terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20622: Tabanca Grande (490): Luiz Farinha, ex-alf mil, STM Auto, CCS/BCAÇ 3832 (Mansoa, dez 1970 / fev 1973), psicólogo clínico aposentado, escritor: senta-se à sombra do nosso mágico e fraterno poilão, no lugar nº 803


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 3832  (Dezembro de 1970 / fevereiro de 1973) > O afl mil Farinha, STM Auto (1)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 3832  (Dezembro de 1970 / fevereiro de 1973) > O afl mil Farinha, STM Auto (2)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 3832  (Dezembro de 1970 / fevereiro de 1973) > Ponte Nova sobre o Rio Mansoa

Fotos (e legendas): © Luiz Farinha  (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso novo grã-tabanqueiro Luíz Farinha, que passa a ser o nº 803, a sentar-se à sombra do nosso mágico,  simbólico, fraterno e protetor poilão...(e quem não tem poilão deita-se no chão):


De: José Luiz Farinha
Data: quarta, 15/01/2020 à(s) 14:29
Assunto: Pedido de informação... e de entrada na Tabanca Grande

Estimado Companheiro.

Sou o ex-alf mil Farinha,  com a especialidade de STM Auto, da CCS / BCAÇ 3832 (Mansoa, 1970-1973). Vivi momentos inesquecíveis durante estes anos na Guiné, que, sem dúvida, modificaram a minha vida e, ainda hoje, em certa medida, a afetam. 

Como sempre me dediquei à escrita, embora como atividade secundária e não remunerada, algum tempo depois da desmobilização escrevi um pequeno livro, mais uma modesta brochura do que propriamente um livro, pela editora Contra a Corrente, hoje desaparecida, texto que rapidamente se esgotou.

Passados poucos anos, recebi o honroso pedido do escritor João de Melo, então praticamente em início de carreira, para que eu autorizasse a inclusão de um dos meus relatos numa obra que ele estava a elaborar sobre textos que versassem a guerra colonial nas três frentes. Eu acedi com gosto e a obra saiu pelo "Círculo de Leitores". ["Os Anos da Guerra, 1961 – 1975, Os Portugueses em África, Crónica, Ficção e História”, com organização de João de Melo, Publicações Dom Quixote, 1988 e 1998: vd. aqui a exaustiva recensão bibliográfica do nosso camarada Mário Beja Santos, em cinco postes, em 2010].

O livrinho da "Contra a Corrente", malgrado a sua efémera vida, no entanto nunca me saiu da cabeça, como que um molde experimental de algo que poderia ser maior.

E, muitos anos depois, recentemente, aposentado como psicólogo clínico, voltei a pegar nele e a trabalhá-lo de uma forma mais profunda e extensiva.  Durou cerca de um ano esse aprimoramento que terminou num romance com muito de autobiográfico. 

Então, a minha pergunta/pedido de ajuda é o seguinte: estou no Brasil há cerca de 20 anos e não conheço o mercado editorial português nem ninguém ligado ao ramo.  Será que alguém do seu
blogue poderia dar uma ajuda (dicas, pistas, contatos, etc) para a publicação deste romance?...
Aguardo uma resposta que desde já muito agradeço, seja ela qual for. 

Felicidades para a Tabanca. 

Abraço firme.

Luiz Farinha,
Piedade, Jaboatão dos Guararapes, Estado do Pernambuco, Brasil
Contactos (omitimos o telefone e o endereço postal)
jlsfarinha1947@gmail.com

2. Resposta do editor Luís Graça:

Em 31/1/2020, o Luiz Farinha mandou-nos as fotos da praxe (uma atual e outra do "antigamente"), gesto que interpretámos como sinal da sua vontade de se juntar a esta grande comunidade de amigos e camaradas da Guiné. As fotos estão reproduzidas acima, incluindo a sua foto atual.

De Luís para Luiz, de sociólogo da saúde para psicólogo clínico, de camarada de Bambadinca para camarada de Mansoa, de escritor para escritor: temos muita coisa em comum, a começar pelo nome... Curioso, o meu pai também era Luiz com Z...Somos da mesma "colheita" (1947). Vejo, além disso,  que estamos ambos ligados à saúde, eu porventura  com um percurso mais académico, e com dois filhos "psis": um psiquiatra e uma psicóloga clínica... E mais: ambos temos o gosto da escrita...e alguma obra publicada...

"Parabenizo-te", como gostam de dizer os nossos amigos brasileiros, pela tua mensagem que muito nos honra, e  a que respondo, um pouco tardiamente, mas sempre a tempo.

Fico feliz por encontrar mais um camarada da diáspora lusófona (e, neste caso, lusitana). Mas, antes de mais, deixa-me apresentar-te a Tabanca Grande. Contigo passamos a ser 803  "grã-tabanqueiros", entre vivos e mortos, todos irmanados pelo mesmo espírito de partilha de memórias (e de afetos) à volta daquela terra, verde-rubra (sem conotações...) que foi a Guiné de 61/74.

O facto de passares a pertencer à Tabanca Grande, à nossa "tertúlia" (, talvez a maior do mundo bloguístico, em português, centrada na experiência de uma guerra...)  significa que aumentas também as tuas possibilidades de encontrar um editor para o teu livro para o qual desejo, desde já, bom sucesso. Editor e leitores...

O nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné, orgulha-se de já ter ajudado no "parto" de dezenas de livros (da poesia à ficção, do conto ao romance, da historiografia à autobiografia), da autoria de "amigos e camaradas da Guiné", na sua grande maioria antigos combatentes. Sem favor, são obras que, com maior ou menor mérito, podem ser classificadas como "literatura da guerra colonial" (, termo que, de resto, não é pacífico).

