segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25026: Manuscrito(s) (Luís Graça) (243): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte Va: 'Pés quentes, cabeça fria, cu aberto, boa urina - Merda para a medicina' 1. A arte de bem conservar a saúde




Capa da primeira edição (Veneza, 1480) do livro "Regimen sanitatis cum expositione magistri Arnaldi de Villanova Cathellano noviter impressus". Venetiis: impressum per Bernardinum Venetum de Vitalibus, 1480. Fonte: Wikimedia Commons (com a devida vénia..) (Tr. port.: Regime de Saúde de Salerno, com a exposição do mestre Arnaldo de Vilanova, o Catalão, recém-impresso. Veneza: impresso por Bernardinum Venetum de Vitalibus)

1. Comecei publicar no blogue, desde meados de março passado, uma série de textos, da minha autoria, sobre as ensinamentos que se podem tirar dos provérbios populares portugueses, nomeadamente sobre a saúde, a doença, os hospitais, os prestadores de cuidados de saúde (médicos, cirurgiões, farmacêuticos, enfermeiros, terapeutas, etc.), mas também sobre a proteção e a promoção da saúde, incluindo a vida, o trabalho, o envelhecimento ativo e a "arte de bem morrer" (*)...

São textos com cerca de 25 anos, que constavam da minha antiga página na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/NOVA). A págima foi recuperada pelo Arquivo.pt: Saúde e Trabalho - Luís Graça (página pessoal e profissional cuja criação remonta a 1999).
Às vezes quando a doença e a morte me batem à porta, é que eu me lembro que dediquei uma boa parte da minha vida (quase quatro décadas) ao ensino e à investigação da arte e da ciência da proteção da doença e da promoção da saúde, o mesmo é dizer às "coisas" da saúde pública...

E dão-me saudades quando, sendo mais novo, escrevia sobre esses temas (e utilizava-os nas aulas com os futuros admninistradores hospitalares, médicos de saúde pública, médicos do trabalho, ou outros, mestres e doutores em saúde pública)...

Depois de sobrevivermos à dura prova que foi para todos os nossos leitores a pandemia de Covid-19, eis-nos agora a fazer o luto pela perda recente de pessoas que nos eram muito queridas. Daí a oportunidade da publicação deste textos que fui (re)buscar ao meu "baú", mas que não têm a ver, pelo menos diretamente, com a Guiné e a guerra que lá travámos... Ou têm mesmo ? Tudo depende das "leituras" e dos "leitores"...

Contando com a complacência (e sobretudo com a cumplicidade) dos nossos leitores, espero, ao menos, que a sua leitura possa ter algum proveito. É também uma forma de continuar a lidar com o meu sofrimento psíquico e o sofrimento psíquico das pessoas que me estão próximas.

Por outro lado, o nosso blogue já atingiu, na Internet, a "terceira idade": vai fazer 20 anos (!) em 23 de abril de 2024 (se lá chegar, se lá chegarmos). E tem que ser "alimentado" todos os dias, com pelo menos três postes... Estes textos também funcionam como uma espécie de "tapa-buracos"... LG



Luís Graça (2000)
Representações Sociais da Saúde, da Doença e dos Praticantes da Arte Médica.





1.1. "Mais que curar o mal, a arte (médica) deve prevenir" (Escola de Salerno)


Não se pense que o modelo salutogénico (ênfase nos factores multidimensionais que determinam positivamente a saúde, por oposição ao modelo patogénico, biomédico, organicista, orientado para a causa específica da doença) é uma construção intelectual dos nossos tempos. Na Europa Ocidental, o modelo salutogénico tem pelo menos 2500 anos e está igualmente presente nos provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa.

Em termos muito simples, o modelo salutogénico está na origem do conceito de protecção e promoção da saúde, enquanto o modelo patogénico está mais próximo do conceito de prevenção da doença e sobretudo de cura e tratamento da doença.

Aplicado ao local de trabalho, o paradigma salutogénico pode ser melhor entendido através da seguinte questão principal:

Como é que o indivíduo (e, por extensão, a família, o grupo, etc.) realiza as suas potencialidades de saúde e responde positivamente às exigências (físicas, biológicas, psicológicas e sociais) dum ambiente (laboral e extra-laboral) cada vez mais complexo e em constante mutação;

Para responder positivamente a essas exigências, o indivíduo tem de ter controlo sobre os factores (individuais, ambientais e societais) que determinam a sua saúde;

A promoção da saúde é uma intervenção conjunta e integrada sobre o indivíduo e o meio envolvente em que nasce, cresce, vive, respira, trabalha, consome e se relaciona;

Na abordagem mais tradicional e redutora da segurança e saúde no trabalho (em inglês, occupational safety and health) a questão que se punha (ou ainda põe) é como prevenir e, em última análise reparar, do ponto de vista médico e legal, os riscos profissionais.

