sábado, 18 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21180: Os nossos seres, saberes e lazeres (402): Tapada da Ajuda: Obrigatório visitar e fruir (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
Foi o passeio de iniciação, estimulado por um artigo publicado na Revista da Universidade de Lisboa. Por aqui estudaram Amílcar Cabral e a sua primeira mulher, Maria Helena. Mais de 450 anos de ocupação deste terreno, aqui nasceu a Tapada Real de Alcântara, depois Tapada Real da Ajuda, hoje a Tapada da Ajuda tem como anfitrião maior o Instituto Superior de Agronomia.
Quem gosta de natureza e de agricultura, o espaço é um cativante chamariz com as suas hortas, velhas alfaias agrícolas aparecem espalhadas pelas bermas, há cinco hectares onde se cultivam cereais, pelos caminhos encontramos as minas de água, imprescindível é visitar o património edificado como o Chalé da Rainha D.ª Amélia, o Pavilhão de Exposições, a antiga abegoaria e a antiga vacaria, passear pela aldeia. Mas a Tapada oferece mais. No seu centro existe uma zona muito especial, a Reserva Botânica Natural D. António Xavier Pereira Coutinho, seis hectares com duzentas espécies, aqui predominam os zambujeiros (vulgo oliveira-brava). Que mais falta para quem vive em Lisboa e arredores para programar um dia maravilhoso na natureza dentro da cidade? Quem pretenda uma visita guiada a espaços reservados, tem que contatar os serviços administrativos do ISA.

Um abraço do
Mário


Tapada da Ajuda: Obrigatório visitar e fruir (2)

Beja Santos

Era dia 26 de dezembro, os visitantes raros, mas curiosamente o tráfego por toda a Tapada dava bastantes sinais de vida. O visitante dirigiu-se ao edifício principal, a circulação era restrita, alguém lhe sugeriu que viesse com visita marcada, no edifício principal é merecedor passar pela sala de atos, por exemplo. Num escaparate junto do segurança, estavam expostos desdobráveis sobre cursos que o Instituto Superior de Agronomia oferece, caso de Arquitetura Paisagista, Ciências Gastronómicas, Engenharia Alimentar e Engenharia Zootécnica. Deu para observar a elegância das escadarias, passou-se pela residência de estudantes, um guarda lembrou que a Tapada tem vários portões, dão acesso às diferentes áreas de cultivo. Recorde-se que esta visita garante fruições múltiplas, há muito mais que áreas florestais, hortícolas e agrícolas, o património edificado é de um enorme valor, logo este Pavilhão de Exposições.



O Pavilhão de Exposições é uma imponente construção de ferro e vidro, com três cúpulas, foi projetada pelo arquiteto Pedro d’Avilla para a 3.ª Exposição Agrícola de Lisboa, em 1884, tendo-se decidido que o edifício permaneceria como símbolo dessa exposição. Hoje é alugado para lançamentos de produtos, casamentos, passagens de ano ou rodagens de filmes. É lá que decorre o baile dos alunos do Instituto Superior de Agronomia, mas admite-se a possibilidade de vir a ser utilizado como espaço de exposições artísticas temporárias.


A Tapada é riquíssima em água. Desde o reinado de D. João V que a Tapada é abastecida por um sistema de minas de água. Podemos ver os respiradores das minas, construções semelhantes a casas pequenas, com telhado e quatro paredes. É nisto que o visitante para diante de um belíssimo tanque barroco que lhe lembrou os diferentes tanques que se podem visitar no Jardim Botânico da Ajuda, na Calçada da Ajuda, um espaço que é ministrado pelo instituto Superior de Agronomia. Vejam ao pormenor o lindíssimo trabalho na pedra e os efeitos barrocos.



Este é um anfiteatro de pedra, designado anfiteatro Professor Francisco Caldeira Cabral, por ele projetado em 1943. Concebido para a realização de conferências, espetáculos de teatro, bailado e música, com o aumento dos níveis de ruído decorrente da construção da ponte 25 de Abril, o anfiteatro funciona hoje sobretudo como espaço de almoço e de convívio entre alunos, dada a proximidade com o edifício principal do instituto universitário.