Temos aqui gente de grande talento e com obra de mérito. Eles poderão (e eu também, em próximo poste) falar-te um pouco mais detalhadamente do mercado editorial português,e dar-te alguns dicas para contactos.

Terás que ter um pouco mais de paciência. Mas sugiro que, na volta do correio, nos digas algo mais sobre a tua pessoa, a tua vida em Portugal, na Guiné e no Brasil, e sobretudo que nos mandes um "cheirinho",um excerto, do teu romance (que dizes ter "muito de autobiográfico").

O nosso blogue tem algumas regras, de bom senso e de bom convívio, que deves conhecer. Lê aqui.s 10 regras da política editorial do blogue. O teu nome passa a figurar na lista alfabética, de A a Z, da Tabanca Grande, constante da coluna (estática), no lado esquerdo, da página principal do blogue. Sê bem vindo, camarada Luiz Farinha. (*)

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Nota do editor:

Últmos postes da série:

(*) O último camarada a entrar para a Tabanca Grande, embora a título póstimo,  foi o Libório Tavares, ex-alf mil capelão, o nº 802, a seguir ao Alexandre Margarido (nº 891):


19 de dezembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20471: Tabanca Grande (489): Alexandre Margarido, ex-cap mil grad inf, op esp / ranger, último cmdt da CCAÇ 3520 (Cacine, Cameconde, Quinhamel, 1972/74)...Senta-se à sombra do nosso poilão sob o nº 801

Guiné 61/74 - P20621: Parabéns a você (1752): Cap Inf Ref José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20615: Parabéns a você (1751): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20620: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXXV: Francisco Vasco Gonçalves Moura Borges, cap cav, 1º cmdt da CCAV 2721 (Sintra, 1944 - Lisboa, HMP, 1970): ferido gravemente no decurso da Op Jaguar Vemelho, no mítico Morés, acabou por morrer um mês depois em Lisboa, no Hospital Militar Principal





1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). (*)

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à esquerda], membro da nossa Tabanca Grande [, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972 ]

2. Sobre a Op Jaguar Vermelho, onde o cap cav Moura Borges, cmdt da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), foi ferido gravemente (, acabando por morrer um mês mais tarde, em Lisboa, no Hospital Militar Principal), temos uma referência, um poste do nosso camarada Carlos Fortunato (**).  

Mobilizada pelo RC 4, a CCAV 2721 partiu para o TO da Guiné em 4 de abril de 1970 e regressou a 28 de fevereiro de 1972. Teve como comandantes, além do infortunado cap cav Moura Borges, o cap cav Mário [António Baptista] Tomé. O nosso camarada e amigo Paulo Salgado foi alf mil op esp nessa companhia, e poderá dizer-nos algo mais sobre a Op Jaguar Vermelho.
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(**) Vd. poste de 20 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13766: (Ex)citações (240): Água da bolanha... quem a não bebeu ?!... Recordando aqui o pesadelo que foi a Op Jaguar Vermelho, no Morés, em 9 de junho de 1970... (Carlos Fortunato. ex-fur mil trms. CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, e presidente da direção da ONDG Ajuda Amiga)

Guiné 61/74 - P20619: Notas de leitura (1261): Longas Horas do Tempo Africano, por Manuel Barão da Cunha; 10.ª edição, revista e reestruturada, Oeiras Valley, Município de Oeiras, 2019 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Janeiro de 2020:

Queridos amigos,
Manuel Barão da Cunha, um caso sério de reincidência na literatura da guerra colonial, um apóstolo da sua difusão organizando tertúlias entre Lisboa e Oeiras, desta vez convoca um elevado número de testemunhos que referenciam o homem e a sua obra.
Tendo começado a escrever ainda no Estado Novo, sobressaiu pelo cuidado posto na exaltação dos seus soldados, na satisfação expressa pela obra feita. Vê-se claramente que tem o seu coração repartido por Angola e pela Guiné. E é admirável este seu trabalho alquímico de mexer e remexer nas coisas do passado, o chamamento que faz de vivos e mortos que pertencem à sua história, participantes de toda a sua vida militar e até civil.
Deve-se a Manuel Barão da Cunha uma enorme gratidão coletiva por ser um porta-bandeira sem rival no dever de memória, trazendo-nos à presença toda e qualquer pessoa que calcorreou o império ou nele combateu. É uma dívida de peso, impagável. Mas ele também não se importa.

Um abraço do
Mário


Longas horas do tempo africano, por Manuel Barão da Cunha

Mário Beja Santos

Num estudo recente sobre as cartas de guerra, uma investigação de Joana Pontes intitulada Sinais de Vida, Tinta-da-China, 2019, esta conhecida investigadora e jornalista observa que a generalidade da correspondência estudada confina-se a um tempo demarcado, o da comissão militar, aos lugares que o combatente percorreu ou onde vive, não há um entendimento do fenómeno da guerra no seu todo, as motivações de fundo, acrescendo que com o passar dos anos, um pouco como o passar dos meses da comissão militar, é percetível o desalento e a vontade de regressar. Serve este preâmbulo para abrir caminho a uma outra consideração: toda a literatura da guerra colonial tem que ser ponderada no tempo em que se publicou, conheceu sucessivas etapas. Não é homogénea, o que se escreve sobre a Guiné tem particularidades, não se encontra na literatura de guerra angolana ou moçambicana. Qualquer relato remete-nos para a localização e a natureza do inimigo. Um exemplo mínimo: quem escreve sobre a Guiné inclui, inevitavelmente, rios e rias, lodo, diferenças de maré, humidade excessiva, calcorrear quinze quilómetros nos emaranhados de uma floresta-galeria provocam uma exaustão sem paralelo; quem escreve sobre Angola e Moçambique fala em longas distâncias, viagens de centenas de quilómetros, operações com montes e vales.

