quinta-feira, 4 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25336: A nossa guerra em números (25): Reordenamentos populacionais: materiais (das rachas de cibe às chapas de zinco) e custos


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 ( Bambadinca) > Xime > Cais fluvial do Xime >1970 > 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) >  Ao centro, em segundo plano, de óculos escuros e boné azul (da FAP),  o fur mil op esp Humberto Reis, cujo grupo de combate estava encarregue de escoltar o transporte de milhares de rachas de cibe, desembarcadas no cais do Xime, e destinadas ao reordenamento de Nhabijões, um dos maiores da época (iniciado com o BCAÇ 2852, 1968/70, e continuado com o BART 2917, 1970/72)... Este 2º Pel ficou cedo sem alferes, o António Manuel Carlão (1947-2018), destacado para a equipa do reordenamento de Nhabijões.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de janeiro de 1971 a outubro de 1972) > Vista aérea de Gadamael Porto, em finas do ano de 1971:  reordenamento, de dimensão média (c. 110 casas, cobertas a chapa de zinco, com o quartel à direita, em primeiro plano.  Foto do cor art ref António Carlos Morais da Silva, e por ele gentilmente cedida ao nosso camarada Manuel Vaz.

Foto: © Morais da Silva (2012) Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Citação: (1972), "Diário de Lisboa", nº 17849, Ano 52, Quinta, 31 de Agosto de 1972, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5170 (2022-5-3)

1. Não sabemos se há estudos sobre a historial (e também o custo) dos reordenamentos da Guiné. É possível que existam, no Arquivo Histórico-Militar, muita informação técnica e económico-financeira sobre os reordenamentos das populações. Deixemos isso para os investigadores. (*)

Temos, no nosso blogue, alguns dados, parciais e dispersos,  sobre os reordenamentos populacionais, que foram um peça fundamental da política spinolista "Por uma Guiné Melhor".

É verdade que não foi o Spinola quem "inventou" a figura do "reordenamento" (já havia a experiência francesa das "agrovilles", na guerra da Indochina, nos anos 50,  depois o "Strategic Hamlet Plan" dos americanos no Vietname, com as suas "aldeias estratégicas";  e de novo os "regouprements" franceses na guerra na Argélia, nos anos 60).

Mas também é  verdade que a palavra "reordenamentos" praticamente não se ouvia antes do "consulado" de Spínola (1968-1973): nos livros da CECA sobre a actividade operacional no CTIG, a palava não aparece no livro 1 (até finais de 1966) (há duas referências com o descritor "reordenamentos", um deles no âmbito da criação, em 1973 (quando entrou em vigor o Estatuto Político-Administrativo da Província da Guiné), do Conselho Provincial de Educação Física e Desportos e Reordenamemtos, no âmbito dos nova orgânica dos Serviços da Administração Central... 

 Já no  livro 2 (1967-1970) há  cerca de 70 referências (Reordenamento / reordenamentos). 

Logo em 3jun68, na sequência de uma reunião no QG/CTIG, é publicada a Directiva n° 2/68, que "ordena o estudo imediato da remodelação do dispositivo na área de Aldeia Formosa por forma a obter o rápido reordenamento e instalação das tabancas em autodefesa, respeitando o princípio da concentração de meios", a ser concretizada "antes da época das chuvas".

 Em 30 de setembro, sai outra importante diretiva,   Directiva nº 43/68, de 30Set ("Porque o reordenamento das populações e a sequente organização das tabancas em autodefesa é um problema complexo e que requer técnica especializada, é determinado o seu estudo num dos departamentos do Gabinete Militar do Comando-Chefe "(...).

No essencial, a doutrina do Com-chefe sobre sobre o assunto ("Reordenamento das populações e organização da autodefesa") é definida nesta época (1968/70).

Em 1969, na época seca, deu-se início â construção dos primeiros grandes reordenamentos. Noutra ocasião daremos notícia mais detalhada sobre estas atividades. 

No último livro da CECA sobre a atividade operacional na Guiné (1971/74) são 63 as referências aos descritores reordenamento/reordenamentos. (*)

Em meados de 1972, e regundo informação do Avelino Rodrigues, em trabalho de reportagem sobre a Guiné de Spínola, haveria uma centena de "aldeias de zinco", coo Nhabijões.

