quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12221: Agenda cultural (292): Uma exposição de brado obrigatório, acontecimento ímpar: O brilho das cidades, a rota do azulejo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Outubro de 2013:

Queridos amigos,
Vê-se e fica-se sem fôlego, como é que é possível um país depositário de um acervo patrimonial único em azulejaria ter esperado tanto tempo para ver azulejos de todo o mundo, de altíssimo valor, uma exposição com uma história de milénios de um objeto frágil que as civilizações opulentas não dispensam? É um bom ensejo para tonificar o nosso orgulho à volta de uma riqueza de que somos a camisola amarela, encontrar uma exposição que contribui para o amor à cultura portuguesa e o desvelo aos valores perenes da cultura universal.
Vão por mim, a exposição é imperdível!

Um abraço do
Mário


Uma exposição de brado obrigatório, acontecimento ímpar: 
 O brilho das cidades, a rota do azulejo

Fundação Gulbenkian, 25 de Outubro de 2013/26 de Janeiro de 2014

Beja Santos

Somos uma superpotência do azulejo e não fazemos gala disso, o que é lamentável e incompreensível. O azulejo é usado há milénios, primeiro como material meramente comemorativo, mais tarde como elemento ornamental, depois didático, a Revolução Industrial fez dele um uso maciço, integrou-o profusamente na arquitetura e na paisagem urbana, é um desafio aos artistas que se mantêm fascinados por esta placa de cerâmica que tem uma superfície vidrada e que nos faz parar pelo envolvimento que cria, pela harmonia e bem-estar que suscita. Pelo menos desde o século XV que o azulejo faz parte do nosso património material e imaterial. E com resultados magníficos.

A exposição da Gulbenkian é um acontecimento único, põe em diálogo espécimenes representativos da azulejaria de todos os tempos, é uma verdadeira rota do azulejo que se pode visitar, desde do Egito e da Mesopotâmia, viagem deslumbrante que chega ao século XX, e aponta para o futuro, mais do que certo e glorioso.

Viagem deslumbrante? Sim, permite conhecer o modo como esta técnica foi conhecendo atualização e adaptação a novos gostos e também o modo como diferentes civilizações tiraram partido deste objeto para enriquecer os seus espaços. Viagem que se faz através de secções temáticas onde se abordam questões como o mito da cerâmica dourada, as conquistas da geometria, a importância da heráldica, o peso da cultura figurativa clássica, o valor da mitologia cristã, entre outras.

Logo na secção referente às origens do azulejo, o visitante é confrontado com exemplares provenientes do Egito, da Mesopotâmia, da Assíria e da Pérsia, depois Bizâncio, até à Idade Média. Percebe-se como o Mediterrâneo era o centro do mundo, o azulejo contribuía para o diálogo de diferentes civilizações onde o cristianismo e o Islão pontificavam.

A segunda secção intitula-se “Paredes que falam”, é um deslumbramento de novidade: azulejos persas e azulejos turcos, textos inscritos nas paredes das arquiteturas religiosas; espaços públicos convertidos em lugares carregados de mensagens icónicas.

Na terceira secção, intitulada “Ornato e mensagem”, enfatiza-se o papel do ornamento como informação entre os povos e as suas culturas. Como se escreve na brochura a que o visitante tem acesso, “Há intenções deliberadas na própria escolha das fontes de inspiração deste universo, nas transformações plásticas a que são submetidas as formas da Natureza, na beleza da sua própria geometria subjacente, na repetição infinita dos motivos, nos ornamentos fantasiosos que evocam gloriosos tempos passados”.

E chegamos a uma outra dimensão, “Poéticas e narrativas”, aqui encontramos chaves de entendimentos das poéticas narrativas, desde o mundo antigo até ao presente, é um espetacular transcurso por mitos gregos e romanos, histórias bíblicas, vidas e mortes de profetas e mártires, os grandes heróis da literatura universal, tudo se reflete nestas grandes e pequenas páginas ilustradas que dão pelo nome de painéis de azulejos.

E assim se chega ao azulejo encarado como signo do progresso, desde a revolução industrial aos nossos dias. O visitante é confrontado com obras soberbas, um painel onde participou o genial William Morris, um magnífico pavão de Max Laeuger e mesmo um painel de azulejos recente que evoca o período assombroso da cerâmica Iznik.

Azulejos portugueses “conversam” com azulejos chineses, magrebinos, italianos, espanhóis e belgas. As potências do azulejo participaram com peças de grande qualidade, caso do Irão, Síria, Tunísia, Holanda, Inglaterra, Alemanha, instituições internacionais do maior prestígio cederam obras. E há azulejos portugueses provenientes do Museu Gulbenkian, Museu Nacional de Machado de Castro, Museu Nacional do Azulejo, Museu de Artes Decorativas Portuguesas, Museu Bordalo Pinheiro, Museu de Alberto Sampaio, Coleção Berardo, entre outros.

Momento ímpar, talvez irrepetível para nos integrarmos num diálogo fabuloso e tomar consciência de que a História também se faz com a rota do azulejo.
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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12216: Agenda cultural (291): Livro de poesia "Baladas de Berlim", do nosso camarada J. L. Mendes Gomes: Lisboa, 2/11/2013, às 19h00, na livraria/bar Les Enfants Terribles, do Cinema King. Apresentação da obra e do autor a cargo de Luís Graça e Paulo Teia

Guiné 63/74 - P12220: Em busca de... (232): Ex-alf mil cav Alexandre Costa Gomes e ex-fur mil cav Manuel Vitoriano, José Soares, Joaquim Manso, José António Barreiros e António Rio, do Pel Rec Fox 2260, Gadamael, 1970/72 (Manuel Vaz, ex-alf mil, CCAÇ 798, Gadamael, 1965/67)




Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2796 (1970/72) > Ao fundo o saudoso cap inf op espe Fernando Assunção Silva, tendo:  (i)  à sua direita,  alf  Campinho e  alf Manso, ambos da CCAÇ 2796, e alf Costa Gomes, do Pel Rec Fox 2260 (um "benemérito" de Guileje, pois fazia a segurança das colunas de reabastecimento) (aqui assinalado com um retãngulo a vermelho); e  (ii) à sua esquerda alf Vasco Pires (camiseta branca) e alf Rodrigues, da  CCAÇ 2796: os restantes são furriéis da CCAÇ 2796 e Pel Rec Fox 2260, que por estarem parcialmente retratados não dá para identificar.  Me perdoem os camaradas, se quarenta anos depois errei algum nome." (*)

Foto (e legenda): © Vasco Pires  (2013). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.] 