O que se vai espelhar na literatura, consoante o palco e a experiência vivida pelo combatente. Ler Armor Pires Mota, Álvaro Guerra, José Martins Garcia, Álamo Oliveira, Cristóvão de Aguiar, José Brás, Luís Rosa, é perceber como estes homens falam de um tempo, de lugares, de situações distintas, como distintas foram as perceções que eles registaram da guerra que viveram. E o mesmo se pode dizer de escritores como João de Melo ou António Lobo Antunes, em Angola, ou Carlos Vale Ferraz ou António Brito, em Moçambique.

E o fenómeno literário também é irradiante, pois abarca romance e conto, memórias, ensaio, poesia, reportagem, história e diários. Atenda-se que um significativo número de escritores faz uma só “viagem”, memórias ou romance, escreve-se uma vez e não se regressa. Há os reincidentes, caso de Armor Pires Mota e Manuel Barão da Cunha. Curiosamente, ambos escreveram na fase de arranque, sob a forma de epopeia, de gesta, da glorificação da obra do soldado, da exultação da camaradagem e do destemor de gente humilde que apanhou o início das guerras.

Manuel Barão da Cunha 

Manuel Barão da Cunha tem vasta obra, todo começou com um livro memorial, Aquelas Longas Horas, 1968, edição da Mocidade Portuguesa. Combateu em Angola, ali estava em 1961, conheceu ásperos tempos, irá intervir em regiões cruciais, como Nambuangongo, participou na operação Viriato. Estará na Guiné, anos depois, na intervenção direta, fazendo operações em santuários do PAIGC e depois na quadrícula, no Leste, no regulado de Pachana. Em 1972, reciclou o que escrevera, com novos averbamentos, e publicou Tempo Africano. Escreverá posteriormente A Flor e a Guerra, em 1974, na Parceria António Maria Pereira. É um registo distinto, tem pouco de épico ou glorificador, ressalta uma visão amargada, é um homem doente, ferido, seguramente a desiludir-se, se tivermos em conta o que escreveu.

Depois, como um alquimista, passou a torcer, a retorcer e a distorcer as diferentes narrativas de guerra. O essencial das suas memórias tem a ver com a Angola de 1960 a 1962 e a Guiné de 1964 a 1966. Foi um pioneiro desta escrita, faça-se-lhe justiça. Já uma vez escrevi como ele fala dos seus soldados, das obras que deixarão em vários pontos de Angola e da Guiné, segundo um princípio axial: “A obra ficava, o homem partia. A obra ficava para outros homens e o homem partia para outras obras”. Fazendo e refazendo o Tempo Africano foi tratado como farinha espoada, a narrativa passou a compartimentar-se em andamentos, e onde o autor se distanciava de tudo quanto contava, foi-se gerando uma aproximação autobiográfica, com o recurso a um alter-ego, Pedro Cid, que vai dialogando com um jovem, em variadíssimas situações que metem repastos e encontros com outros veteranos de guerra. O jovem, Francisco Adão, pergunta, Pedro Cid responde, ao sabor da cronologia. Tudo começa em Angola, estamos em janeiro de 1960, Pedro é um “dragão”, um jovem alferes que comanda mancebos naturais ou residentes em Angola. E assim chegamos aos acontecimentos de fevereiro de 1961, com os ataques a Luanda e musseques periféricos. Pedro é um observador privilegiado, cabe-lhe ir a Nambuangongo com os seus “dragões”, seguir-se-ão outras dolorosas missões, e mesmo autobiográfico retoma-se a atmosfera de Aquelas longas horas, dando ênfase aos comportamentos militares de exceção. Gente que aparece agora a depor, entre muitíssimos outros depoimentos na obra mais recente de Manuel Barão da Cunha, "Longas Horas do Tempo Africano", 10.ª edição, revista e reestruturada, Oeiras Valley, Município de Oeiras, 2019.

Pedro regressa a Portugal, estará em Lamego nas Operações Especiais. E em 1964, parte para a Guiné, na CCAV 704. No início, faz parte das forças de intervenção, vai ao Sul e depois ao Morés, volta agora a falar nesta operação Tornado que durou cerca de 80 horas. E depois passa para a quadrícula, estará no Leste, fala em Bajocunda e Copá, vive em Amedalai, sede do regulado da Pachana, deixarão obra. Pedro Cid regressará a Angola entre 1969 e 1971.

O seu novo livro recolhe depoimentos de amigos, de companheiros de estrada, de camaradas que o admiram, alguns deles foram seus militares: o escritor João Aguiar, o General Rocha Vieira, o Engenheiro Anacoreta Correia, o Professor Henrique Coutinho Gouveia, entre tantos outros. A edição é ricamente ilustrada com desenhos do pintor Neves e Sousa. Uma autobiografia num livro de consagração do escritor. Fala-se da sua preparação, o Colégio Militar é uma referência. É meticuloso nas suas referências. Quando fala da operação Viriato, anota: “Durante 36 dias e 36 noites e ao longo de 1419 km deparámo-nos com mais de 20 ações de combate, incluindo emboscadas, muitas das quais não foram registadas por terem sido atingidos militares de outras unidades, num total de 3 mortos e 38 feridos; mais de duas centenas de obstáculos, alguns constituídos por 4 e 5 árvores empilhadas ou embondeiros gigantes, fazendas destruídas, incluindo casas e viaturas; abrigos próximos da picada, para facilitar a emboscada".

