quarta-feira, 15 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21170: O segredo de... (32A): Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65)... "Também tenho um víquingue na minha árvore genealógica"


1. Desde 2008 que temos vindo a contar "segredos", pequenos e grandes segredos, da nossa vida militar, ou até pessoal, mais íntima (como "a minha primeira vez..."), coisas passadas há mais de meio século, mas que só agora, por uma razão ou outra, temos vindo a partilhar uns com os outros... 

O propósito deste série, "O segredo de...", é esse mesmo: ser uma espécie de confessionário (ou de livro aberto) onde se vem, em primeira mão, revelar "coisas" do nosso tempo da tropa e da guerra, da nossa adolescência ou até da nossa infância, que estavam guardadas só para nós... ou só eram conhecidas do nosso círculo de relações mais íntimo (cônjuge, filhos, amigos do peito...).

É esperado que os nossos leitores não façam nenhum comentário crítico, e nomeadamente condenatório, em relação às "revelações" aqui feitas, mesmo que esses factos pudessem eventualmente, à luz da época, constituir matéria do foro do direito penal, militar ou civil, infringir a disciplina ou ética militares, os usos e costumes, a moral da época, etc.

Aprendemos, neste blogue, a "saber ouvir sem julgar"!...  Claro que há segredos mais "inocentes", como este, do Alcídio Marinho, que nos vem revelar que tem um víquingue na família...


2.  Comentário, ao poste P21162 (*),  do  Alcídio [José Gonçalves] Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65) [vive no Porto; é membro da nossa Tabanca Gande; tem mais de 20 referências no nosso blogue; foto atual, à esquerda]

Caro Luís:


Por falar em Vikings.... Há pouco tempo, fiz a análise ao meu DNA. O resultado [do teste genético] foi:

57.3 % - Ibérico

12.7 % - Escandinavo

10.3 % - Sardo (Sardenha)

7.1 % - Norte-Africano (Argélia,Tunísia, Líbia, Egipto Ocidental)

5.6 % - Italiano

1.5 % - Nigeriano
Ave marinha palmípede, da família
dos Alcídeos (Alcidea).
Fonte: Cortesia de Wikipedia

Também o meu nome, Alcídio, se refere a uma ave palmípede marinha, existente nos fiordes da Noruega, da Suécia e Círculo Polar Ártico, da família dos Alcídeos (Alcidea). 

Parece que foram os Suevos, Godos e Visigodos [, séc. V/VI,] que trouxeram o nome para a Península Ibérica.

Na minha família, ao longo das gerações, sempre houve um Alcídio ou uma Alcídia.

Em todo mundo existem cerca de 2000 Alcídios e Alcídias. As minhas famílias são originárias da região de Basto - Celorico de Basto.

Como podes ver eu também tenho um pouco dos Vikings [ou víquingues]. (**)

Um abraço com muita saúde, 

Alcídio Marinho


3. Comentário do editor LG:

Alcídio, obrigado pela tua generosa partilha. Mas em relação aos testes genéticos, tenho que fazer aqui duas ou três considerações, que não deves tomar como crítica  à tua mais que legítima vontade (e direito) de conhecer a tua "ancestralidade e etnicidade"...

Os testes genéticos estão na moda, tornaram-se mesmo "virais" e as empresas comerciais que apareceram, após o sucessso que foi a sequenciação do genoma humano, conseguido em 2003, digladiam-se agora para obter clientes, oferecer "serviços" (como o "kit de ADN") e facturar milhões... 

Algumas dessas empresa, como o My Heritage (, esta, de origem israelita),  são "casos de sucesso", depois de terem "nascido em vãos de escada"... Mas há mais muitas mais, nomeadamente americanas, com a 23andMe...(Cito estas duas sem qualquer propósito publicitário, apenas a título exemplificativo.)

Enfim, não sendo especialista desta área, de certo apaixonante mas altamente complexa, a genética,  merecem-me contudo reservas os testes genéticos comerciais, no que respeita à sua validade e fiabilidade, e sobretudo levantam-me, a mim, ao comu, cidadão e a muita boa gente (, da biomedicina, da saúde pública e da área das ciências sociais e humanas, etc.), dúvidas teórico- metodológicas e sobretudo bioéticas...

Nunca fiz até agora nenhum teste genético (por razões de saúde ou outras), mas pode perguntar-se: onde param os dados dos "clientes" ? Nalgum banco de dados, seguramente...que pode ser partilhado, por razões nobres ou menos nobres, com a indústria farmacêutica ou o poder judicial, por exemplo... 