Guiné > Região de Tombali > Mapa de Cacoca / Gadamael (1960) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bricama, Tambambofa e Caur.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


1. Mensagem do Manuel Vaz (ex-alf mil, CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67) [, foto à esquerda]

Data: 29 de Outubro de 2013 às 00:24
Assunto: Localização de Tambambofa


Caro Luís:

Boa noite. Estava eu desesperadamente à procura de qualquer referência que me permitisse chegar ao ex-alf mil Alexandre Costa Gomes ou seus subordinados no Pel Rec Fox 2260, quando dou com o poste P11223 (*). 

Aí aparece uma fotografia com o procurado e outros graduados do seu tempo em Gadamael, enviada para o blogue pelo nosso conhecido Vasco Pires que também a integra. Ao centro,  o malogrado cap inf op esp Assunção Silva. 

Li os "comentários",  pois poderia encontrar elementos de alguém que procurava (Pel Rec Fox 2260). Apesar do poste, de que não me apercebi na altura, ser de Março deste ano, os "comentários" apelam a dois esclarecimentos que me parecem pertinentes e atuais: (**)

(i) Tambambofa [, e não Tamabofa,] fica na estrada que parte de Bricama (estrada Ganturé-Sangonhá) para Caur,  na frontei[, e ra com a República da Guiné-Conacri. 

Quando a 15 de Agosto de 1966, fiz um reconhecimento ofensivo a Caur, o guia, ao chegarmos a Tambambofa, dizia que já estávamos na Fronteira! Continuamos e em Caur foi pisada uma mina A/P pelas NT. Ele lá sabia... que continuar era perigoso, era melhor não continuar !...

(ii) As circunstâncias da morte do cap inf op esp Fernando Assunção Silva não são conhecidas em pormenor, mas ao consultar a HU da CCAÇ 2796, encontrei que uma patrulha de reconhecimento ofensivo caiu numa emboscada com lança-rocket, RPG7 e armas ligeiras, tendo sofrido um morto e 3 feridos (milícias).

Dedicar um poste às circuntâncias da ocorrência, como homenagem ao Cap Assunção, acho uma boa ideia!

E agora,  amigo Luís Graça, uma vez que tenho de continuar à procura de alguém do Pel Rec Fox 2260, se conheceres algum contacto, diz,  para não emperrar o trabalho sobre Gadamael. 

Um abraço. Manuel Vaz

2. Comentário de L.G.:

Há mais referências ao alf mil cav Alexandre Costa Gomes e ao Pel Rec Fox 2260, que ele comandava, bem como aos seus furrieis Manuel Vitoriano, José Soares, Joaquim Manso, José António Barreiros e António Rio (**).

Por certo que conheces os postes do nosso malgrado camarada Daniel Matos (1950-2011). Ele era meu vizinho, aqui de Alfragide.  Pertenceu à madeirense CCAÇ 3518, que esteve am Gadamael (1971/72).

Vamos ver se alguém responde ao nosso apelo (***). Quanto ao poste de homenagem ao cap inf op esp Assunção Silva, vamos também ver se reunimos materiais novos. Talvez o cor António Carlos Morais Silva nos possa ajudar, mesmo não pertencendo à nossa Tabanca Grande, como sabes. Pode ser que ele tenha dados, inéditos, sobre a morte do seu antecessor, na CCAÇ 2796, e seu camarada de curso na Academia Militar. Julgo que estás em contacto com ele.

Um abraço. Boa saúde, bom trabalho. LG
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Notas do editor:


(...) “Os Marados de Gadamael” foi a divisa – não muito abonatória, é certo, – escolhida para e pelo pessoal da Companhia de Caçadores Independente nº 3518, formada no Funchal (no Batalhão Independente de Infantaria nº 19/BII19) durante o segundo semestre de 1971 (...).

Com destino à Guiné Portuguesa, a companhia embarcou na cidade do Funchal no dia 20 de Dezembro desse ano, às 3 da madrugada (!), tendo chegado a Bissau no dia 24 seguinte (embora já estivéssemos ao largo do rio Geba desde as 23 horas do dia 23, quem poderá esquecer-se de tão bela consoada?). 

No mesmo paquete, – o Angra do Heroísmo, – e com igual proveniência, viajaram a CCaç 3519 (que iria parar a Barro) e a CCaç 3520 (cujo destino foi Cacine), mais o BCaç 3872, que já embarcara em Lisboa e que viria a instalar-se em Galomaro. Pisámos terras da Guiné a partir das 15 horas.

Passámos o dia de Natal a desfazer malas e no dia 26 registou-se a cerimónia de boas-vindas, presidida pelo comandante-chefe, – General António de Spínola, figura grada entre os soldados, ou não fosse também ele um madeirense e, ainda por cima, um líder – perante quem desfilámos e que em seguida nos passou revista. 

A 22 de Janeiro de 1972 terminámos o IAO (Instrução e Aproveitamento Operacional) no CMI (Centro Militar de Instrução), situado no Cumeré. No dia seguinte, a bordo de uma LDG, às 19 horas, abalámos do porto de Bissau – ao lado do histórico cais de Pindjiguiti, – para Gadamael Porto.

Após o transbordo em Cacine para uma LDM, (aí se despedindo dos camaradas da irmã gémea CCaç 3520 – “Estrelas do Sul”), e em duas levas de dois pelotões cada, a primeira alcançou o pequeno desembarcadouro de Gadamael, no rio Sapo (afluente do Cacine), pelas 15 horas do dia 24 de Janeiro, onde a companhia ficou uma temporada em sobreposição com a unidade que foi render (a CCaç 2796, que depois marcharia para Quinhamel), integrada no dispositivo de manobra do BCaç 2930, depois do BCaç 4510/72 e, depois ainda, do COP 5 (Guileje).

Juntamente com Os Marados, estiveram em Gadamael os homens do Pelotão de Reconhecimento Fox nº 2260 “Unidos Venceremos” (comandado pelo alferes miliciano de cavalaria Alexandre Costa Gomes e pelos furriéis milicianos Manuel Vitoriano, José Soares, Joaquim Manso, José António Barreiros e António Rio). 

A 28 de Abril de 1972, após cerimónia de despedida, presidida in loco pelo governador e comandante-chefe Spínola, o pelotão marcha para Bissau, a fim de aguardar aí transporte de regresso à metrópole.

O Pel Rec Fox 2260 foi substituído oito dias antes (21 de Abril) pelo Pelotão de Reconhecimento Fox 3115/Rec 8 (comandado pelo alferes miliciano de cavalaria José Manuel da Costa Mouzinho e pelos furriéis Sérgio Luís Moinhos da Costa, Alfredo João Matias da Silva, José de Jesus Garcia e Fernando Manuel Ramos Custódio).

