English: Finnish Army 130 mm Gun M-46 during a direct fire mission in a live fire exercise [Peça de artilharia 130 mm, M-46. Exército finlandês, durante uma missão de fogo direto, em exercícios de fogos reais]
Suomi: 130 K 54 suora-ammunnassa
Date 6 March 2010 | Source Own work | Author Levvuori
Source: Wikimedia Commons | Public domain (Com a devida vénia...)
(**) Vd. poste de 18 de abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1672: Guileje: a artilharia do PAIGC (Nuno Rubim)
1. Foi há 49 anos que a "fúria" do PAIGC, com o apoio dos seus aliados externos (Senegal, Guiné-Conacri, ex-URSS, Cuba...) se virou para os aquartelamentos de fronteira, a Norte (Guidaje, Bigene) e a Sul (Guileje, Gadamael Porto), com a intenção de os varrer do mapa, e aumentar a pressão político-militar para melhor se posicionar à mesa de eventuais futuras negociações, e sobretudo a pressão diplomática, tendo em vista a declaração unilateral da independência do território, o que viria a acontecer em 24 de setembro de 1973.
Citando o nosso vade-mécum (Pedro Marquês de Sousa - "Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pp. 1974-175) (*):
(i) "Durante o ano de 1973, o mais simbólico na história da Guerra Colonial, o PAIGC realizou 640 ataques a aquartelamentos portugueses ", o que representa 61% do total das suas acções ofensivas (1042), "especialmente junto às fronteiras Norte e Sul: Bigene, no Norte, foi atacada 21 vezes, Guileje, no Sul,foi atacada 36 vezes, Guidage (Norte), 43 vezes, e Gadamael Porto (Sul) , 70 vezes" (pág, 194).
(ii) foram implantadas 750 minas (AP e A/C), das quais 416 (55,5%) no 1º semestre;
(iii) globalmente, as baixas provocadas à tropa portuguesa e à população civil foram significativas: 181 militares mortos e 1133 feridos; do lado da população civil, 120 mortos e 554 feridos;
(iv) as baixas (mortos e feridos) no 1º semestre (1248) representaram 62,8% do total do ano de 1973 (1988).
Estes resultados poderiam ter sido mais gravosos se, no 2º semestre de 1973, o PAIGC não estivesse empenhado na preparação e realização do Congresso e da Assembleia Nacional, em território da Guiné-Conacri, que estiveram na origem da proclamação unilateral da indepêndência em 24 de setembro de 1972.
Na sequência da Operação Amílcar Cabral, planeada já antes mas desencaeada depois da morte do líder (20 de janeiro de 1973), o PAIGC, nas flagelações e ataques a aquartelamentos portugueses, privilegiou o uso de armas pesadas da guerra clássica, com destaque para:
- morteiros 82 mm e 120 mm;
- canhão sem recuo 82 B-10;
- foguetes 122 mm;
- peças de artilharia 130 mm M-46, de grande alcance (cerca de 27 km).
A artilharia 130 mm foi usada pela primeira vez contra Guileje em maio de 1973 (**). E com crescente precisão. De origem soviética, com quase todo o armamento do PAIGC, operava a partir do território da Guiné-Conacri e tinha sido cedida pelo regime de Sékou Touré.
Entre 18 e 21 de maio de 1973 por exemplo, foram lançadas sobre Guileje cerca de sete centenas de granadas, de vários tipos (incluindo RPG 7). Média diária (4 dias): 171,25 granadas.
Entre 31 de maio e 11 de junho, Gadamael Porto foi flagelada com 1468 granadas: média diária (em 12 dias), 122,3 granadas; máximo 620 granadas (em 1 de junho), mínimo 4 granadas (em 10 de junho) (op cit., pág. 175).
__________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23224: A nossa guerra em números (16): A "força africana" em 1972: mais de 20 mil homens em armas, segundo o enviado especial do "Diário de Lisboa" ao CTIG
(*) Último poste da série > de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23224: A nossa guerra em números (16): A "força africana" em 1972: mais de 20 mil homens em armas, segundo o enviado especial do "Diário de Lisboa" ao CTIG
(**) Vd. poste de 18 de abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1672: Guileje: a artilharia do PAIGC (Nuno Rubim)
18 comentários:
"... vida normal não havendo sinais visíveis da guerra.", escrevia o cor. Hélio Felgas, n Revista Militar, de 04/04/1970 (P23287).
