sábado, 10 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25828: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (28): Inspeção militar: "Ir às sortes", Sardoal, julho de 1972 (Luís Manuel Gonçalves, 1952-2019) (Excerto)


Sardoal é uma terra ribatejana que merece a nossa visita. 

Tinha c. 7,1 milhar de habitantes em 1950, hoje tem metade (3,5 mil). 

Perdeu seis filhos na guerra do ultramar / guerra colonial  (2 em cada um dos 3 teatros de operações).





"Ir às sortes", Sardoal, julho de 1972 

por Luís Manuel Gonçalves (1952-2019) 
(Excerto)



(...) A Inspecção Militar foi, durante muitos anos, um acontecimento de grande impacto social no concelho de Sardoal, e todos os anos mobilizava largas dezenas de mancebos para um ritual que marcava os mancebos para o futuro, porque cumprir o serviço militar não era uma rotina, especialmente em tempo de guerra, do que a Guerra Colonial é o exemplo mais recente.

Na forma como se descreve para 1839 ou com formas diferentes,  as “sortes” ou inspecções militares realizavam-se, anualmente, na Vila de Sardoal, nos Paços do Concelho (...)

A última inspecção militar que teve lugar no concelho de Sardoal e nos seus Paços do Concelho ocorreu em julho de 1972 e nela participaram os mancebos nascidos em 1952 (nos quais o autor destas linhas se incluía). 

Estava-se no auge da Guerra Colonial que se arrastava desde 1961 e que exigia contingentes militares cada vez mais numerosos. Só os jovens com graves deficiências físicas ou psíquicas ficavam “livres”, o que significava dizer dispensados de cumprir o serviço militar (em 1972, tanto quanto me lembro, foram apenas dois), podendo ficar “esperados”, voltando à inspecção no ano seguinte. 

Nos “apurados”, a maior parte era para todo o serviço, havendo, no entanto, os apurados para o serviço auxiliar, se portadores de uma deficiência física ligeira, de que a mais frequente eram os “pés chatos”. 

No final da inspecção, os inspeccionados iam à “Loja do Tramela”, também conhecida por “Casa do Pombo” comprar fitas, verdes e vermelhas para os “Apurados”, que prendiam à lapela com um alfinete, havendo de outras cores para as situações de “Livre” ou de “Esperado”, mas já não me recordo quais eram essas cores. 

Recordo-me de ninguém querer ficar “livre” porque, segundo se dizia, era um sinal de menor hombridade e virilidade.

Como já referi, o dia da Inspecção Militar era um dia importante na vida dos jovens rapazes e, de certa forma, marcava a passagem da adolescência para a idade adulta. Nas décadas de 40 e 50 do século XX era o dia em que muitos rapazes estreavam o primeiro fato completo, o “fato da inspecção”, só voltando a estrear outro no dia do casamento. (...)
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Observ.:

(*) "Luís Manuel Gonçalves (Entrevinhas, 1952 — Sardoal, 2019) interessou-se pela história do Sardoal enquanto professor do Externato Rainha Santa Isabel de Sardoal (1975-1980), tendo dedicado ao seu estudo uma parte significativa da sua vida.

Foi também associativista, com destaque para a direção do GETAS – Centro Cultural de Sardoal, entre 1986 e 1992. Foi ainda Vereador a Tempo Inteiro da Câmara Municipal de Sardoal entre janeiro de 1994 e outubro de 1999, seguindo como Vice-Presidente até 2009.#

Autor da página Sardoal com Memória.

Email de contacto do editor da página Memórias Sardoalenses: goncalves.m.tiago@gmail.com"


(Seleção, revisão / fixação de texto, título, negritos: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25826: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (27): A inspeção militar: "Ir à sortes", Sabugal, 1968 (José Corceiro, ex-1º cabo trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1969/71)

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