Um dos aspetos mais estimulantes da visita ao património edificado é contemplar a antiga abegoaria, que foi construída para a Exposição Agrícola de 1884 e que hoje é a sede do SEMEAR, um programa integrado que visa a inclusão na sociedade de jovens e adultos com dificuldade intelectual e do desenvolvimento. Na imagem seguinte vemos a antiga vacaria que é hoje a secção de produção animal do departamento de Produção Agrícola e Animal. Os edifícios têm sido todos reaproveitados e o plano estratégico do Instituto Superior de Agronomia prevê a recuperação de muitos outros, com a preocupação de preservar as caraterísticas e o ambiente da pequena aldeia desta parte da Tapada.


Vale a pena passear pela pequena aldeia, é aqui que se encontra a maior parte das casas dos atuais e antigos funcionários da Tapada e do ISA. Vivem aqui cerca de trinta pessoas. Quando deixam de estar habitadas, as casas são convertidas em residências para estudantes. Três blocos foram recentemente melhorados, foi instalado um revestimento exterior para conforto térmico e todos os equipamentos passaram a ser elétricos.



Vale a pena desfrutar a Alameda das Oliveiras, um dos espaços mais bonitos da Tapada. Tendo afinidades com novo tipo de paisagem observável no Alentejo, trata-se de um troço de estrada transitável, ladeado de oliveiras. No olival mais antigo, existem seis variedades de oliveiras repetidas em quatro blocos, constituindo um sistema de condução tradicional.


Este primeiro passeio à Tapada está prestes a findar, o visitante já leva um bom par de quilómetros nos pés, deixa para a próxima a pastagem dos cavalos garranos e meter-se por hortas e pomares, há mesmo um espaço dos coalas, uma área arbórea contendo os eucaliptos que alimentam os coalas do Jardim Zoológico de Lisboa, para a próxima há que descer em direção às vinhas e ao pomar das macieiras. O visitante despede-se da Tapada recolhendo esta imagem da pateira.


É uma imagem sugestiva, se é permitido dizê-lo a quem a captou, parece que estamos na mesma altura da ponte 25 de Abril. As descobertas são permanentes, em dado momento passou-se mesmo ao lado do Estádio da Tapadinha, aqui joga o Atlético Clube de Portugal, uma instituição desportiva com bastos pergaminhos, fundado em 1942. Escusado é dizer que ficou uma enorme vontade de aqui regressar, que rica descoberta, sair da cidade dentro da cidade!
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21139: Os nossos seres, saberes e lazeres (400): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (11) (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Anónimo disse...

Camarigo Beja Santos

Mais uma vez um muito obrigado por me fazeres relembrar os saudosos tempos a partir de outubro de 1954 quando subi pela primeira vez a celebérrima "rampa da asneira", a partir de quem entra pelo portão de baixo e sobe até ao ISA.
As célebres oliveiras, onde passavamos tardes dormitando no seu cimo, fazendo que podávamos, enquangto o "pobre" do "PICA", o eterno assistente do "Facho" André Navarro" deputado vitalício da AN, director (com direito a letra minúscula) do ISA e catedrático de Arburicultura, nos tentava ensinar as diversas técnicas de poda.
Fizeste bem lembrar a Tapadinha e o célebre Atlético Clube de Portugal, prestigiosa agremiação de ALcântara nos tempos do Estado Novo e que então era um bom viveiro de futebolistas, entre outras coisas mais importantes.
Actualmente não sei a quem pertence o campo, mas naqueles tempos era propriedade do ISA e por inerência da Asssociação dos Estudantes de Agronomia, que lhe tinham acesso gratuito e usavam o pelado para os treinos e jogos de ragbi.
Recordo que pelo menos duas vezes joguei futebol no relvado do campo principal. Acabei por me dedicar ao Basquete, já que no segundo treino de ragbi percebi que não tinha físico para suportar as quedas nos pelados onde então se disputavam estes jogos.
Por último aquela soberba foto duma das vinhas, tirada do cimo da "rampa", de costas para o edifício principal com a ponte ao fundo.

AB

JPicado.