sexta-feira, 3 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23322: Notas de leitura (1452): Crónicas soviéticas , o segundo livro do antigo comandante do PAIGC Osvaldo Lopes da Silva (Rosa de Porcelana, 2021, 240 pp.)



Crónicas soviéticas
 / Osvaldo Lopes da Silva. - [S.l.] : Rosa de Porcelana, 2021. - 242 pp. ; 21 cm. - ISBN 978-989-8961-21-1 

Capa: foto de visita à Crimeia, URSS, em Abril de 1969, tendo Amílcar Cabral em destaque, "único dirigente africano com direito a acompanhante militar, intérprete de russo, ninguém menos que o “patxêparloa” Osvaldo Lopes da Silva, no canto esquerdo, atrás de Samora Machel"  (Manuel Brito-Semedo)



1. Segundo notícia do Expresso das Ilhas,19 jan 2022 16:52,  foi lançado no passado dia 20 de janeiro, na cidade da Praia, Cabo Verde, o livro “Crónicas Soviéticas”, de Osvaldo Lopes da Silva. (*)

A apresentação da obra esteve a cargo de Manuel Brito-Semedo, autor do blogue "Esquina do Tempo". E conta com um prefácio do historiador luso-guineense Julião Soares Sousa, doutor em História Contemporânea, investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra, autor entre outras obras da melhor biografia de "Amílcar Cabral (1924.1973): vida e obra de um revolucionário africano".

A editora é a A Rosa de Porcelana. A obra é um ensaio histórico e memorialístico, diz o "Expresso das Ilhas":

(...) "O Prefácio, escrito pelo investigador Julião Soares Sousa, afirma que o livro é uma oportunidade de revisitar um tempo histórico sem dúvida idiossincrático em que o autor faz desfilar vários acontecimentos e várias personalidades que foram, “mal ou bem e para o mal ou para o bem, dependendo das perspectivas analíticas de cada um, verdadeiros protagonistas. Múltiplos são os méritos da vinda a público das Crónicas Soviéticas, mas o mérito maior é, incontestavelmente, o de desbravar um caminho novo”.

“É que são praticamente inexistentes memórias de quadros de movimentos de libertação que, tendo feito formação na URSS ou alhures se predispuseram a relatar suas vivências. Diríamos até que esta é, indiscutivelmente, uma das grandes omissões da literatura anticolonial dos espaços de colonização portuguesa em África” (...) 

Sobre o autor, e segundo a nota biográfica da responsabilidade da editora:

(i) nascido em São Nicolau em 1936, Osvaldo Lopes da Silva fez a instrução primária na cidade da Praia e os estudos secundários no Mindelo;

(ii)  frequentava o curso de  Engenharia Civil, em Portugal, quando, em 1961, integrou o PAIGC e fugiu para aderir ao movimento anticolonial, liderado por Amílcar Cabral;

(iii) completou o Curso de Economia em Moscovo, tendo depois integrado a luta armada de libertação nacional, como comandante de artilharia ( notablizando-se na Op Amílcar Cabral, 1º semestre de 1973); (**)

(iv) com a proclamação da Independência de Cabo Verde em 1975, ssumiu as pastas ministeriais da Economia e Finanças, até 1986, e de Transportes, Comércio e Turismo, até 1990 (ano até ao qual Cabo Verde teve um regime de partido único, o PAIGC e depois PAICV);

(v) foi agraciado com a condecoração do Primeiro Grau da Ordem Amílcar Cabral;

(vi) em 2011, publicou o livro "Nos tempos da minha Infância".

2. Excertos da nota de leitura de Manuel Semedo-Brito (reproduzidos com a devida vénia):


Manuel Brito-Semedo: (i) nascido em São Vicente em 1952; (ii)  é Doutor em Antropologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa; (iii) professor universitário, é membro fundador da Academia das Ciências e de Humanidades de Cabo Verde, da Cátedra Eugénio Tavares de Língua Portuguesa e da Associação de Escritores Cabo-verdianos; (iv) é autor de 10 livros.


