Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3630: Banco do Afecto contra a Solidão (2): Ajuda ao João Santos, ex-combatente em Moçambique, que vive num contentor (Mário Fitas)
Meus caros,
Luís, Briote e Vinhal
(i) Estive com a máquina cheia de vírus, e depois uns dias na minha linda Planície onde convivi com os nossos camaradas (ainda vivos) da querida Guiné.
Não tencionava escrever ainda hoje, pois tenho alguns trabalhos em mãos. Estou a fazê-lo, porque recebi do nosso camarada e amigo José Brás que em Vindimas no Capim (*) descreve os arredores de Guiledge, e-mail que transcrevo:
“Mário
"Julgo que irás estar hoje no lançamento do livro do Cor Coutinho e Lima.
Através do contacto com o blogue recebi do Coronel, via correio electrónico, um convite.
"Planeei ir, por ele, pela justiça histórica e pela solidariedade que merece e, porque afinal depois do meu livro, nunca apareci nestas iniciativas ou na comunicação que se tem estabelecido entre camaradas desse tempo da história recente do jardim'.´
"A meteorologia aqui no Alentejo está péssima e nem sequer sairei do Monte onde estou sozinho com as minhas ovelhas, galinhas e patos.
"Se tiveres disponibilidade gostaria que entregasses ao Coronel o meu abraço.
"Um abraço também para ti. José Brás".
(ii) Infelizmente também eu não pude estar presente, embora como já escrevi no blogue esteja tecnicamente de acordo em termos da Guerra de Guerrilha na Guiné, com a actuação do Coronel Coutinho e Lima, e que reafirmo, como conhecedor daquilo que é uma guerra de Guerrilha.
Gostaria de estar presente, mas quem toca vários instrumentos, algum tem de desafinar. Portanto não é este meu escrito uma justificação, porque a presença noutro local julguei ser mais útil.
É verdade, há muitos problemas com todos aqueles que um dia (não importa a forma ou o porquê) tiveram de fazer a Guerra, por uma Pátria que os abandonou e atirou para o caixote do lixo.
Às 16hH30 de hoje, muito próximo do lançamento do livro do Coronel Coutinho e Lima, encontrava-me eu com o camarada João Santos, nascido em Moçambique onde cumpriu o serviço militar e pertenceu aos GEs. Tudo normal se... não fora o ex-militar Português viver num pequeno contentor, tendo como companhia apenas uma cadela que hoje debaixo da pseudo cama do João deu à luz uma quantidade de cachorros.
O João tem todos os documentos militares só que com a burocracia deste nosso querido País não conseguiu o BI.
É angustiante! Se todos os dias deveriam ser Natal, já que o próprio dia se aproxima, o João merece algo mais do que a indiferença de nós (alguns)que ainda conseguimos juntar a família.
Seria afronta à própria pessoa do João mandar a sua foto e da sua morada. Um amigo está tratando do assunto, se for caso disso, ao pessoal da Tabanca Grande pediremos ajuda.
Se algum camarada aqui de perto, quiser atenuar a solidão do João aí vai a morada:
João Santos
Rua das Rosas
Bairro dos Celões Lote 12 (contentor)
Bicesse – Estoril
Meus caros amigos, a vida é assim! Os caminhos que escolhi terão de ser percorridos. Espero ler o livro do Coronel Coutinho e Lima, e espero que o lançamento do mesmo tenha sido um sucesso.
Para Toda a Tabanca e hoje em especial para o Cor Coutinho e Lima, o abraço de sempre do tamanho do Cumbijã.
Mário Fitas
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Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3562: Banco do Afecto contra a Solidão (1): A última comissão do Coronel (Jorge Cabal)
(**) BRÁS, José: Vindimas no Capim. Lisboa : Publicações Europa-América, 1987.
(...) Um romance que o autor dedica "àqueles que todos os dias se perguntavam 'que é que eu ando aqui a fazer?', àqueles que se estoiravam, eles próprios, por dentro e por fora». Um relato que, afinal, diz respeito a todos os que, directa ou indirectamente, viveram a guerra do Ultramar. Mas também a todos os que, não a tendo vivido, sentem que não pode ser apagado da memória colectiva um período tão controverso da nossa História. Narrado na primeira pessoa, o relato caracteriza-se sempre por uma comunicabilidade imediata, directa, agarrando o leitor. Um excelente romance dum novo autor português" (...)
Vd. também o portal Guerra do Ultramar: Angola, Guiné, Ultramar > Livros > José Brás
Guiné 63/74 - P3629: Bibliografia de uma guerra (41): Escritor Combatente: Encontros em Oeiras (Manuel A. Bernardo / V. Briote)
Em Oeiras, em 2009, na Livraria-Galeria Municipal
Rua Cândido dos Reis, 90, no centro histórico de Oeiras, galeria.verney@cm-oeiras.pt
Tel: 21 440 83 91/2;
m.bcunha@sapo.pt
tel. 917 519 280
Às terceiras quartas-feiras de cada mês, de Janeiro a Maio de 2009, às 16h00
Estacionamento com entrada pela Av dos Combatentes em Oeiras.
Por iniciativa do Núcleo de Oeiras da Liga dos Combatentes
ligadoscombatentesoeiras@clix.pt, tel. 214 430 036,
e com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras
Serão realizados os seguintes encontros:
(i) 21 de Janeiro de 2009:
O Caçador de Brumas, de Bernardino Louro, com o autor Tenente-Coronel João Sena e o Coronel José Montez, Presidente do Núcleo de Oeiras e Cascais da Liga dos Combatentes.
(ii) 18 de Fevereiro de 2009:
A Geração do Fim, de 21 oficiais de Infantaria do Curso de 1954/1958, com o Tenente-Coronel José Aparício e o Coronel José Parente.
(iii) 18 de Março de 2009:Obra literária de Carlos do Vale Ferraz, com o Coronel Carlos Matos Gomes e Tenente-Coronel Aniceto Afonso.
(iv) 15 de Abril de 2009:
As Guerras da minha Guerra, de Coronel Rui Marcelino, e As guerras do Capitão Agostinho, de Carlos Gueifão, com os autores.
(v) 20 de Maio de 2009:
Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha. Com o autor e o Ten General Chito Rodrigues, Presidente da Liga dos Combatentes.
Informação coligida pelo Cor Manuel A. Bernardo. Editada por V. Briote
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Notas de vb:
Último artigo da série em
Guiné 63/74 - P3628: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (5): O sentido de uma sondagem (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)
Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref, Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos [ Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20 (*); pedidos do livro, directamente ao autor (**) ] > Diversos membros da nossa tertúlia (ou Tabanca Grande, como preferem uns, e outros não) deslocaram-se à Amadora, para assistir a este acto público. Entre eles, o Xico Allen (de Vila Nova de Gaia) e o Vasco da Gama (da Figueira da Foz) (terceira foto a contar de cima). Ou ainda o João Rocha (do Porto) ou o Nuno Rubim (do Seixal), aqui em conversa com o Xico Allen (segunda foto a contar de cima). Tudo isto num belo auditório de uma escola que formou muitos dos oficiais que nos comandaram, no TO da Guiné militar, escola essa guardada, não por imperiais leões de pedra, mas por velhos obuses da I Primeira Mundial, as peças 11.4cm T.R. m/ 917, mais conhecidas na gíria dos artilheiros por Bonifácios (primeira foto a contar de cima).
