Queridos amigos,
Este álbum fotográfico é uma pequena preciosidade.
Provavelmente serviu como edição de prestígio não se sabe para qual entidade e o valor das imagens ficou circunscrito. É lastimável este tipo de edições de prestígio, sempre condenadas a não chegar ao grande público.
Ficam aqui alguns exemplos de beleza praticamente ignota. O que é curioso é que há negociantes de arte a procurar toda esta policromia bijagó que não se vê nos mercados tradicionais. É assim o mercado da arte.
Um abraço do
Mário
Tesouros da arte dos bijagós e outras instituições culturais
Beja Santos
Eva Kipp colaborou com o Governo da Guiné-Bissau em vários projectos de divulgação da cultura tradicional da Guiné. “Guiné-Bissau, Aspectos da Vida de um Povo” (por Eva Kipp, Editorial Inquérito, 1994 é o livro em que esta perita holandesa procura divulgar alguns aspectos da diversidade e riqueza cultural da Guiné-Bissau com especial destaque para a arte bijagós, cerimónias fúnebres, rituais de passagem e imagens de trabalho.
Relativamente à arte dos bijagós, a autora destaca a sua estreita ligação à religião: a representação dos irãs está a cargo dos escultores, alguns deles notáveis em Orango e Canhanbaque. A autora mostra-nos em actividade o escultor Ompane, especialista em estatuetas dos Irã Grande. Vemos as sucessivas fases do seu trabalho: as cerimónias de apresentação ao Irã com a convocação dos espíritos; a escolha da árvore na qual se pode incarnar os Irãs que também têm um vasto cerimonial. Por exemplo: “Para iniciar a cerimónia ele dá pancadas na árvore e faz o chamamento do Irã. Ele nunca inicia o corte sem realizar esta cerimónia, caso contrário podem acontecer coisas terríveis, teme-se sempre o desagrado do Irã… uma vez derrubada a árvore, separa o pedaço do tronco necessário à execução da estatueta”. O escultor utiliza como instrumentos o machado e a catana.
A autora refere seguidamente os Irãs Grandes e os seus santuários. Possuem forma humana, mas nem sempre. Em princípio, estes irãs estão depositados no santuário das mulheres ou em casa dos régulos. Ao lado do Irã Grande encontram-se outros objectos sagrados (caso de chifres de gazela ou de cabra). Os Irãs são utilizados para cerimónias colectivas da tabanca e que se praticam no início da lavoura, no fanado ou quando uma doença grave atinge alguém da tabanca. Para tais cerimónias, o Irã é retirado do santuário e colocado num outro ao ar livre que é chamado de Nan. A arte dos bijagós também se destaca pelas suas famosas pinturas murais em santuários e em casas. Além destas pinturas murais, os bijagós distinguem-se pelas esculturas de enorme colorido que usam nos enfeites das suas danças, que podem incluir figuras de animais, caso do tubarão martelo e vacas. São peças de grande valor ornamental, têm grande procura no mundo do artesanato.
Barco bijagó: estatueta de Bubaque
Os bijagós são maioritariamente animistas e daí a importância que têm os djambacós, os mediadores procurados por pessoas que precisam de conselho, possuem artes de vidência e poderes de curandeiro. Realizam cerimónias com conchas, orientam sacrifícios de animais; casos há em que os djambacós praticam a cartomancia ou prescrevem tratamentos para pessoas doentes. Eva Kipp refere outras etnias animistas que possuem outros tipos de Irãs que em vez de terem formas humanas podem ser estatuetas de forma de forquilhas. Por exemplo, na etnia papel realizam-se cerimónias em que o Cansaré é de grande importância no pedido de chuva. O mediador, aquele que detém o segredo de falar com o Cansaré são os balobeiros (sacerdotes) mas também os homens grandes.
O trabalho de Eva Kipp destaca o funeral do homem grande na etnia papel e ilustra como vestem os familiares, como utilizam unguentos, como se faz a festa de “choro” e se sacrificam animais para a cerimónia: “Ao ritmo dos tambores, toda a gente dança e bebe num terreno cheio de animais sacrificados, nem dando conta do risco quando dançam sob o telhado, prestes a ruir, de uma das casas. O consumo de álcool vai aumentando a exuberância da festa. Neste mesmo dia da cerimónia, enrolado em panos tradicionais, o falecido é sepultado. O número de panos que o envolve mostra o prestígio que ele tinha na sociedade. Os animais sacrificados são repartidos pelos participantes e segundos critérios fixos pela tradição.
Rapaz tocando flauta
O fanado é comum a todas as etnias da Guiné-Bissau, mas os rituais variam de umas para as outras. O fanado balanta implica um grande consumo de arroz, milho, animais e bebidas em todas as festas. A autora descreve as danças e cantares, entre os balantas há concursos de canto e improvisações teatrais.
É um livro de grande valor fotográfico e que bem merecia ser reeditado.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7560: Notas de leitura (184): O Fim do Império Português, de António Costa Pinto (Mário Beja Santos)