(...) A memória fantástica e ainda fresca de Osvaldo Lopes da Silva, evidenciada no livro primeiro, "Nos tempos da minha infância", publicado aos 75 anos, fica agora ratificada nesta nova obra, dez anos passados.

Neste "Crónicas Soviéticas", Osvaldo Lopes da Silva continua na senda memorialista, mas desta feita saindo do viés afectivo para o histórico. Para tal, convergiram vários factores:

(i) a conjuntura histórica favorável que encontrou ao chegar à então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1961, ano da grande abertura do país em relação ao mundo;

(ii) o domínio da língua e o conhecimento da História russas, uma vez que fez a formação em Economia pelo Instituto de Economia de Plekanov;

(iii) ter conseguido uma boa rede de contactos, por meio de material (uma carta e um livro com dedicatória levados de dirigentes do MPLA) que lhe abriu portas;

(iv) ser portador de um pequeno rádio transistor que o punha em contacto, todas as manhãs, com as principais estações e consequente notícias do mundo ocidental; e

(v) a sua verve e forma leve para abordar assuntos complexos, para denunciar, criticar, gracejar ou censurar alguém ou alguma coisa, com um humor subtilmente irónico.

(...) O livro de Osvaldo Lopes da Silva é constituído por onze ensaios, registados em primeira pessoa. Os textos, históricos e memorialistas, seguem uma linha cronológica e lançam luz sobre o emaranhado político da ex-URSS e sobre a geopolítica mundial, por meio de um testemunho privilegiado, posto que de um estudante de economia, militar, combatente da luta de libertação do PAIGC e dirigente político nos anos sessenta, setenta e oitenta.

O prefácio do livro, de autoria magistral do investigador Julião Soares Sousa, é um convite para que o leitor transite entre os diversos ambientes, como se de cômodos de uma casa se tratasse, e tem o mérito de nos preparar para o que vamos encontrar na escrita de Osvaldo Lopes da Silva. (...)

Ultrapassada a soleira da porta, permitam-me que eu também vos guie num breve passeio por alguns desses cômodos, que compõem esta casa/obra de Osvaldo Lopes da Silva, evocações da memória suportadas, muitas vezes, por documentos pouco conhecidos ou pouco divulgados, que lhes dão garantia de rigor histórico.

Haveremos de circular, pois, por ambientes como a Revolução de Outubro e a criação do Partido Comunista e da União Soviética, com as lutas pelo poder e as purgas nas altas esferas do Partido Comunista Soviético; pela Segunda Guerra Mundial, com a explicação risível que lhe foi dada por um sargento russo de como os nazis perderam a guerra para os russos. 

E é também com uma certa ironia que o autor dá conta de como Portugal contribuiu para o esforço de guerra; pela geopolítica mundial, o socialismo internacional e os interesses nacionais; pelas visitas de Amílcar Cabral à URSS e o confronto de ideias com o autor, em 1967. 

Aqui, vou-me permitir uma revelação antecipada de conteúdo: numa prolongada espera em Moscovo para uma audiência, Osvaldo Lopes da Silva viu a oportunidade para ter uma longa e descontraída conversa com o líder: “Cabral vinha entusiasmado com a alta qualidade dos integrantes do grupo de cabo-verdianos em formação militar em Cuba […]. Tivemos tempo para abordar, longamente a problemática da Unidade Guiné-Cabo Verde. […]. Concluí, esclarecendo que exprimia reservas, não oposição ao projecto” (pág. 191-192); pela ambição e o oportunismo político em diversas esferas; pela derrocada da perestroika de Gorbatchov, de como ficou ultrapassada face à proposta de Boris Ieltsin de uma Federação Russa, aberta à adesão voluntária de outras repúblicas; pela cooperação Cabo Verde-União Soviética, estabelecida logo após a independência e na sequência da ajuda da ex-URSS concedida ao PAIGC, sobretudo, na área da marinha mercante e da construção de portos. (...)

