Guiné-Bissau > Região do Óio > Bissorã > 2 de abril de 2014 > Carlos Fortunato e Kumba Yalá (Bula, 15 de março de 1953 - Bissau, 4 de abril de 2014)... (Antigo jogador do Louletano, antigo militante do PAIGC, fundador do Partido da Renovação Social, ex-presidente da República, morreria dois dias depois deste encontro com o Carlos Fortunato, vítima de uma paragem cardíaca, quando regressava de Catió em plena campanha eleitoral.)
Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de Carlos Fortunato (,presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga, autor do livro "Lendas e Contos da Guiné-Bissau", ex-fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71)
Date: sexta, 9/07/2021 à(s) 10:42
Subject: Lendas e contos da Guiné-Bissau
Luís
Nesta lenda sobre os balantas, a história dos balantas-mané contada no livro ficou incompleta, porque não consegui reunir os elementos suficientes para poder ter uma versão que fosse devidamente confirmada e por isso não a quis escrever, mas apenas para servir de elemento para quem queira um dia aprofundar o assunto, vou contar o que ouvi, mas peço para ls nossos leitores terem as devidas reservas.
Desloquei-me à zona de Baiabo, referida no livro, e procurei quem pudesse contar o que foi o Reino dos Balantas-Mané que ali existiu, apenas consegui encontrar um idoso, que sofria de surdez, o que tornou a conversa muito difícil, o seu nome era Djola Indjai, segundo ele o reino tinha tido inicialmente a sua capital no Senegal, num lugar chamado Samé, mas devido à ameaça de invasão pelo Império Mandinga, a capital foi mudada para Cossibá na Guiné-Bissau, local que se enquadra na referida zona de Baiabo.
A decisão de mudar para Cossibá era para usar o rio Cacheu como proteção em caso de ataque mandinga. Os mandingas poderiam em alternativa atacar pelo oeste, mas teriam que vir pelo mar e atravessar o território manjaco e a leste ou pelo sul teriam que atravessar o território dos balantas.
O primeiro rei que derrotou os Mandingas, foi Ianhico Cubanjá. O segundo rei Mabu Sanca Camará teria mudado a capital do reino para Cossibá face à ameaça mandinga. A capital esteve em Cossibá até ao fim do reino, mas não resta nenhum vestígio desse tempo. Os reis seguintes foram Alanço Camará, filho de Mabu Sanca Camará, e o último rei foi Darame Camará, porque depois da sua morte não quiseram mais reis.
Nesta lenda sobre os balantas, é contada também a história do nome do Kumba Yalá, Foi curiosa a minha conversa em 2014 com o Kumba Yalá, ele começou por me perguntar o que fazia ali, respondi que pertencia a uma ONG portuguesa, a Ajuda Amiga, e que estava a distribuir livros pelas escolas. Começou a falar-me que tinha estado a estudar em Portugal, mas quando lhe falei o que sabia sobre ele, a sua tabanca e sua família, ficou desconfiado com tanto conhecimento, e vendo isso eu disse-lhe: "Nhiri matmatuc Fortunato. Nhiri cá ubabe. Nhiri god mara santa cá cum boim. Udi assime?" Traduzindo: "O meu nome é Fortunato. Eu sou branco, não sei falar bem balanta. Percebes o que estou a falar?".
O Kumba fez um grande sorriso, estendeu a mão e deu-me um forte aperto de mão, ele deve ter pensado "Ah! Este é um branco dos nossos!", porque sabem que quem como nós viveu ali os compreende.
Aproveitei a oportunidade para lhe pedir para me confirmar a história que eu tinha ouvido, que a origem do seu nome tinha origem no porco do Yalá e ele respondeu-me "Foi assim mesmo.". Foi uma conversa ocorrida em Bissorã dois dias antes da sua morte, a qual me deixou surpreendido, pois vi-o correr sem se cansar, mas o coração tem destas coisas.