Livro de uma vida militar, nele acorreu um conclave de diferentes protagonistas de todo este itinerário que depois se prolongou pela vida civil, um trabalho proficiente na Livraria Verney, onde começaram as afamadas tertúlias Fim do Império, que hoje se derramam por diferentes espaços, acolhendo apresentação de obras de múltiplos olhares, tal e tanto é o incansável dever de memória a que Manuel Barão da Cunha se entrega.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20610: Notas de leitura (1260): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (43) (Mário Beja Santos)

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20618: Lembrete (34): Estão todos convidados: sessão de apresentação do último livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial": Lisboa, Casa do Alentejo, sábado, dia 8 de fevereiro, a partir das 15h00: com animação musical: (i) Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de São Bento; e (ii) Grupo Musical 'Os Alentejanos' de Serpa.


Cartaz do evento, Casa do Alentejo, sábado, 8 de fevereiro de 2020, 15h00


1. Mensagem do nosso companheiro e escritor José Saúde, que vive em Beja, é natural de Vila Nova de São Bento, Serpa, e é autor de 9 livros, o último dos quais vai ser apresentado, agora em Lisboa, na Casa do Alentejo:

[O José Saúde, foto à esquerda, foi Fur Mil Op Esp/Ranger da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu, 1973/74). Tem cerca de 180 referências no nosso blogue. O livro, "Um ranger na guerra colonial" já teve uma primeira apresentação em Beja, no passado dia 10 de dezembro.]


Data: sexta, 31/01/2020 à(s) 21:38

Assunto: Cartaz "Um Ranger na Guerra Colonial, Guiné-Bissau, 1973/74"
Luís,

Segue o cartaz para o lançamento do meu nono livro "Um Ranger na Guerra Colonial, Guiné-Bissau 1973/74, Memórias de Gabu", na Casa do Alentejo em Lisboa, sábado, 8 de fevereiro, 15h00. (*)

Agradeço que divulgues, uma vez mais, o evento. Tanto mais que a Tarde Cultural promete. Presentes irão estar o Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento, a terra que me viu nascer, e o Grupo Musical "Os Alentejanos" de Serpa.

Conto com a presença de camaradas que suportaram as agruras de uma guerra para a qual fomos atirados. Estão todos... convidados! (**)

Um abraço e até sábado, amigo.

Zé Saúde 

2. A Casa do Alentejo fica aqui, em plena Baixa de Lisboa, na Rua das Portas de Santo Antão, 58 1150-268 Lisboa. 

Há muitos camaradas que nunca lá foram. É também uma excelente oportunidade para conhecer um dos mais interessantes (e surpreendentes) edifícios da cidade de Lisboa.


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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


Guiné 61/74 - P20617: Blogues da nossa blogosfera (120): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (35): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

NA PALMA DA MÃO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Na palma da mão tenho sonhos de liberdade e silêncio
para enfrentar a morte.
A música treme na palma da mão
como incerteza de futuro e paisagem.
Quem dera adivinhar a cor desta canção cinzenta
que se dissolve no ar que respiro.
Neste verão diferente do outro
eu quero vestir a primavera
sem medo dos tiranos e da moral burguesa.
Quero escolher as palavras do poema
que faz chorar os olhos azuis
e abrir o sonho à luz do meio-dia.
Quero renascer dos versos
que dentro de mim acendem as estrelas
e clamam por outros seres e outros mundos.
Quero seguir quem me chama para outros mares
onde o sol sempre nasce e ilumina.
Creio que a terra ainda é minha
e de espirais de estrelas o meu regresso.
O sol arde nas nuvens
e o mar verde leva-me para habitar contigo
onde quer que estejas.
Não sei aprender a morrer
fora das linhas desta mão incerta
onde as flores de verão deixaram raízes no inverno
que hão-de desabrochar na manhã de sol em que partirei.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20596: Blogues da nossa blogosfera (118): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (34): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P20616: Blogpoesia (658): "Falta-me o tema", "Amigo total e fiel" e "Assustado. Não aflito...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Falta-me o tema

Abeiro-me do seixo de pedra, com martelo e cinzel.
Olho-o à tona.
Perscruto-lhe o seio e fico às cegas.
Parece sem alma aquele pedaço de pedra.
Cerro meus olhos e medito.
Pode ser que as duas almas, a minha e a dele, se entendam.
Sim, ele tem alma.
A fé arrasa montanhas.
Sabía-o bem o inexcedível Miguel Ângelo à procura da de David.
Uma chispa ardente saltita à primeira pancada.
Salta uma lasca redonda no chão.
Brotam as letras com laivos de luz.
Iluminam-se ideias que pairavam à solta.
Surge a forma com alma.
Dá-se o milagre.
Um ser animado se levanta do chão.
E fala e canta suave na arte da escrita
como se fosse um artista...

