domingo, 16 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22912: Ocupação dos aquartelamentos das NT e povoações pelo PAIGC (jul-out 1974), de acordo com o Plano de Retração do Dispositivo: excertos do relatório da 2ª Rep/CC/FAG, datado de 28 de fevereiro de 1975


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Julho de 1974: visita de Bunca Dabó e do seu bigrupo, fortemente armado... Ao centro, o nosso amigo e camarada Jorge Pinto, então alf mil, em farda nº 2, desarmado, fazendo as "honras da casa" (*). O aquartelamento e a povoação foram ocupados pelo PAIGC apenas em 2 de setembro de 1974.  (Natural de Turquel, Alcobaça, o Jorge Pinto é professor do ensino secundário, reformado.)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto  (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

Relatório 2ª Rep /Pág.  52


Relatório 2ª Rep /Pág.  53



Relatório 2ª Rep /Pág.  54

 

Luís Gonçalves Vaz


Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001)

Excertos do relatório da 2ª Rep/CC/FAG, sobre a situação político-militar em 1974 , publicado em 28 de fevereiro de 1975, e na altura classificado como "Secreto". É 
 assinado pelo chefe da 2ª Rep do CC/FAG [, Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, comando unificado criado em 17 de Agosto de 1974], o maj inf Tito José Barroso Capela.

Este documento foi digitalizado pelo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande [,foto acima], a partir de um exemplar pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001), último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74) [, foto també, acima]. (**)

Índice do relatório [que tem 74 páginas] (***)

A. Período até 25Abr74

1. Situação em 25Abr74

a. Generalidades (pp.1/2)
b. Situação política externa:
(1) PAIGC e organizações internacionais (pp. 2/5)
(2) Países limítrofes (pp. 5/8)
(3) O reconhecimento internacional do “Estado da G/B em 25Abr74 (pp.8/9).

c. Situação interna:

1. Situação militar

(a) Actividade do PAIGC (pp. 10/12)
(b) Síntese da atividade do PAIGC e suas consequências (pp.13/15)
(c) Análise da actividade de guerrilha (pp. 16/18)
(d) Dispositivo geral do PAIGC e objetivos (pp. 18/19)
(e) Potencial de combate do PAIG (pp.19/20)
(f) Possibilidades do PAIGC e evolução provável da situação (p. 21)

2. Situação político-administrativa (pp. 22/24).

B. Período de 25Abr74 a 15Out74

2. Evolução da situação após 25Abr74

a. Generalidades (pp. 25/26)
b. Situação política externa (pp. 26/28)

(1) PAIGC (pp. 29/32)
(2) Organizações internacionais (pp. 32/34)
(3) Países africanos (pp. 34/35)
(4) Outros países (pp. 35/36)


c. Situação interna

(1) Situação militar

(a) Aspetos gerais (pp.37/46)

(b) Síntese da actividade de guerrilha

1. Ações de guerrilha realizadas pelo PAIGC após 25abr74 (pp. 47/52)
2. Ações de controlo às viaturas das NT (p. 52)
3. Ocupação dos aquartelamentos das NT e povoações pelo PAIG (pp. 52/54)

(2) Situação político-administrativa(a) PAIGC- Contactos e conversações no TO (pp. 55/64)

(b) Outros partidos políticos ou associações cívicas (pp. 64/66)
(c) Prisioneiros de guerra (pp. 66/68;
(d) Transferência dos serviços públicos sob administração portuguesa para a administração da República da Guiné-Bissau (pp. 68/70);
(e) Diversos (pp. 70/74)

___________

Notas do editor:



 (*** ) Vd. restantes postes da série:




4 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9443: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte V): pp. 10/21

31 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9424: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte IV): pp. 1/9

15 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Esta foto é um das minhas preferidas... Um homem, desarmado, sorridente, desconcertante, inteligente,faz de "cicerone" ao inimigo de ontem.... Que nobreza, que grandeza, Jorge!...

Carlos Vinhal disse...

Caro Luís, apetece-me perguntar de quê ou de quem tinham medo os guerrilheiros na foto.
Uma coisa que nunca percebi, o modo como se apresentavam as forças do PAIGC perante a nossa tropa quando visitavam os seus futuros quartéis. Uma coisa é uma arma de desfesa pessoal, outra uma arma de combate, como por exemplo um RPG ou uma metralhadora.
Tenho pena que os nossos camaradas de então, "cegos" pela ideia do fim da guerra, se tenham tornado tão "íntimos" do ex-IN, quando na verdade não se devia esquecer o sacrifício da vida de milhares de compatriotas nossos. Uma coisa é o serviço, outra é o conhaque.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Carlos, essa, é uma boa questão. Eu não estava lá, nem tu, não faço juizos sobre o comportamento dos "últimos soldados do Império"... Acho que acontece em todos os fins de guerras que não se ganham pelas armas (caso do PAIGC...). O cansaço, de ambos os lados, era mais que evidente...

