sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22966: (Ex)citações (401): A Suécia... sempre original (José Belo) - Parte II: A cidade de Södertälje, com mais de 70 mil habitantes (,sede de grandes empresas conhecidas como a Scania, a AstraZeneca e a Alfa Laval), vai usar corvos-da-nova-caledónia para recolher as beatas do chão


 

Corvo-da-nova-caledónia (Corvus moneduloides). Gravura de John Gerrard Keulemans,
1877. Fonte Catálogo dos Pássaros no Museu Britânico,  Volume 3. Imagem do domínio público. Cortesia da Wikimedia Commons.



José Belo

José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Nova Orleans...); (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, agora jubilado; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem 215 referências no nosso blogue; e (vii( faz hoje anos.


1. Mensagem do José Belo:

Data - terça, 1 fev 2022, 12:34

Assunto - A Suécia... sempre original (*)

Caro Luís

Um pouco de ar de New Orleans (ou NOLA como se diz localalmente)...

Seguem dois artigos, do jornal inglês "The Guardian", um sobre corvos "funcionários camarários" para apanhar "beatas", e outro relacionado com as pontes construídas para as renas sobre algumas autoestradas da Laponia.

Um grande abraco com votos de saúde. J. Belo

https://www.theguardian.com/world/2021/jan/20/sweden-to-build-bridges-for-reindeer-to-safely-cross-roads-and-railways

https://www.theguardian.com/environment/2022/feb/01/swedish-crows-pick-up-cigarette-butts-litter
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2. Comentário do editor Luís Graça:

José, a tua segunda pátria, a terra dos teus filhos, onde vives há quatro décadas,  é de facto um país "sui generis"... (muito mais rico, de resto,  que o nosso, embora equivalente em população, com um PIB per capita de 45, 9 mil euros , contra os 19,4 mil euros de Portugal).

E o segundo exemplo que nos mandas (*)  não deixa também de nos fazer sorrir e sobretudo refletir... Pôr corvos (de uma espécie que é oriunda da Nova Caledónia, e que revelam um grau de inteligência pouco vulgar entre as aves e os demais animais não primatas), a apanhar as beatas dos fumadores sem educação cívica, é uma ideia original... Faz parte de um projeto de uma autarquia sueca que quer manter as ruas limpas e reduzir os custos da limpeza urbana...

O artigo do Guardian, citando fontes suecas, diz que mil milhões de pontas de cigarro (!), equivalemte a 50 mil milhões de maços de cigarros, são deitadas para o chão, todos os anos, na Suécia, representando 62% de todo o lixo das ruas (!). E ainda dizem que a Suécia é um modelo de virtudes... cívicas.

A cidade de Södertälje, com mais de 70 mil habitantes (,sede de grandes empresas conhecidas como a Scania, a AstraZeneca e a Alfa Laval, e que fica acerca de 30km a sudoeste de Estocolmo), gasta 20 milhões de coroas suecas (mais de 1,9 milhões de euros) na limpeza das ruas. A redução de custos da limpeza de beatas,  feitas pelos "novos almeidas",  poderia atingir os 75%.

Aqui vão mais alguns excertos do artigo, fazendo eu (e o resto da Tabanca Grande, em coro!) votos de que estejas  a passar um maravilhoso dia de aniversário!...

PS - Só espero que o corvo-da-nova-caledónia. agora nacionalziado sueco, não se envaideça com o seu novo cargo  e não caia na esparrela do paleio das matreiras raposas deste mundo, como acontece na fábula O Corvo e a Raposa, de La Fontaine...


3. Suécia: município usa corvos para recolhar as beatas do chão

Os corvos-da-nova-caledónia (Corvus moneduloides) estão a ser cobaias de uma experiência-piloto na cidade de Södertälje, perto de Estocolmo, ao serem utilizados para apanhar, com o bico, as beatas lançadas no chão. Por cada beata, recolhida e depositada numa máquina desenhada para o efeito, o corvo recebe um pouco de comida.

