sábado, 23 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20373: Os nossos seres, saberes e lazeres (365): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Maio de 2019:

Queridos amigos,
É passeio sacramental cirandar sem tempo pela Lagoa das Furnas, subir até à mata-jardim José do Canto, leva-se um livro e umas vitualhas para passar uma boa parte do dia, o tempo ajuda, a natureza saltita de alegria, não faltam florescências, das plantas endémicas à multiplicação das azálias, até pomposidade das magnólias.
Este Éden é uma atração turística para os amantes dos passeios pedestres, num dado ponto chegam autocarros que trazem turistas de vários continentes que se cingem a ver as caldeiras e os tachos dos cozidos em laboração. É um passeio pedestre sem rival, segue-se pelo Pico do Ferro e desce-se por vereda até ao Vale das Furnas, não há ponto de Portugal que mais impressione o viandante neste fulgor primaveril, descem-se as veredas com o rumorejar das águas, seguem em cachão no meio de verdadeiros jardins, entra-se na vila, a natureza não faz tréguas.

Um abraço do
Mário


A minha ilha é um cofre de Atlântidas (7)

Beja Santos

É a despedida da Lagoa das Furnas, dia ensolarado, coisa curiosa, as águas têm tons de mercúrio, talvez se deva à passagem de nuvens velozes, vão ensombrando certas imagens que aqui se colhem, logo a Ermida de Nossa Senhora das Vitórias, à vista desarmada até parece um lugar assombrado, é um dos legados desse homem avançado para a sua época, José do Canto que, para além desta ermida neogótica, deixou uma vivenda e um chalé franco-suíço e uma esplendorosa mata-jardim, dez hectares com arruamentos ladeados por cameleiras e um vale de fetos que parece estar próximo do paraíso, é bem agradável por ali passear entre camélias e sequoias, e contemplar a queda de água que dá pelo nome “Salto do Rosal”. Como ficar indiferente a esta ermida neogótica, parece um testemunho vitoriano bem junto à lagoa, aqui está sepultado o casal, vista mais frondosa não podiam ter.



Anda o viandante a cumprir a rota circular pelas furnas, começou junto do Largo das Três Bicas, passou pela Poça da Dona Beija, caminhou até ao Pico do Milho, daqui se desfruta a bela vista sobre o vale, entra-se na lagoa, já se passou pela Ermida de Nossa Senhora das Vitórias, mataram-se saudades na mata-jardim José do Canto, caminhou-se para um edifício recente e de boa arquitetura chamado Centro de Monitorização e Investigação das Furnas, desfruta-se de toda esta vasta flora a mergulhar nas águas, aqui há de tudo, incenso, camélias, araucárias, flores silvestres, rescendem odores de toda esta vegetação que se molha na lagoa, sobe a temperatura, muda a cor da lagoa, vai-se por um caminho plano, ainda estão longe as famosíssimas caldeiras, a energia determinante do prato típico da terra, o cozido.





Convenhamos que o ângulo da imagem é um tanto distorcido, foi ato deliberado, pretende o viandante mostrar ao leitor a comunhão entre o arvoredo e as árvores, o seu diálogo permanente, inclinam-se os troncos das árvores, debruçam-se os ramos como se fossem abraçar o meio aquático, há raízes à mostra, parece que esta flora é sedenta do que a lagoa oferece, passeia-se entre a espessura de um arvoredo que vai subindo para os cumes deste vulcão adormecido e do outro lado temos este arvoredo perto da água. Cenário natural mais apaziguante não pode existir.


Aqui estão as caldeiras das furnas. Tudo por causa da atividade geotermal, é um dos cartazes turísticos de S. Miguel, não só porque temos aqui o tradicional cozido à portuguesa que se deve ao calor interno do vulcão das Furnas, mas esta fumarada permanente, o esbranquiçado, os roncos intimidantes geram um envolvimento bem diferente do que se vive em pleno Vale das Furnas.




E pronto, o viandante está de saída, passou pelo cruzamento para o Miradouro do Pico do Ferro, chegou à estrada regional, vira à direita e avança para o centro da freguesia, segue melancólico, olha o despontar das hortênsias ou hidrângeas, aqui e acolá irrompem verónicas, é o tempo esplendoroso das azáleas, as plantas endémicas estão exuberantes, despedimo-nos com esta magnólia branca, deslumbrante. Amanhã, último dia nesta abençoada terra, o viandante vai despedir-se do Parque Terra Nostra, apanha o autocarro até Ponta Delgada, mais jardins e depois o aeroporto, sempre a dizer consigo “até à próxima”.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20353: Os nossos seres, saberes e lazeres (364): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (6) (Mário Beja Santos)

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