Um abraço
Carlos Fortunato
2. Troca de mensagens entre o editor e o autor, a propósito do tema:
(i) Luís Graça, 8/07/2021 à(s) 22:19:
Carlos, seria uma pena não publicares essa história... Mas pedes "reservas" ...Até onde posso ir? Posso publicá-la como anexo à parte II, o que só vem enriquecer o teu livro (na perspectiva de uma eventual 2.ª edição)... se me de deres o teu OK.
E parabéns pela tua ousadia em falar balanta... Imagino que não haja só um dialecto, mas vários... Mantenhas. Luís
Date: sexta, 9/07/2021 à(s) 10:42
Subject: Lendas e contos da Guiné-Bissau
Luís
Nesta lenda sobre os balantas, a história dos balantas-mané contada no livro ficou incompleta, porque não consegui reunir os elementos suficientes para poder ter uma versão que fosse devidamente confirmada e por isso não a quis escrever, mas apenas para servir de elemento para quem queira um dia aprofundar o assunto, vou contar o que ouvi, mas peço para ls nossos leitores terem as devidas reservas.
Desloquei-me à zona de Baiabo, referida no livro, e procurei quem pudesse contar o que foi o Reino dos Balantas-Mané que ali existiu, apenas consegui encontrar um idoso, que sofria de surdez, o que tornou a conversa muito difícil, o seu nome era Djola Indjai, segundo ele o reino tinha tido inicialmente a sua capital no Senegal, num lugar chamado Samé, mas devido à ameaça de invasão pelo Império Mandinga, a capital foi mudada para Cossibá na Guiné-Bissau, local que se enquadra na referida zona de Baiabo.
A decisão de mudar para Cossibá era para usar o rio Cacheu como proteção em caso de ataque mandinga. Os mandingas poderiam em alternativa atacar pelo oeste, mas teriam que vir pelo mar e atravessar o território manjaco e a leste ou pelo sul teriam que atravessar o território dos balantas.
O primeiro rei que derrotou os Mandingas, foi Ianhico Cubanjá. O segundo rei Mabu Sanca Camará teria mudado a capital do reino para Cossibá face à ameaça mandinga. A capital esteve em Cossibá até ao fim do reino, mas não resta nenhum vestígio desse tempo. Os reis seguintes foram Alanço Camará, filho de Mabu Sanca Camará, e o último rei foi Darame Camará, porque depois da sua morte não quiseram mais reis.
Nesta lenda sobre os balantas, é contada também a história do nome do Kumba Yalá, Foi curiosa a minha conversa em 2014 com o Kumba Yalá, ele começou por me perguntar o que fazia ali, respondi que pertencia a uma ONG portuguesa, a Ajuda Amiga, e que estava a distribuir livros pelas escolas. Começou a falar-me que tinha estado a estudar em Portugal, mas quando lhe falei o que sabia sobre ele, a sua tabanca e sua família, ficou desconfiado com tanto conhecimento, e vendo isso eu disse-lhe: "Nhiri matmatuc Fortunato. Nhiri cá ubabe. Nhiri god mara santa cá cum boim. Udi assime?" Traduzindo: "O meu nome é Fortunato. Eu sou branco, não sei falar bem balanta. Percebes o que estou a falar?".
O Kumba fez um grande sorriso, estendeu a mão e deu-me um forte aperto de mão, ele deve ter pensado "Ah! Este é um branco dos nossos!", porque sabem que quem como nós viveu ali os compreende.
Aproveitei a oportunidade para lhe pedir para me confirmar a história que eu tinha ouvido, que a origem do seu nome tinha origem no porco do Yalá e ele respondeu-me "Foi assim mesmo.". Foi uma conversa ocorrida em Bissorã dois dias antes da sua morte, a qual me deixou surpreendido, pois vi-o correr sem se cansar, mas o coração tem destas coisas.
