Foto (e legenda): © Viictor Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem do nosso camarada Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974), natural da Figueira da Foz, e membro nº 855 da Tabanca Grande :
Data - terça, 3/05/2022, 19:48
Assunto - O General Spinola, a Guerra e a "Psicola", na Guiné
Assunto - O General Spinola, a Guerra e a "Psicola", na Guiné
Amigos e Camaradas da Guiné,
Passei a conhecer e admirar Spínola a partir de uma entrevista dada por Leopoldo Sedar Senghor em 15 de Junho de 1974.
Para mim, fosse ele de esquerda ou de direita, era pouco importante, considerava-o um grande guerreiro, que procurou a paz para a Guiné e dava muita importância à Acção Psicológica e à vantagem militar para dar início às negociações de paz numa posição de força, mas não tinha habilidade para a política.
Na CCaç 4541/72 era frequente os "Velhos" falarem da "Psícola" do Gen. Spínola. Tratava-se de ele oferecer prendas a um Homem Grande, onde constavam um rádio de 6 transistores, uma camisa garrida e uns óculos escuros.
Penso que seria uma mais-valia os camaradas lerem a entrevista republicada no Boletim Informativo n.º 2 do MFA, de 17 de Junho (de «Jeune Afrique», n.º 701 de 15 de Jun 74) nomeadamente a opinião do Representante do IN (PAIGC), o Presidente do Senegal Leopoldo Sédar Senghor, "O meu papel acabou", sobre o que ele pensava do General Spínola e a descolonização da Guiné.
Não pretendo fazer nenhuma crítica sobre outras formas de ver estas questões mas apenas emitir a minha opinião. Mas lembro que por vezes agarramo-nos a preconceitos, não vamos ao fundo da questão, não vemos o personagem na globalidade e acabamos a desvalorizar os valores do nosso País, em detrimento de outros.
Segue em anexo a fotografia e o texto da entrevista. (**)
Um abraço do Victor Costa
Fur Mil At Inf
(*) Último poste da série > 24 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23196: (In)citações (204): As comemorações do dia 25 de Abril de 1974 (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)
Quando cheguei à Guiné, o General Spínola já não estava no Comando do Território, no entanto o seu nome era citado frequentemente com opiniões a favor ou contra. Foi um personagem que mexeu com todos e não deixava ninguém indiferente.
Passei a conhecer e admirar Spínola a partir de uma entrevista dada por Leopoldo Sedar Senghor em 15 de Junho de 1974.
Para mim, fosse ele de esquerda ou de direita, era pouco importante, considerava-o um grande guerreiro, que procurou a paz para a Guiné e dava muita importância à Acção Psicológica e à vantagem militar para dar início às negociações de paz numa posição de força, mas não tinha habilidade para a política.
Na CCaç 4541/72 era frequente os "Velhos" falarem da "Psícola" do Gen. Spínola. Tratava-se de ele oferecer prendas a um Homem Grande, onde constavam um rádio de 6 transistores, uma camisa garrida e uns óculos escuros.
Como eu tinha vindo do Leste da Guiné, nunca tive oportunidade de ver estas acções, mas o que sei é que ele dava muita importância às condições físicas e mentais da tropa e ao exercício da Acção Psicológica e utilizava tudo para conseguir um bom relacionamento com as populações locais.
Eu acabei por receber essa influência dos "Velhos", não ofereci óculos escuros, que era visto duma forma depreciativa, porque talvez o exemplo não fosse o melhor, mas também utilizei a "Psícola", chegando a brindar a minha lavadeira e família com uma fotografia conjunta.
Na guerra devemos sempre manter boas relações com a população porque nas patrulhas podemos vir a precisar, eu próprio verifiquei isso e não custa nada procurar evitar atritos, que nos possam trazer desvantagem no futuro.