Nos postes anteriores esqueci-me de mencionar outras pessoas com quem estive a falar, por uma razão ou outra: (i) o nosso tertuliano Cor António Pereira da Costa (o único que ainda está no activo, sendo director da biblioteca do Exército, em Coimbra; falámos muito rapidamente sobre as últimas diligências relativas ao caso do António Batista, o morto-vivo do Quirafo); (ii) o jornalista Joaquim Furtado (que está a fazer investigações sobre a morte dos 3 majores no chão manjaco, e que se mostrou particularmente interessado no dossiê, organizado pelo nosso camarada Afonso M.F. Sousa)... Também cumprimentei e conheci pessoalmente o Eduardo Dâmaso. Reencontrei igualmente um antigo colega da DGCI - Direcção Geral das Contribuições e Impostos, o Torres, que afinal também passou por Guileje , no tempo do Cap Corvacho (CART 1613, 1967/68)...Convidei-o a integrar a nossa Tabanca Grande. Tive igualmente o prazer de estar por uns breves minutos com o Prof Eduardo Costa Dias, do ISCTE, um grande especialçista da Guiné-Bissau onde vai regularmente... Acabo de receber hoje um mail dele, que diz o seguinte:
"Como vais? Ontem acabamos por não nos despedirmos. Luis: achas que conseguirias meter na noticia que certamente farás no blog acerca do lançamento do livro, a informação de que vários homens grandes de Guiledge, sabendo do lançamento do livro, fizeram questão de enviar mensagens gravadas ao Coutinho e Lima e que essas mensagens foram entregues ao Coronel?"... Fica dada a notícia. Infelizmente, não tenho fotos de toda a gente...
Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves:
Caros Luís, Virgínio e Carlos
Embora a pergunta da sondagem [º 10, a decorrer de 12 a 18 de Dezembro] seja para mim muito perceptível, julgo que a mesma não está bem elaborada e poderá induzir em erro.
O discordo poderá muito bem estar a ser utilizado como apoio a uma decisão, de que afinal se quer discordar. E a inversa, claro.
Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
2. Resposta de Luís Graça:
Joaquim: É sempre complicado... A questão tem de ser clara, concisa e precisa... Agora já não posso mudar (a não ser anulando a sondagem)... Vou acrescentar uma nota, do tipo:
A questão é: Discordas ou concordas com a seguinte afirmação: "A posição de Guileje era tão defensável como a de Guidaje ou Gadamael [e não Gandembel, como por lapso ficou escrito...], pelo que a decisão de retirar em 22 de Maio de 1973 foi um erro".
Eu sei que mesmo assim é discutível: Posso achar que a posição era defensável e mesmo assim apoiar a decisão de retirar... O que o Coutinho e Lima procura demonstrar, apoiado em factos e documentos, é que a posição de Guileje tornara-se indefensável na noite de 21 de Maio de 1973 e que para poder continuar a defender a missão (a protecção de civis e militares ao cuidado do COP 5) só lhe restava retirar para Gadamael...
Este é o tipo de decisão clássico, em que o decisor está perante um dilema, não tem mais alternativas... Ou foge ou luta ("flight or fight"), ou retira ou resiste... Repara que a retirada podia ter-se transformado numa tragédia... Mas o mesmo podia ter acontecido caso o decisor optasse por ficar e resistir: sem comunicações, sem água, sem munições, sem reforços, sem apoio aéreo, com os abrigos superlotados (3 vezes mais do que a sua capacidade prevista)...
O PAIGC estava em condições de tomar o quartel, provocar muitas baixas mortais e aprisionar os militares (c. 200) e a população (c. 500)... A humilhação para o exército português teria sido muito maior; o PAIGC iria usar a conquista de Guileje (não o quartel mas os seus defensores) para efeitos de propaganda interna e externa...Uma coisa é conquistar um quartel vazio, outra é aprisionar (ou matar) 700 homens, mulheres e crianças, civis e militares...
Este é o raciocínio do nosso coronel, um homem que foi condenado antes de ser julgado. Mais: um homem solitário, sem apoios, nem à esquerda (MFA) nem à direita... Preso durante um ano, com redução do vencimento a metade, foram os seus amigos, em Bissau e em Lisboa, que se quotizaram (5 mil escudos / cada) para contratar os serviços de um bom advogado (João Palma Carlos)... Quatro advogados que cumpriam o serviço militar em Bissau, como oficiais milicianos, foram impedidos de o defender...
É importante ler o livro, para depois poder tomar posição...
De qualquer modo, eu não quero que a sondagem se transforme em acção de julgamento do comportamento do Coutinho e Lima, que é nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande... Não quero que os nossos leitores tomem uma decisão emocional, mas tão apenas que votem, apreciando os factos...
Obrigado pelo teu interesse e cuidado... Tive pena de não te ver no sábado... Temos que começar a pensar no IV Encontro... Um abraço.
3. Resposta de Joaquim Alves:
Caro Luís
Não me passa pela cabeça fazer um "julgamento" do Coutinho e Lima e nem sequer tornar ainda mais dificil a sua vida ou a sua memória.
A verdade é que também não fui eu ou tu, ou qualquer outro, que decidiu fazer um livro para defender a sua posição.
Quando decidimos tomar uma posição pública, como ele decidiu tomar em relação a este assunto, fica-se sujeito à opinião dos outros.
Claro está que este assunto terá sempre pelo menos duas opiniões distintas: os que concordam com a decisão e os que não concordam.
Mas mesmo entre uns e outros as razões para o apoio ou a rejeição podem ser diversas, razões que podem envolver a política e razões da política, razões sentimentais, razões de nacionalismo exarcebado, razões de simpatia, e tantas mais que não têm fim.
E, meu caro Luis, é uma discussão que não tem fim, porque não há nada que prove que poderia acontecer isto ou aquilo.
Verdade é que, tanto Gadamael, como Guidaje, apesar de cercadas e até por mais tempo e com mais baixas, resistiram e ganharam essa guerra "especifica".
E a dúvida sempre restará, ou seja, será que com um novo comandante, e tropas especiais Guileje não teria destino igual aos outros? Não se serviu de qualquer modo o PAIGC do abandono do Guilege para declarar a guerra ganha?
São assuntos muito delicados e que nos tocam ainda de um modo, quer queiramos quer não, apaixonado e eu, meu caro Luis, sofro um pouco disso, da emoção à flor da pele.
Terei todo o cuidado nas coisas que eventualmente possa escrever sobre o assunto.
Julgo que ficou mais esclarecida agora a pergunta da sondagem.
Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste anterior desta série > 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3627: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (4): Apresentação do livro, 5ª F, 18, na Casa da Guiné-Bissau em Coimbra
(**) Para aquisição do livro, contactar o Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima
Rua Tomás Figueiredo, nº. 2 - 2º. Esq.
1500 – 599 LISBOA
Telefone: 217608243
Telemóvel: 917931226
Email: icoutinholima@gmail.com
Guiné 63/74 - P3627: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (4): Apresentação do livro, 5ª F, 18, na Casa da Guiné-Bissau em Coimbra
Guiné 63/74 - P3626: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (3): Tardia a nossa percepção do nosso próprio Vietname (Eduardo Dâmaso)
Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref, Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos (Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20) >
Excerto da apresentação do livro (*) pelo jornalista Eduardo Dâmaso (**).
Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Vídeo (9' 16'') alojado em: You Tube >Nhabijoes.
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Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 14 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3618: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (2): A festa ... e a solidão de há 35 anos (Luís Graça) e da série >
(**) Vd. trabalho de investigação do jornalista Eduardo Dâmaso (Público, 26 de Junho de 2005)
15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)
15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)
Vd. também poste de 27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2137: Antologia (62): Guileje, 22 de Maio de 1973: Coutinho e Lima, herói ou traidor ? (Eduardo Dâmaso / Luís Graça)
Guiné 63/74 - P3625: História da CCAÇ 2679 (10): Um Natal atribulado (José Manuel Dinis)
Companheiros,
Antecipo este episódio, porque se enquadra na época natalícia e num assunto da moda, a ganância.
Para todos, vai aquele abraço
José Dinis
Um Natal atribulado
Corria o mês de Dezembro de mil novecentos e setenta. As picadas que levavam a Bajocunda apresentavam-se enrijecidas por via da seca e o capim amarelo, já aguardava pelas queimadas que antecediam o tempo das chuvas. A natureza não era desoladora, apesar disso, mas o aquartelamento local, esse sim, apresentava características desoladoras, com o material a monte, quer junto à enfermaria, aos quartos dos sargentos, em volta da oficina macânica e a cerca de arame um bocado desmantelada. As pinturas das construções também se apresentavam carcomidas pelo decorrer do tempo.
Algo revelava à chegada ao aquartelamento que ali não morava um bom ambiente. O pessoal deslocava-se com lassidão, troncos nús, curvados sob o peso do calor, sempre poucos à vista, a deslocarem-se como autómatos, sem se perceber bem uma motivação ou interesse. Era a pasmaceira. Animava-se pelas horas de refeição, quando, dos abrigos periféricos, afluiam os militares ao chamamento do rancho, mas sem entusiasmo, sem corresponder à vivacidade dos vinte anos. E compreendia-se, já que a ementa de arroz com estilhaços era quase servida em exclusivo. Dizia-se que era do gamanço e da falta de géneros. E da falta de interesse, pois iniciei uma horta e quando as ervas floresciam, comecei a ter problemas operacionais, e os dois militares a terem que integrar o pelotão, sem que da parte dos restantes houvesse qualquer compensação. Era o sistema.
Um dia surgiu a notícia: fora determinado um reforço de verba para o dia de Natal. A notícia em si, não causou muitas espectativas, pois logo começaram os dichotes sobre a medida, que não podia ser, pois se não havia géneros... e também para evitar a criação de maus hábitos. Alguns ainda acreditaram num bifinho, mas onde preparar os bifes, se apenas havia uma sertã para os oficiais e sargentos. Esperava-se qualquer coisa e teria sido tão fácil. O sistema, porém, não parecia contemplar alterações ao quotidiano.
A messe de oficiais e sargentos funcionava em parte da varanda da casa colonial que era ocupada pelos sargentos e pela enfermaria. Era um canto com mesas e bancos de correr, sem mais. Quando chovia, todos queriam ficar do lado da parede, pois do outro, caía água. Mas no dia de Natal, sobre a toalha de plástico colorida, colocaram umas latas vazias de refrescante, adornadas com flores. Manifestação naif de uma decoração possível e generosa. Sem custos.
O refeitório ficava a cerca de setenta metros, por detrás dos edificios do comando e das transmissões. Não passei por lá. Eu também não atribuía significado àquele Natal.
Pela hora de abancarmos, fiquei numa das extremidades. Servi-me do bife e do arroz. Acompanhei com a tradicional cervejola. Estávamos nestas tarefas, com conversas de circunstância com os mais próximos, quando me chamaram do exterior. Três militares. Que tinha que ser já. Levantei-me e fui inteirar-me das razões da urgência. Queixaram-se de que o rancho era a mesma coisa, arroz com estilhaços. Que ia um grande descontentamento. Não acredito, respondi.
Prometi-lhes chatice se a conversa não fosse verdadeira.
Lá fui. À chegada tive que me impor para que o barulho não nos tolhesse as ideias.
E o que eu vi foi uma companhia condenada às galés, pessoal com péssima apresentação, indignados com o que lhes davam a comer, reflexo da desconsideração. Não era uma questão de vida ou de morte. Era a dignidade, ou a falta dela, e o tratamento sobranceiro a que estavam sugeitos, Filhos da puta! A chicalhada não perdia pitada.
Considerei que podiam fazer levantamento de rancho ou que comessem o que ali estava, pois já sabiam o que era. Em qualquer dos casos gritei pelo Jesus, o cantineiro. Dei-lhe ordem para abrir a cantina e que todos se servissem do que houvesse.
No regresso à messe censurei a chicalhada, referi o que decidira, desafiei o capitão a dar-me uma porrada, depois, a título simbólico, peguei no meu prato e fui acabar de comer no quarto.
A ganância desta chicalhada, do mais vil e ordinário que me foi dado conhecer, indivíduos sem escrupulos, mereciam que se desse publicidade aos seus nomes, todavia, não me parece do âmbito do blogue estar a indicá-los. Como é que foi possível, juntar numa companhia, três aventesmas de tais quilates?
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 10 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3593: História da CCAÇ 2679 (9): Boas recordações da PIDE (José Manuel Dinis)
Guiné 63/74 - P3624: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (2): Natal de 1972 em Aldeia Formosa
Natal de 1972 em Aldeia Formosa
Terminada a instrução, eis que os TIGRES organizados em coluna auto se dirigem para o porto de Bissau, onde embarcados que foram numa LDG, seguem com destino a Aldeia Formosa (Quebo) com paragem obrigatória e óbvio desembarque em Buba.
Chegámos a Buba por volta das sete horas da manhã do dia 19 de Novembro de 1972. Curiosas as modificações na fisionomia das pessoas ao longo do percurso; o ar chocalheiro dos mais baldas e despreocupados começou a desaparecer à medida que nos aproximávamos do nosso destino e verifiquei que sobre mim recaíam cada vez mais olhares. Tanto eu como todos os restantes oficiais e sargentos fizemos a viagem juntamente com os soldados e alguns civis nativos no convés da lancha, apesar do convite amável do comandante da embarcação para irmos de camarote. Penso que aceitei, por educação, um café bebido no camarote e aproveitei para colher algumas, poucas, informações sobre Aldeia Formosa.
Desembarcados em Buba, organizámos a Companhia e, pelas onze horas, ao som afinado do coro da malta de Buba que cantava a plenos pulmões “periquito vai pró mato oh, lé ,lé, lé que a velhice vai pra Bissau, oh la, ré lé, lé… partimos em coluna auto para Aldeia Formosa onde chegámos por volta das duas e meia.
Recebidos pelo BCaç 3852, mais uma vez ao som do estribilho anterior, mas aqui entoado com muito mais força e durante muito mais tempo, lá foram os Tigres soldados para uma caserna, os Tigres sargentos para outras instalações e os cinco oficiais para uma camarata com cinco camas separadas por um pano de tenda. Manifestei, ainda a medo, a estranheza por esta separação, mas a força dos galões fez-me calar, limitando-me neste primeiro embate a resmungar… Se me recordar, e se chegar à história do Cumbijã, o segundo embate numa questão semelhante já correu a meu favor e aí perdeu a força bruta dos galões…
A Aldeia Formosa militar era um quartel enorme, onde para além de um Batalhão, o BCaç 3852, se aquartelava uma Companhia composta por elementos nativos da Guiné, a CCaç 18, comandada por oficiais e sargentos brancos, com quem a nossa CCav 8351 começou a aprender os rudimentos do saber fazer, pois foi em conjugação com eles que fizemos os primeiros patrulhamentos e as primeiras emboscadas nocturnas, a protecção à estrada que pouco havia passado Mampatá, bem como a segurança às colunas auto entre Aldeia e Buba.