Escrevia o cor. H. Felgas e em comentários corroborava-se da mesma ideia.
Agora temos estes números da guerra em 1973, passados três anos daquela constatação . Números tramados para aqueles que morreram ou ficaram feridos, que não está provado por ter sido levado a sério os "sinais visíveis", antes pelo aumento das acções militares do PAIGC.
Evidentemente que o assunto é muito sério, doutra forma apetecia lembrar que melhor teria sido uma consulta ao grande vidente de astrologia internacional prof. Saibrou Gralok, há muitos anos na praça, que hoje meteu na minha caixa do correio um papelinho publicitário oferecendo garantias para resolver com rapidez em 7 dias qualquer que seja o caso e dá previsões da vida no futuro, que bem seriam precisas em 1970.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Cada "supositório" da peça 130 mm M-46 pesava cerca de 33 kg (e com reforço podia ultrapassar os 30 km de alcance)... Uns milhares de granadas de todos os tipos (incluindo o temivel morteiro 120) são muitas toneladas... Isto dá uma ideia da tremenda logistica que implicou para o PAIGC a Op Amílcar Cabral... Claro que no território dos países vizinhos eles podiam usar os camiões russos... Não lhes faltava nada, já tinham o Strelato e, mais tarde ou mais cedo, teriam pilotos, guineenses ou mercenários, para pilotar os MiGraça 15 e 17 soviéticos... Em 1970 o cor Hélio Felgas ria-se da falta de pontaria dos artilheiros do PAIGC... Na guerra (como na paz) nunca se deve subestimar os adversários...
"morteiros 82 mm e 120 mm;
canhão sem recuo 82 B-10;
foguetes 122 mm;
peças de artilharia 130 mm M-46, de grande alcance (cerca de 27 km)"
?Já seria um processo de guerra experimental de material de guerra russo para mais tarde usar noutras circunstâncias?
Parece que dá resultado e não arrisca perda de soldados.
É só descarregar material.
Ficamos sem saber como se contablizavam estas "saídas"... Havia nos aquartelamentos um gajo, escalado, com lápis e papel, a tomar boa nota das bojardas que o IN mandava para cima da gente ?... Ou era uma estimativa com base na duração do ataque, tipo de armamento, invólucros e outros vestígios ? No caso da peça 130 mm M-46, os invólucros ficavam para o Sekou Touré... Na sucata, ainda valiam uns tostões...
Ainda por cima, em maio/junho de 1973, os nossos Fiats G-91 não podiam arriscar muito e dar a devida resposta às bases de fogos do PAIGC...no outro lado da fronteira. O Marcelo Caetano terá proibido incursões para lá da fronteira... depois do "desastre" da Op Mar Verde... Nunca ninguém viu essa ordem escrita, mas é o que constava na 5ª Rep...
Para saber mais a peça de artilharia 130 mm, M-46, de origem soviética... Usado em muitas das estúpidas guerras do séc. XX, parece ter sido decisivo na vitória das forças angolanas e cubanas na batalha de Cuito Cuanavale... A tradução é má, é preferível ver o original em inglês.
https://artigos.wiki/blog/en/130_mm_towed_field_gun_M1954_(M-46)
Rosinha, sabemos que os TO da Guiné, Angola e Moçambique foram um excelente "laboratório militar" para russos, chineses, cubanos e "outros internacionalistas proletários vendedores de utopias e sobretudo dos "negócios da morte"...
Sejamos isentos: sem esquecer, do outro lado, outros negociantes de armamento, alemães, franceses, americanos, sul-africanos, israelitas...
Estamos aqui falar de armas... no Dia Mundial da Criança. E hoje por certo que morreram crianças de morte violenta algures no mundo...
Havendo especialistas em Artilharia entre os leitores do blogue certamente poderão apresentar detalhes mais esclarecedores.
O moderno fogo de contra bateria baseia-se em radares de contra bateria.
Calculam a origem dos projécteis da artilharia inimiga com enorme rapidez e precisão.
A rapidez é tão grande que o fogo de resposta pode por vezes ser iniciado antes da queda dos últimos projécteis inimigos.
Ao abrir fogo a artilharia inimiga é detectada e a missão de contra bateria (para efectiva) deve ser executada o mais rapidamente possível,antes que o inimigo suspenda o fogo e mude de posição.