Penso que seria uma mais-valia os camaradas lerem a entrevista republicada no Boletim Informativo n.º 2 do MFA, de 17 de Junho (de «Jeune Afrique», n.º 701 de 15 de Jun 74) nomeadamente a opinião do Representante do IN (PAIGC), o Presidente do Senegal Leopoldo Sédar Senghor, "O meu papel acabou", sobre o que ele pensava do General Spínola e a descolonização da Guiné.
Não pretendo fazer nenhuma crítica sobre outras formas de ver estas questões mas apenas emitir a minha opinião. Mas lembro que por vezes agarramo-nos a preconceitos, não vamos ao fundo da questão, não vemos o personagem na globalidade e acabamos a desvalorizar os valores do nosso País, em detrimento de outros.
Por isso continuo a admirar Spínola e a dar valor aos nossos, porque se não o fizermos, quem o irá fazer? (*)
Segue em anexo a fotografia e o texto da entrevista. (**)
Um abraço do Victor Costa
Fur Mil At Inf
_____________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 24 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23196: (In)citações (204): As comemorações do dia 25 de Abril de 1974 (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)
(**) A publicar, num outro poste, na série "18º aniversário do nosso blogue"
5 comentários:
Obrigado, Victor, pelo teu contributo para melhor conhecermos o homem de quem, quer se goste ou não, teve um papel importantíssimo na história da nossa Pátria no séc. XX. Como eu tenho aqui sublinhado, podemos e devemos combater pelos nossos princípios e valores, o que não significa a "diabolização" de ninguém. Além disso, os nossos mortos, todos os nossos mortos, merecem um respeito acrescido. O que não significa o "silêncio crítico" sobre a sua atuação pública, como militares ou políticos.
Dito isto, não é relevante discutirmos aqui se Spínola era de esquerda ou de direita. Eu tenho a minha opinião, tu terás a tua. Não precisamos de catalogar, com chavões, os homens que fizeram a guerra connosco (incluindo o "inimigo" de ontem, mas também dos nossos "comandantes").
Para mim, o mais importante foi a sua (dele, Spínola) procura de uma solução política para um conflito que se arrastava, sem glória nem proveito, para ambas as partes, o mesmo é dizer, para os nossos dois povos, o português e o guineense.
De Spínola a História dirá que fez a guerra, e procurou a paz. Os contactos com Leopoldo Senghor (e indiretamente com Amílcar Cabral) são disso um exemplo, a par da sua tardia descoberta de que a "subversão", enquanto "doença social", também tinha uma "vacina", que era a de combater o IN com as ideias do IN...
Pena que a correlação de forças, dentro do regime político da época (o Estado Novo), a par da conjuntura geopolítica, ambas altamente desfavoráveis, não lhe tenha permitido ir mais longe nos caminhos da paz, que tinham de passar inevitavelmente pelos 3 DDD do programa do MFA e do 25 de Abril: democratizar, descolonizar, desenvolver...
Não sabemos se as "teses federalistas" do Spínola tinham condições, políticas, económicas, diplomáticas e militares, para andar e permitir uma transição, mais ou menos pacífica, para a restauração da democracia em Portugal, no imediato, e a independência das colónias a médio prazo...Ter-se-ia evitado a "grande tragédia" que foi a descolonização abrupta e a independência prematura de Angola e Moçambique, seguidas de brutais guerras civis que hoje fazem esquecer, pelo seu horror, a "guerra colonial" ? Não sei, nem ninguém sabe (ou pode) responder a essa pergunta...A História não é uma "ciência experimental"...
PS - Gostei da tua referência ao termo "psícola", corruptela de "Ação psicológica", e que os nossos soldados (metropolitanos) fizeram sua... Nunca ninguém lhes explicou a sério o que era a "ação psico-social" que estava subjacente à política "Por uma Guiné Melhor"... Nem a eles, nem muito menos aos soldados do recrutamente local... Os "meus" soldados da CCAÇ 12, fulas, foram "apenas" mentalizados para defender o seu "chão"... Aliás, a lógica "tribal" presidiu à seleção e formação das 12 companhias africanas que existiam no teu tempo... Um alfabravo, Luís.