(...) Terminado o breve passeio pela casa/obra, voltemos à soleira da porta dando passagem ao prefaciador, o investigador Julião Soares Sousa, mas não sem antes pegar o gancho de um trecho do prefácio.

Em certa ocasião, tive a oportunidade de lançar um desafio à geração de dirigentes e políticos, que foram os principais intervenientes no processo da independência e da governação deste país, para que fizessem o registo das suas memórias e reflexões. Tomando como exemplo Osvaldo Lopes da Silva, hoje volto a reiterá-lo, as geraçóes presentes e futuras assim o exigem. (...)

Manuel Brito-Semedo


[ Seleção / Revisão / fixação de texto para efeitos de publicação deste poste: LG]

__________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de junho de 2022 >   Guiné 61/74 - P23321: Notas de leitura (1451): “Viagens”, de Luís de Cadamosto, introdução e notas de Augusto Reis Machado, na Biblioteca das Grandes Viagens, Portugália Editora, sem data (3) (Mário Beja Santos).

(**) Vd. poste de 27 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20100: Dossiê Guileje / Gadamael (32): O texto, inédito, de Osvaldo Lopes da Silva, um dos principais cérebros da Op Amílcar Cabral; mesa-redonda em Coimbra, 23/5/2013: " O ataque a Gadamael, na sequência da queda de Guileje, não foi a melhor opção. Melhor seria um ataque a Quebo (Aldeia Formosa) com forte pressão sobre Tombali. Com a queda de Guileje, Gadamael tornara-se uma inutilidade que não incomodava a ninguém. A sua guarnição devia ser deixada entregue aos mosquitos e ao tédio."

20 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Talvez o Rosinha, que conviveu com a comunidade cabo-Verdiana em Angola e depois na Guiné-Bissau, nos possa ajudar a compreender por que é que tantos homens (e mulheres), estudantes da Casa do Império, aderiram no inicio dos anos 60, de alma e coração, às causas do nacionalismo africano, e se deixaram seduzir pelo "canto da sereia" de Moscovo que já nada tinha, depois da morte de Estaline e da denúncia dos seus crimes, nem de heróico nem de romantismo revoluciovário... nem sequer de marxista.

Para eles (e para alguns portugueses) a URSS (e depois a China) era o "farol" que alumiava a pobre humanidade, subjugada ao capitalismo, ao imperialismo e ao colonialismo...

Como é que um cabo-verdiano, que gosta de cachupa, morna e coladera, aceita ir viver num país como a antiga URSS nos antípodas da sua idiossincrasia e matriz cultural. Acredito que nao seja fácil "revisitar o passado"... Afinal, estes homens (e mulheres) acreditaram, lutaram, mataram e alguns morreram por ideais que pariram "monstros"...

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Luis, gosto do teu comentário assertivo. Fico à espera dos comentários sempre bem fundamentados do Rosinha.
Um abraço

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Claro que em 1961 Portugal e Cabo Verde estavam também a leste do Paraíso... Dois milhões de portugueses vão sair em duas décadas da miséria das suas aldeias e vilas... Muitos para acabar na miséria dos bidonvilles de Paris... E a diáspora cabo-verdiana também não é nenhum conto de fadas...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

1. Escrevi em comentário ao poste P20100, de 27 de agosto de 2019:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/08/guine-6174-p20100-dossie-guileje.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Dizia-se, em 2008, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje, uma iniciativa memorável devida ao génio organizativo do nosso grã-tabanqueiro Pepito, que o Osvaldo Lopes da Silva não tinha vindo a Bissau pela simples razão de que não se queria encontrar com o 'Nino' Veira: os dois teriam uma relação de ódio mortal...

Nesta comunicação de 2013, o Osvaldo Lopes da Silva fala em "razões de ordem pessoal" para justificar a sua "injustificável" ausência do Simpósio... onde não faltaram os cubanos...