Também em Gadamael, estiveram adidos à companhia o 23º Pelotão de Artilharia, (comandado pelo alferes miliciano de artilharia José Augusto de Oliveira Trindade e pelos furriéis milicianos Armando Figueiredo Carvalheda, António Luís Lopes de Oliveira (este, logo substituído pelo furriel miliciano João Manuel Duarte Costa), e ainda os Pelotões de Milícias 235 e 236. 

O comandante de pelotão 235 era Mamadú Embaló e os comandantes de secção, Camisa Conté, Abdulai Baldé e Mamadú Biai; o comandante de pelotão 236 era Jam Samba Camará e os comandantes de secção, Satalá Colubali, Amadú Bari e Mussa Colubali. 

O Camisa Conté, – quanto a mim a mais bem preparada de todas as milícias, de grande inteligência, disponibilidade constante e invulgar simpatia, – morrerá na célebre “batalha” de Guileje, diz-se que num “acidente com arma de fogo”, (ouvimos em Bissau alguém contar que foi a tentar desmontar uma mina) a 12 de Maio de 1973. Por outro lado, o Jam Samba viria a morrer em combate, dias mais tarde, também em Guileje, a 18 de Maio de 1973. (...)

Enquanto em Gadamael, o território operacional e os locais de minagem, patrulhamento e montagem de emboscadas foram essencialmente os seguintes: antigas tabancas de Viana, Ganturé, Bendugo, Gadamael Fronteira, Missirá, Madina, Bricama Nova, Bricama Velha, Tambambofa, Jabicunda, Campreno Nalú, Campreno Beafada, Mejo, Tarcuré, Sangonhá, Caúr e Cacoca.

A zona fronteiriça com a Guiné-Conacry e a picada para Guileje (estrada que outrora ligava a Aldeia Formosa e ao Saltinho) foram os locais com mais frequente número de operações. 

Todo o abastecimento por via terrestre às unidades e população instaladas em Guileje se efectuava, durante a estação seca, através de colunas efectuadas a partir de Gadamael Porto, sendo o nosso pessoal responsável não só pelas viaturas que transportavam para Guileje os géneros que os batelões descarregavam em Gadamael, mas também pela segurança de metade do percurso.

 Por diversas vezes, pelotões da companhia, o pelotão Fox e os pelotões da milícia passaram temporadas em reforço das unidades locais (como, por exemplo, da CCaç 3477, “Os Gringos de Guileje”, até Dezembro de 1972, e a CCav 8530, na parte final da nossa estada no sul). (...)

(***) Último poste da série > 13 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12182: Em busca de... (231): Casimiro Silva procura camaradas do Centro de Mensagens, em Bissau, dos anos 1971/73

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12219: Convívios (545): Uma festa em cheio, na sessão de lançamento do livro do José Saúde: Lisboa, Casa do Alentejo, 26/10/2013 (Parte I): Atuação do grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa, que nos emocionaram, com a moda "Lá vai uma embarcação / Por esses mares fora, / Por aqueles que lá vão / Há muita gente que chora"



Vídeo (2' 46''). Alojado em You Tube / Nhabijoes

Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos) (Preço de capa: 10 €).

Atuação do grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa. Um homenagem sentida a um combatente da terra, o José Romeiro Saúde, nascido em Vila Nova de São Bento (em 23/11/1950), mas que foi cedo para Beja, a sua segunda terra, onde ainda hoje vive e onde nasceram as suas duas filhas.  Os dois concelhos viram sacrificados no "altar da Pátria", 69 dos seus filhos, durante a guerra do ultramar/guerra colonial: 35, de Beja; 34, de Serpa...

A "moda" que acima se reproduz evoca esses duros tempos em que os mancebos partiam para o Ultramar, ìndia, Angola, Guiné, Moçambique ... Ver, mais abaixo, a respetiva letra que começa assim: "É tão triste ver partir / Um barco do Continente, / Para Angola ou Moçambique / Lá lai outro contingente"...(LG)


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Um salão de cheio de gente, entre os quais diversos antigos combatentes, incluindo uma meia dúzia de membros da nossa Tabanca Grande: além do Luís Graça e do José Saúde, o Augusto Ismael, o Fernando Calado, o Manuel Joaquim, o José Vermelho, o Pedro Neves... Enfim, cito de cor, e corro risco de omitir mais alguém...  Sem esquecer, uma presença muito especial, que me emocionou, a de  Adelaide Gramunha Marques (ou Adelaide Crestejo), irmã do nosso malogrado Martinho Gramunha Marques, alf mil morto numa emboscada em 30/1/1965 em Madina do Boé. Era camarada e amigo do nosso António Pinto (a quem mando um abraço afetuoso  em meu nome e em nome da Adelaide, e em nome de mais dois manos que a acompanhavam, um irmão e uma irmã; tirámos uma foto, juntos, que hei-de publicar num próximo poste).



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > A segunda parte da sessão, com a apresentação do autor e do livro. A mesa foi presidida pela dra. Rosa Calado (, esposa do nosso camarada Fernando Calado, e professora de história, e ambos naturais de Ferreira do Alentejo), que tem, na direção da Casa do Alentejo, o pelouro da cultura e do patrimómio. Em segundo plano, o Zé Saúde e o Luís Graça. (Um agradecimento é devido ao José Vermelho, que foi um precioso auxiliar do fotógrafo... Foi ele nos tirou as fotos, durante a segunda parte da sessão: é outro alentejano da diáspora: nascido em Marvão, foi depois para Castelo de Vide e, aos 18 anos,  abalou sozinho para Lisboa...).


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Felicíssimo, o Zé Saúde, com tantos amigos e camaradas à sua volta. Aqui apreciando, na primeira parte da sessão, os seus amigos "Os Alentejanos", que vieram de propósito de Serpa, para atuar na Casa do Alentejo... No foto, o Zé está à mesa com uma amiga de Beja, que o veio ajudar na sessão de venda de livros; e mais à esquerda a sua esposa.


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa, amigos do José Saúde, e que animaram a primeira parte da festa, antes da apresentação do autor e do livro pelo nosso editor Luís Graça e por Rosa Calada (diretora da Casa do Alentejo, com o pelouro da Cultura e Património).

Este grupo de música tradicional alentejana é um naipe de cinco vozes magníficas cuja atuação  nos alegrou, encantou e emocionou a todos... Fica aqui um registo para os nossos queridos leitores.

Vídeo, fotos e legendas : © Luís Graça  (2013). Todos os direitos reservados


Lá vai uma embarcação

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora,
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora,
Com mágoas no coração,
Por esse mares fora
Lá vai uma embarcação.

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora,
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora
Com mágoas no coração,
Por esse mares a fora
Lá vai uma embarcação.

Letra: 

Reproduzida, com a devida vénia,  do sítio Joraga Net > O Cante do Cante: Grupos Corais Alentejanos, página criada e mantida por José Rabaça Gaspar.