Berlim, 28 de Janeiro de 2020
17h12m
Jlmg

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Amigo total e fiel

Não há velhote,
Sentado à porta,
Que não tenha a seu lado,
Alapado no chão,
Um cão dedicado.
Paulatinas correm as horas e dias de sol.
Ele revê seu passado.
O outro, apenas presente.
Passam vizinhos e outros iguais.
Dizem bom dia.
E, o cão dorminhoco,
Respaldado a seus pés,
Acompanha a vida que passa.
Atento e indiferente.
Ninguém se atreva a maltratar o seu dono.
De anjo seráfico se vira um demónio.
Mandíbulas de ferro.
Adora canelas…

Berlim, 31 de Janeiro de 2020
19h17m
Jlmg

********************

Assustado. Não aflito…

Ressoam toadas surdas de silêncio.
De fúria, brame e brame o mar irado.
Sigo na minha praia, pisado o chão.
Olho o céu. Fito ao longe.
Pode ser que venha uma vaga lá do fundo.
Rebente o gelo.
Deste silêncio cru.
Quente, meu peito arfa, de cansaço avesso.
Retino as cordas do meu estro sarapantado.
Uma aragem suave vem. Me anuncia breve.
Como sabe bem o reencontro.
Rever o céu azul e cantar o louvor dum clarim.
Apagar a sede na fonte perene da calmaria.
É certo e inesgotável quem a alimenta…

Ouvindo Hélène Grimaud tocando Brahms
Berlim, 30 de Janeiro de 2020
11h25m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20595: Blogpoesia (657): "O chão da minha aldeia", "Suavidade benfazeja..." e "O talento brota do chão", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P20615: Parabéns a você (1751): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20603: Parabéns a você (1750): Luís Graça, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71), fundador e editor deste Blogue, e Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM do BCAÇ 1933 (Guiné, 1967/69)

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20614: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (10): edição, revista e aumentada, Letras O / P / Q


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > CART 3494 (1972/74) > Posto Escolar Militar (PEM) nº 14  > 1972 > Alunos da Escola Primária. 


Foto (e legenda): © Jorge Araújo (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do Pequeno Dicionário da Tabanca Grande (*), de A a Z, em construção desde 2007, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné que se sentam aqui à sombra do nosso simbólico e fraterno poilão. Entradas das letras O, P,  Q:




 Letra O



OB - Oscar Bravo, obrigado (gíria, adaptado do Código de Fonética Internacional)

Obus 14 - Obus, de calibre 14 cm (ou 140 mm)


OGFE - Oficinas Gerais de Fardamento do Exército

Oinca - Habitante da região do Oio


Oitenta - Morteiro de calbibre 81 (o PAIGC tinha o 82)

ONG - Organização não-governamental


ONGD - Organização não-governamental para o Desenvolvimento

Onze quatro - Peça de artilharia, de calibre 11,4 cm: não confundir com obus


Op - Operação (vg., Op Lança Afiada); operador

Op Cripto - Operador Cripto

Op Esp - Operações especiais ou ranger, com o curso do CIOE, de Penude / Lamego


Ordem Militar da Torre e Espada - Por extenso, Ordem Militar da Torre e Espada, e Valor, Lealdade e Mérito



Letra P

P2V5 - Avião de luta anti-submarina, também usado no Guiné, no início da guerra, para ataque ao solo

Pachanga - Pistola-Metralhadora SHPAGIN Cal 7,62 mm M-941 (PPSH) (PAIGC);  costureirinha (gíria)

PAI - Partido Africano para a Independência, fundado em 1956 (mais tarde, PAIGC)

PAIGC - Partido Africano Para a Indepência da Guiné e Cabo Verde

Panga bariga - Caganeira (crioulo)

Parafusos - Familiares, amigos ou vizinhos de paraquedistas ou de fuzileiros, convivendo com ambos

Páras - Paraquedistas

Parte peso - Dá-me dinheiro (crioulo)

Partir catota - 'Dar o pito' (expressão nortenha); ter relações sexuais (a mulher com o homem) (calão)

Partir punho - Ser masturbado por outrem, à mão (crioulo, calão); "bater uma punheta"

Pastilhas - Enfermeiro (em geral, fur enf) (gíria)



Cópia de uma nota de cem escudos da Guiné (ou pesos), emitida pelo BNU (Banco Nacional Ultramarino), em circulação no nosso tempo.

Esta, por acaso, foi emitida em Lisboa em 17 de Dezembro de 1971. A nota ostenta a efígie do Nuno Tristão, o primeiros dos nossos "camaradas" a morrer na Guiné, "país de azenegues e de negros", no já longínquo ano de 1446, "varado por azagaias envenenadas" (sic), como se pode ler algures no Portugal dos Pequenitos, em Coimbra (se nunca lá foram, aproveitem para ir com os netos um fim-de-semana destes).

Foto (e legenda): © António Santos (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Patacão - Dinheiro, pesos (crioulo)

Pau de Pila - Lança Granadas-Foguete Pancerovka P-27 (PAIGC, gíria)

PC - Posto de Comando

PCV - Posto de Comando Volante 


Peça 11,4 - Peça de artilharia, de calibre 11,4 cm; também conhecido por onze quatro

Peça M-130 - Peça de artilharia de longo alcance, da Guiné-Conacri, usada em ataques fronteiriços pelo PAIGC, a partir de 1973

Pel Caç Nat - Pelotão de Caçadores Nativos

Pel Can s/r - Pelotão de Canhão sem recuo

Pel Mil - Pelotão de Milícias

Pel Mort - Pelotão de Morteiros

Pel Rec Daimler - Pelotão de Reconhecimento Daimler (Cavalaria)

Pel Rec Fox - Pelotão de Reconhecimento Fox (Cavalaria)

Pel Rec Info - Pelotão de Reconhecimento e Informação


Pelicano – Café, restaurante e esplanada, em Bissau, junto ao estuário do Geba, na marginal, ao tempo colonial