Por esta altura duas coisas me intrigavam: o porquê de uns barcos (dois ou três) que tinham vindo desde Bissau e que a fama de navegador que o meu nome encerra era manifestamente insuficiente para os pôr a navegar, pois faltava-lhes a água para serem operacionais e a falta de informação sobre o destino final da Companhia.
Aldeia Formosa, tinha a certeza de que não era, pois os militares já se atropelavam uns aos outros. Instado quem de direito, a resposta era sempre a mesma: a CCav 8351 não tem uma Zona de Acção definida, pois é uma Companhia às ordens do Comando Chefe.
Procurava no mapa locais para onde os barcos pudessem arrastar os Tigres, mas chegava sempre à mesma conclusão: não pode ser! Julgo não ter comentado esta preocupação com ninguém, nem mesmo com o meu camarada Alferes Florivaldo dos Santos Abundâncio, único oficial, dos originais, que ficou na Companhia até ao final da comissão. Meu bom amigo, meu braço direito e com um coração e uma dedicação grandes como o seu nome parece querer indicar. Um abraço amigo e respeitoso te envio. Ser-te-á apenas entregue quando visitares a Tabanca.
Apenas um parênteses para dizer que o turnover entre os alferes também era grande, mas os meus três alferes que não vieram com a companhia, não o fizeram, por motivos diferentes: um, foi destacado para a Chamarra, outro foi ferido em combate e evacuado para Portugal e o outro, foi transferido para o Quartel General/Com-Chefe em Bissau…
Aldeia Formosa era uma fortaleza imensa que para além de um número enorme de soldados tinha uma pista de aviação e estava, em termos de armamento bem equipada, com morteiros destes e daqueles, obuses grandes e menos grandes, eu sei lá, uma panóplia de metralhadoras e outras armas que um ignorante como eu não sabe, nem lhe interessa identificar. A população era estimada em cerca de quatro mil e quinhentas almas e vivia agrupada fora do aquartelamento, sendo a sua esmagadora maioria da etnia Fula.
As companhias aí aquarteladas tinham óptimas instalações, os capitães com quartos individuais, uma belíssima messe de oficiais, outra de sargentos, casernas amplas para os soldados, cantinas bem equipadas onde abundava a bela cerveja fresca, o bom whisky. Mesmo de frente ao aquartelamento uma bela horta onde se cultivavam alfaces, tomates, bananas, ananases, mangas e sobretudo papaias que eram o petisco preferido do sr. Comandante que diariamente as consumia com uma, como dizer, sofreguidão exagerada, que lhe provocava um escorrimento do sumo do fruto pelos cantos da boca, mas que ele não deixava escapar, pois o seu treino permitia-lhe sorver o que escorria com tal perícia e ruído que provocava risos disfarçados nos oficiais assistentes…
Recordo-me que o sr. Comandante adorava também cebola, que devorava antes das refeições e que lhe provocavam arrotos de tal calibre que o desgraçado que tivesse a infelicidade de se sentar frente a ele, aliás o último lugar a ser ocupado, tinha de se desviar para não ser atingido por qualquer estilhaço de cebola ou pelo perfume forte e picante emanado pelo bolbo carnudo.
Era, no fundo, bom homem e tinha como petit nom Baga-Baga, dada a sua volumetria, ansiando pela reforma pois era a última comissão que fazia, sendo que os problemas da guerra eram mais da conta de um major de operações e dos oficiais mais novos.
Chegados a 19 de Novembro a Aldeia Formosa, a CCav 8351 tem o seu baptismo de fogo no dia 23 do mesmo mês, portanto com quatro dias de Aldeia. Procuro os apontamentos oficiais e cito ipsis verbis: “ um grupo IN estimado em trinta a quarenta elementos atacou o aquartelamento de Aldeia Formosa com armas ligeiras e automáticas RPG-2 e RPG-7 durante 05 minutos reagindo ainda nos 10 minutos seguintes, causando 02 feridos às nossas tropas”.
Juntamente com a grande maioria dos oficiais de todas as companhias, também eu me encontrava na messe, e a minha reacção foi a de imitação: atirar-me para o chão para debaixo das mesas. Ninguém, ou se quiserem, nenhum oficial presente incluindo o Comandante se levantou enquanto o tiroteio durou. Quando acabou a fogachada fui em direcção à caserna dos Tigres que se encontravam todos bem e com uma sensação igual à minha: o ataque, dada a dimensão do aquartelamento, não tinha sido connosco. Comecei a ficar preocupado…
Até ao Natal, aguardado com ansiedade por todos, Aldeia Formosa foi flagelada a 27 de Novembro com cerca de (cito) quarenta granadas de Canhão S/R 85 e alguns foguetões; a 1 de Dezembro dez foguetões; a 8 de Dezembro novamente cerca de quarenta granadas de Canhão sem recuo. As consequências destes últimos ataques foram nulas pois nenhum dos engenhos caiu dentro do perímetro do aquartelamento.
Continuei preocupado, pois os meus comandados pensavam que as consequências dos ataques serviam só de aperitivo para beberem mais umas cervejas. Insisti com eles para não baixarem guarda, mas vi que o medo inicial havia dado lugar a uma demasiada descompressão. Tentei fazer-lhes ver que iríamos sair de Aldeia muito em breve e que a nossa vida seria muito difícil, exagerei, pensava eu, nos perigos que nos esperavam, mas o amolecimento também provocado pelo chegar do Natal era evidente. Continuávamos periquitos mas dois meses de Guiné e não sei quantos embrulhanços faziam da maior parte de nós velhinhos pois já se gabavam de ter sofrido mais ataques do que outras companhias que estavam há já alguns meses na Guiné sem ainda terem ouvido um tiro.
Natal de 1972
Foi o primeiro Natal passado sem a companhia dos pais, das mulheres, dos filhos, enfim da família, para a esmagadora maioria de nós. Reuni a companhia e nesse dia jantámos todos juntos. O Comandante, repito, bom homem, foi ter connosco. Lembro-me de ter feito um discurso longo, tendo aproveitado para lhes dizer que a nossa família agora eram todos os Tigres, e que me ajudassem a cumprir a minha maior ambição: Regressar a Portugal com todos os que tinham embarcado e que a todos cabia trabalhar nesse sentido. Comeu-se bem, bebeu-se melhor, e mesmo os, inicialmente mais tristonhos, rapidamente e pelo menos por alguns instantes, se juntaram aos cânticos que entoávamos em conjunto, aos vivas ao que quer que fosse, até que os vapores etílicos começaram a fazer efeito levando-nos à cama e a descansar até tarde do dia seguinte…
Aldeia Formosa > Discurso dia Natal (Vê-se o sr. comandante e o seu oficial de operações)
Aldeia Formosa > Dia de Natal de 1972 > Da esquerda para a direita: Portilho,?, Machado, Beires, Gama, Abundâncio, Aleixo, Matos Lopes,Peniche e Setúbal
Aldeia Formosa > Dia de Natal de 1972 > CCav 8351
Aldeia Formosa > Dia de Natal de 1972 > CCav 8351
Aldeia Formosa > Natal de 1972 > Fim de Festa
A visita do Gen Spínola no último dia de 1972
Até ao final de 1972, continuávamos na protecção à estrada e nada de registo me ocorre, a não ser a visita do General Spínola no dia 31 de Dezembro a Aldeia Formosa, onde se deslocou para se inteirar do grau de preparação da CCav 8351. Lá vestimos a nossa farda de festa, tendo o Chefe máximo discursado para a Companhia, colocando-me após o destroçar duas ou três questões e tendo de seguida regressado ao seu destino.