No caso desta foto, não isenta de "ambiguidades", leia-se o que escreveu, no poste P15818,de 3 de março de 2016, o Jorge Pinto:

(...) (iv) As fotos nºs 5 e 6 retratam a visita, a pedido expresso, dos militares do PAIGC ao porto de Fulacunda, por onde era feito o nosso reabastecimento [, porto fluvial, no rio Fulacunda, vd, poste P12368];

(v) A última foto (nº 7) retrata, à entrada da messe de oficiais, o comandante de bigrupo, Bunca Dabó, que atacou várias vezes o aquartelamento e a tabanca de Fulacunda, durante os dois anos em eu que lá estive.

As fotos evidenciam que a "confiança", por parte dos militares do PAIGC, ainda estava para nascer!!! ....(Já estávamos em Julho de 1974...) Também ficou por explicar a utilidade desta visita, pois não fomos fazer nada nem ver nada de novo.(...)

Valdemar Silva disse...

Em relação à entrega do aquartelamento de Paúnca, houve graves problemas com os soldados da CCAÇ.11, com alguns, ainda, da minha CART11.
Eles revoltaram-se com os soldados metropolitanos, chegaram a prender alguns, por não quererem entregar-se ao PAIGC.
Não sei como acabou o problema, mas parece ter havido razões para os soldados fulas estarem receosos do que lhes ia acontecer.
Quanto ao resto, é uma chatice ter de apertar a mão ao IN no final duma guerra, principalmente àqueles que provocaram mortos e feriados graves com ataques sistemáticos ao nosso aquartelamento.
Faz lembrar prisioneiro chamar f. da p. quando estava a ser torturado, pudera, não lhe diria 'meu queridinho isso não se faz Toino'.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Em geral nestas várias fotos (poucas)de "despedida solene"que fomos vendo aqui estes anos de blog, raramente vemos a presença do povo das redondezas.

Nem com lenços brancos para quem partia, nem com palmas para quem chegava.

Também presenciei a mesma coisa com as sanzalas em Angola.

E o povo é que contava, mas aquelas gerações deixaram de contar, outras viriam com mais sorte e colhem hoje os frutos daquele esforço.


Tabanca Grande Luís Graça disse...

É verdade, Rosinha (, sejas bem aparecido!)... Não há muitas fotos (,pelo menos aqui), com o Zé Povinhoda Guiné a saudar a chegada dos "libertadores"... Ab, Luis

Valdemar Silva disse...

Rosinha
Aquela guerra era para "correr com os colonialistas", entenda-se por colonialistas as forças militares/policiais/civis e o poder económico colonial.
Quem devia ter dado viva! foram as mães dos soldados meninos, a população por deixar de estar dentro do arame farpado e o povo português por ter acabado a guerra de 13 anos.
Foi o povo português que saiu à rua com palmas e flores quando acabou a guerra, assim como mais de uma década antes os "brancos" receberam a tropa em Angola, Moçambique e Guiné quando a guerra começou.
Mas, é bem observado a atitude em relação à alegria do fim duma guerra.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

De acordo com o plano do Estado-Maior, a entrega do quartel de Fajonquito devia acontecer no dia 02Set74, na realidade esta cerimonia (funebre) foi antecipada um dia antes (ver a pesquisa de José Marcelino Martins sobre as companhias que passaram por Fajonquito).

O pequeno grupo (menos de um Pelotao da segunda companhia do BAT-CAC 4514/72, comandada pelo Cap. Mil. Inf. Ramiro Filipe Raposo Pedreiro Martins) que restava para a entrega estava com os cabelos em pé de tanta pressa para deixar a localidade.

Eu, mais um grupo de crianças (todos rafeiros profissionais) que tinha ido buscar o (seu) café da manha, fomos dos poucos que tiveram o privilégio de assistir a rapida cerimonia que decorreu na parada, junto ao mastro da bandeira, mas fora dos arames, pois o aqurtelamento, de facto, ja estava sob o controlo dos guerrilheiros, sempre armados, que nos olhavam com aquele olhar felino de homens de mato, como que a dizerem: "Pensam que isto vai continuar, seus malandros?". Por algum tempo, talvez 2/3 meses, ainda continuamos a comer bacalhau com arroz e um pouco de batatas dos restos que tinham ficado no deposito de géneros. Abandonamos o quartel quando vimos o primeiro babuino sorridente (dentes ensanguentados a mostra), a ser arrastado para a cozinha.

O PAIGC sabia o que estava a fazer e, para adormecer a desconfiança dos homens grandes fulas, o primeiro Bigrupo que entrou na Tabanca era constituido maioritariamente de jovens e simpaticos balantas de Sul com excepçao do homem da segurança (a pide do partido) e do Comissario politico que eram naturais da zona e conheciam tudo e todos. Caso fossem mandingas (nossos vizinhos e arqui-rivais), certamente, a recepçao nao seria a mesma e muitos iriam juntar-se aos que ja estavam do outro lado da fronteira Norte.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Antº Rosinha disse...

