quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23637: (In)citações (222): Reflexão (complexo caminho da simplicidade da Evidência) (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

© ADÃO CRUZ


REFLEXÃO (complexo caminho da simplicidade da Evidência)

adão cruz

Não é fácil percorrer o complexo caminho da simplicidade da Evidência que anda por aí, em muita coisa. O medo da Evidência apavora as mentes que, de uma forma ou de outra, perderam a liberdade ou rejeitam a liberdade, sobretudo a liberdade de pensar. Interiorizam mecanismos fortemente redutores que são aceites acriticamente, porque não existe ou foi tacticamente anulada a capacidade crítica, ou são impostos por uma espécie de fé ou crença consuetudinária, impiedosamente dogmática, que cristaliza toda a forma de pensar, mesmo em pessoas familiarizadas com a Cultura Científica da Evidência. Estas as pessoas, ainda assim, de boa fé. Porque as há, e não são poucas, que fazem da má fé o antídoto da Evidência que não conseguem negar. O mundo é muito claro, até onde nos permite que o seja.

O sobrenatural continua a ser um grande problema, com a maioria das pessoas a serem incapazes de o resolver, incapazes de rever a equação cujo resultado estabeleceram como certo sem conhecerem os dados que a compõem.

Há muito tempo que deixei de discutir fé e religião com gente crente, gente que indiscutivelmente respeito, mesmo não respeitando as crenças. Dogmas e argumentos condicionados, não sendo permeáveis à razão, só podem levar a conclusões sempre frustrantes. Sou ateu, mas há muitos anos fui crente. O sobrenatural, tantas vezes aterrorizador, entrou na minha cabeça à força da destruição da minha razão e do meu entendimento, perpetrada por mentes ignorantes que assaltaram a minha infância e adolescência. Essa parte negativa da minha vida teve um lado positivo. Permite-me, hoje, à luz da Evidência possível, fazer a comparação entre a falsa liberdade da aleatória felicidade do obscurantismo e a aliciante liberdade da real felicidade de uma razão não mais miscível com qualquer grande ou pequena crendice. É muito difícil quebrar as grilhetas de um pensamento fortemente colonizado, mas a força projectiva da curiosidade humana que leva ao complexo caminho da simplicidade da Evidência é a única força capaz de nos libertar de todas as constritoras angústias metafísicas. Foi essa libertação que me trouxe a paz e a serenidade de uma total descrença mística, uma das melhores prendas que a vida me deu.

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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23630: (In)citações (221): Reflexão (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caro Adão Cruz: o teu texto é ma notável reflexão filosófica sobre o conhecimento e a produção do conhecimento. E é de um grande homem sábio... LG

Alberto Branquinho disse...


Camarada médico Adão Cruz

Não é propriamente o mesmo que a Medicina baseada na Evidência...
Transcrevo e comento:

- "... porque não existe ou foi tacticamente anulada a capacidade crítica".
Oh se foi! E com o pensamento entalado (e enlatado) pelas baias da culpa (pecado original).

- "Dogmas e argumentos condicionados, não sendo permeáveis à razão, só podem levar a conclusões sempre frustrantes".
Pois! Em qualquer crença (religiosa ou outra) e em qualquer lugar ou estrutura criada pelo homem.

- "... mentes ignorantes que assaltaram a minha infância e adolescência".
Ignorantes ou mal-intencionadas ou pre-formatadas para procederem à formatação de outros.

- "É muito difícil quebrar as grilhetas de um pensamento fortemente colonizado..."
Oh se é! E até conseguir quebrá-las há muitas lutas dentro da cabeça (ia dizer dentro do peito...(mais uma formatação)) de quem comece a tentar pensar criticamente.
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Além disso: Primum vivere deinde philosophari

Cumprimentos
Alberto Branquinho