[Obrigatório visitar esta página, que contem um repositório riquíssimo de dezenas de "modas" da músicas tradicional Alentejana. Letras e  músicas recolhidas e gravadas por Francisco Baião e Manuel Aleixo, São Matias, Beja, 2011]

Contacto de "Os Alentejanos", 
música tradicional Alentejana, 
Serpa

Telem: 962 766 339 / 938 527 595

Email: joaocataluna@gmail.com

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12202: Agenda cultural (290): O nosso amigo e camarada de Beja, José Saúde, convida os camaradas da região de Lisboa para a sessão de apresentação do seu livro de memórias do Gabu (1973/74): Casa do Alentejo, sábado, 26, às 15h30... Há depois animação e convívio!

(**) Último poste da série > 28 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12212: Convívios (544): Magnífica Tabanca da Linha: 5ª feira, 17 de outubro de 2013 (Parte IV): Silêncio, meus senhores, que se vai cantar o fado!... Não se cantou, mas ficou a promessa (ou a ameaça ?) de, no 10º aniversário da Tabanca Grande, se fazer uma grande tarde (ou noite) do fado... Um dos nossos fadistas estava lá, e deu um arzinho da sua graça, o Armando Pires

Guiné 63/74 - P12218: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (4): Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas




1. Historial da Escola Prática de Artilharia, localizada em Vendas Novas, trabalho de compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), integrado na sua série Historial das Escolas Práticas do Exército.



















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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12204: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (3): Escola Prática de Cavalaria de Abrantes

Guiné 63/74 - P12217: O Spínola que eu conheci (30): Em Nova Lamego, no destacamento da FAP, com o saudoso piloto Cap Rodrigues (Vitor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)



Guiné > Algures > s/d (c. 1969) > O alf mil pil heli Al III Jorge Félix (BA 12, Bissalanca, 1968/70) e o Spínola (Com-Chefe e Governador Geral, CTIG, 1968/73)... O Jorge Félix terá sido um dos pilotos de heli, com quem o gen Spínola mais terá gostado de voar...  Releia-se  aqui um história bem humorada do Jorge Félix que um dia se lembrou "bombardear" Galomato (ou melhor, a "obsequiar" a esposa do comerciante Regala...),  com os ananases que deveriam chegar à mesa de Spínola  (*) ...


(...) Junto uma foto do Caco, com a minha pessoa nos comandos do Heli Al III, podendo ver-se no banco uma arca [, azul,] que variadas vezes o Cap Almeida Bruno [, o ajudante de campo,] transportava, e que continha alimentação para o nosso Chefe.

Segue uma mensagem que recebi, [em 14 do corrente, no Facebook,] do José Ramos, piloto que já foi falado no nosso Blog e que julgo também devem conhecer:
"Está bonito o filme, parabéns. Sempre que me lembro de ti, não posso esquecer um bombardeamento de ananases em Galomaro que ficaram a faltar na mesa do Spinola. Um abração".

O Ramos recorda-me que um dia, no regresso a Bissau levando uns ananases que deveriam chegar à mesa do Spínola, eu resolvi, numa passagem por Galomaro, "oferecê-los" à D. Maria, esposa do comerciante Regala, num estacionário "perfeito", dando liberdade ao mecânico para atirar um a um os "ananases".

Mais tarde informaram-me que a loja esteve uma semana semi-fechada para limpar o pó que o heli levantou e foi parar dentro da casa. Dos ananases nada se aproveitou, nem a D Maria os saboreou, nem o Gen Spinola os recebeu algum dia. (...) (*)


Foto: © Jorge Félix (2010). Todos os direitos reservados

1. Mensagem do Vitor Oliveira, enviada hoje:


Assunto: O grande Spínola

Estávamos em Nova Lamego, e eis que um dia,  perto da hora de almoço,  aparecem dois hellis em que vinha o General Spínola e o piloto era o falecido Cap Rodrigues, que nos pediu para abastecermos os helis enquanto eles almoçavam porque o iam voar novamente e que ligássemos para a messe de sargentos do exército para nos trazerem o almoço.

Assim foi, tínhamos um telefone no posto de rádio em que o radiotelegrafista da Força Aérea era o Pires. Resposta:
Os doutores,  se quiserem,  venham cá abaixo comer!

Eu disse logo:
Não vamos lá,  isto vai dar caldeirada.

Isto porque a maioria dos sargentos do exército não aceitava que fossemos os primeiros a ser servidos e, mais,  ao jantar nós íamos comer à civil e eles não.

Assim foi,  não fomos almoçar. Eis que chega o Cap Rodrigues,  juntamente com Cap Almeida Bruno e atrás vinha o Spinola com um major e o tenente coronel. Um era o 2º comandante e o outro  o 1º do quartel. Fui logo falar com o Cap Rodrigues e disse-lhe que não tínhamos almoçado. Eis que o Spinola apercebeu-se que havia merda, como se costuma dizer. e chama o Almeida Bruno e ele diz-lhe o que se passou. ele vira-se para o major e o tenente Coronel e diz-lhes para mandar o oficial e o sargento da messe para São Domingos,  era onde havia mais combates . O major e o tenente coronel só diziam:
Ó Sr. Governador,  pedimos desculpa!.. 

E o Spínola dizia:
─  Isto não pode acontecer,  os rapazes estão fartos de trabalhar! 

O abastecimento era feito com bombas manuais, a tirar de bidões de 200 litros. Depois mandaram buscar sandes e cervejas, e assim foi o nosso almoço. A partir desta cena, quando entrávamos na messe, o sargento punha logo os faxinas a servir-nos

Vitor Oliveira (Pichas)

1º Cabo Melec
(BA 12, Bissalanca.1967/69) (**)

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Notas do editor:

(*) 16 de abril de 2010 >  Guiné 63/74 - P6164: O Spínola que eu conheci (13): Os ananases que não chegaram à mesa do Palácio do Governador-Geral (Jorge Félix)

(**) Último poste da série > 7 de fevereiro de  2013 > Guiné 63/74 - P11068: O Spínola que eu conheci (29): Depoimento de Jaime Antunes, ex-fur mil, CART 11 / CCAÇ 11 (Paunca, 1970/72)

Guiné 63/74 - P12216: Agenda cultural (291): Livro de poesia "Baladas de Berlim", do nosso camarada J. L. Mendes Gomes: Lisboa, 2/11/2013, às 19h00, na livraria/bar Les Enfants Terribles, do Cinema King. Apresentação da obra e do autor a cargo de Luís Graça e Paulo Teia




1. Mensagem do J.L. Mendes Gomes, com data de 10 do corrente:


Assunto - Convite

Olá,  Luís!

