lhe­res es­pan­ca­das pe­los ho­mens, a jo­vens frus­tra­dos por adul­tos, a ju­deus quei­ma­dos por ari­a­nos, a ára­bes hu­mi­lha­dos pe­los cris­tãos, a alu­nos do­mi­na­dos por pro­fes­so­res…"

Abraço,

António Graça de Abreu

Antº Rosinha disse...

Quem esta semana vai glorificar os Libertadores da América, (Bolívar, Dom Pedro, Belgrano, Marti, etc.) que correram com os colonialistas, racistas, e ladrões, vai ser Jesus, o Jorge, na taça libertadores.

Jesus o portuga!

antonio graça de abreu disse...

Curioso, Rosinha, mas o Jorge Jesus é filho, neto, bisneto, trineto dos colonialistas, racistas e ladrões, exactamente "os portugueses que pariram o Brasil", como alguns brasileiros dizem, nas terras de Santa Cruz.
Espantosa a nossa História...
Abraço,

António Graça de Abreu

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

O mundo e a sua consciencia historica sao fenomenos dinamicos e merecem sempre ser vistos de uma forma positiva pois é isso que nos faz aproximar cada vez mais do ser verdadeiramente humano, pelo que pedir perdao por acontecimentos historicos julgados e considerados indignos a luz dessa consciencia nunca pode ser considerado "estupido". E quem pensa assim precisa rever o seu lugar na historia porque arrisca-se, seriamente, a ficar ultrapassado pelo comboio da historia e ficar 'orgulhosamente so", ele e a historia de uma pretensa patria pouco gloriosa.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Chapouto disse...

Acabaram os racistas apenas só existe eu e mais nenhum ainda estou a esperas de um pedido de desculpa analfabeto sou mas ainda sei interpretar aquilo que escrevo deturparam a palavra "a palavra dita pelo meu cabo".
Estive calado este tempo daí para cá, mas chegou a hora de desabafar e dizer quantos prenunciaram a mesma palavra nem um ai, porque são doutores historiadores.
Por hoje mais nada, apenas falo porque o tema é racismo
Um abraço
Fernando Chapouto

Anónimo disse...

“Pedir desculpas por factos longínquos é estupido,mas é moda”.

Certamente que o comentário fará parte de uma certa “postura” de conveniências várias feita a que o comentador já nos terá habituado.
A não ser uma ironia demasiado fácil,a lista dos pedidos de perdão apresentada pelo comentador aparenta,para leitores menos inteligentes como eu,ser uma ironia com algo de abjeto.

Certamente que o pedir de desculpas por feitos cometidos há milénios,séculos,ou mesmo décadas,em nada de “prático “ ajudará as vítimas.
Mas entre a Moral,a Justiça,e...as coisas práticas...permeia todo um mundo de Valores!
Aparentemente de somenos importância da para o comentador.

Hoje,ao discutir-se o assunto racismo (entre outros) não deveríamos pedir desculpa pelo o que anteriormente outros fizeram,mas sim pelo que hoje não fazemos e deveríamos fazer.

Abraço do J.Belo

Anónimo disse...

Amigos,

Eu cá por mim, não tenho de pedir desculpas a ninguém, por nada que tenha feito ou dito de errado. Foi o contexto em que algo foi feito ou dito, e isso não resolve nada.
Também não estou à espera de desculpa nenhuma por algo que me tenham feito ou dito, foi na mesma, o contexto.

Que adianta por exemplo a esta mulher - de Cabo Verde - que pariu na rua e deitou o bebe ao lixo, já não resolve nada, nem faço julgamentos, mas que é revoltante não há duvida.

E os pais, avós, irmãos, etc, que violam os seus parentes, crianças e bebés de poucos anos ou meses?
O que é isto?

Racismo, podridão humana ou quê?

Não faz parte do blogue mas mete-me nojo ler coisas deste tipo.
Vamos refletir.

Obrigado

Virgilio Teixeira




Valdemar Silva disse...