Continuava sem conhecer em definitivo o destino da Companhia, mas dadas as sucessivas idas a Colibuia, onde protegíamos o avanço da estrada, onde montávamos emboscadas nocturnas, pensei que esse seria o nosso destino. Como estava enganado…..
Aldeia Formosa > 31 de Dezembro de 1972 > Visita do Gen Spínola
Aldeia Formosa > 31 de Dezembro de 1972 > Visita do Gen Spínola
Texto e fotos © Vasco da Gama (2008). Direitos reservados.
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Nota de CV
Vd. primeiro poste da série de 7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3581: A História dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (1): Apresentação e Chegada a Bissau
domingo, 14 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3623: Recortes de imprensa (11): A guerra do J. Casimiro Carvalho, pirata de Guileje e herói de Gadamael (Correio da Manhã)
Guiné > Bissau > 1974 > O repouso do guerreiro , herói de Gadamael> O Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, talvez o pirata de Guileje mais conhecido (seguramente o mais fotografado, o mais fotogénico e o mais divulgado no nosso blogue; a razão é simples: é o único exemplar da espécie). A sua companhia, a CCAV 8350, era a unidade de quadrícula de Guileje, quando o comandante do COP 5, o major de artilharia de Coutinho e Lima, tomou a dramática decisão de retirar, para Gadamael, em 22 de Maio de 1973, as nossas tropas (c. 200) e a população civil (c. 500) face ao cerco do PAIGC, iniciado cinco dias antes, em 18 de Maio (Op Amílcar Cabral).
Na segunda foto, a contar de cima, vemos o J. Casimiro Carvalho Orion, no cais do Pidjiguiti, em frente das LFG Orion, Lira e Argos...
Fotos: © José Casimiro Carvalho / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados
1. A revista Domingo do Correio da Manhã, na sua edição de hoje, 14 Dezembro 2008, traz uma reportagem sobre o nosso camarada J. Casimiro Carvalho, na secção A Minha Guerra. Com a devida vénia, publicam-se o texto, com algumas adaptações (Revisão do texto e subtítulos: L.G.).
A Minha Guerra - José Pereira de Carvalho - Guiné 1972/1974 > "Combati no inferno verdadeiro"
"Alombei com camaradas mortos, vi outros serem abatidos, socorri alguns em Guileje e Gadamael e evitei que dois soldados mais novos fossem para a matança.
"Fiz a recruta em Leiria, no Regimento de Infantaria 7, e de seguida fui escolhido para frequentar o Curso de Sargentos Milicianos nas Caldas da Rainha. Depois fui nomeado para Tavira, mas não cheguei a ir porque fui escolhido para tirar o Curso de Operações Especiais nos Rangers de Lamego, que terminei com 15,28 valores". ~
Férias em Guileje
O relato, em jeito de narrativa autobiográfica continua assim:
"Mais tarde, em Estremoz, como cabo miliciano, dei instrução num pelotão da Companhia de Cavalaria 8351 (Os Tigres de Cumbijã). Fui nomeado para servir no Comando Territorial Independente da Guiné e transferido para a Companhia de Cavalaria 8350 (Os Piratas de Guileje).
"Embarcámos em Outubro de 1972 e, já em Bissau, seguimos para Cumeré, e duas semanas mais tarde embarcámos numa lancha de desembarque para Gadamael, donde seguimos para Guileje. Aqui, em sobreposição com Os Gringos, tivemos um período de muito trabalho em patrulhas. Mas passámos uns meses descansados. Andei a caçar pássaros com uma caçadeira que o chefe da tabanca me emprestava (só pagava os cartuchos). Apanhava aos 50 pardais com cada tiro e os jubis (miúdos) agarravam os que ficavam feridos. Era cada arrozada!"...
O inferno de Guileje
Os bons tempos de Guileje, dos primeiros meses, de finais de 1972 a princípios de 1973, vão rapidamente acabar, quando a direcção do PAIGC, na seqùência do assassinato do seu líder histórico, em 21 de Janeiro de 1973, decidiu lançar uma grande ofensiva contra Guidaje, a norte Guileje e Gadamael, a sul (Op Amílcar Cabral):
"Mas os tempos iriam piorar. Um dia, o alferes Lourenço, ao manusear uma granada duma armadilha, rodeado de militares - eu estava emboscado com o meu grupo -, ela explodiu-lhe na mão e matou-o instantaneamente. Já no quartel, ao ajudar a pegar no cadáver, este quase se partiu em dois. Que dor senti, chorei como nunca.
"Era o prenúncio do que nos esperava. Um dia fomos atacados pelo inimigo com canhões sem recuo, e um Fiat G91 da Força Aérea Portuguesa foi contactado pelo comandante capitão Abel Quintas, que lhe indicou o rumo das saídas (zona de explosão dos projécteis a saírem das bocas de fogo) e ele seguiu. Mais tarde soube que tinha sido abatido por um míssil Strella terra-ar. Intervieram os pára-quedistas e o grupo do Marcelino (‘Os Vingadores’ das Operações Especiais), numa confusão de tropas como nunca tinha visto. Pedi ao Marcelino para me levar na operação de resgate do piloto tenente Pessoa, que aceitou, mas o meu comandante não foi na conversa, não obstante o Marcelino ter dito que me trazia de regresso, nem que fosse às costas".
A retirada de Guileje e um outro inferno chamado Gadamael
Em 22 de Maio de 1973, o Fur Mil Op Esp Casimiro, da CCAV 8350, não estava em Guileje. Eis a razão por que isso aconteceu:
"Entretanto, fui nomeado para comandar os reabastecimentos, antes do isolamento, entre Cacine e Gadamael. Andava eu a curtir o Sol em lanchas de desembarque, quando Guileje, no Sul da Guiné, foi abandonada, por ordem do então major Coutinho e Lima – que por isso foi mandado prender pelo general Spínola -, seguindo as nossas tropas e a população para Gadamael Porto, a 18 km de distância, onde passados uns dias começou a matança no verdadeiro inferno.
"Foi um horror que a minha cabeça ainda hoje se recusa a qualificar e quantificar. Em Gadamael não havia casamatas (abrigos subterrâneos) como em Guileje, só valas. Os bombardeamentos eram tão intensos que nem dava para acreditar e, depois de ouvirmos as saídas, passavam apenas 22 ou 23 segundos até as granadas caírem em cima de nós. Num dos voos para uma vala, onde nos escondíamos, senti as nádegas húmidas e ao pôr a mão ficou encharcada em sangue. Gritei que estava ferido e fui evacuado num barco patrulha da Marinha para Cacine, onde verificaram que tinha um estilhaço de um morteiro de 122 mm. Como não havia necessidade de ser transferido para Bissau, fui nomeado chefe de limpeza.