O próprio Pepito também tinha, em relação ao 'Nino' Vieira, um enorme desprezo. E, embora o 'Nino' Vieira fizesse parte da "comissão de honra" do Simpósio, na qualidade de presidente da República, ele e o Pepito nunca se encontraram, nem oficial nem oficiosamente... Pelo menos que eu me tenha apercebido...

De resto, o 'Nino' só apareceu à última hora, no penúltimo dia, rodeado de seguranças... E no último dia, 7 de março de 2008, o 'Nino' recebeu uma delegação de 20 congressistas, estrangeiros, incluindo portugueses (como eu, que não o cumprimentei)...

Nessa ocasião, Pepito mandou um dos seus colaboradores, o Roberto Quessangue, cofundador e presidente da assembleia geral da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, especialista em questões agrícolas e ambientais, para nos levar até à presidência... (Infelizmente, já morreram os 3, o Pepito, o 'Nino' e o Roberto.)

Na Guiné, a inimizade política torna-se rapidamente em inimizade pessoal... E o Pepito tinha muitas razões para temer as prepotências do 'Nino'... Com o Osvaldo Lopes da Silva e outros cabo-verdianos do PAIGC terá acontecido o mesmo... LG

27 de agosto de 2019 às 21:40

2. Alegar "razões pessoais" para fazer ou não fazer isto ou aquilo, é sempre um "alibi" do ser humano... As "razões pessoais" que alegamos cpmo "desculpa", são um saco sem fundo, onde cabe tudo, do cinismo ao calculismo, da cobardia à arrogância... Acredito que Osvaldo Lopes da Silva tivesse razões para temer pela sua segurança em Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje... Ou até, provavelmente, não tivesse qualquer vontade de rever os "fantasmas do passado" e de ser confrontado com a brutal realidade de um partido revolucionário, o PAIGC, em que os seus dirigentes e militantes se devoraram uns outros... Em 2013, em Coimbra, no "conforto" da Universidade de Coimbra, Osvaldo Lopes da Silva (para todos os efeitos um dos "heróis" da Op Amílcar Cabral, iniciada em 18 de maio de 1973), apresenta-se como um "amante da paz", ao lado de antigos inimigos como o Coutinho e Liam ou Raul Folques... Cada homem, cada antigo combatente, tem direito a contar a sua história, cabe aos outros saber ouvi-la e descodificá-la...Falta-nos muito a capacidade de "saber ouvir" o outro..., sobretudo entre antigos adversários.

Valdemar Silva disse...

Na fotografia da capa do livro, além de Samora Machel e Amílcar Cabral, também está Agostinho Neto.
Sem ser a propósito da sedução pelo "canto da sereia" de Moscovo, diria, então, quem poderia ajudar na luta dos seus ideais de independência face ao colonialismo, que embora com nova legislação do Estatuto do Indigenato, de Adriano Moreira, manteve quase tudo na mesma.
Evidentemente, que estas Notas de Leitura nada têm de à la mode dos tempos que correm, que se parecem com o que se passou no ataque a tudo o que era racismo/colonialismo com a destruição de estátuas e monumentos que nem o Padre Vieira escapou.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Luis Graça,

E verdade que o nosso "Heroi" Comandante Joao Bernardo Vieira "Nino", depois Presidente quase vitalicio da GBissau, tinha os seus amigos e, como nao podia deixar de ser, também, muitos inimigos. Depois, a relaçao entre guineenses e caboverdianos no seio do PAIGC e durante a luta de "libertaçao" tem muito que se lhe diga de um lado e d'outro. Por isso, talvez o tal "desprezo" fosse mutuo, pois nao podemos ignorar que, de facto, a Guiné (dita portuguesa) era mais Caboverdiana que portuguesa no que de colonialismo e de colonizaçao dizia respeito e os guineenses, também, tem memoria. Nao esquecer que, do lado Caboverdiano, houve relatos de alguma manifestaçao de sobranceria e/ou complexos de superioridade, relativamente aos guineenses no decurso da luta conjunta que travaram nas matas da Guiné, resultante de contextos e de vivencias diversas ao longo de séculos de interaçoes, nem sempre pacificas. No finalmente, quem acabou por pagar a factura foi ACabral e as relaçoes entre os dois paises.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

antonio graça de abreu disse...

