Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 (futura CART 11) > O Renato Monteiro à esquerda e o Cândido Cunha, à direita.
Foto: © Renato Monteiro (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Lisboa > 20 de junho de 2019 > Uma foto para a eternidade... O último convívio, num restaurante, para uma sardinhada, de quatro Lacraus... Da esquerda para a direita: Renato Monteiro (1946-2021), Abílio Duarte, Valdemar Queiroz e Manuel Macias, todos ex-fur mil da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70). O Abílio já não estava com o Renato há mais de 30 anos... A pandemia de Covid-19 e os problemas de saúde (do Renato e do Valdemar) não permitiram que esta sardinhada se repetisse em 2020 e muito menos em 2021.
Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; tem mais de 120 referências no nosso blogue]:
Date: sábado, 10/07/2021 à(s) 16:25
Subject: Morreu o Renato Monteiro
Último poste da série > 1 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22332: In Memoriam (397): Actor Carlos Miguel Bugalho Artur (1943-2021), ex-Fur Mil Amanuense do CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68), falecido no dia 19 de Junho de 2021 (José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5)
Date: sábado, 10/07/2021 à(s) 16:25
Subject: Morreu o Renato Monteiro
Morreu o meu querido amigo Renato Monteiro.
Morreu mais um dos nossos queridos camaradas, também passou as passas de Piche e do Xime.
Só soube agora pelo telefonema do seu grande amigo Cândido Cunha, morreu no passado dia 7 de Julho de 2021.
Ele telefonou-me no dia 27 do mês passado, que estava mal e ia para o hospital, mas pareceu-me ser mais uma crise DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica), agora começo a pensar se não seria uma despedida.
Morreu o Monteiro, nunca mais o ouviremos dizer:
Quando abrires
o teu armário,
das surpresas imprevistas
não desistas, não desistas.
E se encontrares dentro dele
roupas velhas
amachucadas
desbotadas
ouse vires viscosa aranha
com peçonha no seu ventre
olha para ela de frente,
que ela passa sem tocar-te.
Não desistas, não desistas.
Os meus sentidos pêsames à sua esposa Guida, a quem ele no dia 18 de Fevereiro de 1969 acenou com um lenço vermelho até deixarmos de ver Lisboa a caminho da guerra na Guiné.
Estou a chorar.
Anexo uma foto do Monteiro com o seu grande amigo Cândido Cunha.
________
Nota do editor:
11 comentários:
Luís Graça
10 jul 2021 17:37
Caros amigos José Nascimento, Abílio Duarte, Manuel Macias, Luis Farinha , Valdemar Queiroz:
Amigos e camaradas: a esta hora, já devem saber da infausta notícia, a de que a morte arrebatou de vez, do nosso convívio, o Renato Monteiro. Estou chocado, acabo de saber da sua morte por mail do Valdemar.
Tinha por ele um grande ternura, estima, apreço e amizade, mesmo só tendo convivido com ele menos de dois meses em Contuboel...Voltei a reencontrá-lo 36 anos depois, graças ao nosso blogue, uma história que já aqui contei. E ainda há menos de 3 meses falei com ele, foi ele que me deu o nº de telemóvel do Valdemar (quando este fez anos).
Vou fazer um primeiro "In Memoriam", com o texto que o Valdemar me acaba de mandar. Farei depois um texto de despedida meu. Sabendo que vocês eram também também grandes amigos dele, sou solidário connvosco na dor por esta perda irreparável. O blogue está aberto às vossos contributos para o reforço da memória do nosso amigo e camarada. Vou publicar a lista das 55 referências que ele tem no blogue.
Um abraço fraterno, Luís
Abílio Duarte (by email)
10 jul 2021 18:01
Sim, foi hoje também, que por telefonema do Cunha, tive conhecimento. Disse lhe para comunicar ao Valdemar, pois ele tem mais jeito para escrever, e passar a mensagem ao Luis Graça. Descanse em paz.
José Nascimento (by emaiol)
10 jul 2021 18:59
Amigo Luís Graça,
Fui apanhado completamente de surpresa pela notícia da morte do camarada Renato Monteiro, pois até há bem pouco tempo ainda publicava algumas coisas no "Face".
O Renato Monteiro apareceu no Xime, na Cart 2520, para substituir o camarada Alvarez que havia deixado a Companhia por motivos de saúde, sendo integrado no 3º. Grupo de Combate a que eu pertenci. Esteve comigo no Enxalé, era muito bem disposto e descontraído, ainda me lembro do episódio que teve com o 1º. Sargento por causa do gira-discos, também gostava muito de escrever poemas.
Quando a nossa Companhia se mudou para Quinhamel, perdi por completo o contacto com ele. Acabou por nos deixar, por motivo de doença.
Só voltei a estar com ele há vários anos, em Albufeira. Foi a um ou dois convívios da CART 2520.
Que o nosso Camarada e Amigo descanse em paz.
Um abraço para ti, Luís Graça.
José Nascimento
Noticia triste que recebi hoje, através do Candido Cunha.