2. Vejamos agora um memorandum elaborado pelo Serviço de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia 447  entregue, em julho de 1971, aquando da visita à Guiné de uma delegação da ONU (***).

(...) Tem o Serviço de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia habilitado inúmeros oficiais, sargentos e cabos com o estágio de reordenamentos. Esses elementos, formando equipas constituídas por um oficial (alferes), um encarregado de obras (furriel),  um pedreiro (cabo) e um carpinteiro (cabo),  executaram no interior da província com a colaboração das populações, cerca de 8.000 casas cobertas a colmo e 3.880 cobertas a zinco nos últimos anos.

O Serviço de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia 447 tem apoiado essas construções com material e, quando solicitado, tem prestado assistência ténica localmente.

A esse volume de trabalho correspondem as seguintes quantidades de materiais:
  • Rachas de cibe - 542.000
  • Chapas de zinco - 550.960
  • Ripas - 756.600 metros
  • Pregos - 120.280 kg
  • Anilhas de chumbo - 27.160 kg
  • Cimento - 19.400 sacos

Ainda segundo a mesma fonte, para, por exemplo, 60 casas T2, havia necessidade de adquirir:
  • 11.700 ripas; 
  • 780 kg de pregos n.º 15; 
  • 600 kg de pregos n.º 7; 
  • 480 kg de pregos zincados; 
  • 420 anilhas de chumbo 6/8"
  • e 8.520 chapas de zinco (em média, 142 chapas por casa T2)

3. Segundo o gen Bettencourt Rodrigues. o último com-chefe do CTIG, até ao final de 1973, as Forças Armadas tinham construído 15.700 casas, 167 escolas, 50 postos sanitários, 56 fontenários e 3 mesquitas, e aberto 144 furos para abastecimento de água. (pág. 115) (****)

Destas 15,7 mil casas, 2/3 deviam ser cobertas a colmo, e as restantes (c. 5200) a zinco (estimativa nossa)

A casa com cobertura de zinco era, na época, o supremo luxo para um guineense a viver no interior (ou na cidade, em Bissau)... O colmo tinha que ser substituído todos os anos, exigindo maior volume de mão de obra. Mais ecológico e mais aconcelhado do ponto de vista térmico, aumentava, todavia, o risco de incêndio. 

O zinco, importado, deveria ser o materia mais caro da casa. No total, podemos estimar em 738,4 mil as chapas de zinco fornecidas pelo BENG 447 para os reordenamentos populacionais... 

Hoje um metro quadrado chapa de zinco deve custar em média 7 euros...Admitindo que as chapas usadas nos reordenamentos fosse de 100 cm x 100 cm (1 metro quadrado) , teríamos um custo de c. de 5,2 milhões de euros, a preços de 1971 (ano médio do "consulado" de Sínla, 1968/73) seria qualquer coisa como 315 mil contos (mais ou menos o orçamento anual da província!)...

Mas havias outros materiais a contabilizar...como, por exemplo, as rachas de cibe.


3. Já não nos lembramos quantas rachas de cibe levava uma casa... Só a estrutura do telhado, com cobertura de folha de zinco, deveria levar pelo menos umas 20... Mais outro lado, para suportar o telhado ao longo do varandim a toda a volta.. 

O total de casas em construção em Nhabijões era de 350, fora os equipamentos coletivos ou sociais...  Na altura falava-se que cada racha de cibe ficava ao exército em 7$50 (sete pesos e meio)... 

Um total de 15 mil rachas de cibe,  é nossa estimativa do material transportado do Xime para Nhabijões, com um custo direto de mais 100 contos.  (Em 1970, a preços de hoje, seria qualquer coisa como 33,5 mil euros)... 

Se, entre 1969 e 1974, as Forças Armadas no CTIG ajudaram a construir 15  mil casas, no total das tabancas reordenadas e, admitindo que cada casa, com colmo ou chapa de zinco, levasse pelo menos 50 rachas de cibe, temos um total de 750 mil rachas de cibe, com um custo de 5,6 mil contos (a preços de 1971  representariam hoje cerca de 1 milhão e 700 mil euros...

Uma tal quantidade de rachas de cibe (e admitindo  que um tronco dava 4 rachas) terá implicado o abate de 187,5 mil palmeiras, dependendo da altura de cada uma (o que, num pequeno território como o da Guiné, corresponderia a um gigantesco palmeiral;  o nome científico desta palmeira é Borassus aethiopum;  tem tradicionalmente  grande importância na construção civil; pode atingir os 20-30 metros de altura, pelo que o seu espique ou tronco dará mais do que 4 rachas).