Corrigindo: (...) o homem QUE, quer se goste ou não, teve um papel (...)
"Não sabemos se as "teses federalistas" do Spínola tinham condições..."
Luis Graça, claro que aos olhos de hoje, não havia a mínima hipótese de qualquer federação, pois quer internamente o Estado Novo já estava bastante minado (1961) sem força, e externamente já eram os dois senhores do mundo da guerra fria a decidir.
Mas as ideias federalistas vinham muito antes do Spínola, vinham já de Norton de Matos e outros africanistas.
Mas houve sonhadores de uma federação de gente da idade de Amílcar Cabral e outros africanos, não falo de indígenas, que esses apenas conheciam a sua tribo e a do vizinho ao lado.
Esses federalistas que eu falo aqui e mais ninguém fala, existiam mesmo com essas ideias, e essa gente encontrava-se no meio dos tais "Estudantes do Império" que quase todos tinham sido educados com os princípios da Mocidade Portuguesa, muitos filhos de velhos sargentos em comissões ultramarinas, outros filhos de velhos fazendeiros, ponteiros, e velhos comerciantes, uns moçambicanos, angolanos, e estou convencido que a maioria seriam mesmo "CABOVERDEANOS".
Spínola era de origem madeirense (?) segundo li neste blog, como tal a ideia federalista seria natural para ele.
Os muitos milhares de caboverdeanos residentes em Angola e Moçambique e Guiné(em situações privilegiadas, 1961)muito naturalmente ouviam e discutiam entre si conversas deste jaez em crioulo.
E, agora que cheguei a este ponto que qualquer um que me leia, pode dizer: como é que este parvalhão pode dizer que havia Caboverdeanos que tinham as mesmas ideias de Spìnola?
A quem me chame de parvalhão eu pergunto-lhe duas coisas, primeiro se conheceu muitos caboverdeanos como eu, e em segundo lugar, como interpreta a ideia de Cabral "UNIDADE GUINE-CABOVERDE" senão uma federação à-la-Cabral?
Não foi só o Spínola a sonhar, porque de facto eram sonhos que nem Salazar lhe passou pela cabeça, provincias e era um pau.
Obrigado Luís pelo teu comentário, praticamente disseste tudo o que faltava, no entanto devo lembrar-te que dos 3 D que faziam parte do Programa do MFA o D de Desenvolvimento está muito aquém do desejado, a menos que nos queiramos conformar com a mediocridade e o nivelamento por baixo. Em tempos sonhei que nos íamos aproximar dos melhores mas acontece que esse sonho não se concretizou e cada vez está mais longe.
Talvez por ser "piriquito", eu não sei para que lado o António Rosinha está a "disparar". Para tirar quaisquer dúvidas, devo dizer que NÃO pertenço ao lote daqueles que nunca se enganam e raramente têm dúvidas e também não pertenço ao lote dos filhos do papá, mas também nada tenho contra eles. Com isto quero dizer, que sou filho de uma senhora nascida em 1918 tinha a 2ª Classe, era doméstica, mas sabia ler e escrever e o meu pai nasceu em 1914 era um pequeno agricultor e era analfabeto, ambos nasceram e viveram tal como os meus avós no Concelho da Fig. da Foz e fartaram-se de trabalhar toda a vida. Nunca pertenci à Mocidade Portuguesa, nem tenho nada contra quem pertenceu.
O meu único problema relacionado com a Guiné foi a Guerra Colonial e o Regime que a suportava. Assim, o Federalismo ou outra qualquer Organização de Estado, foram questões que me passaram ao lado, sendo a minha admiração por Spínola, apenas e só militar.
No entanto é justo que conheças como um puto que combateu o regime da outra Senhora e passados poucos meses começa a combater os "revolucionários"nascidos com o 25 de Abril.