Convivi com o Renato Monteiro, durante muito tempo da minha vida militar. Não sei onde ele fez a recruta, mas a partir de Vendas Novas, andamos muitos meses em viagens par a par.
Depois de Vendas Novas fomos para Penafiel RAL 5, onde começamos a dar recruta, mas de imediato fomos para EPENG. em Tancos para tirar Minas e Armadilhas.
De volta a Penafiel, estivemos a viver fora do Quartel, em quartos alugados, que ficavam no mesmo prédio. Seguiu-se Silvalde ,onde fizemos o IAO, e depois para a África Guiné-Bissau.
Em Piche, tive a oportunidade de assistir, á razão do seu castigo, e transfª. de Unidade.
Tinhamos chegado a Piche, após um grande ataque que aquele destacamento tinha sofrido em meados de 69, e a CART. 2479/CART.11, foi para lá em reforço.
E então...como eramos uma Companhia de Africanos, eramos pau para toda a obra, debaixo das ordens dos oficiais, do Batalhão.
Alguns pelotões, foram destinados para abrir valas, as mesmas tinham de ter uma certa profundidade, e a terra era dura, e estava um calor danado. Perto da hora da refeição, após o respectivo toque, os soldados, desmobilizaram e deixaram as picas e as pás para irem comer, após o Monteiro ter dado ordem. No momento ia a passar um oficial, penso que era um Major, e começou, aos gritos, que os homens, não podiam ir, enquanto não fizessem mais uns metros de vala.
Aí o bom do Monteiro, virou-se para o dito, e disse " Vão almoçar, que eu é que mando".
Pronto levantou-se, um arraial dos antigos, foi castigado, e transferido da nossa Companhia.
Na altura constou-se que tinha sido despromovido, mas não foi isso que aconteceu.
O Monteiro, assim como o Cunha, não tinham nada a ver com aquilo, eram pessoas, muito diferentes da maioria. O Renato era o Poeta, andava sempre com livros , e por vezes, fora do ambiente.
Ao fim de mais de 30 anos, convivi com ele na foto acima, já estava, como está o Valdemar, com uma doença bastante grave.
Foi um camarada de grandes conversas, e sobre assuntos, que eu na altura não atingia, talvez pela sua formação, e eu como alfacinha, era mais terra a terra, e menos psicologia.
Mas passamos bons bocados, em todo aquele tempo. Mas a nossa vez, tem sempre de chegar.
Descansa em paz.
Leio na página do Facebook do Renato Monteiro:
De Lisboa
Ana Cristina Aleixo, há 5 h
https://www.facebook.com/profile.php?id=100035374534937
Nos últimos anos a vida tem sido muito dura. Partiram os meus Queridos Pais, o Querido Amigo José Assis, a Querida Amiga Graça Ribeiro e dia 8 de Julho o Meu Querido Amigo Renato Monteiro.
O Renato foi mais que um Amigo; foi também meu professor, de quem guardo as mais bonitas memórias dessa época em que ele me viu crescer e eu o vi envelhecer. Despassarado. Mas um bom profissional. Amigos desde que iniciei funções na escola. Amigo presente, sensível, conselheiro. Amparou-me muita vez....esteve lá. Sempre.
Tenho por ele muita estima, muito carinho. A Amizade também é Amor. É isso que tenho pelos meus Amigos. O Renato é o Meu Renato que tanto respeito e a sua Companheira Guida.
Partiu cedo demais. Tinha muita vida a frente para viver e muitos projectos para encetar. Triste. Muito triste. Agora falta-me também o meu Renato, que só o encontrarei num brilho de uma estrela bem lá no alto, onde estão os meus muito Queridos pais, José Assis e Graça Ribeiro. Falo com eles todos os dias e falarei todos os dias enquanto não voar para junto deles.
Até sempre e até já Meu Renato Monteiro, Amigo Querido.
Da página do Facebook do Renato Monteiro:
https://www.facebook.com/profile.php?id=100035374534937
Elsa Santos Alípio há 9 h
Dos muitos professores que tive até chegar à faculdade, não chega à meia dúzia os nomes que retive. Fosse por haver uma fase em que os professores não tinham nome (o seu nome era a sua condição de professores), fosse porque o meu cérebro achou por bem eliminá-los, por nada de relevante lhe terem trazido. Os nomes que retive são os daqueles que fizeram a diferença e que me deixaram qualquer coisa diferente, marcante, como a vontade em saber mais. Hoje soube que morreu um desses professores: O Renato Monteiro.
O Professor Renato transbordava entusiasmo e sabia acompanhar o nosso arrebatamento de adolescentes. Às vezes parecia um de nós, mas não deixava de ser o Professor Renato. Com ele fizemos um jornal (o «Ideias») e conhecemos a Rádio, nesses anos verdadeiramente inebriantes das rádios piratas. O professor Renato dizia que eu tinha um sentido de humor britânico (eu acho que nem sabia muito bem o que isso era) e incentivava-nos sempre a tratarmos bem da Palavra, escrita e dita.