"Quando começaram a chegar as vítimas deste holocausto, e como ouvia os meus camaradas a embrulhadar (bombardeados), deu-me um clique na cabeça, peguei numa Kalashnikov, virei-me para um oficial e disse: ‘ou me mandam já para Gadamael onde morrem os meus homens ou varro já esta m...’
"Não me lembro dos momentos seguintes, mas sei que depois me vi num Sintex (barco em forma de banheira de fibra de vidro), a caminho de Gadamael. Aqui, num dos bombardeamentos, já no fim, vi um soldado a cair e, ainda com o fumo no ar e o eco das explosões nos ouvidos, saí em correria louca, alombei com ele às costas e corri para a enfermaria. Ao colocá-lo no chão, vi que não tinha metade do crânio e os miolos escorriam pelas minhas costas.
"Nessa enfermaria jazia um militar morto por bombardeamentos em Guileje e que mais tarde foi enfiado em dois bidões soldados juntos, tal o estado do cadáver. Na enfermaria, os cadáveres eram tantos e o cheiro tão nauseabundo que era constantemente regada com creolina.
"Num dos ataques, o capitão Quintas (comandante de ‘Os Piratas de Guileje’, cujo nome e emblema foram criados por mim) foi ferido muito gravemente. Ajudei-o a chegar ao cais, debaixo de fogo, arranjei um Sintex e, como não tinha depósito, corri, debaixo dum bombardeamento terrível, a arranjar um. O barco seguiu então para Cacine levando mais feridos.
"Noutra altura, um oficial chamou meia dúzia de homens e mandou-os fazer uma patrulha ao longo de um rio e emboscarem-se numa zona de uma antiga pista de aviação. Eu, ao sair com o alferes Branco, reparei em dois soldados que estavam para ir e ordenei-lhes que ficassem porque ainda eram muito novos para morrer.
"Quando o alferes nos mandou emboscar, ouvi um barulho estranho vindo do mato, atirei-me ao chão e gritei que estávamos a ser atacados. Ainda vi a cara do alferes a ser atingida por uma rajada. Foi um tiroteio terrível. Um grupo de pára-quedistas foi em nosso socorro e quando chegou encontrou quatro corpos: o alferes Branco, o cabo Neves e os soldados Serafim e Anselmo.
"A minha companhia foi evacuada e esteve para regressar à Metrópole, mas foi decidido que devíamos fazer outra Instrução de Actividade Operacional. Eu fui para Prabis com 12 homens, outros para Quinhamel ou Bijemita, depois fomos para Colibuia-Cumbijã. Eu fui destacado para render o furriel Cláudio Moreira das Operações Especiais. Entretanto, aconteceu o 25 de Abril e fui para Paúnca para a Companhia de Caçadores 11 (‘Os Lacraus’), até ao fim da comissão".
O culto dos rangers
A reportagem do Correio da Manhã termina com uma nota biográfica sobre o nosso amigo e camarada, enquanto paisano:
"José Casimiro Pereira de Carvalho mora em Vermoim, na Maia, e é casado há 33 anos. Tem duas filhas, a Kika, de 31 anos (administrativa) e a Sofia, de 26 (economista). Tem uma neta, da primeira filha, com dois meses (Beatriz).
"Nasceu em Cedofeita, Porto. Completou o ciclo preparatório, trabalhou em hotelaria e quando foi para a tropa estava no Hotel Castor, no Porto. Quando regressou, era furriel miliciano de Operações Especiais (Ranger). Convidado para seguir a vida militar, não aceitou e foi trabalhar como empregado de mesa no restaurante Barcarola.
"Entretanto, foi para a BT-GNR, onde esteve durante 26 anos, até à reforma, em 2003. Agora, passa o tempo a ajudar um amigo que trabalha em aço inox para mobiliário. Todos os anos a família vai a Lamego, aos Rangers, porque adora a instituição".
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste anterior desta série:
8 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3584: Recortes de Imprensa (10): Os ficheiros secretos de Coutinho e Lima, no Correio da Manhã, de 7/12/08
Guiné 63/74 - P3622: Brasões, guiões ou crachás (6): BART 2917 e 2924, BCAÇ 507 e 512, CCAV 1484, Pel Caç Nat 52 e Pel Mort 4574 (José Martins)
BART 2917 - Guiné 1970/72 - Divisa: P'la Guiné e suas gentes
Mobilizado no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 – Vila Nova de Gaia
Embarque em 17Mai70
Desembarque em 25Mai70
Regresso em 24Mar72
Divisa – P´la Guiné e suas gentes
Segue para Bambadinca em 29Mai70 assumindo a responsabilidade do Sector L1, que abrangia os subsectores de Xime, Xitole, Mansabá e Bambadinca. A sua actividade desenvolveu-se na coordenação e realização patrulhamentos, emboscadas e segurança de itinerários, assim como protecção de trabalhos de reordenamento dos aldeamentos. Implementou e organizou o funcionamento do Centro de Instrução de Milícias. Deslocou-se para Bissau a fim de aguardar embarque em 15Mar72.
Tem como subunidades orgânicas as CArt 1714, 1715 e 1716, que se mantiveram sempre na área do seu sector.
Imagem: Benjamim Durães/ultramar.terraweb
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BATALHÃO DE ARTILHARIA N.º 2924
BART 2924 - Guiné 1970/72 - Divisa: Porfiamos o Céu, a Terra e as Ondas, Atroando
Mobilizado no Grupo de Artilharia Contra Aeronaves n.º 2 – Torres Novas
Embarque em 23Set70
Desembarque em 29Set70
Regresso em 21Set72
Divisa – Porfiamos o Céu, a Terra e as Ondas atroando
Entre 05 e 31Out70 realizou no Centro de Instrução Militar, em Bolama, a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, em conjunto com as suas companhias orgânicas. Segue em 28Nov70 para o sector de Tite, para treino operacional e assume o Sector S1 em 15Dez70, que incluía os subsectores de Nova Sintra, Jabadá, Fulacunda e Tite. A área de Ganjauará é retirada a este sector em 24Nov71. Desenvolveu intensa actividade efectuando e coordenando patrulhamentos, emboscadas, reconhecimentos ofensivos e reacção a flagelações de aquartelamentos e povoações em autodefesa. Coordenou e orientou o reordenamento de aldeamentos e trabalhos de asfaltagem, na sua área de acção. Foi rendido em 20Ago72, seguindo para Bissau a aguardar embarque.
Tem como subunidades orgânicas, que estiveram sempre integradas no seu sector, as CArt 2771, 2772 e 2773.