É caso para dizer 'cada tiro cada melro', mas em sentido contrário.
O jornal 'Jornal de Notícias' de 7-11-2019 trazia a notícia 'Os bebés abandonad0s nos últimos 10 anos em Portugal' e depois descrevia as ocorrências.
Mas, vou resumir ao mês/ano e local do abandono:
Julho 2009 Mirandela, Dezembro 2010 Cascais, Junho 2011 Duas Igrejas-Penafiel, Junho 2011 Paços de Ferreira, Setembro 2011 Cemitério Prado Repouso-Porto, Setembro 2011 Vilar-Vila do Conde, Janeiro 2012 Celeiró-Braga, Abril 2012 Sta. Joana-Aveiro, Outubro 2012 Perafita-Matosinhos, Novembro 2012 Praia Maçãs-Sintra, Agosto 2013 Guimarães, Setembro 2013 Porto, Junho 2015 Marco de Canavezes, Junho 2016 Santarém, Abril 2017 Lisboa, Novembro 2017 Boavista Pinheiros-Odemira, Novembro 2018 Tapada das Mercês-Sintra
A descrição das ocorrências não dava pormenores de quem teria abandonado os bebés.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

É caso para perguntar, como fez o Rei de Espanha numa cimeira, que se dirigiu ao 'ditador comunista' Fidel Castro:

... Porque não te calas?

Em Espanhol escreve-se doutra forma.

Por mim, acho que vou 'hibernar' até ao próximo ano, já 'chega' de comentadores que já aqui lhe pediram para se calar e hibernar para sempre, mas não compreenderam a mensagem, que agora aqui a lembro com desejos de bons sonhos .........

Virgilio Teixeira

antonio graça de abreu disse...

Meu caro Cherno Baldé
A tua Guiné Bissau é o 5º país mais pobre do mundo. Desde 1974 sofreu 9 golpes de Estado e, nos últimos 5 anos, tomaram posse 7 governos. Ninguém se entende, ou antes, as elites políticas não se entendem. A culpa é do racismo e do colonialismo português, dos 500 anos de História, da escravatura do passado. Em tempos recentes foram os neocolonialistas portugueses que mataram Amílcar Cabral, Ansumane Mané, Nino Vieira, etc. Os portugueses de hoje devem pedir desculpas aos guineenses pelos crimes cometidos no passado (não custa nada e pode ser um acto de perfeita hipocrisia, digo eu!) e já agora, mais importante, (já se começa a falar nisso em potências coloniais como a Inglaterra!) devem dar uma avultada indemnização em dinheiro a esses países colonizados no passado pelos europeus.
Meu caro Cherne, enquanto a África não se libertar da deprimente mentalidade de povo colonizado,não acreditar em si própria, não afastar os fantasmas do passado, em que as culpas da miséria, das lutas tribais, do subdesenvolvimento são sempre assacadas aos povos colonizadores, a tua extraordinária África não será capaz de se pôr de pé.
Temos de tentar pensar com a cabeça e não com o sangue, ou pensar apenas com o coração.
Abraço,

António Graça de Abreu

Valdemar Silva disse...

Cada cavadela cada minhoca, pensaria o Chavez quando respondeu ao Rei de Espanha 'Podes ser rei, mas não podes mandar-me calar. Eu também sou Chefe de Estado eleito por três vezes'.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Sr.V.Teixeira.

Alguns de nós já há muito que ultrapassaram as idades das birras infantis.
E não só das birras infantis ,.mas também dos egos desmesurados,e dos auto-convencimentos de pequeninos reis da capoeira.
A lista seria demasiado longa.
Muitos baseiam os seus comentários nas suas ideias pessoais,nas suas experiências da vida (e as vidas já são longas),nas oportunidades que tiveram,ou não,de adquirir perspectivas que vão um pouco além dos campanários da aldeia ou das “vistas” desde a tertúlia do café do bairro.
Na melhor das hipóteses os comentários criam debate e,a serem sinceros ,acabam por proporcionar aos diferentes leitores (diferentes!) possibilidades de analisar pensamentos disparos.

Aparentemente (e a cada um o seu pequenino ego) não “apreciam as diferenças “.
Mas se nos vamos por em bicos dos pés e gritar desde essa pequenina altura moral:
-Calem-se!
-Não gosto disso!
-Ponto final!
...lá iria terminar a nossa possibilidade de dialogar neste blogue.

E este blogue,que já tinha longa história antes da sua participação ,há muito que demonstrou que os seus valores editoriais não vão por aí.