Se não fosse exagerar na minha curiosidade, gostava de saber qual a idade, mais mês menos mês, uma vez que o registo civil no interior da Guiné, nesses tempos pouco contavam, do nosso companheiro "guinéu" Cherno Baldé.

Eu, no 25 de Abril do ano de 1974 ia fazer, "mais semana menos semana", uma vez que no interior de Portugal o nascer nem sempre coincidia com o dia de ir à feira à vila, onde estava o registo, em fazia 36 anos.

Só para eu um dia fazer um post qual foi o futuro dos guineenses (alguns)da idade dele, uns na Guiné outros angolanos em Angola, e qual foi o futuro daqueles que eram mais velhos, da minha idade.

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Rosinha,

Eu e o meu irmao mais velho, contra a minha vontade, fomos matriculados na escola primaria portuguesa de Fajonquito em 1969. Teria sido nessa altura que o Professor tinha estimado a idade de cada um de nos e ao meu irmao deram o nome portugués de "Carlos", mas a mim que, talvez na opiniao do meu pai tinha o nome de um Almame (Cherno) e do pai do Profeta (Abdalla), nao devia mudar. ao meu irmao puseram a data de Julho/1963 (6 anos) e a mim a data de Junho/1964 (5 anos). O registo oficial foi feito dois anos mais tarde (1972) e ja frequentava a 2a Classe.

Na realidade, em 1963/64 quando a guerra se alastrou para o Nordeste, fomos obrigados a deixar a nossa aldeia de Sintcha Samagaia, nos arredores de Fajonquito (ainda nao tinha tropas), para Sintcha Sila, na linha da fronteira Norte, a poucos km de Cambaju na companhia da nossa avo, eu e o meu irmao Carlos, caminhamos lado a lado e sao cenas de que me lembro, claramente, ainda hoje.

Foi em Sintcha Sila que sofremos o primeiro ataque do PAIGC, uma aldeia pacifica de camponeses. Nessa altura os nossos pais estavam em Cambaju, onde o nosso pai era empregado numa loja de um Luso-Caboverdiano de nome Barbosa.

Na noite do ataque, com o rebentamento de uma granada inclusive, houve uma debandada geral, a maior parte fugiu para o Senegal. Nos, na companhia da nossa avo, fugimos ao Deus dara e fomos parar no meio de uma bolanha, na época seca, num local com folhas altas e cortantes como laminas. Fomos obrigados a ficar la quietinhos, durante toda a noite e de manha caminhamos para a localidade de Cambaju para juntarmos, finalmente, aos nossos pais.

Toda esta narrativa para dizer que em 1964, no minimo, ja teria 4/5 anos de idade e talvez mais, para ter a memoria ainda viva dos acontecimentos. E, finalmente, em 1974 teria
no minimo 14/15 anos e todos os acontecimentos ficaram gravados com uma marca indelevel.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé


Durante o ataque, fugimos



Em 1964

Anónimo disse...

Caro Rosinha,

Aproveito esta oportunidade para o felicitar pela tua excelente longevidade, pois 83 anos com saude e vida activa é uma bençao dos Deuses que nao é dada a todos. Espero que continues na nossa companhia por muitos mais anos. Eu me contanterei com os 77 anos (de acordo com a previsao do homem grande mandinga "Marabout" de Sumbundo, os mesmos que o nosso "Alfero" Jorge Cabral nos deixou ha poucos dias.

Cherno baldé

Antº Rosinha disse...

Obrigado Cherno, temos uma diferença de 20/21 anos, eu serei da geração de teus pais.

Estou posicionado para o que pretendo.

Anónimo disse...

Caro Rosinha,

O meu pai era um pouco mais velho, porque na altura da ultima guerra de repressao contra os Canhabaques em 1935/36 (tu ainda nao tinhas nascido), ele fez parte da delegaçao que veio receber os nossos que regressavam dessa campanha, entre 1936/37, montado num cavalo da familia. Munido dessas informaçoes, calculei que teria, mais ou menos, a idade de 17/18 anos. Assim, a sua provavel data de nascimento estaria no intervalo de 1917_19. Faleceu de COVID-99 (pneumonia aguda) em Bissau em 1999, por falta de assistencia medica, em consequencia da guerra de 1998/99, com 80/81 anos.

Abraços,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

PS: Se ele tivesse a tua idade de certeza que nao escapava a tropa. Os primeiros grupos de voluntarios locais para a auto-defesa do regulado foram organizados em 1962/63, ainda com mauzers como armamento, e os pelotoes de milicias em 1964, com a chegada da CCAC 674 (1964/66) em Fajonquito.

Cherno AB

Victor Costa disse...

Camarada:
Não me conheces, nem eu a ti, mas sei que já estou atrasado ao escrever esta menssagem. Assim só me resta colocar-me na posição de sentido e fazer-te a continência por teres assumido esta postura no acto de transferência de soberania da Guiné.
Um abraço,
Victor Costa
Ex. Fur.Mil.At.Inf.