Em suma,  não sei o que estas empresas podem fazer com a nossa (e à nossa) informação genética...  E também não estou tranquilo quanto aos mecanismos  de regulação nem controlo destas empresas comerciais que vendem serviços "on line" como "kits de ADN", aparentemente inocentes e inofensivos, e cada vez mais populares... 

Podem até estar todas "certificadas", e terem muitos doutores em biologia, genética  e áreas afins...

Voltando aos testes de "ancestralidade e etnicidade", que se vendem aí a preço de saldo por um punhado de euros ou dólares... Há tempos uma pessoa conhecida minha obteve um resultado mais ou menos semelhante ao teu: também ela descobriu o seu "viquinzinho", louro e de olhos azuis!... (Só não sei se vinham com cornichos!).


Mais de 50% da sua possível ascendência seria "ibérica", 15% era da "Europa do Norte" (, e de facto até há olhos azuis na família)... mas também apareceu uma "costela bérbere" (leia-se: moura)... E, surpresa das surpresas, até apareceu um mais que provável "escravo" da Nigéria (!) a dar cabo da "árvore gine...cológica" (como diz um amigo meu, gozão...).

Há muito que sabemos que somos um "povo mestiço", um povo de múliplas etnias e fenótipos... com uma forte proporção de "ibéricos" (, anteriores à colonização romana), judeus sefarditas (que acompanharam os colonizadores romanos...) e africanos (mouros e subsarianos)... 


Já a rainha Dona Amélia, filha do Conde de Paris,  detestava os "políticos de Lisboa", que ela achava que eram "pretos" demais para a sua "paleta de cores"...

Os testes genétic
os podem ter inegáveis vantagens e benefícios,  dependendendo muito do seu uso e finalidade: por exemplo, podem ajudar-nos à prevenção e diagnóstico precoce de doenças tramadas, a que eu chamo  "defeitos de fabrico"...Mas o seu "abuso", a sua utilização,  sem controlo médico (no caso dos testes de saúde),  ou para efeitos lúdicos, mas também de propaganda e manipulação político-eleitoral,  pode estar a contribuir para reforçar, por exemplo,  os nossos preconceitos "raciais" e o nosso etnocentrismo...

Eu acho que eles vão (ou estão já a) substituir os "horóscopos"... Já se fazem testes genéticos para "gerir as carreiras de sucesso"... E fica bem ter uma "árvore... genealógica" na parede, com todos os antepassados de "sangue azul"...


Afinal,  todos queremos, consciente ou inconscientemente,  ser "filhos de algo", ricos, bonitos, saudáveis e até imortais!... 

Pobres de nós!... E os filhos da mãe ? E os filhos dos quarenta-pais, como se diz na ilha de São Nicolau, em Cabo Verde ? E os antepassados que foram entregues nas rodas dos conventos e das misericórdias ?... 

Esses foram (ou vão ter que ser)  infelizes até ao fim dos séculos dos séculos, ou muito simplesmente vão parar à vala comum do esquecimento... 

É bom lembrar, por fim,  que nenhum de nós escolheu pai e mãe nem o sítio onde nasceu.... 

Os testes genéticos também podem ser uma "caixinha de Pandora", e trazer-nos "desgraça e infelicidade": imaginem que que eu descubro que não sou filho do meu pai, ou  que vou morrer de Alzheimer...  

8 comentários:

Anónimo disse...

TESTES ..TESTINHOS ..TESTUDOS

Um dos maiores embustes recentes é este tipo de testes,servem apenas para extorquir dinheiro.
Têm o mesmo valor cientifico que os horóscopos, como muito bem diz o Luís Graça,isto é nenhum.

Quanto aos testes sobre possíveis ou eventuais doenças futuras, já é diferente, mas mesmo assim é sempre baseado em cálculo de probabilidades.

Leva por vezes a atitudes radicais, como aquela actriz, que agora não lembro do nome, que ao ter uma probabilidade muito elevada de vir a ter cancro da mama, fez mastectomia bilateral total e provavelmente seguida de cirurgia plástica.Agora imaginem um desgraçado que poderá vir a ter um tumor cerebral.

AB

C.Martins

Valdemar Silva disse...

Caro Alcídio.
Isto de se ter um nome próprio diferente do usual, ao longo do tempo torna-se num 'castigo'.
Imagino quantas vezes não te chamaram Alcino ou Alcides, e tu sempre a rectificares 'o meu nome é Alcídio'.
Também era muito usual, não sei até que ponto obrigatório, os nossos nomes de baptismo serem o nome de santos. Não sei se haverá algum São Alcídio.
Num blogue de entendidos nisto dos nomes próprios diz que Alcídio é um Alcides com o sufixo io que queria dizer ser um Alcides doutro lugar.
Mas isto de ter nomes diferentes, lembro-me de um meu ex-colega de trabalho (ele vai desculpar-me) se chamar Dedino e durante uns anos sempre assim foi tratado. Em certa altura ele resolveu ir ao Registo Civil rectificar o nome que erradamente tinha sido registado, e assim passou a chamar-se Dídimo. O problema começou a partir daí 'como é que chama?', 'mas como é o seu nome?', 'Di...quê? , então ao telefone era um caso dos trabalhos 'D de dado, I de Inácio' e dou outro lado 'ah, Eduardo Inácio'. O Dídimo resolveu a chatice passando a chamar.se Batista Fernandes (Dídimo José Batista Fernandes).