Como vais? Oxalá bem.


O dia 14 [, data inicialmente prevista para o lançamento do livro] está à porta.

Os livros estão quase prontos.

Da Editora, perguntaram-me se eu tenho alguém que possa falar de mim...na sessão de lançamento.

Lembrei-me logo de ti... Conheces melhor que todos... Será que me podes dar esse gosto e honra ?

Envio-te o texto do livro para que possas analisar.

Um grande abraço,

Joaquim

[ O Joaquim Luís Mendes Gomes foi alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66 (**); é jurista, reformado]

2. Resposta de L. G.,  no mesmo dia:

 Joaquim:  O teu convite é um grande honra!,,, Claro que aceito... Vou ter que reler os teus poemas este fim de semana e preparar umas palavriinhas...

Diz-me só onde e quando, a que horas...

(...) Dá.me mais pormenores que é para eu fazer um poste, para a série Agenda Cultural, e divulgar o evento, interna e externamente (...)

Parabéns. Um abraço fraterno. Luis


3. Com a devida vémia ao autor e ao editor, reproduz-se aqui um dos belíssimos poemas do livro Baladas de Berlim [Lisboa: Chiado Editora, 2013 (Coleção Prazeres Poéticos), p. 27/28]:








Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico do nosso saudoso  Victor Condeço  (1943-2010) > Catió - Vila > Foto 50 > "Lagoa com nenúfares à esquerda na estrada de Catió/Priame".

Foto (e legenda): © Vítor Condeço / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  (2007). Todos os direitos reservados.

4. Local da sessão (*):

Bar e livraria do cinema King, "Les enfants terribles"

Telef 21 846 4556


29 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez

11 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)

8 de fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

22 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

8 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

11 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar

1 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

20 novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia

2 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 de outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo

Guiné 63/74 - P12215: Parabéns a você (645): Mário Vasconcelos, ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 3872 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 28 de Outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12210: Parabéns a você (644): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Luís Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250 (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12214: Ser solidário (153): Expedição solidária Dakar Desert Challenge arranca de Coruche, em 26/12/2013, e apoia a AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau. Inscrições até 31 do corrente.




Página principal do sítio Dakar Desert Challenge - A grande aventura africana. Têm página também no Facebook. As inscrições para a segunda edição do Dakar Desert Challenge, de 26/12/2012 a 9/1/2014, estão a terminar (prazo-limite:  31 do corrente). É muito útil a consulta do guia de partipação, com informações sobre equipemantos,  obrigatórios para os participantes (em 4 x 4, 4 x 2 ou em moto), bem como estimativa de custos, e outras informações de interesse, tendo em conta os ensinamentos da 1ª expedição (em 2012). Por exemplo, para uma viatura 4 x 4 (a forma mais dispendiosa de participante, com 2 participantes, estima-se um custo de 2600 € a 3000 €, o que equivale a  1300 € / 1500 € por pessoa (incluindo preço de inscrição, dormidas e refeições contempladasa na inscrição, ferruyboat, vistos, combustível, etc.). A organização recomenda ainda que cada participante leve uma  quantia adicional de 350 €, dinheiro de bolso para despesas pessoais extras (avarias mecânicas, peças, lembranças, etc.).
1. Notícia publicada na página dos nossos amigos (e parceiros) da AD - Acção para o Desenvolvimento, com data de 24 do corrente, e que reproduzimos aqui, com a devida vénia e com algumas adaptações:



A segunda edição da expedição Dakar Desert Challenge, que este ano arranca no dia 26 de Dezembro,  de Coruche, vai ter um cariz humanitário. “Viajar por um mundo melhor” é o mote da “Missão Solidária DDC Guiné-Bissau”, uma iniciativa da expedição intercontinental que se realiza em Portugal, Espanha, Marrocos, Mauritânia, Guiné-Bissau, Gâmbia e Senegal,  entre 26 de Dezembro e 9 de Janeiro de 2014.

O objetivo da missão solidária é recolher material escolar, material de alfabetização para adultos, medicamentos, consumíveis hospitalares e pequenos equipamentos de apoio hospitalar. 

Entre o material escolar prioritário estão:

mochilas, 
cadernos de linhas, 
réguas, 
esquadros, 
lápis, 
afiadeiras, 
borrachas, 
canetas de várias cores, 
ardósias pequenas, 
giz branco, 
livros de literatura, 
jogos e materiais didáticos para utilização comunitária.

Em relação aos medicamentos são prioritários os relacionados com doenças como:

paludismo, 
cólera, 
filariose, 
malária, 
tuberculose, 
lepra, 
parasitoses digestivas e sanguíneas, 
SIDA, 
anti-inflamatórios, analgésicos e antipiréticos. 

Do equipamento de uso hospitalar são necessárias:

gazes, 
ligaduras, 
algodão, 
compressas, 
seringas, 
luvas, 
máscaras de oxigénio, 
estetoscópios simples, 
batas brancas, 
kits de material cirúrgico básico, 
medidores de glucose
e tiras e medidores de tensão arterial.

O material recolhido é destinado à Organização Não Governamental (ONG) Acção para o Desenvolvimento (AD), que desenvolve projectos educativos e de saúde em algumas regiões de Bissau. 

Também a ONG Silo Gambasse vai ser apoiada. 

Guiné 63/74 - P12213: (In)citações (56): Os nossos pais acreditavam na solução luso-africana proposta por homens como Calvet de Magalhães e António Spínola (Cherno Baldé)



Guiné > s/d (c. 1916) > Circunscrição do Geba > Bambadinca > Ponte-cais, no rio Geba Estreito.


"O relatório de Vasco Calvet de Magalhães, administrador da Circuncrição de Geba, datado de [1916] é, a diferentes títulos, um documento excepcional: afoita-se por domínios até então inexplorados ou mal ventilados; propõe estradas e fala do respectivo traçado; queixa-se e denuncia funcionários corruptos;abalança-se a falar da origem dos fulas,apresenta soluções para o assoreamento do Geba,é uma incursão com pretensões literárias e algumas ambições políticas.Foi neste documento que encontrei esta preciosidade,um porto de Bambadinca que nenhum de nós conheceu..." (BS)

Referência bibliográfica: 

MAGALHÃES, Vasco de Sousa Calvet de - Província da Guiné : relatório.  Porto: Progresso, 1916, 106, [2] p., gravuras, il.