Curioso, assertivo e correctíssimo , na minha humilde opinião, o conjunto de ideias do Cherno Baldé.Cabo-verdianos, pois...
E a constatação de como Amílcar Cabral, na luta pela independência da sua pátria fluida, andava a reboque da grande e gloriosa União Soviética, de Lenin, Stalin, Brejnev e hoje Putin.Com os resultados que agora o mundo conhece.

Abraço,

António Graça de Abreu

Antº Rosinha disse...

"por que é que tantos homens (e mulheres), estudantes da Casa do Império, aderiram no inicio dos anos 60, de alma e coração, às causas do nacionalismo africano, e se deixaram seduzir pelo "canto da sereia" de Moscovo que já nada tinha,..."

Tantos homens (e mulheres)?

Tantos aonde Luís Graça?

Luís Graça, conta quantos elementos de todos os partidos, MPLA, Frelimo, PAIGC, estudantes do império e outros, repararás que se fala sempre mais ou menos nos mesmos nomes, porque na realidade foram apenas "meia dúzia de gatos pingados" comparado com os milhares de estudantes, estudantes/futebolistas, e milhares de caboverdeanos que logo que se deu aquele início de guerra no Norte de Angola 15 de Março de 1961, ficou toda a gente "do lado de cá".

O Amilcar Cabral é que mandou crianças "raptadas" às familia após a 4ª classe para Kiev e outras capitais soviéticas e aí que foi um processo soviético para albergar muitos milhares de africanos de todo o continente, dentro da perspectiva que em breve o mundo ia abraçar aquela ideologia.

E sobre o nosso amigo Pepito, houve muitos "Pepitos" jovens principalmente, em Angola, com maiores degostos, principalmente no tal 27 de Maio... os que chegaram ao 27 de Maio.

Os estudantes do Império como Pedro Pires que tambem treinaram em Cuba e Russia, é de opinião que democracia não é própria para países como a Guiné.

Luís Graça, eram meia dúzia de gatos pingados, mas apareceram muitos "Pepitos" úteis nas várias frentes de combate, a maioria inadvertidamente, que ajudaram a ampliar um imaginário que não existia.

Mas os misseis sobre os 3G da Guiné, Russo/Cubanos, 3 meses após o desaparecimento de Cabral, fizeram a vontade àqueles meia dúzia de gatos pingados, acabar com o império.

Os povos estavam preparados para tudo menos para aquela descolonização.

A maioria nem tinha sido começada a colonizar, nem nós portugas sabíamos bem com fazer isso, lá tínhamos alguns mestres caboverdianos principalmente, e um ou outro branco de 2ª como alguns orgulhosamente se auto-intitulavam.

A propósito, quem foi um branco de 2ª foi Otelo Saraiva de Carvalho, dizia ele.







Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha, não sejamos tão "sobranceiros"... Não serão assim tão poucos os tais gato-pingados da Guiné, de Cabo Verde, de Angola, de Moçambique, que trocaram a "Casa do Império" pelas agruras da luta armada ... Claro que eu gostaria mais de lembrar hoje o Amílcar Cabral como um Nelson Mandela do que como um chefe de guerrilha, que morreu de morte matada...Pode-se ser um revolucionário sem ter que empunhar a famigerada Kalashnikov...

As Forças Armadas da República de Cabo Verde consideram os combatentes do PAIGC, naturais de Cabo Verde, como..."membros do Núcleo Fundador das Forças Armadas de Cabo Verde"... Nós, portugueses, e para mais antigos combatentes que os enfrentámos, temos que saber aceitar esta decisão do povo cabo-verdiano e dos seus dirigentes...