A promoção da saúde é tradicionalmente um conceito baseado na evidência. No que respeita à protecção e manutenção da saúde, a filosofia de senso comum é céptica em relação ao papel da medicina ("O melhor médico é o que se procura e se não encontra"), se não mesmo sarcástica ("Se tens físico teu amigo, manda-o a casa do teu inimigo").

Ou por outras palavras: Tu és o melhor médico de ti mesmo... Mas nem por isso esta filosofia popular deixa de estar eivada das concepções dominantes da medicina arábico-galénica e da influência da teoria hipocrática dos quatros humores:
  • "A doença e a dor conhecem-se na cor";
  • "Contra os maus humores grandes suores";
  • "Fora de horas urinar é sinal de enfermar";
  • "Quem bem urina escusa medicina"; ou
  • "Mijar claro, dar figas ao médico"

Alguns preceitos simples são recomendados para conservar a saúde e, por conseguinte, dispensar os serviços do médico e do boticário, inevitavelmente associados a uma vida regrada (alimentação, etc.) e às condições de higiene pessoal e ambiental (habitação, etc.), de acordo com os ensinamentos do compêndio hipocrático e desse espantoso programa medieval de promoção de estilos de vida saudáveis que foi o Regime de Saúde da Escola de Salerno (em latim, Regimen Sanitatis Salernitanum).





A cidade de Salerno e o golfo de Salerno,
no sul da Itália


Salerno, perto de Pompeia e de Nápoles, na região da Campânia, Itália meridional, era conhecida pela sua escola médica, cuja origem remonta à Alta Idade Média (Séc. IX-X), antecedendo por isso o aparecimento da Universidade no Ocidente cristão (Séc. XIII).

Segundo a lenda, era um escola verdadeiramente ecuménica, tendo nascido do encontro de quatro homens, que representavam quatro culturas distintas (um romano, um grego, um judeu e um árabe, três dos quais seriam médicos).

Esta escola teve um papel importantíssimo na preservação e divulgação do legado greco-romano, no campo da medicina, nomeadamente devido ao papel do monge cartaginês e tradutor arabista Constantino, o Africano. Mas foi sobretudo o tratado de higiene que lhe perpetuou a fama de "cidade hipocrática" (Lafaille e Hiemstra, 1990; Nigro, 2003; Sournia, 1995)



Este documento, em verso, do Século XII ou XIII, terá sido um dos manuscritos mais amplamente divulgados na Europa durante a Idade Média; mais tarde impresso, em Lovaina, por volta de 1480, dele fizeram-se até 1850 cerca de 250 edições, não só em latim como na maior parte das línguas vernáculas europeias, estimando-se entre 120 e 250 mil o número de cópias que terão circulado (Lafaille e Hiemstra, 1990).

Segundo Nigro (2003), "la redazione multiforme con la quale il 'Regimen' si presenta, sia per la varietà numerica e la disposizione dei versi, che per le frequenti contraddizioni e ripetizioni, fa attualmente ritenere che l’opera sia frutto di una compilazione a più mani e di ripetute revisioni".

Por exemplo, o número de versos foi sucessivamente aumentando com as edições: 362 versos na primeira edição impressa (c. 1480), mais de 3500 nas últimas edições.

Mas durante muito tempo a autoria do regime de saúde de Salerno foi atribuída erradamente ao catalão Arnaldo da Villanova (c.1240-1313), que também é autor de um "regimen sanitatis", em prosa, dedicado a Fredereico de Aragão.

Voltando a citar Nigro (2003), o regime de saúde de Salerno é uma obra colectiva, anónima, "risultato della consuetudine popolare, raccolta e commentata nel secolo XIII dal medico e alchimista catalano Arnaldo da Villanova", e que se enquadra "nel filone letterario dei tacuìna e dei theatra sanitatis, opere a carattere enciclopedico, in cui accanto all’illustrazione degli elementi della natura, vi è quella degli alimenti, degli stati d’animo, delle stagioni, allo scopo di salvaguardare la salute mantenendo un perfetto equilibrio tra uomo e natura".

Ao longo dos séculos e das diferentes edições a obra foi sendo conhecida por diversos títulos (Nigro, 2003). Exemplificam-se alguns

  • "Regimen Sanitatis Salernitarum" (Colónia, [1480]);
  • "Schola Salernitana" (s/l, 1480);
  • "Regimen sanitatis, Das ist das Regiment der Gesundheit" (Froschauer, 1501)
  • "De conservanda bona valetudine" (Frankfurt, 1545)
  • "Medicina salernitana" (s/l, 1591)
  • "The Englishman's doctor, or the School of Salerne, or physicall observations for the preserving of the body of man in continuall health" (Londres, 1601)
  • "Le Reglement ou Regime de la Santé" (Douai, France, 1616);
  • "L'art de conserver sa santé, composé par l'école de Salerne" (Haia, 1743; Paris, 17);
  • "Flos medicinae Scholae Salerni" (Nápoles, 1859)
  • "La regola sanitaria della Scuola salernitana" (Milão, 1930)

Ao que parece, haveria uma edição portuguesa que desconhecemos (não consta da Biblioteca Nacional nem não sequer é referida pelos nossos historiógrafos médicos, tais como: Lemos, 1889; Mira, 1947; Correia, 1960; Pina, 1981; Ferreira, 1990).