Um abraço
Carlos Fortunato
2. Troca de mensagens entre o editor e o autor, a propósito do tema:
(i) Luís Graça, 8/07/2021 à(s) 22:19:
Carlos, seria uma pena não publicares essa história... Mas pedes "reservas" ...Até onde posso ir? Posso publicá-la como anexo à parte II, o que só vem enriquecer o teu livro (na perspectiva de uma eventual 2.ª edição)... se me de deres o teu OK.
E parabéns pela tua ousadia em falar balanta... Imagino que não haja só um dialecto, mas vários... Mantenhas. Luís
(ii) Carlos Fortunato, 9/07//2021, 20:19
Luís, expliquei-me mal com a palavra "reservas" no meu comentário. Podes publicar o meu comentário, pois o pedido de "reservas" é apenas para as pessoas lerem com as devidas reservas, porque não foi uma recolha de dados que eu tivesse conseguido confirmar noutras fontes, embora alguns dados estejam de acordo com trabalhos feitos por vários historiadores, mesmo assim não tem o rigor necessário, pode conter informações incorretas, necessitava de ter encontrado outras pessoas que soubessem contar aquela história, infelizmente o que me disseram é que apenas existia o Djola Indjai.
Aquele abraço, Carlos Fortunato
Luís, expliquei-me mal com a palavra "reservas" no meu comentário. Podes publicar o meu comentário, pois o pedido de "reservas" é apenas para as pessoas lerem com as devidas reservas, porque não foi uma recolha de dados que eu tivesse conseguido confirmar noutras fontes, embora alguns dados estejam de acordo com trabalhos feitos por vários historiadores, mesmo assim não tem o rigor necessário, pode conter informações incorretas, necessitava de ter encontrado outras pessoas que soubessem contar aquela história, infelizmente o que me disseram é que apenas existia o Djola Indjai.
Aquele abraço, Carlos Fortunato
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Nota do editor:
2 comentários:
Sobre o Kumba Yalá, (re)Ver aqui o poste P13006:
18 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13006: 10º aniversário do nosso blogue (12): Faz hoje 2 meses que o Pepito nos deixou... Em sua memória reproduzimos aqui um vídeo de 2012, em que ele relata, com humor e boa disposição, uma das cenas de violência de que foi vítima, na sua casa do Quelelé, ao tempo de Kumba Ialá (c. 2000)...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2014/04/guine-6374-p13006-10-aniversario-do.html
Na altura (14 de abril de 2014), escrevemos_
(...) 'Nino' Vieira e Kumba Ialá eram dois políticos que o nosso Pepito detestava ... Mas nós nunca ouvimos ou lemos palavras suas de ódio para com os seus inimigos políticos... Até nisso, o Pepito era um homem dos nossos dias que nos inspirava e nos dava constantes exemplos de coragem (física e moral), de cidadania e de humanidade...
A sua associação, póstuma, às comemorações dos 10 anos do nosso blogue, é mais que justa: ele foi um grã-tabanqueiro da primeira hora, e tínhamos por nós, ex-combatentes, um especial carinho... Nunca foi combatente nem tinha armas em casa... Dois meses depois, ele está bem presente na nossa memóriaL Foi um privilégio, para alguns de nós, conhecê-lo e tê-lo como amigo. (...)
Luís. Foi muito bom rever esta conversa com o querido e saudoso Pepito. Obrigado
Os momentos passados com o Pepito cá e lá na Guiné, nas vezes que por lá andei e estive em casa dele ou na AD são inesquecíveis. Quanto lamento só o ter conhecido em 2008. Foi a pessoa que mais me marcou nos últimos anos pela seriedade, amizade e sentido de serviço aos outros e às comunidades. Um mestre que partiu cedo.
Ele e o Nelson já partiram e deixaram muitas saudades.
O ano passado, nas férias que passei pelas tuas bandas, fui até S. Martinho do Porto em romagem de saudade e de lá telefonei á Isabel. Foram os bons momentos de conversa, onde o Pepito entrou na eterna saudade que nos deixou e nos une.
Fraternal abraço.
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