Para além das chapas de zinco e das rachas de cibe, haveria ainda que contabilizar as ripas, as portas e janelas, os pregos, as ferragens, o cimento... Tudo isso custava dinheiro. O resto, a mão de obra (civil e militar), os transportes, a segurança, outros materiais como os tijolos de adobe, etc.  tudo era de borla (mas tinha um custo, indireto e oculto). 

 O PAIGC não gostou da "brincadeira": em 13 de janeiro de 1971, as NT accionam duas potentes minas A/C à saída do reordenamento de Nhabijões, de que resultaram 1 morto e bastantes feridos graves... (Por sorte, para a população local e possivelmente com a sua conivência, não havia civis a bordo do Unimog 411 que às 11h00 ia a Bambadinca, como era habitual, buscar o almoço para os militares destacados. )

Em outubro de 1973,  e pela primeira vez na história da guerra, o grande reordenamento de Nhabijões, de maioria balanta e onde vivia gente com parentes no "mato", foi flagelado, ao mesmo tempo que o destacamento do Mato Cão. Aviso intimidatório ? Retaliação ? 

Nhabijões, no subsetor de Bambadinca, era então, no final de 1969,  um importante aglomerado habitado por gente com parentes no "mato", e que era tradicionalmente considerado, antes do reordenamento, como um conjunto de núcleos habitacionais ribeirinhos "sob duplo controlo".  

Só a CCAÇ12, deu 1 alferes, 1 furriel e 1 cabo (metropolitanos) e 1 soldado (guineense) para integrar a equipa técnica do reordenamento de Nhabijões... E destacava periodicamente militares para a sua defesa... O seu primeiro morto foi o sold cond Manuel Soares, em 13/1/1971. Nhabijões foram, por isso,  também "regados com o nosso sangue"...

De qualquer modo, Marcelo Caetano mais os seus ministros da Defesa, do Ultramar e das Finanças tramaram a política spinolista "Por Uma Guiné Melhor"...
 Ao que se sabe, o sucessor de Spínola já não terá tido a mesma abundância de dinheiro para continuar a fazer a "psico"... 

Ora, quer se goste ou não, há uma Guiné antes e depois de Spínola:

  • Quando ele chega em meados de 1968, o território tinha 60 quilómetros de estrada alcatroada;
  • Cinco anos depois, são 550 km de estrada alcatroafa;
  • No ano escolar de 1970/71, a tropa administra 127 das 298 escolas primárias do território, ou seja cerca de 43%.; o resto eram as escolas oficiais , como a de Bambadinca (30%)  e as particulares,como escolas das Missões Católicas (27%);
  • Spínola deixa o território com uma criança em cada três, em idade escolar, a frequentar a escola
Spínola chegou a ser  uma ameaça série ao PAIGC... Mas homens como António Spínola ou Sarmento Rodrigues foram exceções na história da administração colonial na Guiné...
____________

Notas do editor:


(**) Vd. CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico- Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro 1 (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014, 533 pp.)

CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico- Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro 2 (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014, 604 pp.)

CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico- Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro 3 (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2015, 554 pp)

(**) Último poste da série > 28 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25312: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Inf Bettencourt Rodrigues, Governador-geral e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XIII: Cerca de 95% do total dos médicos e 75% dos professores em serviço no território eram militares...

(***) Vd. poste de 18 de etembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12057: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (9): Os reordenamentos populacionais

(****) Vd. poste de 28 de março de  2024 > Guiné 61/74 - P25312: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Inf Bettencourt Rodrigues, Governador-geral e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XIII: Cerca de 95% do total dos médicos e 75% dos professores em serviço no território eram militares...

8 comentários:

João Rodrigues Lobo disse...

Bom dia, para a grande obra dos reordenamentos também gostava de salientar o contributo do PTE, pelotão de transportes especiais, do BENG 447 que coordenou as descargas,cargas e transportou todos os materiais listados neste post. E, saliento o seu contributo para minizar o "desaparecimento" de muitos deles antes do seu destino.(só esta parte dava uma "história ") Na minha comissão o PTE do BENG 447 era compsto por um alferes mil°, dois sargentos, quatro furriéis mil°s e cerca de noventa condutores. Com dezenas de viaturas de todos os tipos.
Os seus condutores-auto são dignos de apreço.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

JoãO, sem dúvida que construir mais de "100 aldeias de zinco" foi um projecto que alterou a paisagem fisica e humana da Guiné e mobilizou milhares de pessoas, entre civis e militares.