Peluda - Vida civil (depois da tropa)(gíria)


Pepito - "Nickname" ou "nominho" do engº Carlos Schwarz da Silva (1949-2014), guineense de origem portuguesa, nosso grã-tabanqueiro 

Perintrep - Periodic Intelligence Report

O Perintrep era uma documento classificado, elaborado pela 2ª Rep/QG/ComChefe/Guiné (, chefiada, no final da guerra, por Artur Baptista Beirão, ten cor inf) (1925-2014). Era elaborado a partir de notícias recebidas (Relim) durante um período semanal, indicando-se sempre a origem ou o órgão da fonte da notícia. O documento, classificado, chegava até aos comandantes operacionais (nível de companhia), que o tinham de incinerar no prazo de 72 horas... As informações nele contidas, devidamente selecionadas, podiam ser (ou não) partilhadas depois com os subordinados, individualmente ou em grupo.







Reprodução (parcial) do Perintrep nº 12/74, relativo ao período de 17 a 24 de março de 1974. Documento (digitalizado) por Nuno Rubim (2016) / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)




Periquito - Militar novato; pira, "piriquito" (sic); maçarico (Angola), checa (Moçambique)


Peso - Unidade da moeda local; escudo guineense (no tempo colonial) (crioulo); valia, no mercado cambial, menos 10% do que o escudo metropolitano; a moeda da Guiné era emitida pelo 

PG - Prisioneiro(s) de Guerra


Piça - (i) Pénis (calão); (ii) apelido paterno do 2º srgt inf, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), José Manuel Rosado Piça, alentejano; costumava apresentar-se às senhoras, brincando com o seu apelido brejeiro: "Sargento Piça, minha senhora, para a servir"; é membro da nossa Tabanca Grande, vive em Évora

Piçada - Repreensão de um superior (gíria)

Picador - Soldado ou milícia que faz a picagem, usando geralmente um vara, com um prego afiado na ponta

Picagem - Deteção de minas e armadilhas num trilho ou picada


Piche-pache(Lê-se: pitche-patche) - Canja de ostras (crioulo)

PIDE/DGS - Polícia política portuguesa: PolíciA Internacional de Defesa do Estado, no tempo de Salazar, rebatisada como Direção Geral de Segurança, no tempo de Marcelo Caetano





O PIFAS - Cartoon, de autor desconhecido. 

Cortesia de Miguel Pessoa (2012)

PIFAS - Programa de Informação das Forças Armadas

PIL - Piloto da FAP, abreviatura aplicada a todos os pilotos sargentos milicianos ou do quadro [ex: furriel mil pil Gil Moutinho]:
Pilão - Bairro popular de Bissau, muito frequentado pelas NT nas horas de lazer; cupelon (crioulo)

PILAV
 - Piloto aviador da FAP, abreviatura aplicada a todos os oficiais milicianos ou do quadro [ex., ten pilav Miguel Pessoa, alf mil pilav Jorge Félix] 

PIL NAV - Piloto navegador da FAP: abreviatura aplicada a todos os oficiais do quadro que vieram de sargento, fazendo o respectivo curso de oficiais por atingirem tempo de serviço.
Pimbas - Alcunha do 1º comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), ten cor inf Manuel Maria Pimentel Bastos


PINT - Pelotão de Intendência

Pira - Periquito, militar recém-chegado à Guiné; maçarico (Angola); checa (Moçambique)


Pistola-metralhadora - Em inglês, "subgun", submetralhadora; as Forças Armadas usavam várias marcas e modelos, com destaque para a FBP (portguesa) e a Uzi (israelita)

Piurso - Pior que um urso, zangado (gíria)
Poilão - (i) Designação comum a algumas árvores da família das bombacáceas (crioulo); nome científico, Ceiba Pentandra; (ii) árvore sagrada para os guineenses, mas também, em termos simbólicos, para os membros da Tabanca Grande, à sombra da qual se sentam, os vivos e os mortos



Poilão (Caderno de Poesia) - Publicação literária de que se fizeram 700 exemplares, a stencil, em fevereiro de 1974, em edição do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU; editor: Albano Mendes de Matos, membro da nossa Tabanca Grande

Poilon - Poilão (crioulo)


Ponta - Herdade, exploração agrícola 
(crioulo); o termo aparece em muitos topónimos da Guiné, alguns de trágicas memórias para nós, combatentes da guerra colonial (ex., Ponta do Inglês, na foz do rio Corubal, no subsetor do Xime)

Ponteiro - Proprietário ou cultivador de uma "ponta" (crioulo)

Pop - População

Porrada - (i) Contacto com o IN; (ii) punição disciplinar (gíria) 


Posto Escolar Militar (PEM) - Estabelecimento escolar, em geral improvisado, criado e mantido pelas subunidades de quadrícula (ex., PEM nº 8, Xime, setor L1, Bambadinca, região de Bafatá)


PPSH - Metralhadora ligeira, 7,72 mm (PAIGC; a famigerada 'costureirinha' (gíria)

Psico - Acção psicológica e social das NT junto da população (também Psique)

PTE - Pelotão de Transportes Especiais. Pertencia ao BENG 447.