Papel e lápis na mão de um observador pendurado numa árvore?
Certamente usado com proficiência nas trincheiras da Grande Guerra de 1914-1918.
Mas nos inícios dos anos setenta?
O governo de Salazar e sucessor caracterizava-se por uma displicente atitude quanto aos armamentos e municiamentos das Forças Armadas.
Sabia exigir,e esperar o sacrifício total dos defensores do Estado da Índia….. na maioria armados com espingardas Kropatschek fabricadas em 1886 (!).
As munições,a somarem-se às das “modernas” espingardas Mauser/1904,frequentemente não funcionavam,por antigas e deficientemente armazenaras em paióis húmidos,construídos numa Índia de outras épocas e nunca rebocados.
No início dos anos setenta,na Guiné,o inimigo começa a dispor de armamentos cada vez mais modernos e letais.
E,em continuidade histórica, os nossos militares ….lá estavam!
Um abraço do JBelo
Camarada Luís Graça
É Verdade hoje é dia mundial da criança e nós temos que pensar nos nossos filhos e nos nossos netos.Temos de procurar construir um mundo melhor para eles , porque para nós já quase passou .Deixamos o legado da nossa vida e os nossos desejos.
Nas guerras há sempre muitos interesses sub-reptícios e a nossa não foi excepção.
No que me tem sido possível apurar da actividade de guerra na Guiné o Paigc intensificou muito
as operações após a morte do Amilcar Cabral.
No norte, no ano de 74 pretendiam libertar toda a região.
O 25 Abril travou tudo isso.E certamente salvou-me de graves consequências.
Bem Haja Um abraço
Zé Belo, a verdade é que durante anos a fio, nós, militares, aceitámos tudo isso: a contabilidade de merceiro do Salazar, a total falta de visão estratégica dos nossos generais (e total desconhecimento do terreno), o nosso armamento obsoleto da II Guerra Mundial, o autismo dos políticos do regime, a nossa resignação (quase bovina)... aceitámos ser "carne para canhão"!... A censura feroz fez o resto: a guerra colonial nunca existiu!...
Consta em noticias de televisão da semana passada que os militares em Portugal precisam treinar e faltam munições de artilharia, isto para dizer que o que se passou na India e África foi o trivial em Portugal, pelo menos depois de Alcacer Quibir, penso eu.
Já em Angola e Moçambique estivemos em 1914 com Kropachec e penso que Lienfield contra alemães de Mauser, etc. que no caso de Angola os Cuanhamas chegaram a receber Mauser dos Alemães.
Quando em 1961 começou a sério a Guerra do Ultramar, nesse ultramar as armas de infantaria embora fosse a Mauser, o uso para treino de tiro na recruta era a Kropachec era preciso poupar as Mauser que eram poucas e eram só para desfile.
Uma grande atividade no paiol da pólvora em Luanda (Grafanil) em 1960 até ao inicio de 61,era inutilizar e percutir munições dessas armas que vinham de 1914, foi uma actividade que tive por escala certas semanas.
Material moderno não se via
E o pouco investimento em modernização de material e equipamento militar com o decorrer da guerra, continuou.
Era a consciência na "cabeça" e no intimo e subconsciente do Salazar como de muitos militares que tanto na India como em África com ou sem armas não ganharíamos guerra nenhuma se não a conseguíssemos ganhar politicamente nos meios internacionais.
Aguentamos 13 anos, sem esses 13 anos, e com abandono em 1961, "aquelas parcelas do Império sobrantes" (palavras de Beja Santos, oportunas em post acima), não tinha sobrado nadinha, porque ninguem tinha o mais pequeno respeito por Portugal e suas possessões, antes desta nossa guerra.
E aqueles heróis como Amilcar, Neto, Machel e outros nem os vizinhos nem internacionalmente lhe iam guardar o mais pequeno respeito.
E os vizinhos precisavam de rios e mar.
Rosinha
Em 10JULHO1967, quando entrei para a tropa na EPC (Santarém) foi-nos distribuída a Mauser, arreios de cabedal, botas de fivelas e os colchões das camas eram de colmo.
Havia uma grande mania das botas engraxadas, os amarelos dos ilhós das botas e das espadas da boina a brilhar e as calças presas nas botas com um elástico para fazer balão como as do Mouzinho. E umas compridas fitas verde-vermelho na boina a cair nos ombros.