E tu e o teu BENG 447 e os teus condutores foram também importantes actores deste grande empreendimento. Fizeste bem em lembra-los. Fizemos a guerra e a paz.

Um alfabravo. Luís.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, se tiveres na tua posse a história do BENG 447, podes ver o que se diz sobre os reordenamentos, dados estatisticos sobre transportes de materiais, acções de formação, apoio técnico às equipas locais, localizacao dos reordenamentos,etc.

Gostava de publicar mais informação sobre este "capítulo civilista" da nossa "guerra"...

Muitas subunidades foram desfalcadas para poder apoiar os reordenamentos (construção de casas e equipamentos sociais...), a cobertura sanitária, a educação, o fomento agrícola, etc.

Muitos dos antigos combatentes não fazem ideia do gigantesco esforço que foi feito no tempo de Spinola em todo o território em prol do desenvolvimento socioeconómico. E outros desvalorizam-no.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ainda lá estive, em Nhabijões, uns quinze dias, a comandar um pelotão de "básicos" da CCS... Uma noite apareceu alguém, no destacamento, a gritar, histérico, "Turras no Nha Bidjon"... Veio, em meu socorro, o piquete de serviço, de Bambadinca, comandado pelo Beja Santos (que estava em fim de comissão, e era uma força da natureza).

No final, não fora nada: os gajos do PAIGC entravam e saíam a seu bel prazer em Nhabijões, iam visitar os parentes, beber vinho de palmeira ou aguardente de cana, dormir com as bajudas, recolher as compras feitas em Bambadinca na loja do "tuga" Zé Maria (a quem chamávamos "turra"), estudar as rotinas da tropa e, quando muito bem lhes apeteceu, puseram duas minas A/C, à saída do reordenamento, accionadas por duas viaturas nossas no dia 13 de janeir0 de 1971...

Nhabijões tem cerca de 60 referências no nosso blogue. É um dos topónimos míticos da guerra no leste. O reordenamento foi um dos maiores sucessos da política spinolista "Por Uma Guiné Melhor"...

Anónimo disse...

Caros amigos,

É preciso esclarecer que para a estrutura das coberturas utilizavam-se, e ainda se utilizam, tanto rachas de cibes propriamente ditos (uma espécie muito resistente e diferente da palmeira vulgar das bolanhas da Guiné e que só se encontravam nas zonas costeiras) e rachas de palmeiras vulgares que, também, são boas quando bem maduras.

Acho que em algumas zonas, caso do nordeste, exceptuando os zincos, cimento e pregos que eram importados e saiam de Bissau, os restantes materiais utilizados eram locais e como não tinham cibes utilizavam-se as rachas das palmeiras locais que eram de qualidade inferior, mas também serviam para o efeito, permitindo uma economia de recursos raros, a grande diferença é que os cibes maduros eram duros como o ferro e quase "eternos" porque não tinham medo da chuva e dos omnipresentes e teimosos baga-bagas vermelhos que são os grandes "destruidores" e regeneradores da natureza nos solos das regiões tropicais.

Encontrei em muitas localidades estas casas feitas nos anos 70 que ainda resistem ao desgaste do tempo e que, para os padrões de hoje, parecem muito pequenas e baixinhas, mas que ainda continuam a prestar bom serviço. Em alguns casos os zincos originais que eram de melhor qualidade já tinham sido trocados, mas muitos ainda continuam a fazer o serviço mesmo estando velhinhos e cobertos de ferrugem.

Pelos meus cálculos, uma casa de 4 quartos (4x4), como era a maioria na altura podia precisar, em média, entre 60 a 80 rachas de palmeiras ou de cibes, supondo que a Asna e as ripas são feitas de barrotes e tábuas de madeira.

Hoje em dia, a estrutura da cobertura completa é feita de cibes e precisa entre 100 a 150 rachas de cibes, mínimo.

Cordialmente,

Cherno Baldé

João Rodrigues Lobo disse...