Puto - Nominho dado a Portugal (metrópole) sobretudo pelos "colonos" de Angola e Moçambique, sendo um território muito mais pequeno do que aquelas duas "colónias" ou "províncias ultramarinas"



Letra Q


QG - Quartel General

QG/CCFAG - Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné), sito na Fortaleza da Amura

QG/CTIG – Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné, sito em Santa Luzia 


QEO - Quadro Especial de Oficiais

QP - Quadro Permanente (Pessoal)

Quarteleiro – 1º cabo de manutenção de material

Quebra-costelas - Abraço, AB, Alfa Bravo (gíria, de origem alentejana)

Quico - Boné especial da tropa
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Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

16 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20562: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (9): edição, revista e aumentada, Letras M / N

31 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20516: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (8): edição, revista e aumentada, Letras I, J, K e L

28 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20506: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (7): edição, revista e aumentada, Letras F, G e H

3 de dezembro 2019 > Guiné 61/74 - P20411: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (6): edição, revista e aumentada, Letras D/E

18 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20255: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (5): edição, revista e aumentada, Letra C

14 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20240: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (4): 2ª edição, revista e aumentada, Letras M, de Maçarico, P de Periquito e C de Checa... Qual a origem destas designações para "novato, inexperiente, militar que acaba de chegar ao teatro de operações" ?

13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B

13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20235: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (2): 2ª edição, revista e aumentada, Letra A

12 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19396: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (1): em construção: para rever, aumentar, melhorar, divulgar, comentar..

Guiné 61/74 - P20613: Os nossos seres, saberes e lazeres (375): A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Agosto de 2019:

Queridos amigos,
Visitar regularmente um país, e sobretudo a sua cidade principal, com uma regularidade de 4 décadas, quase sempre em viagens de entusiasmo, deixa marcas. Primeiro descobrir Bruxelas, assentar referências e âncoras: os museus, as livrarias, as férias da traquitana, os parques. Depois aprender a usar o comboio, ir à Antuérpia ou a Gand, depois Namur e Liège, etc. Aprender, com o guia na mão a distinguir as belezas de diferentes comunas, Ixelles é diferente de Saint-Gilles e Schaerbeek de Uccle.
Um amigo de peito acolheu-me em Watermael-Boitsfort, ajudou imenso, contei com a sua companhia para conhecer os arredores de Bruxelas, as pequenas aldeias, percorrer o espetacular parque de Tervuren.
É de todas essas marcas que me deixam saudades que aqui vos falo.

Um abraço do
Mário


A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (3)

Beja Santos

Naqueles primeiros anos de digressões por Bruxelas, ainda sem amizades cimentadas, preparava previamente o meu dia de férias, de um modo geral viajava ao sábado, tinha o domingo por minha conta, os dias subsequentes pertenciam aos serviços da Comissão Europeia ou à vida da associação de consumidores, de que fui um dos seus diretores. Às vezes era ao contrário, ia quinta-feira à noite, trabalhava sexta-feira, o sábado pertencia-me, regressava nessa noite, havia duas filhas pequenas que requeriam muita atenção. A floresta de Soignes é de uma enorme extensão, só a conheci mais tarde, quando passei a aboletar-me em casa do meu amigo André Cornerotte, passeámos muitas vezes em qualquer das estações do ano. A floresta é muito procurada pelos pedestres, pelos cavaleiros e por quem tem cães. A floresta estende-se de Uccle a Waterloo e de La Hulpe a Tervuren, são mais de 4360 hectares. Serei muito ignorante, mas não conheço outra grande metrópole que beneficie de um maciço arborizado ou coberto florestal com estas dimensões. Recomendo a quem visite Bruxelas que se meta num transporte público, de preferência o metropolitano (saída na estação Herrmann-Debroux) e entra diretamente nas belezas desta floresta, se tiver bom tempo prepare um piquenique, o melhor do bucolismo estará por sua conta.

Floresta de Soignes.

Nos preparativos da primeira viagem, alguém advertiu que a cervejaria mais típica da cidade se chamava A la mort subite, noutros tempos por ali passava com alguma frequência o mítico Jacques Brel. Fiquei impressionado, viera a pé não sei de onde, o tempo não estava famoso, procurei um lugar, mirei à volta, chamou-me a atenção uma cerveja cor de sangue, era uma kriek, saborosíssima, tinha o fim de tarde por minha conta, fechei os olhos, ouvi conversas, abri os olhos para reter os aspetos assombrosos da decoração. Mesmo que não goste de cerveja, não deixe de ir A la mort subite, peça um croque monsieur e talvez um chocolate e deixe-se estar, está ali uma Bruxelas intemporal.

Fachada do café A la mort subite.

Em nenhuma circunstância, um aficionado de banda desenhada pode deixar de visitar a sua Meca, belgas e franceses são os sumo-sacerdotes da BD ocidental, aqui estão elementos essenciais dos grandes momentos desta arte, aqui se podem reverenciar os trabalhos de grandes senhores como Hergé ou Edgar P. Jacobs, é um estendal de desenhos de primeiríssima água, reproduções de peças mitológicas como o foguete em que Tintin foi à lua ou a imagem de Lucky Luke. Se é devoto, prepare-se para uma longa e agradável peregrinação, além disso há as compras, ou de relíquias dessas tantas figuras ou álbuns irresistíveis. Não sairá daqui dececionado, acredite.

O centro belga de banda desenhada.

Já se disse que Bruxelas possui um alfobre invejável de chocolatarias, livrarias, museus, monumentos, galerias de compras e edifícios do mais valioso património. Aliás, estar em Bruxelas no dia em que se celebra o património é uma festa inesperada, tanto se pode entrar em templos maçónicos como visitar instalações de grandes fábricas do passado. Há grandes surpresas, por exemplo o velho mercado de Saint-Géry, hoje um espaço multiusos, muito aprazível, com exposições, cafés e lojas onde se podem adquirir publicações sobre património. Num desses passeios iniciais, surpreendeu-me a sumptuosidade de uma fachada que até lembrava um daqueles edifícios da Grand-Place, era a Maison de la Bellone, vem dos finais do século XVII, tem ornamentação barroca. La Bellone é a deusa da guerra. É uma casa de espetáculos que abriga um variado conjunto de associações culturais. Da primeira vez, limitei-me a ficar especado diante da fachada, depois perdi a vergonha e pedi autorização para andar lá por dentro a bisbilhotar. E fui sempre bem-sucedido.