Foto (e legenda): © Beja Santos (2008). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Cherno Baldé [, foto à esquerda, quando jovem estudante em Kichinev, Moldávia, ex-URSS, Dezembro de 1985,] em resposta aos comentários deixados no poste P12200 (*):

Amigo e irmão Luis Graça,

Obrigado pelas tuas/vossas  palavras de conforto (*). Acontece que os nossos pais/tios, embora fossem tidos como ambiciosos (na óptica do regime português da altura), acreditavam profundamente na solução luso-africana proposta por grandes homens como [Vasco de Sousa] Calvet de Magalhaes (1878 - ?)(**)  e continuada depois por Spínola, porque na verdade, os territórios do leste da Guiné,  já nessa altura, experimentavam uma colonização do tipo "indirecta",  onde os poderes tradicionais tinham um peso importante. (***)

Para esta geração que agora terminou, a ideia Cabralista de uma independência total não fazia qualquer sentido para a Guiné, um território enclave com um mosaico multiétnico no meio de um perigosos jogo de influências das grandes potências do mundo de então. Nao acreditavam que uma Guiné totalmente independente pudesse ter êxito e hoje os factos parecem confirmar os receios e as dúvidas de então.

Ao Cabral, que segundo algumas fontes é filho de uma mulher fula de Geba, os homens grandes fulas disseram: Deixa os Portugueses onde estão, porque sem eles nos nunca nos entenderemos. Claro que depois pagaram por isso, porque os portugueses depois fizeram tudo ao contrário.



Um abraço amigo, Cherno Baldé (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2013 > 25 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12200: Memória dos lugares (247): Fajonquito em Festa (1971) (Cherno Baldé)

(...) NOTA: Faleceu na noite do dia 19 Outubro, em Bissau, o nosso pai e tio, Sidi Baldé, que exercia a função honorifica de Régulo, o último dos príncipes de Sancorlã do período da guerra colonial, ex-Alferes e comandante de pelotão de milícias em Sare Uali e Sumbundo (área de Fajonquito).

Com um abraço amigo,
Cherno Baldé

(i) Comentário do editor Carlos Vinhal:

Em nome dos editores e da tertúlia, apresento ao nosso amigo Cherno Baldé, assim como à sua família, o nosso pesar pela morte do seu tio Sidi Baldé, Régulo e Príncipe de Sancorlã, ex-Alferes, CMDT de Pelotão de Milícias. Mais um camarada e amigo que lutou a nosso lado e que nos deixou no dia 19 de Outubro. Paz à sua alma. Honremos a sua memória. Carlos Vinhal

Outros comentários deixados na caixa de comentários do poste:

(ii) Luís Graça:

Meu caro Cherno, meu amigo, meu irmãozinho:  A perda dos nossos amigos e parentes, por morte, é sempre uma perda, uma morte, de uma parte de nós.  Tu já aqui escrevestes páginas notáveis, de antologia, sobre a tua família e a tua gesta familiar... Perdes agora um tio que é também pai, segundo o vosso (mais complexo do que o nosso) sistema de parentesco.

Quero-te, daqui de Lisboa e do nosso blogue, mandar-te uma palavra de conforto. A tua família é já, também, de algum modo um bocadinho da nossa família. Um abraço grande, afetuoso, fraterno. Luís Graça

(iii) Hélder Sousa:

Caro Cherno: Antes de mais deixa-me que subscreva as palavras do Luís e que através delas também te leve alguma solidariedade, a ti e família.

Temos depois as fotos de Fanjonquito. Olhando daqui, destes cerca de 40 anos passados, fica-se com uma certa nostalgia desses tempos e dessas vivências, que nos mostram como era possível conviver e trabalhar em conjunto pelo progresso e melhoria do bem-estar do povo da Guiné.

É certo que ainda há tempo (haverá sempre, embora noutras circunstâncias) mas já se desbaratou muito, muita energia, muita vontade.

(iv) Manuel Carvalho:

Caro Cherno: Sempre desejado, saúdo este teu reaparecimento que me alenta a alma e mitiga a saudade de um tempo tão distante e tão próximo do coração. Daqui subscrevo as palavras de condolências do Luís Graça pela perda do teu pai e nosso camarada.
Um grande abraço, Carvalho de Mampatá

(v) Adriano Moreira:

Caro Cherno: Lamento profundamente a tua perda e mando-te um grande abraço de solidariedade extensivo à tua família.

 (vi) José Manuel Paula 

Saudades de Fajonquito, parece impossível, não é? Mas é o que tenho, um misto terrível daquilo que vivi. Escusado explicar. A minha Companhia, a 1685, os "Insaciáveis", esteve sediada em Fajonquito de julho de 1967 a Novembro de 1968, um ano e picos de tantas "coisas". Orgulho-me de ter deixado muitos amigos e de,  na Páscoa de 68 juntamente com alguns camaradas,  reabrir a fronteira de Cambajú num encontro com as autoridades do Senegal.
Ex. Furriel Mil José Manuel Paula

(vii) Manuel Joaquim

Um grande e afectuoso abraço, meu caro Cherno


(**) Alguns dos nossos postes onde há referências ao Calvet de Magalhães, administrador da circuncrição do Geba nos primeiros anos da I República,

17 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5288: Memória dos lugares (55): Pontes do Rio Corubal (Carlos Silva)

(...) Assim não me conformando com as informações obtidas, foi por intermédio do meu amigo Rui Fernandes, Médico, também tertuliano, que falei com a D Fátima Calvet Magalhães que se encontrava em Portugal, filha da D. Helena Calvet Magalhães, [falecida] ex-proprietária do Aldeamento Turístico “Chez Hellene” de Varela, por sua vez filha de Vasco de Sousa Calvet de Magalhães.

(...) Nessa conversa telefónica com a D Fátima, ela informou-me que a construção da Ponte Carmona era da autoria ou foi construída por determinação do seu avô materno e que tinha sido concluída e que as pessoas passavam por lá para se deslocarem para Buba e que não havia dúvidas sobre tal facto. (...)



(...) A admiração de Juvenal Cabral [, pai de Amílcar Cabral,] pelo administrador Calvet de Magalhães era quase ilimitada. Exalta-o nas suas memórias como trabalhador incasável, homem de sociedade e acção que sobrepunha o interesse do serviço público ao seu próprio bem-estar. Calvet lançou-se em obras de fomento como a construção da ponte sobre o rio Colufi, e depois o mercado em estilo árabe, ao gosto dos muçulmanos. Juvenal Cabral confessa que Bafatá foi uma verdadeira escola para ele. Era professor oficial e subdelegado do Procurador da República. (...)


(...) Os relatórios daquele tempo primavam por uma linguagem informal, faziam ressaltar a categoria cultural do seu autor e até os seus dotes literários. Teixeira Pinto assim procede com a operação do Oio. Começa por ir a Bafatá conversar com o administrador Vasco de Calvet de Magalhães, em Bolama prepara uma expedição, assentando-se que se deveria estabelecer um posto em Porto Mansoa e fechar o cerco à região do Oio. Disfarçou-se de inspector comercial e percorreu em Janeiro de 1913 toda a região entre Mansoa e Farim, atravessando o Oio (...)