MEMBROS DO NÚCLEO FUNDADOR DAS FORÇAS ARMADAS DE CABO VERDE
Primeira Unidade Combatente de Cabo-verdianos

1. Alcides Évora (Batcha),
2. Afonso Gomes*,
3. Agnelo Dantas,
4. Amâncio Lopes,
5. António Leite,
6. Armando Fortes,
7. Armindo Ferreira,
8. Estanislau João Ramos,
9. Fernando dos Santos Rosa,
10. Honório Chantre,
11. Jaime Mota*,
12. Joaquim Pedro Silva (Barô),
13. José Anselmo Corsino,
14. Júlio César de Carvalho,
15. Manuel Jesus Gomes,
16. Manuel João Piedade,
17. Manuel Maria dos Santos,
18. Manuel Monteiro,
19. Manuel Pedro dos Santos,
20. Maria Ilídia C. Évora,
21. Nicolau Pio*,
22. Olívio Melício Pires,
23. Osvaldo Azevedo,
24. Pedro Verona Rodrigues Pires**,
25. Silvino Manuel da Luz,
26. Sotero Nicolau Fortes,
27. Wlademiro Carvalho*.

* Já faleceram
** Líder do Grupo

Fonte: https://www.revistamilitar.pt/artigo/186

Antº Rosinha disse...

Luis, conseguiste contar até 27, que me parece que foram os que em Cuba, fundaram o exército caboverdeano em 1967.

Em 1967 apenas, mas que nunca devem ter posto os pés em Caboverde porque seria a maior escandaleira se lá aparecessem de pistola a cinta à Fidel.

Talvez na cidade da Praia tivessem alguma aceitação, que ali há gente que gosta de uma boa faca na algibeira, porque nas outras ilhas gostam muito pouco de guerras.

Alcides Évora (Batcha), o primeiro da lista, serviu de intérprete no julgamento dos assasdsinos de Amílcar, mas não conseguiu guardar na memória um único dos culpados.

Li na Wikipédia.

DE qualquer maneira este 27 fundadores do exército caboverdeano, já os outros andavam em guerra há 6 anos, 27 sempre foram mais do que os que foram os fundadores caboverdeanos do PAIGC. Talvez 6 (meia dúzia)

Poucos, mas conseguiram acabar com o império, souberam mobilizar as forças necessárias.

Eram eles que sabiam melhor o terreno que pisavam, foi muitos anos (500) a viver em África, nasceram lá.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Aqui cozinha-se a História (da Guiné e de Cabo Verde) de preferência em banho-maria e lume brando. Aqui está um bom tema para os mestrados/as e doutorados/as estudarem!
Até pode ser que cheguem a conclusões lógicas (ao menos).
Nós? Estudarmos isto? Nem por curiosidade.
Já dei para este peditório...

Bom FdS
António J. P. Costa

JB disse...

Será que as nossas já avançadas idades terão levado o nosso Amigo e Camarada Graça de Abreu a esquecer ,na lista de estadista por ele tão criteriosamente apresentada,o Camarada Mao e os armamentos fornecidos pela China ao PAIGC?

Os que por lá andaram nas picadas tiveram a oportunidade de “travar conhecimento” com algumas das minas e armadilhas chinesas e suas tristes consequências.

Obviamente todos temos o direito aos nossos…..estadistas de estimação.

Um abraço do JBELO.

José Botelho Colaço disse...

Em referência á questão levantada pelo camarigo José Belo parece-me que a resposta é um porvérbio popular: Diz-me com quem andas te direi quem és. Abraço.

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

E as políticas internacionalistas da Suécia, na altura em que por lá andávamos?
Também delas fomos, directa ou indirectamente, vítimas.
Abraço
J.Sacôto

JB disse...