A casa Bellone.

Alguém que vá uma ou duas vezes a Bruxelas e que se limite a participar numa conferência ou numa reunião de trabalho não terá oportunidade de encarar um edifício colossal que no seu tempo foi dos maiores do mundo, o Palácio de Justiça. Ao longo destas décadas de visitas encontrei-o sempre com algumas obras, ou na cúpula, nos vestíbulos, nas faces laterais, enfim, vi sempre o colosso com andaimes. É impressionante, até porque andar dentro do casco histórico ele persegue-nos sempre, havemos sempre de deparar com uma nesga desta monumentalidade. Há mesmo um livro sobre Bruxelas que arranca com a história do Palácio de Justiça, uma empresa faraónica que jamais terá conclusão, acreditem.

O Palácio de Justiça.

Fiz amizade com o Monte das Artes por diferentes razões. A mais importante é que lá do topo da escadaria goza-se um panorama ímpar do centro. Ali perto, estão importantes centros culturais, a Biblioteca Real, o Palácio das Belas-Artes, não só uma grande casa de música como ali se acolhem exposições fora de série, mais acima o Museu dos Instrumentos Musicais no velho edifício do Old England, o Palácio de Carlos da Lorena, mais acima o hoje Museu de Arte Moderna ou Museu Magritte, que confina com o Museu de Artes e História da Bélgica. Descendo o Monte das Artes estão galerias com alfarrabistas e de arte, décadas atrás era uma área de grande atração, havia ali a Posada Books, uma riquíssima livraria, há muito que desapareceu. Naqueles anos 1970-1980 saía-se da gare central e tinha-se um descampado pela frente, caminhava-se até à Igreja da Madalena e depois descia-se em direção ao centro da cidade. Volto atrás para referir que ao lado da Galeria de Arte Alberto I, na Rua da Madalena, continua aberto um alfarrabista e quinquilheiro que visitei vezes sem conta. Continuo a ir lá cumprimentá-lo, mas prefiro os preços mais apetitosos da Feira da Ladra: é o saber de experiência feito.

Monte das Artes.

Em muitas ocasiões, quando vim a Bruxelas para conferências, a Comissão Europeia punha-nos em hotéis de várias estrelas, nos bulevares principais. Caso não chovesse, ou mesmo com friagem, era um prazer imenso ir a pé até ao quarteirão europeu. Tinha que se atravessar o Parque Real, em frente ao palácio onde o rei trabalha e concede audiências. É um parque à francesa, muito bem desenhado, com bela estatuária, belas fontes a esguichar água. Não perdia este passeio, no verão enche-se de famílias, é uma delícia para as crianças.

Parque Real de Bruxelas.

Num dos guias que adquiri já em Bruxelas vi uma referência a Laeken e a dois pavilhões visitáveis, o chinês e o japonês, Leopoldo II comprou estas relíquias na Exposição de Paris de 1900. Como a primeira viagem fora penosa, um elétrico demorado, a atravessar artérias desinteressantes, e uma passeata sob sol inclemente, só lá voltei na companhia de uma grande amiga que aproveitou a ocasião para me mostrar as estufas reais. Não estavam visitáveis, então, mas impressionou-me muito as estruturas, agora sou um visitante assíduo, quem gosta de floricultura tem muito que se entreter.

Estufas reais no Palácio de Laeken.

Muitos anos já eram passados em deambulações em Bruxelas e eu ainda não tinha atinado naquela verdade que Bruxelas é feita de uma manta de retalhos com muita água pelo meio, a Bruxelas medieval estava repleta de embarcações. No mundo contemporâneo foram feitas imensas operações para abobadar esses caudais de água, mas restam canais. Estive mesmo num curso em que a organização promotora ofereceu um passeio pelos canais de Bruxelas, deu para avaliar a importância do seu significado económico, mas não são beleza nenhuma, os meios envolventes são pouco cativantes.

Um dos canais de Bruxelas.

Tal como o Palácio de Justiça, a Basílica do Sagrado Coração vê-se à distância, um pouco por toda a parte. Como Laeken, não é de acesso muito fácil. É o mais gigantesco templo Arte-Deco da Bélgica, roça a colossalidade, impressiona por fora, é muito frio por dentro. Visita-se e não apetece voltar, a não ser para disfrutar uma das mais belas panorâmicas sobre Bruxelas.

Basílica Nacional do Sagrado Coração.

É bem provável que estas informações sejam praticamente inúteis para a generalidade dos leitores, guardo na memória igrejas e outros monumentos que visitei ao longo destas décadas, por exemplo em Lovaina, Lierre, Antuérpia ou Bruges. Mas a Bélgica tem magníficas campinas, à volta de Bruxelas há pequenas e ternas igrejas medievais, há quintas, abadias inesquecíveis, castelos… Pois foi com o meu amigo André Cornerotte que visitei a Abadia de Orval, nas Ardenas, muito próximo da fronteira francesa, uma preciosidade. Bom, demos livre curso a estas recordações!

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20591: Os nossos seres, saberes e lazeres (374): A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (2) (Mário Beja Santos)