27 de fevereiro de  2013 > Guiné 63/74 - P11166: Para que a memória não se perca (3): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)

1 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11785: Notas de leitura (496): O Império Africano 1890-1930, coordenação do Prof. Oliveira Marques (Mário Beja Santos)

(...) A Guiné conheceu transformações enormes: separou-se de Cabo Verde, foram definidas as suas fronteiras, a exploração agrícola substituiu o comércio negreiro. A grande falta são os colonizadores, a província desligada de Cabo Verde assenta numa orgânica administrativa que seria uma quase ficção caso não houvessem efetivos militares. Todas as divisões administrativas acabavam por ser ineficazes, os administradores não possuíam meios para as percorrer, não podiam garantir a lei nem arrecadar os tributos. Foi preciso esperar pela pacificação para desenvolverem as comunicações, cujo expoente foi dado pela abertura da estrada Bafatá-Bambadinca, ao tempo do administrador de Geba Calvet Magalhães.

(***) Vd. artigo do nosso grã-tabanqueiro, etnólogo, Eduardo Costa Dias (ISCTE, Lisboa): Regulado do Gabu (1900-1930): a difícil compatibilização entre legitimidades tradicionais e a reorganização do espaço colonial. "Africana Studia". nº 9, 2006, pp. 99-125 (Edição do CEAUP - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto) [Consult em 28/10/2013]. Disponível em http://www.africanos.eu/ceaup/uploads/AS09_099.pdf

 (***) Vd. poste de 30 de setembro de 2013  Guiné 63/74 - P12103: (In)citações (55): Eu desejo acreditar na Guiné-Bissau, nos seus jovens, mulheres e homens de boa vontade, que trabalham nas bolanhas, nas matas, nos rios e no mar... (Paulo Salgado, ex-alf mil, cav, op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; cooperante)

Guiné 63/74 - P12212: Convívios (544): Magnífica Tabanca da Linha: 5ª feira, 17 de outubro de 2013 (Parte IV): Silêncio, meus senhores, que se vai cantar o fado!... Não se cantou, mas ficou a promessa (ou a ameaça ?) de, no 10º aniversário da Tabanca Grande, se fazer uma grande tarde (ou noite) do fado... Um dos nossos fadistas estava lá, e deu um arzinho da sua graça, o Armando Pires


O comandante Rosales, pondo as "tropas" em sentido... A seu lado, o Marcelino da Mata


O fadista,  Armando Pires, acompanhado à viola pelo Luis R. Moreira e á guitarra pelo António Fernando Marques (1)


O fadista Armando Pires, acompanhado à viola pelo Luis R. Moreira e á guitarra pelo António Fernando Marques (2)



O fadista Armando Pires, acompanhado à viola pelo Luis R. Moreira e á guitarra pelo António Fernando Marques (3)



O fadista Armando Pires, acompanhado por um fã, o Hélder Sousa


O fadista Armando Pires, mais outro fã, o Carlos Silva


 Um terceiro fã, pro sinal da mesma terra, Santarém 



 Um quarto fã, desta vez alentejano de Ponte Sor, o Veríssimo Ferreira


Tabanca da Linha > Cascais, Alcabideche, Cabreiro > Adega Camponesa > 17 de outubro de 2017 > Um momento artístico-cultural, a evocação das grandes noites de Fado... em Bula e em Bissorã! Noites que não voltam mais, seguramente,  garante o artista. Mas que poderiam ser recriados numa das nossas tabancas, pertencentes à rede da Tabanca Grande: por exemplo, na Tabanca Pequena de Matosinhos, na Tabanca dos Melros, na Tabanca do Centro, na Tabanca da Linha...Ou até no nosso encontro anual, o da Tabanca Grande, em Monte Real.

Ainda não desisti da ideia de um da fazer um grande Noite (ou Tarde) do Fado, juntamente os nossos artistas, tocadores, poetas,,, e já são vários, os que se acolhem sob o poilão da Tabanca Grande. Fica aqui o desafio ao Armando Pires, ao Joaquim Mexia Alves, ao David Guimarães, ao José Luís Vacas de Carvalho, ao João Rebola, ao Júlio Madaleno, ao Fernando Costa, ao Gabriel Gonçalves, ao Manuel Moreira - cito de cor, e corro o risco de deixar de fora outros fadistas, tiocadores, letristas, da nossa Tabanca Grande - para no próximo ano, quando o blogue fizer 10 anos (se lá chegar, com vida e saúde, como esperamos) organizarmos aí uma ou mais noitadas (ou tardadas) de fado... Pode ser a nível nacional, regional ou local...

Como me dizes, ó Armando, a esta provocação ? E tu, comandante Rosales ?


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados

Guiné 63/74 - P12211: Notas de leitura (529): "Finhani, O Vagabundo Apaixonado", por Emílio Lima (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Junho de 2013:

Queridos amigos,
Doravante temos que estar mais atentos a esta ainda titubeante literatura luso-guineense.
Tenho lido críticas severas a recentes manifestações da literatura da Guiné-Bissau, por ser uma manifestação de desalento e de servidão a esquemas clássicos da língua portuguesa. Esquecem esses doutos críticos que estes novos escritores não têm estímulo para editar e que o ambiente não favorece, dentro da confrontação de movimentos literários, a descoberta de um processo próprio para um escritor africano usar com absoluta liberdade a língua que foi trazida pelo colonizador, isto para já não falar na dor que exprimem pela deriva do país. O caso de Finhani é um outro lado do espelho.
Emílio Lima tirou as habilitações superiores em Portugal e pretende um produto novo, criativo no compromisso entre as suas culturas. Pode ser ainda muito ingénuo, mas sente-se que está determinado, merece a nossa atenção.

Um abraço do
Mário


Finhani, o vagabundo apaixonado

Beja Santos

A literatura luso-guineense está nos primeiros balbucios. Entende-se aqui por literatura luso-guineense aquela que é escrita por portugueses e ou bissau-guineenses sobre temáticas a que os dois países não são alheios, veiculando primordialmente a língua portuguesa e ou o crioulo da Guiné-Bissau. “Finhani, o vagabundo apaixonado”, por Emílio Lima, Chiado Editora, 2013, é uma dessas manifestações.

Emílio Tavares Lima nasceu em Canchungo, Guiné-Bissau, em 1974. É licenciado em Ciências da Comunicação e da Cultura, pela Lusófona. Venceu vários concursos de poesia em Bissau, e é atualmente mentor e coordenador do projeto Djorson Nobu, na publicação da antologia poética juvenil da Guiné-Bissau Traços no Tempo. Logo na capa não esconde a grande mensagem de Finhani: “Quem fecha as portas para uma emigração legal, abre, ao mesmo tempo, as portas para uma emigração clandestina”.