Na Reunião de Trabalho do MFA na Guiné publicada no B.Inf. nº 2 em 17/06/74 foram tratadas algumas questões que chamaram a minha atenção como por exemplo cito - ( assim ficou claro que a determinante da evolução será a relação CAPITAL-TRABALHO e que a REVOLUÇÃO ora iniciada só poderá prosseguir numa base de Aliança Povo, MFA e Governo)fim de citação.
Até parecia que os putos de 22 anos como eu, que não ligavam à bola nunca tinham lido a Mãe de Máximo Gorki, o Capital de Karl Marx, ou a abordagem da guerra do Vietname de Jean Lartéguy e todo homem é uma guerra civil do mesmo autor, entre muitos outros, não conheciam a invasão da Hungria de 1956, a Primavera de Praga e não sabiam o que estava por detrás desta dita "filosofia" de Leste e que o fim que pretendiam atingir, era a Ditadura do Proletariado.
Devo no entanto dizer caso não saibas, que este tipo de livros eram apenas aconselháveis a putos como eu, porque era uma doença que podia facilmente ser curada e não a homens maiores de 28 anos, e menos ainda se fossem militares em funções políticas, porque estes livros a partir de certa idade podem anular a visão periférica e causar uma grave doença crónica.
Mais - (foi criada a PIM - Policia de Informação Militar, cuja atividade tem permitido descobertas importantes). Para quê? Então mas não estávamos já fartos da PIDE e da caça às bruxas? Íamos voltar ao mesmo?
Mais - (Levanta-se novamente o problema da politização das F.A., e começa a esboçar -se uma divisão entre esquerda e direita). Ora este é um problema para os políticos. Não foi o MFA que disse e constava do seu programa que a guerra colonial era um problema político e não militar? A política não deve entrar na Instituição Militar para isso temos a hierarquia, a disciplina e as sanções previstas no RDM, logo aquele problema tinha fácil solução.
Claro que alguns militares que tiveram um papel relevante na estratégia e condução do Golpe de Estado preferiram seguir o caminho da política onde não só não tiveram sucesso como acabaram envolvidos em situações muito graves para o País e acabaram por destruir a sua reputação militar. E estes últimos 48 anos provaram que eles estavam errados, porque até hoje ainda não foi descoberto o sistema político de evolução e bem estar das sociedades melhor que o Capitalismo.
(continua)
(continuação)
Também mexeu comigo a recepção "muito calorosa"dos meninos do Leste com os "mimos" de assassinos, colonialistas,racistas etc.os nossos camaradas regressados da Guerra Colonial que apenas queriam paz e descanso.
Há alguns camaradas nesta casa que nem imaginam quantas armas já existiam fora da Instituição Militar,ou seja nas mãos dos Civis, e o quanto estivemos próximos da guerra civil no nosso País, por isso têm tendência a desvalorizar o PREC, o Verão quente de 75, Rio Maior, a Fonte Luminosa e a Unidade das FA no 25 de Novembro de 1975 que nos permitiu seguir em frente.
Melhor assim, no fundo esses têm mais sorte, às vezes é preferível não conhecer certas coisas. Apesar de algumas vozes em contrário eu irei continuar a defender o 25 de Abril de 74 e o 25 de Novembro de 75, porque se o primeiro foi muito importante, o último além de mais também me permitiu serenar e abandonar a política.
Bem, é melhor ficar por aqui, obrigado a todos pelos vossos comentários incluindo aqueles sobre as Comemorações do 25 de Abril, como Helder Valério e o Valdemar Silva entre outros e devo dizer-vos que, apesar de terem aberto o meu motor na "Oficina" de Coimbra há 3 anos para substituir duas cordas na válvula mitral.
Graças também à "Psicola" continuo a trabalhar e a única coisa que me interrompe o sono de noite é a minha amiga próstata, que me obriga a levantar para aliviar.
Tenho o hábito de apenas responder quando sinto não ter sido claro ou mal interpretado e por isso peço desculpa a todos por este desabafo. Estes são os meus pecados.
Como diz o Valdemar, saúde da boa para todos.
Victor Costa
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