Não possuo documentação nem sei muita história do BENG 447. Fui em rendição individual em dezembro de 1968 e saí em Janeiro de 1971. Não conheci quem fui substituir nem conheci quem me substituiu. quando cheguei apercebi-me porém do grande trabalho que se desenvolvia no Batalhão e da sua presença não só em Brá, em várias valências todas importantes para a sua missão, mas em toda a Guiné onde se desenrolavam obras. A minha estadia teve dois comandos.
Sou de firme convicção que Spinola fez e mandou fazer grande obra, nomeadamente construção de estradas e reordenamentos (estes não só para apoio ás populações mas também por estratégia militar). Sobre o BENG 447 Spinola sempres depositou grande atenção e "impôs" a nomeação do Major Lopes da Conceição para o seu comando, e consequente graduação em Tenente Coronel para poder comandar o Batalhão. Aliás um dos "defeitos" que os nossos engenheiros atribuiam a Spinola era a imposição de prazos para concluir as obras quer das estradas quer dos reordenamentos. Prazos que só eram excedidos por razões técnicas e sempre com a devida explicação prévia do Comando do BENG. Só posso pois descrever o trabalho desenvolvido pelo PTE. Sem saber o que se teria passado antes de mim, constatei nos primeiros dias a grande "confusão" do Pelotão. Tendo o total apoio do Comando, e, do determinado por Spinola, reorganizei o Pelotão, racionalizando os movimentos dos homens e viaturas, estabelecendo controlos de movimentações e, com a satisfação de todos pois sabíamos o que faziamos e como o fazíamos. Trabalhámos por turnos as 24 horas quer nas descargas dos navios fretados quer nas cargas das LDG, e LDM. dada a enorme quantidade dos materiais envolvidos e seu transporte urgente, nas descargas utilizávamos também viaturas civis contratadas pelo Quartel general quando as nossas eram insuficientes, mesmo usando a Enorme Continental conduzida pelo Grande Simão que ocupava toda a estrada sempre precedida pela Policia militar a abrir caminho, e pelas Plataformas de transporte de Máquinas e Catterpilars. Em colunas protegidas fazíamos transportes por terra. Os nossos condutores e viaturas davam apoio nas obras das estradas e reordenamentos.
O "desaparecimento" de materiais era enorme e para mim irracional como se considerava normal. O cimento (era considerado pelo Q.G. uma quebra normal entre 5 e 10% !!!), as chapas de zinco e as rachas de cibe, como muitas peças para máquinas, "evaporavam-se" nas descargas em Bissau e nos transportes para as unidades de destino. nas descargas a "evaporação" desapareceu em pouco tempo, No transporte para as unidades, com o apoio da Marinha e de um homem nosso armado em cima das cargas também desapareceu. De salientar que nem tudo foi fácil e nem tudo bem recebido, mas valeu-nos o total apoio do Comando do Batalhão e, do Comandante Spinola, para o conseguirmos. Sobre o cimento já falei em post anterior, sobre as chapas de zinco, rachas de cibe e peças, ainda nada mais digo.
Concluindo por agora, o BENG 447 foi um grande Batalhão com camaradas muito capazes e bons engenheiros. Fez muita obra bastante impulsionada e exigida pelo Comandante Spinola. Sobre o "meu" PTE nada mais soube desde que saí e só espero que o camarada que me substituiu tenha tido o apoio que eu tive. Muitas pequenas histórias aconteceram neste anos, algumas já contei outras ainda contarei.
Grande abraço para os que tiveram a pachorra de me ler e, os que me considerarem imodesto têm razão.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno, em função do teu esclarecimento, e sabendo que a palmeira de cibe poderá atingir 20-30 metros de altura com um diâmetro variavel (que chegar a um metro),temos que reconsiderar o número de árvores abatidas...Eu apontaria para um terço (c.60 mil). Umas tronco de palmeira tinha que dar não 4 rachas de cibe mas pelo menos 12 ou até 16.

Valdemar Silva disse...

Rodrigues Lobo as chapas de zinco atraíam como mel as abelhas.
Na minha CART11, em Nova Lamego, tínhamos umas quantas chapas de zinco, que não me lembro para quê, e desapareceram algumas sem deixar rasto.
Apareceram umas iguais no "cívil" para venda juntas a outras, e por serem todas iguais paciência....

Saúde da boa
Valdemar Queiroz