A obra abre com um sugestivo diálogo numa operação de rusga de rotina entre um funcionário do serviço de Estrangeiros e Fronteiras e Finhani Pansau Kam-mecé. Este é um conhecido vagabundo que passa os dias na Praça Duque de Saldanha e diz ser um homem de 70 namoradas, de várias nacionalidades, diferentes cores, religião e raças. Metia-se em todas as conversas e era um sonhador. O autor caracteriza-o assim: “Tinha pouco mais de um metro e setenta de altura, um corpo de atleta, nem tão magro nem muito gordo. Quem olhava para ele de certeza que imaginava que ele fora um grande atleta na juventude”. A polícia tinha tentado escorraçá-lo da Praça Duque de Saldanha, sem sucesso. Desprendido e apaixonado, proferia prédicas e tecia juízos moralistas. Imaginava as 70 namoradas, associava-as a países africanos de língua portuguesa.

E um dia saiu-lhe a sorte grande, melhor dito saiu a sorte grande à arquitetura da obra. Vamos ver como.

Passou pela praça Bernardo Gomes ou Nhu Bernal, pedreiro de mão cheia, tinha acabado de perder emprego, Finhani teve para com ele umas frases desagradáveis e Nhu Bernal surrou-o, bateu-lhe como se ele fosse o culpado de toda a desgraça que lhe caíra em cima, é que nesse dia fora informado que o seu filho Dino tinha sido atingido com dois tiros no peito, na sequência de um assalto a uma ourivesaria suburbana. O autor apresenta a mãe de Dino, Nha Filipa Gumis, uma moira de trabalho, vendedeira de peixe e trabalhadora nas limpezas de escritórios em Lisboa.

A orientação da escrita dirige-se agora para o tratamento hospitalar de Dino, um desvelado médico, Paulo Alves opera-o com êxito. Por puro acaso Paulo Alves é filho do ourives Sr. Alves, que fora assaltado por Dino. Este explica a razão da tentativa de furto: estava apaixonado por uma rapariga da escola que nem olhava para ele mas só para os colegas que levavam grande telemóveis ou ténis de marca, assim começou a roubar para poder mostrar o seu poder de compra a Vanessa, menina do seu coração. Paulo Alves propõe aos pais de Dino que este passe a viver consigo, queria colaborar na sua educação e incutir-lhe valores.

Começam as lições do pai adotivo, fala assim a propósito de trabalho e dinheiro: “É ótimo poderes ganhar o teu próprio dinheiro. Mas trabalhar só depender do teu desempenho naquela que de hoje em diante passará a ser a tua atividade principal: estudar, estudar e estudar”. E vai apontando exemplos de jovens que singram ou se afundam no trabalho precário.

Nhu Bernal procura refazer a vida e vai trabalhar para Espanha em condições mais que duvidosas. Acabará num autêntico campo de concentração, vê-se rodeado de gente desesperada sobretudo provenientes da Europa de Leste. Sabe que está dentro de uma quinta onde é sujeito a todas as torturas e aos tratamentos mais desumanos. Tentará fugir, é suposto, de acordo com a trama do livro, que não voltará para Portugal, nunca mais dará notícias a Nha Filipa Gumis. Paulo Alves é tão bondoso que leva a senhora e os filhos lá para casa. As autoridades luso-espanholas procuram em vão o paradeiro de Nhu Bernal, em vão. A vida de Nha Filipa Gumis e seus três filhos mudou completamente. Paulo Alves é tão bondoso que até lhe financiou a abertura da sua própria empresa de limpezas. Paulo Alves está pelo beicinho e declara-se a Nha Filipa Gumis: “Só sei que quero passar a dormir e a acordar ao teu lado, sentir o teu cheiro, olhar para essa tua cara de boneca de porcelana, esses olhos cor de mel, contemplar a ternura desses teus lábios carnudos. Quero continuar a sentir o meu coração a dar saltos novamente, depois de cinco anos sozinho desde que me separei da minha namorada. Nunca pensei que alguém pudesse ressuscitar a paixão adormecida neste meu frágil peito”. Dez meses depois, o casal tinha uma filha morena.

É altura de ressuscitar Finhani, um sem-abrigo a dormir na Avenida Defensor de Chaves, em cima de papelões estendidos na varanda de um prédio abandonado. Finhani é levado pelo 115 até ao Dr. Paulo Alves. Nesta altura o Dino já é médico. Finhani conta a sua história a Paulo Alves, andou fugido durante a guerra civil que devastou o seu país, presumimos que está a falar do conflito que devastou a Guiné-Bissau entre 1998 e 1999. Fugiu para o Senegal, onde trabalhou na criação de gado. E depois veio clandestino até chegar a Portugal. Mas nunca conseguiu passar da cepa torta. 

Paulo Alves ouve este pungente relato e oferece para emprestar dinheiro a Finhani para investir no seu próprio país. Somos então confrontados com as técnicas de corrupção da administração bissau-guineense, Finhani reage e denuncia as pressões mais escabrosas. Finhani tornou-se um empresário de renome, é este o final feliz.

Ainda é muito cedo para se fazer qualquer avaliação destas manifestações literárias luso-guineenses. A literatura da Guiné-Bissau tem duas linhas de força: a primeira centrou-se no ideal da libertação e no sonho do país independente; a segunda acusa em permanência a profunda tristeza desses ideais traídos, é um constante suspiro pela retoma dos sonhos num país que ainda não foi capaz de proceder à catarse da sua própria reconciliação depois de tanta zanga e tanto fuzilamento. A nova expressão da literatura luso-guineense revela indecisões no estilo, um certo atabalhoamento no tratamento dos personagens, o recurso a soluções socialmente impensáveis. Tudo se desculpa, porque a criança gatinha e faz mais estardalhaço do que os observadores desejavam. É provável que tenha de ser assim, durante algum tempo, um Paulo Alves improvável, um Finhani onírico que se transformará num bem-sucedido homem de negócios, é preciso mostrar em literatura que o mal nem sempre dura e que os determinados podem chegar longe. E pelo meio somos confrontados com a delinquência destes jovens que não estão nem na Europa nem em África, com os grupos mafiosos e traficantes e até com a escravatura moderna que pretendemos ignorar.

Vamos esperar por mais obras de Emílio Lima, alguém que se pode transformar num nome a ter em conta na literatura luso-guineense
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12199: Notas de leitura (528): "Os Roncos de Farim - 1966-1972", por Carlos Silva (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12210: Parabéns a você (644): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Luís Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12180: Parabéns a você (643): Manuel Moreira de Castro, ex-Soldado At da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968/69)