Anos mais tarde, voltámos a cruzar-nos nos corredores da mesma escola, mas numa condição diferente, quando eu ia ser professora. Ele continuava um professor entusiasmado e hoje sei que intuiu que eu não iria ser a Professora Elsa.
Segui o meu caminho, misturando as palavras com a História (no fundo, sem nunca deixar o éter que o Professor Renato me deu a conhecer) e durante muitos anos não soube nada dele. Encontrara-o há pouco tempo aqui e fiquei contente porque o Professor Renato também se lembrava de mim. Hoje soube que nos desencontrámos outra vez e fiquei triste. Muito obrigada, Professor Renato Monteiro – até um novo reencontro.
Fa página do Facebook do Renato Monteiro:
https://www.facebook.com/profile.php?id=100035374534937
Maria Picoito há 20 h
Podia dizer muitas coisas sobre o Renato Monteiro mas vou ficar-me pelo Renato avô (porque quero) e junto-lhe o Renato fotógrafo (porque ele quereria). Bem insistiu com o Carlos que ele estava proibido de lhe chamar avô (era Renato) mas o Carlos nunca lhe chamou outra coisa se não avô. O Carlos irá sempre sonhar com garotas (e outras paixões) tal como o avô lhe dizia sempre que se despedia dele ao telefone. Porque o avô lhe disse. O Carlos irá continuar a recolher fósseis para levar ao avô mesmo que fiquem em nossa casa ao lado do dente de tubarão encontrado pelo Renato e que fascinou o neto. Andava perdido e foi encontrado há uns dias para grande contentamento do Carlos. O Carlos continuará a ilustrar as histórias do avô. Em parceria, tal como fizeram durante uns tempos quando o Carlos era miúdo. Não lhe falta material. E a obra conjunta continuará.
De entre as centenas de fotos tiradas pelo Renato ao Carlos tenho muitas como preferidas. Escolho estas. Do fotógrafo Renato avô. E que avô!
Ps: tenho a certeza que o Renato sogro iria gostar da camisola que eu tinha hoje e que iria dizer que me ficava bem. O resto do que me dizia e do que me disse da última vez que falámos, guardo para nós. Dissemos muito. Dissemos quase tudo. O resto vamos dizendo.
Página do Facebook do Renato Monteiro
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12 de junho às 22:20
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Respirava-se a sombra, deixando o dia abafado lá fora, a passar rente ao portão e a seguir pelo caminho abaixo até atingir a frescura do ribeiro. Ao murmúrio da água e da dança das libélulas azuis que, já o disse uma vez, podiam arrancar-nos os olhos, que nada havia sido dito ou escrito que tal não pudesse vir a acontecer.
As libélulas a deixarem-nos cegos para sempre, e apenas com a lembrança das cores debaixo das pálpebras para que não mais as esquecêssemos.
A ameaça das libélulas, sim, bem maior que a dos lobos, cujos uivos nos deixavam na incerteza de serem seus ou de algum tresloucado que os andasse a imitar por aqueles cerros!
Renato Monteiro
12 de junho às 14:20
O comprimido amarelo. O que cai ao chão e nunca se sabe precisar em que dia voltamos a pegar nele. O que se esconde na ruga do cobertor. O que resvala para a frincha da porta do quarto e aí fica a fazer companhia, - posso imaginar - á traça, a uma unha, ao pequeno caroço seco do tamanho de uma semente; a uma sílaba recortada dum papelinho azul, que foi meu, cor de rosa, teu! Ou branco, de alguém que veio fazer uma visita a casa e o deixou inadvertidamente cair. Um papelinho branco! Um comprimido amarelo! Estas pequenas coisas que, acumuladas, sei-o bem, estão a mais: são lixo a precisar de aspiração. Por causa da higiene, já se vê! E quanto antes, quanto antes!
O Renato Monteiro, além de professor de história no ensino secundário, foi um grande fotógrafo, com diversas exposições de altíssima qualidade. Foi também poeta e escritor. Um dos seus primeiros trabalhos publicados foi a pioneiríssma "Fotobiografia da Guerra Colonial", em coautoria com Luís Farinha (Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1990, e Círculo de Leitores, 1998).
O Monteiro telefonou-me no dia 27 de Junho, por volta das 11 horas da noite.
Habitualmente telefonava-me às tantas da noite, quase sempre batia-mos no problema da nossa DPOC.
Neste telefone achei estranho telefonar-me pra dizer que não estava nada bem e ia para o hospital. Estranhei telefonar para me dar essa informação.
Isso vai passar e voltas daqui a uns dias, disse-lhe eu
Não Queiroz, isto não está nada bom e .... já ...nem volto (não percebi bem).
Desligamos. Telefonou a lamentar-se daqui a uns dias ligo-lhe, pensei eu.
Hoje o Cunha informou-me de ter tido conhecimento do Monteiro ter morrido no dia 8.
Afinal, o Monteiro telefonou a despedir-se de mim.
Isto é demais!!!!
Valdemar Queiroz
Condolências, a Familiares, Camaradas e Amigos.
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