Christian Günther-Hanssen, fundador da Corvid Cleaning, empresa que está por detrás do projeto, diz que os corvos da Nova Caledônia, membros da família dos pássaros corvídeos, são tão bons em raciocínio quanto uma criança humana de sete anos, de acordo com a investigação mais recente, pelo que seriam os pássaros mais adequados para este tipo de tarefa.

Günther-Hanssen acrescenta: “Eles são mais fáceis de ensinar e também há uma chance maior de aprenderem uns com os outros. Ao mesmo tempo, há um risco menor de eles comerem qualquer lixo por engano." 

A saúde das aves terá de ser acautelada, antes que a operação se estenda a toda a cidade. Se a experiência tiver sucesso, abrem-se perspetivas interessantes para a aplicação do método em outros ambientes...

[ Tradução, resumo, adaptação livre, fixaçáo de texto, para efeitos de publicação neste poste: LG]

Fonte: Daniel Boffey - Swedish firm deploys crows to pick up cigarette butts. The Guardian, Tue 1 Feb 2022 09.35 GMT... Com a devida vénia...
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Nota do editor:

9 comentários:

Antº Rosinha disse...

Os corvos que venham para cá para a "função pública" que entram logo em greve.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Como alguém diz no artigo, e que não vem referido no resumo, podemos ensinar os corvos a apanhar pontas de cigarro, mas não conseguimos ensinar as pessoas a não lançar as beatas para o chão... LG

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Tomas Thernström, a waste strategist at Södertälje municipality, said the potential of the pilot depended on financing.

“It would be interesting to see if this could work in other environments as well. Also from the perspective that we can teach crows to pick up cigarette butts but we can’t teach people not to throw them on the ground. That’s an interesting thought,” he said.

https://www.theguardian.com/environment/2022/feb/01/swedish-crows-pick-up-cigarette-butts-litter

JB disse...

E,mais uma vez a soberba humana é posta no seu lugar pela natureza.
Os corvos têm que introduzir a cabeça num buraco da máquina para depor a beata numa caixa com sensores que identificam a nicotina.
Só recebem o prémio em comida se o resultado for positivo,evitando assim que os corvos usem outros restos.
Só que….as “alimárias” aprenderam a tocar com a beata na caixa de recuperaçãoa,retirar rapidamente a cabeça ainda com a beata no bico,repetir o procedimento e…..recebem automaticamente várias porções de comida usando a mesma beata!
Ainda mais “avançados” que os grevistas referidos por comentador anterior.

Um abraço do J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

...Zé, pelo que deduzo será preciso um exército desses novos "almeidas" para cobrir a cidade... centenas, milhares de corvos...Esta bicharada toda a cagar levanta novos problemas, podem tornar-ser uma praga tal como os pombos e as gaivotas... Quem vai limpar a merda dos corvos que limpam a merda dos humanos ? Os imigras
? ... A menos que, por manipulação genética, consigam fazer corvos sem cu... O manicómio global está-se a aperfeiçoar... Carpe diem... Luís

Valdemar Silva disse...

Não estou a ver um bando de corvos, ou vicentes como lhes chamava a minha mãe, a ocupar uma praça lá do sítio como os pombos ocupavam o nosso Rossio, em Lisboa.
A propósito de aves.
Em frente do meu prédio, meu é como quem diz, existe uma nespereira que nasceu na altura da construção do prédio. Essa nespereira todos os anos dá nêsperas que se farta, as crianças e até os adultos vão à chinchada limpando os frutos da árvore. Também e principalmente os pardais se alimentavam das nêsperas era vê-los e ouvi-los todos os dias na nespereira, que lhes fazia de poleiro e até de construção dos seus ninhos.
Pois era vê-los e ouvi-los, mas já há alguns meses que não os vejo e de manhã já não os ouço com as suas chilreadas. Desapareceram.
Em Dezembro de 2019, os jornais diziam que por causa das alterações climáticas os pardais, rolas, pintassilgos, cucos, melros e andorinhas eram espécies ameaçadas.
Eu já não vejo os pardais na minha nespereira.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

ps que me desculpem os meus conterrâneos, os magnólios são o fruto da magnólia e não são comestíveis.