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiro

Valdemar Silva disse...

queria dizer
Valdemar Queiroz

JB disse...

“Pessoalismos”

Os que vivem,como eu, há já quase meio século de afastamento total do nosso querido Portugal sabem que o nome próprio por vezes traz “complicações” inesperadas.
O (J) em línguas com raízes germânicas lê-se (I).
O pobre do José passa a...”Iose”...com uma fonética do (e) como se tivera uma acentuação circunflexa.
O nome de família (Belo) passa também a ser acentuado circunflexamente sobre o (e).
Porque para o o (e) ser lido( é ) torna-se necessário o duplo (l).
Os acentos graves e agudos não são usados.
Daí que um José Belo passa a ser chamado de....Iosse + Belo com forte acentuação circunflexa sobre o “e”.
Nem sequer o nosso “Zé” vem ajudar pois a letra (Z) não é usada coloquialmente, o que a torna quase impossível de pronunciar em Sueco.
(Um José sempre pronunciado com incrível acentuação espanhola “Rosse” nos Estados Unidos, onde também tenho casa).

Como é possível ,com as voltas da vida, que algo de tão simples como o nome Belo em Portugal.....(bastava olharem para mim!)....se venha a tornar tão complicado?

Toda esta brincadeira fonética ,aparentemente com pouca importância real,torna-se um pouco complicada quando, ao ter-se mulher e filhos suecos ,se passar a ser apelidado (ao tentarem ser simpáticos!)....de “Iosse” com uma tentativa de acentuação espanholada.... impossível de modificar.

Um grande abraço do
IOSSE.

JB disse...

E,já agora........

Ainda bem que os testes não têm sido populares na Laponia sueca.
Viriam a criar sérias complicações legais a este Lusitano-Lapão...ÚNICO!

Mais um abraço do IOSSE.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

víquingue | adj. 2 g. | s. 2 g. | s. m. pl.
viquingue | adj. 2 g. s. m.


ví·quin·gue
(inglês viking, do escandinavo)
adjectivo de dois géneros
1. Relativo aos víquingues.

nome de dois géneros
2. Indivíduo dos víquingues.


víquingues
nome masculino plural
3. Povo de navegadores e salteadores escandinavos que, dos fins do século VIII ao princípio do século XII, percorreram a Europa. = NORMANDOS


Sinónimo Geral: VIQUINGUE

Palavras relacionadas: viking, viquingue, normando.


"víquingue", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/v%C3%ADquingue [consultado em 15-07-2020].

Valdemar Silva disse...

J. Belo
A propósito de José, eu também sou José, e o meu filho também é José Valdemar.
O meu filho sempre foi tratado por Zé, e na Holanda, para onde ele foi viver há mais de vinte anos, tratam-no por Zé com o nosso sotaque beirão Gé.
Na Holanda, melhor dizendo Países Baixos, o J também se lê I, mas no caso de José é pronunciado quase à galego/transmontano.
O mais interessante é o nome próprio do meu neto ser Zee, mar em neerlandês, que pronunciado correctamente o duplo ee passa a éi e que dá um Zee dito à alentejano zéi, que é assim que ele é tratado com excepção de em casa e familiares mais chegados ser tratado com o nosso Zé.
Uma particularidade do neerlandês é o 'ij' surgir em muitas palavras, pronunciando-se 'ai' como os ingleses com o 'i', acontecendo que o win (uain) ser vijn (vain), mas quer dizer vinho na mesma, que do nosso tintol aparece pouco por lá.

Ab. e saúde da Boa
Valdemar Queiroz

JB disse...

Caro Amigo e Camarada Valdemar Queiroz.

O holandês de hoje,quando falado, é de fácil compreensão para um sueco.
Necessitam-se uns curtos dias de conversa após os quais surge o entendimento.
Mais fácil do que o alemão ,apesar de ser esta a raiz de ambos os idiomas citados.

Um escandinavo “desenrasca-se” sempre em Portugal.
A palavra portuguesa *vinho* é simplesmente *vin* em sueco.
Simples,eficiente,rápido!

Skål !

J.Belo