Caro Camarada J.Sacoto

Sem ter qualquer “procuração” ou sequer o mínimo interesse em advogar causas suecas,não encontrei na Guiné armamentos suecos em posse do PAIGC.
E todos sabemos que a indústria de armamentos sueca,desde aviões,mísseis,submarinos,e tudo o resto intermediário,não é de modo algum algo de menos significativo.
A própria NATO o reconhece a propósito de uma possível entrada Sueca na aliança.
Efeitos indiretos resualtantes de vastíssimos apoios económicos,educacionais e hospitalares, isso sem dúvida.
Mas tendo Portugal todo o direito em desenvolver a sua política colonial, outros países desenvolviam as suas políticas e interesses particulares.

JBELO



Antº Rosinha disse...

Cabral morre a 20 de Janeiro/73 e passados 3 meses dá-se aquele FORCING Russo/Cubano/PAIGC, Missil antiaéreo Strela, flagelação nunca vista dos 3G, mais 4 ou 5 meses independência unilateral, declarada nas Nações Unidas.

Foi a gota que transbordou o copo, era o fim de uma colónia de 500 anos, luso/caboverdiana.

Pergunta-se, Cabral não merecia ter assistido a este acontecimento?

Será que era ele que impedia aquele "forcing", afinal coisa tão simples?

Mais perguntas que se podem pôr àqueles que julgaram e puniram os autores da morte de Amílcar Cabral, antes que desapareçam todos.

Ou já teriam desaparecido.





antonio graça de abreu disse...

Oh, Zé Belo, claro que não esqueço a China de Mao. Lá vivi, Pequim, Xangai e Macau, foram quase seis anos de imersão completa no mundo chinês, 1977/1083. Não me arrependo nem me envergonho, sou talvez o mais consequente ex-maoista português, foram quatro anos e meio a trabalhar em Pequim na propaganda oficial chinesa que felizmente, a partir de 1960 se foi algo distanciando da propaganda e do regime soviético. Aprendi muito, deixei de acreditar no inacreditável. Também conheci a Alemanha Oriental em 1969 e Moscovo e anexos em 1981. Uma decepção brutal. Quantos crimes contra a humanidade se cometeram e cometem em nome do povo... Quantos milhões de mortos...
Mudei naturalmente. Hoje, o meu respeito pelas nações com sociedades mais livres, democráticas, que procuram respeitar os direitos humanos e a dignidade de existirmos.
Será que tu, ou o Colaço, tão inteligente a citar o provérbio "diz-me com quem andas te direi quem és" não entendem?

Abraço,

António Graça de Abreu

JB disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
c.martins disse...

FACTOS:

Em julho/74 houve manifestações em Bissau, organizadas pelo paigc, contra os cabo-verdianos.
Quem exerceu o poder colonial na Guiné, antes do inicio da guerra foram maioritariamente cabo-verdianos.

Cabo-Verde é dos países menos corruptos de África.
Apesar de ser um dos países mais pobres de África está nos primeiros lugares em termos de desenvolvimento.

Outubro de 2019 , ilha da Boavista, hotel de 4 estrelas com capacidade para quase mil hóspedes, todos os funcionários eram cabo-verdianos com formação especifica para as respetivas
funções,desde o director licenciado em gestão, passando pelos rececionistas que tinham todos o 12.º ano e falavam pelo menos duas línguas..ah...os jardineiros alguns eram guineenses.

Parece que o estado obriga os respetivos acionistas a contratarem cidadãos cabo-verdianos desde que tenham formação e se mostrem competentes

Um hóspede de nacionalidade inglesa contraiu covid-19 e foi internado no C.Saúde de SAL-REI, que não devia nada a qualquer C.S. em Portugal.

Quem não foi "ista" na juventude incluindo os "maoistas" não é bom "chefe de família", incluindo como é evidente os "benfiquistas".ahh..ahhh..

AB
C.Martins

antonio graça de abreu disse...

Zé Belo, Colaço, uma palavrinha, por favor, ao meu comentário. Ou será que lançamos a atoarda, a bazuca, e depois, quando temos resposta, nos calamos?

Abraço,

António Graça de Abreu