Valdemar Silva disse...

Rectificação ou não
Ás nêsperas no Norte, talvez mais no Minho, chamam-lhe magnólios ou melhor dizendo magnórios.
Os magnórios são os frutos da nespereira europeia, quando maduro de cor castanha (parecido ao bugalho) e as nêsperas vulgares de cor amarela são o fruto da nespereira do Japão, que é a mais generalizada.
Lembro-me de haver magnórios em Guimarães que eram comidos quando estavam muito maduros, que julgo não ser fácil, agora, encontrar.

(isto por causa dos corvos, e nem digo que as conversas são como as cerejas)

Valdemar Queiroz

Carlos Vinhal disse...

Caro Valdemar, a propósito deste teu parágrafo: "Essa nespereira todos os anos dá nêsperas que se farta, as crianças e até os adultos vão à chinchada limpando os frutos da árvore.", lembrei-me de uma lengalenga de quando éramos putos, que rezava mais ou menos assim:
"Era e não era
Lá pela serra
O pai era morto e a mãe por nascer.
Que é que o rapaz havia de fazer?
Subiu a um marmeleiro
carregado de avelâs
para roubar as maçãs.
Veio o dono da horta
pegou num pé de alface
atirou-lhe à testa
e fez-lhe uma ferida no joelho."

Abraço, esperando que estejas o melhor possível, bem.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Valdemar Silva disse...

Obrigado, caro Carlos Vinhal.
Cá vou aguentando à rasquinha, já não saio de casa desde o Natal.
Essa é boa e com muita filosofia, o Dali não se lembraria para tema de pintura.
Ainda por causa dos corvos, o nosso J Belo me desculpe, vou contar a história do 'vamos ver os corvos ao Castelo'.
Na empresa onde trabalhei desde criança, havia constantes admissões de paquetes dado o crescimento da actividade. Quando aparecia um nabo da outra banda (Barreiro,Almada,etc.) que não conhecia Lisboa, como tínhamos duas horas ao almoço convidávamos o nabo a ir ver os corvos do Castelo de S. Jorge. E lá íamos uns tantos mais o nabo, que chegados ao Castelo arranjávamos maneira dele ficar perdido e nós desaparecermos de regresso à empresa. O nabo chegava atrasado quase uma hora depois, desculpando-se ter ido ver os corvos ao Castelo e perder-se por não conhecer a caminho de regresso. Conforme o chefe, o nabo levava com uma falta sem vencimento e ficava à espera de aparecer outro nabo para o convidar a 'vamos ver os corvos ao Castelo'.
E eu? Eu como morava em Arroios, não era bem um nabo da outra banda.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Hélder Valério disse...

Caro JBelo

Uma acção interessante!
Aliás, a procura de auxílio de animais para tarefas humanas é já habitual.
São cães treinados para descobrir droga, para perseguir fugitivos, para utilidades de caça, enfim, múltiplas tarefas.
São falcões que se utilizam para "afugentar" aves das imediações dos aeroportos.
São águias que se utilizam em estádios de futebol para deleite dos espetadores.
Sobre os corvos lembro de ver em saltimbancos de rua e também no circo as habilidades em recolher moedas e colocá-las em mealheiros. Se podiam fazer isso, treinados, podem bem recolher "beatas".
Não sei se os amiguinhos dos animaizinhos aplaudirão ou recriminarão.
Podem aproveitar para dizer: "estão a ver como os animais têm comportamentos humanos?" ou então: "mais uma forma desumana de violência sobre os animais que deverá ser severamente punida pois trata-se claramente de exploração não remunerada"
Enfim, aguardemos.
Mas, entretanto, o que mais ressalta da informação, para além do aparente inusitado, é a magna questão de "como ensinar as pessoas a serem civilizadas".

Abraço
Hélder Sousa