A ordem unida era feita de Mauser. Na Carreira de Tiro, também se deu tiro de Mauser, mas mais das vezes com a G3. Aconteceu, talvez por não estarmos em contacto com a G3, haver uma grande quantidade de "chumbos" no tiro e por isso na recruta do CSM.
Eu tive uma péssima prova de tiro, safei-me nos testes psicotécnicos e muito bom em provas físicas.
Quer dizer que estávamos a ser preparados/treinados com armamento e "peneirices" fora de prazo, incluindo as próprias G3 que estava "com falta de pontaria".
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Enfim....
Guerras, guerrinhas ,obuses ,peças ,granadas ,cargas e por aí vai....
Factos...,por vezes flagelavam com morteiro 82, canhão s/r, grad e possivelmente com a peça essa de longo alcance.
Felizmente raramente acertavam.
Ninguém contava as granadas in.
Éramos bem treinados na E.P.A. nos cálculos de tiro
As cartas eram muito boas.
Alguns subvertiam o número de disparos para que a reposição fosse aumentando de forma a ter cada vez mais granadas.
As granadas do obus 14 eram de fabrico u.s.a. apesar de o obus ser de fabrico inglês.
Após a desgraça de maio/73, em Gadamael houve um reforço de material e humano, a saber; 3 companhias, 2 pelotões de milícias, 1 pelart de obus 14, 1 pelotão de canhão s/r, 1 pelotão de morteiro 81, o que dava em média cerca de 600 homens em permanência.
Raramente a contra bateria surtia efeito, a alternativa era fazer batimento de zona que tinha pelo menos bastante efeito psicológico no in (soube à posteriori)
Tínhamos bons abrigos subterrâneos.
Assim passavam os dias uns melhores outros piores mas sempre arruinando o orçamento de estado.
Na atualidade as melhores peças de artilharia são as de fabrico sueco, como quase todo o material de guerra fabricado por eles.
Um ab para todos
VIVA A UCRÂNIA
C.Martins
Salazar já morreu e Marcelo Caetano também.A pobreza de espirito o planeamento a falta de meios continua, no que concerne ao esboço de forças armadas que temos.
António Rosinha refere-se às noticias sobre a falta de munições para a artilharia.E eu acrescento a falta de pilotos para a Força Aérea bem como a pobreza de material (faltas) imcluindo combustivel para as aeronaves (e isto já vem de trás, não tem nada a ver com a história da rússia/ucrania).E já agora porque não falar da Marinha com fragatas que foram consideradas as joias da coroa, paradas e a enferrujar.
E a falta de competência de alghumas chefias militares, que trataram do seu umbigo mercê das promoções e lugares que alcançaram também porque estavam de bem com o poder politico.E depois admiram-se com a vergonha de Tancos e outros.
Um abraço
Carlos Gaspar
A falta de munições era crónica no tempo em que fiz a especialidade armas pesadas de Infantaria em Tavira no ultimo trimeste de 1968. A semana de tiro na ilha de Tavira era uma brincadeira. Devo ter despejado uma lamiga da Breda, e lançado uma granada de morteiro 81.Não me lembro de ter disparado a Browning ou o canhão sem recuo. O que me safou foi a teoria, era barra nos testes. Mas não valeum a pena gastar o dinheiro do contribuinte: cheguei à Guiné deram-me uma G3. E perdeu-se o especilialista de armas pesadas de infantarista da II Guerra Mundial...
"A minha guerra é bem pior do que a tua": isto resume a filosofia dos nossos comandantes de companhia que, "compreensivelmente", punham sempre mais zero à direita nos ataques e flagelações do IN: 10 granadas ? Põe 100... Os comandantes do PAIGC que faziam a guerra no mato, aldrabavam
o Amílcar Cabral acrescentando dois zeros à direita. Em todas as guerras a verdade é a ultoma coiSá que interessa...
Meu amigo Luís!
A semana de tiro a que te referes era feita na carreira de tiro de Tavira, que era junto à serra a cerca de seis kms da cidade.
O fogo de armas pesadas foi efectuado no sítio do Lacem entre Cacela Velha e Conceição de Tavira e durava 1 dia.
Espero que estejas a recuperar bem.
Contamos contigo
Abraço fraterno
Eduardo Estrela
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