sábado, 24 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23642: Os nossos seres, saberes e lazeres (527): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (69): Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia - 7 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Agosto de 2022:

Queridos amigos,
Já houve o deslumbramento com todo o traço arquitetónico do arquiteto Michel Polak, esta visita inclui 2 exposições, pela sua elevada qualidade, é com muita satisfação que aqui as referencio, designadamente a intitulada "Portrait of a Lady", dedicada à representação da mulher ao longo dos milénios, com algumas obras primas da pintura e do desenho, esculturas provenientes de vários museus, assim se chega ao presente, Joana Vasconcelos foi convocada. E desceu-se à cave para saudar Michel Polak e o seu traço arrojado, ainda hoje um bom número dos seus edifícios são admirados pelas diferentes gerações em Bruxelas. Vamos agora mudar de agulha e falar um pouco da conceção das cidades-jardim, os belgas de há um século acolhiam com entusiasmo conceções de construção envolvidas por espaços verdes, as cidades-jardim que vos vou mostrar ficam muito próximo de uma grande floresta que os habitantes da capital frequentam designadamente nos dias amenos, Soignes, uma enorme extensão para sorver a paz e admirar o esplendor da Natureza.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (69):
Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia – 7


Mário Beja Santos

Prossegue a visita à Villa Empain, uma construção modernista fora de série, situada numa zona luxuosa de Bruxelas, na avenida Franklin Roosevelt, obra sonhada por um jovem barão endinheirado que encontrou um talento à altura, o arquiteto Michel Polak, já então um autor de numerosos edifícios emblemáticos de Bruxelas, um entusiasta da riqueza decorativa, projetando na arquitetura o que na época havia de melhor em conforto. Da visita propriamente dita já se adiantou bastante, subimos ao primeiro andar onde no passado havia os quartos dos donos da casa, quarto de hóspedes e sala de esgrima. Não há mobiliário para ver mas sim uma exposição interessantíssima intitulada “Portrait of a Lady”, uma síntese da representação da mulher omnipresente na História da arte, rosto ou corpo, aqui se reúnem 85 obras de artistas de renome, as exposição abarca a criação artística da era paleolítica à arte contemporânea, o público é induzido a explorar os sentimentos e as representações universais que inspira o retrato feminino, apresentam-se secções sobre o chamado período pré-histórico, as mulheres no interior, o nu como modelo ou musa, retratos e autorretratos e a exposição reflete no final a questão de género. Registei o que se escrevia na apresentação: “Durante séculos, a ausência de mulheres na cena artística teve por consequência que a História da arte foi pensada e executada por homens. Apesar de algumas exceções como Berthe Morisot e Mary Cassatt, que aparecem na exposição, as mulheres artistas ficaram por um tempo muito longo marginais. O que quer dizer que o retrato é maioritariamente o produto do olhar masculino. Todavia, o século XX é o século da emancipação das mulheres no Ocidente. A partir de 1900, e de um modo mais generalizado nos anos 1960, as mulheres acedem ao ensino artístico e serão doravante mais numerosas que os homens nas escolas de arte. Respondendo às correntes estéticas e aos ideais e critérios de beleza evolutivos, o retrato interroga a medida pela qual o indivíduo permanece um ser único e insubstituível. A exposição apresenta sobretudo um diálogo entre os retratos realizados por artistas modernos belgas e outros europeus como Matisse, Picasso ou Degas.” Joana Vasconcelos está presente na exposição com uma estátua em cimento, pintura acrílica e crochet de algodão, são impressionantes as estatuetas com mais de 20 mil anos, e estrangeiros e belgas entram na competição, caso de Mary Cassatt, Paul Delvaux, James Ensor, Berthe Morisot, Degas, entre outros.

Mary Cassatt
Degas
Aqui parei convencido que estava a ver um desenho de Ofélia Marques, não era mas podia ser, os anos passam e estou cada vez mais convencido que só os artistas que andaram por fora, como Leal da Câmara, Emmerico Nunes, Amadeo Souza-Cardoso, Almada Negreiros, Vieira da Silva ou Paula Rego, é que têm honras de figurar como grandes referências, os outros não existem, tivemos uma plêiade de artistas modernistas e pós-modernistas de grande gabarito, lembro a Lourdes Castro, acabaram por ficar confinados ao mercado e à cultura nacionais.
James Ensor

Finda a visita à exposição “Portrait of a Lady”, desci à cave para ver um pouco da exposição de homenagem a Michel Polak, não devo cansar o leitor com as obras deste inovador que questionou sempre o viver em conjunto, que muito fez contra a poluição sonora e que integrava nos seus trabalhos os espaços verdes, deixo somente a imagem da piscina num espaço que continuam a ser de referência, a Résidence Palace, vê-se e não há nenhuma dificuldade em dizer que o seu risco só se dimensionava para o que não passava de época, que ultrapassava as modas.
A visita está prestes a findar, volta-se a bisbilhotar o arrojo de Polak, percorre-se a piscina e a pérgula, não se pode ficar insensível à beleza das esculturas que a envolvem, para-se demoradamente na bela fachada concebida por Polak, fecha-se os olhos e promete-se voltar logo que seja possível regressar à sempre muito querida Bruxelas.
E, de seguida, vou passear com o leitor por uma cidade-jardim, concebida acerca de um século, quando havia civilização e cultura que ultrapassava a dimensão da arquitetura como um dormitório ou aqueles espaços que agora aparecem entaipados, quando os seres humanos julgam que estão mais seguros quando não são vistos pelos outros.

(continua)
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Nota do editor

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