Imagem: José Sobral/ultramar.terraweb
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BATALHÃO DE CAÇADORES N.º 507
BCAÇ 507 - Guiné 1963/65
Mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 2 - Abrantes
Embarque em 14Jul63
Desembarque em 20Jul63
Regresso em 29Abr65
Divisa –
Constituído apenas por Comando e CCS (Companhia de Comando e Serviços), não dispondo, portanto de subunidades orgânicas, recebeu os elementos de recompletamento, que ainda não tinham terminado a sua comissão de serviço, e que estavam integrados no BCAÇ 239, a que sucedeu. Em20Jul63 assume a responsabilidade do sector B, com sede em Bula, enquadrando as companhias instaladas em Teixeira Pinto, Mansoa, S. Domingos e Farim. O sector foi aumentado com os subsectores de Mansabá e Ingoré (28Jul63) e Bissorã (01Ago63). Em 01Set63 a sua zona de acção foi reduzida dos subsectores de Mansoa, Farim, Mansabá e Bissorã, e aumentado dos subsectores de Binar (08Mai64) e Có (02Mar65). Desenvolveu a sua actividade operacional em patrulhamentos, reconhecimentos, batidas e emboscadas, com o objectivo de travar o alastramento da subsversão na zona Oeste, assim como a segurança e protecção das populações. Em 28Abr65, deixou a sector de Bula, já designado sector O1, seguindo para Bissau para aguardar embarque.
Imagem: Carlos Coutinho/ultramar.terraweb
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BATALHÃO DE CAÇADORES N.º 512
BCAÇ 512 - Guiné 1963/65 - Divisa: Honra e Glória
Mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 7 - Leiria
Embarque em 17Jul63
Desembarque em 22Jul63
Regresso em 12Ago65
Divisa – Honra e Glória
Constituído apenas por Comando e CCS (Companhia de Comando e Serviços), não dispondo, portanto de subunidades orgânicas. A fim de instalar e organizar a sua zona de acção, segue para Mansoa em 20Ago63. Em 01Set63, assume a responsabilidade do recém criado sector C, englobando nele as companhias que se encontravam instaladas em Mansoa, Mansabá, Bissorã e Farim, assim como os seus destacamentos. Foram acrescentados os subsectores de Enxalé (08Dez63) e Bigene (23Dez63). O sector é reduzido, por entrada em sector de outros batalhões, sendo retirados os subsectores de Farim e Bigene (23Mai64) e Mansabá e Bissorã (31Mai64). Desenvolveu a sua actividade em especial nas zonas de Óio-Morés, Biambifoi e Enxalé, efectuando patrulhamentos, reconhecimentos, batidas, emboscadas e golpes de mão, nomeadamente sobre as linhas de infiltração inimigas. Em 22Jul64 a sua zona de acção foi integrado no sector atribuído ao BArt 645 e foi deslocada para Bissau, onde assumiu a segurança do aquartelamento do Centro de Instrução de Comandos, em Brá. A 29Dez64, desloca-se para Nova Lamego, para proceder à instalação do novo sector L3, cuja responsabilidade assume em 11Jan65, tendo sido criados os subsectores de Canquelifá (25Fev65), Bajocunda (11Mar65), Madina do Boé e Buruntuma (23Mai65), tendo recorrido a subunidades de intervenção às ordens do Comando Chefe. Neste sector organizou operações para travar a penetração de forças inimigas e travar relacionamento com as populações. A 01Jun65 foi para Bissau a fim de aguardar embarque de regresso.
Imagem: Carlos Coutinho/ultramar.terraweb
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COMPANHIA DE CAVALARIA N.º 1484
CCAV 1484 - Guiné 1965/67 - Divisa: Vontade e Audácia
Mobilizada no Regimento de Cavalaria n.º 7 - Lisboa
Embarque 20/Out/65
Desembarque em Bissau em 26/Out/65
Regresso em 02/Ago/67
Comandante: Cap Cav Rui Manuel Soares Pessoa e Amorim
Companhia independente ficou instalada em Nhacra, onde rendeu a CArt 565, ficando adida ao BArt 1857, aquartelado em Santa Luzia - Bissau.
Fez treino operacional em Mansoa durante o mês de Nov/65, que culminou com uma operação na área de Cobonge.
O efectivo da Companhia tomou o seguinte dispositivo:
Em Nhacra: Comando da Companhia, 2 GComb e 1 Pel da Comp Mil 10 em reforço
Em Safim: 1 GComb reforçado com 2 Pel da Comp Mil 10, com 1 Secção destacada em Ensalmá e outra em João Landim.
Em 08Jun66 a CCav 1484 foi rendida em Nhacra pela CCaç 797 e seguiu para Catió, onde ficou em intervenção ao Sector, adida ao BCaç 1858 e, após a rendição deste, ao BArt 1913.
Durante o período de permanência em Catió deu cobertura, em Cufar, à rendição da CCaç 763 pela CCaç 1621 e, no Cachil (Como) à rendição da CCaç 728 pela CCaç 1587.
De 12Jun66 a 28Jun67 efectuou 40 operações no Sector, sofreu 2 mortos e 22 feridos em combate, registando ainda 1 morto por acidente.
Em 20Jul67 segue para Bissau, embarcando no Uíge em 26Jul67 e chegado a Lisboa em 02Ago67.
(Imagens e texto de Benito Neves)
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PELOTÃO DE CAÇADORES NATIVOS N.º 52
PEL CAÇ NAT 52 - Guiné 1966/74 - Divisa: Matar ou Morrer / Os Gaviões
Mobilizado no Comando Territorial Independente da Guiné
Criado em Setembro de 1966
Desactivado em Agosto de 1974
Divisa – Matar ou Morrer / Os Gaviões
Colocado inicialmente em Porto Gole, foi transferido, sucessivamente, para Enxalé (Mai69), Missirá (Jun69), Bambadinca (Set69), Fá Mandinga (Jul71), Fá Mandinga (Abr72), Ponte do Rio Udunduma (Jul72) e Mato de Cão (Out72), onde se manteve até ser extinto.
Pequena unidade da guarnição normal.
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PELOTÃO DE MORTEIROS N.º 4574/72
PEL MORT 4574/72 - Guiné 1972/74
Mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 15 - Tomar
Embarque em Jul/72
Regresso Após Abr74
Foi colocado junto do Batalhão instalado no sector L3 em Nova Lamego, destacando forças a nível de Secção ou Esquadra para as subunidades instaladas naquela área de acção.
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Notas de CV:
Vd. postes anteriores da série de:
10 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3429: Brasões, guiões ou crachás (1): CCAÇ 2797, Pel Caç Nat 51 e Pel Caç Nat 67, Cufar, 1970/72 (Luís de Sousa)
14 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3453: Brasões, guiões ou crachás (2): CCAV 678, 1964/66 (Manuel Bastos)
22 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3501: Brasões, guiões ou crachás (3): CAOP 1: BCAÇ 2885; CART 2732 e CCAÇ 5 (Jorge Picado/Carlos Vinhal/José Martins)
1 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3551: Brasões, Guiões ou Crachás (4): CCAÇ 728; CCAÇ 2617; CCAÇ 3566; PEL CAÇ NAT 63; CCAV 677 e CCAÇ 2402 (José Martins)
7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3580: Brasões, guiões ou crachás (5): BCAÇ 2893, CART 730 e 23339, CCAÇ 726, 1426, 2406, 2636, 2701 e 3477 (José Martins)
Guiné 63/74 - P3621: Em busca de... (57): Ex-combatentes do BCaç 2928 (Bula...1970/72) (António Matos)
À procura de Camaradas
Mensagem do António Matos, com data de 14 de Dezembro de 2008
Gostaria imenso de usufruir do sistema de procura de camaradas a quem perdi o rasto desde 1972 !!!
Como se faz isto ?