J.Belo


Cherno Baldé disse...

Caro A. Graça de Abreu,


Dizes: "...enquanto a África não se libertar da deprimente mentalidade de povo colonizado,não acreditar em si própria, não afastar os fantasmas do passado, em que as culpas da miséria, das lutas tribais, do subdesenvolvimento são sempre assacadas aos povos colonizadores, a tua extraordinária África não será capaz de se pôr de pé".

Caro amigo A. Graça de Abreu, dito assim, até parece verdade, mas nao é. Visto de mais perto, tem muita hipocrisia incorporada, porquanto nenhum destes paises africanos conseguiu livrar-se das amarras coloniais e da dependencia dos donos do mundo. A prova disso é que todos os lideres africanos que tentaram livrar-se das garras do imperialismo ocidental foram selvaticamente assinados por forças e em circunstancias obscuras, desde Patrice Lumumba...David Dacko...Tomas Sankara...A. Cabral...e o Mandela que passou a sua vida inteira atras das grades do regime de Apartheid dos Boers apoiados pelos ocidentais e que, ainda assim conseguiu manter a sua humanidade para apregoar a paz e o perdao para os seus torcionarios.

Mas, ser pobre nao significa nada se se mantiver a humanidade e a capacidade da resistencia e da resiliencia a que os africanos ja deram provas, até hoje. Temos pobreza e miséria mas ainda nao tivemos as nossas Guerras de 100 anos. E com paciencia, ainda vamos sobreviver aos ultimos suspiros deste mundo que os ocidentais condenaram a falencia na sua insaciavel voracidade de cada vez mais … mais … mais e mais…

"A Guiné Bissau é o 5º país mais pobre do mundo" (???). Sim e isto ja é um grande avanço porque até 1974, este pais simplesmente nao existia e, como diz um proverbio "Mais vale pobre que morto".

E, nao esqueçamos de um facto importante: A Inglaterra e os outros la de cima, sempre estiveram na vanguarda do mundo e das suas transformaçoes e, para variar desta vez, convinha a paises como Portugal, estudar bem as suas liçoes sobre o futuro para nao voltar a repetir a triste figura de gata borracheira da historia.

Abraços,

Cherno Baldé

Cherno Baldé disse...

Cont.

Nao esqueçamos de um dado historico importante: A Inglaterra e os paises mais acima, sempre estiveram na vanguarda do mundo e suas transformaçoes, pelo que convinha a paises como Portugal, para variar desta vez, estudar bem as liçoes, para nao repetir a triste figura da gata borracheira que nos habituou na historia dos povos.

Cherno AB

Cherno Baldé disse...

PS:

Desculpem, pelo erro que aparece no ultimo paragrafo, queria escrever "Gata Borralheira" e saiu "Borracheira", espero nao ter cometido um sacrilégio de "Borracho" e nao era mau de todo.

Cherno

Anónimo disse...

Cont.

Ainda a proposito dos nossos conflitos e golpes de estado, o Nino Vieira nunca perdoou ao Jaime Gama por este ter fornecido um telefone satélite ao seu rival, o rebelde da Junta militar Ansumane Mané, durante o conflito de 1998/99. E, da Guerra suja em angola e outras partes em Africa nem sequer vou falar, porque tu A. Graça de Abreu sabes muito melhor do que eu, aqui neste buraco africano da Guiné.

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Quando finlandeses e alemäes (entre outros,entre outros) se referem condescendentemente ao nosso querido Portugal como um dos países mais pobres da Europa,deveríamos ter alguma humildade quando ,em debates de opiniäo,usamos como arma de arremesso..."A guiné é o quinto país mais pobre...".
Seräo factos estatísticos quanto aos posicionamentos económicos.Sem dúvida.
"Espelharäo" eles todas as outras importantes dimensöes dos países referidos?

Mas,e mais uma vez...Pois.

Abraco do J.Belo

Antº Rosinha disse...

Para o Cherno, os brancos/tugas não seguimos ao lado dos ingleses nas independências dos anos 50 e 60, mas não fomos os últimos brancos a sair de África, os últimos foram os brancos da África do Sul, da Rodésia do Sul e Namíbia, ex-colónias inglesas. esta última herdada dos alemães.

Eu aqui não discuto, eu aqui converso, Cherno, eu sempre afirmo que aquelas independências (anos 50/60)foram de um cinismo atroz, da parte dos paises da "vanguarda" como tu dizes dessa gente à frente de todos.

Não sou só eu a pensar assim, os velhos africanos da geração do teu pai pensavam a mesmíssima coisa, claro que os que queriam ser os novos senhores não pensavam assim.

Foram gerações por mais de 40 anos, de gente violentada, deslocada que até faz esquecer os anos das escravaturas.(Congos, Ruanda e Burundi, Bifra, Serra Leoa...e por fim Angola).

Cherno tu e principalmente os antigos estudantes do império estudavam, mais, devoravam tudo o que é história de Portugal e Europa.

Sabes que Portugal, a partir principalmente durante o tempo da Rainha Victória até que chegou o Salazar, Portugal seguiu a Inglaterra, qual cachorrinho, salvo seja.

Copiámos tudo desde o tipo de farda de caqui dos cipaios, até à mania dos comboios, era tudo à inglesa, menos o apartheid.

Aí foi mais por uma questão económica, era preciso construir 2 WC uma para brancos outra para negros , assim ia tudo ao mato e ficava mais barato.

Claro que até no Brasil se diz, que pena não termos sido colonizados pelos americanos!







Anónimo disse...

Caro amigo Rosinha,

O Leopoldo II nunca quis aceitar a possibilidade da perda ou alienação do que considerava a sua quinta pessoal, onde se cometeram os crimes mais abomináveis sobre mulheres e crianças, mas para o mundo ocidental o mais importante era afastar o comunismo, um papão que eles inventaram de todas as peças, a fim de conservar aquelas imensas riquezas só para si.

Eu gosto de te ouvir a conversar sem chauvinismo nem manifestações patrioteiras desfasadas do seu tempo.

Sobre a permanente ingerência dos países ocidentais em Africa de que mais acima falei não faltam exemplos e o ultimo caso aconteceu em 2011 quando urdiram a invasão, bombardeamento e morte do Kadafi na Libia, violando todas as normas e regras internacionais que eles mesmo tinham instituido na sua casa da ONU. Depois, cinicamente dizem: Os africanos são animais, paises de merdas que estão sentados em cima de ouro e diamantes, mas que passam fome e nem sequer conseguem construir infraestruturas. A Libia com o Kadafi, apesar dos seus desvarios, oferecia as suas populações condições de vida dignas de fazer inveja a alguns países do sul da europa. A pequena Ruanda, depois de um terrivel genocídio provocado por ingerência externa da França, está a mostrar que, quando os deixam trabalhar, os africanos são capazes de realizar um bom trabalho a medida das suas capacidades e meios. Mais não digo.

Tenha uma boa noite,

Cherno AB.

Anónimo disse...

Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (33)

Beja Santos

“Foi ferido o Capitão Arrabaça,
Alferes Mota se atingiu
Inácio numa emboscada
com 7 colegas se feriu.

'colegas' ou 'camaradas'?

VT.

Antº Rosinha disse...

(Em 1582 viviam cerca de 16 mil pessoas nas ilhas, sendo a sua grande maioria escravos (87% da população total). Brancos e mulatos viviam lado a lado num curioso agrupamento de 1600 ‘vizinhos’, havendo já 400 negros livres casados e provavelmente menos de 200 brancos. Em 1731, os escravos representavam apenas 15% da população; a maior parte dos habitantes eram indivíduos livres de raça mista e negros”.)

Se estes números forem para levar como reais, em Caboverde havia 1,25% de brancos em 1582, num total de 16000 almas entre brancos, mestiços, negros livres, e 87% escravos.

Passados 500 anos, quando todos os retornados (brancos) cavaram das colónias, a percentagem de brancos (retornados)nas colónias, provavelmente seria inferior a 1,25%.

Ou seja, em 1582, havia imensos brancos em Caboverde.

Como, quando dizemos brancos, dizemos portugueses...é caso para perguntar, como foi possível viver assim durante 500 anos, com um número tão insignificante de colonos?

É porque eramos, Fortes, Fieis, Façanhudos, Fazendo, Feitos, Famosos...!