Os dados são:
Batalhão de Caçadores 2928
Companhia 2790
Capitão Sucena
Pelotão do alferes Matos e dos furrieis Tavares e Guedes Vaz
Ida para a Guiné em 1970
Regresso em 1972
Soldados açoreanos provavelmente imigrados no Canadá ou, eventualmente, já regressados a S.Miguel.
António Matos
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Nota de vb:
Último poste da série de 13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3617: Em busca de... (55): Ex-combatentes da CCAÇ 594 (Guiné, 1963/65) (Júlio Pinto/Artur da Costa Rodrigues)
Guiné 63/74 - P3620: Album fotográfico de Santos Oliveira (7): Bissau
Bissau > Pintando
Bissau > Dezembro de 1965 > Lendo junto ao quarto
Bissau > Dezembro de 1965 > Amura
Bissau > Dezembro de 1965 > Ao fundo o Porto e a Ilha do Rei
Bissau > Julho de 1966 > Estátua de Teixeira Pinto
Bissau > Julho de 1966
Bissau > Julho de 1966 > Estátua de Honório Barreto
Medalha das Campanhas da Guiné
Diploma do CTIG - 1964/1966
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3577: Album fotográfico de Santos Oliveira (6): Tite e Enxudé
Guiné 63/74 - P3619: Em busca de... (56): Ex-combatentes da CCAÇ 2312 (Có, 1968/69) (Silvie/António Ferreira)
Olá,
Ando à procura de associações de combatentes das forças armadas, portugueses que combateram na Guiné. O meu pai foi um desses soldados e queria fazer-lhe uma surpresa.
Encontrei o seu mail na net e queria saber se me podia indicar como posso entrar em contacto com essas pessoas ou se há convívios que se organizam em Portugal.
Muito obrigada.
Silvie
2. Mensagem enviada à nossa amiga Silvie em 5 de Dezembro
Cara Silvie
Veja se o seu pai lhe diz qual foi a Companhia e ou Batalhão onde foi integrado para a Guiné. Já agora as datas de ida e regresso assim como os locais onde esteve na Guiné. Indique também o nome de seu pai.
Em posse desses elementos, poderemos dar informações mais precisas.
Há por cá convívios a nível nacional, mas se pudermos encontrar camaradas de seu pai, ainda será melhor.
Os nossos cumprimentos e um abraço especial ao seu pai, nosso camarada.
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
3. Mensagem da filha do nosso camarada, com data de 6 de Dezembro:
Bom dia Sr Carlos,
Agradeço por ter respondido e peço já desculpas por eu dar muitos erros em português (é que sou filha de emigrantes e infelizemente não tive aulas de português).
Aqui vão as informações que me pediu:
Nome: António FERREIRA
Data de ida: Janeiro de 1966
Datas de volta: Junho 1969 (ferido grave)
Batalhão: 2834
Companhia: 2312
Primeiro Pelotão
Caçadores
Fico à espero e agradeço muito.
Cumprimentos.
Silvie
4. No mesmo dia foi enviada a seguinte reposta à filha do nosso camarada António Ferreira:
Cara Silvie, cara filha.
Utilizei o termo cara filha para que fique a saber que os filhos nos nossos camaradas, nossos filhos consideramos. Quem combateu na Guiné, ficou possuído de uma mística tal que nos tornamos verdadeiros camaradas, amigos e porque não irmãos. Se quiser considere-se nossa sobrinha de coração.
Aproveito para mandar ao meu camarada António Ferreira um grande abraço solidário, fazendo votos de que o ferimento que recebeu na Guiné lhe não tenha deixado nenhuma sequela para a vida.
Posto isto, vamos ao mais importante.
O seu pai esteve no Batalhão de Caçadores 2834 que tinha 4 Companhias, a saber: CCS, CCAÇ 2312 (a dele), CCAÇ 2313 e CCAÇ 2314. A Companhia dele deve ter estado em Có e a sede de Batalhão em Buba.
Arranjei um contacto telefónico de um companheiro dele, da CCAÇ 2312, que é o Mário Neves, cujo telemóvel é: 936 242 703 (*)
Tenho mais dois contactos da CCAÇ 2313 que poderão conhecer outros camaradas da Companhia do seu pai, que são:
José Ferreira - telemóvel - 936 699 301, telefone fixo - 234 666 413 (*)
Luciano Castro - telemóvel - 968 831 065, telefone fixo - 234 742 46 (*)
Faltam como é lógico os indicativos de Portugal que conhecerão melhor do que eu.
Vou entretanto publicar o vosso pedido no nosso Blogue e do que conseguirmos, lhes será dada notícia.
Creia-nos ao vosso inteiro dispôr.
Deixo ao António Ferreira um abraço e à Silvie e restante família as nossas melhores saudações.
Se não houver outros contactos entretanto entre nós, ficam desde já os nossos Votos de Bom e Santo Natal para todos e um Bom Ano 2009.
Carlos Vinhal
Co-editor
5. Em 13 de Dezembro recebemos esta mensagem da nossa amiga Silvie:
Senhor Carlos,
Daqui a uns dias, se tudo correr, bem vou para Portugal passar as festas e assim vou poder transmitir as suas saudações e as informações que me deu ao meu pai. Ele concerteza vai ficar muito contente, sobretudo com os contactos dos companheiros.
Muito obrigada pela sua ajuda e desejo-lhe também umas boas festas e um feliz Ano 2009.
Silvie
6. Comentário de CV:
Foram prestadas estas informações ao nosso amigo António Ferreira, através da sua filha Silvie, elementos estes (*) recolhidos na página do nosso camarada Jorge Santos a quem agradecemos a existência da sua secção Ponto de Encontro, a que recorremos frequentemente.
Se entre os nossos camaradas e leitores houver quem tenha mais elementos a acrescentar aos já fornecidos a estes nossos amigos, por favor contactem-nos.
Ao António Ferreira, desejamos que consiga encontrar os amigos há tanto tempo desencontrados.
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Nota de CV;
Vd. último poste da série de 13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3617: Em busca de... (55): Ex-combatentes da CCAÇ 594 (Guiné, 1963/65) (Júlio Pinto/Artur da Costa Rodrigues)
Guiné 63/74 - P3618: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (2): A festa ... e a solidão de há 35 anos (Luís Graça)
Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref Coutinho e Lima , A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos > O autor, no final, autografando exemplares do seu livro (editado pela DG - Editor, Linda-A-Velha, 2008, 469 pp., € 20). A sessão só terminiu por volta das 20h30, o que dá ideia da afluência de público... O auditório da Academia Militar term uma lotação de 600 lugares, dois terços dos quais estavam preenchidos. Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos (Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20) > Em primeiro plano, a direita, o nosso camarada e amigo, advogado, régulo de Farim, residente em Massamá, Carlos Silva, acompanhado pela esposa.
Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos (Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20) > Outro aspecto da sessão de autógrafos. Em segundo plano, o José Colaço e o António Santos, da nossa Tabanca Grande, à direita do Carlos Silva e esposa.Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref "A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos" (Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20) > Da esquerda para a direita: Vasco da Gama, António Pimentel, o José Manuel e o José Martins.
Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref, Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos (Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20) > Um pequeno excerto da intervenção do Gen Loureiro onde se fala da terrível da solidão de quem tem de decidir, sozinho, em situações-limite. Mas o dia foi de festa para o Cor Art Ref Coutinho e Lima: finalmente, 35 anos depois, pôde contar a sua história (*)...