Versos do Regimen Sanitatis Salernitanum apareciam com frequência nos Lunários Perpétuos dos Séculos XVII e XVIII, embora erradamente atribuídos a Avicena (segundo informação da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira que se baseia numa publicação de Luís de Pina, Um prático calendário...de higiene seiscentista, editada no Porto, em 1950, e a que ainda não tivemos acesso).

Em muitos dos provérbios que nos chegaram até aos nossos dias há uma filosofia sobre a arte de viver com saúde, por oposição à arte de curar, e que vai beber as suas raízes ao legado da medicina hipocrática e ao seu modelo salutogénico. Para a sua preservação e divulgação muito contribui sem dúvida o Regimen Sanitas Salernitanum (ver extracto, Caixa 1).

Face à impotência da medicina arábico-galénica para lidar com a alta morbimortalidade que atingia a população europeia nos finais da Idade Média, o livro de saúde de Salerno tem um propósito didáctico mas também programático: "Mais do que curar o mal, a arte [ a medicina ] deve prevenir".


Caixa 1 - Regime de Saúde Salernitano (Extractos de uma tradução versificada em francês no século XVIII)


Respira um ar sereno, brilhante de pureza,

Do qual nenhuma exalação turve a clareza;

Evita os odores infectos e vapores deletérios

Que sobem dos esgotos e empestam a atmosfera...

Queres dos teus prazeres prolongar o sucesso?

Do vício e da mesa evita o excesso...

Se o mal é insistente, cabe à arte reagir:

Mais que curar o mal, a arte deve prevenir.

O ar, o repouso e o sono, o prazer e a comida

Preservam a saúde do homem, saboreados com medida:

O abuso torna em veneno este bem inocente

Destruindo o corpo e turvando a mente



Fonte: Sournia (1995: 101) (tr. do fr., Jorge Domingues Nogueira)

Observações - Para mais detalhes ver o comentário crítico, sobre o texto (ou os vários textos) do Regimen Sanitatis Salernitanum, de Paola Nigra (2003) http://www.spolia.it/latino/2002/reg7.htm (15.03.03)




Na prática, há provérbios, na nossa língua, sobre tudo (ou quase tudo) o que constitui hoje as preocupações dos educadores e promotores de saúde (Quadro XV, em anexo). Por exemplo:

(1) A actividade física:

"Espírito são em corpo são";

"O corpo não deita raízes";

"Parar é morrer".

(2) Os autocuidados:

"Mijar claro - dar uma figa ao médico";

"O homem velho é médico de si";

"Pés quentes, cabeça fria, boa urina - merda para a medicina";

(3) O sono e o repouso:

"Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer";

"O braço quer peito e a perna quer leito";

"Quatro horas dorme um santo, cinco o que não é santo, seis o estudante, sete o caminhante, oito o porco e nove o morto".

(4) O consumo de álcool e de tabaco:

"Bebe vinho mas não bebas o siso"

"Tabaco e aguardente transformam os sãos em doentes";

"Vinho, mulheres e tabaco põem o home fraco".

(5) A nutrição e a higiene dos alimentos:

"Carne de ontem, peixe de hoje, vinho do outro verão fazem o homem são"

"Come para viver, pois não vives para comer";

"Uvas, pão e melão é sustento de nutrição"

(6) O controlo do peso:

"O menino engorda para crescer e o velho para morrer";

"Pede o guloso para o desejoso";

"Tripa cheia nem foge nem peleja".

(7) As condições de vida e de habitação, a saúde ambiental:

"Águas paradas, cautela com elas";

"Deus te dê saúde e gozo e casa com quintal e poço";

"Onde não entra o sol entra o médico";

"Se a tua casa é húmida abre conta na botica";

"Toma caldo, vive em alto, anda quente - viverás longamente";

"Um ar purgado - morte no cabo".

(8) A gestão do stresse e das 'paixões da alma':

"A ferrugem gasta o ferro e o cuidado o coração";

"Quem se ralou já morreu";

"Quem tiver paixão tome tabaco", etc.
___________

Não cabe aqui a tarefa de analisar uma a uma as crenças terapêuticas que são veiculadas pelos provérbios populares:

Alguns são puros disparates (por ex., o "abafa-te, abifa-te e avinha-te", como remédio contra a gripe; ou outro parecido: "antes embebedar do que constitapar");

Outros, e nomeadamente no domínio da nutrição, reproduzem preconceitos, como os perigos da carne de porco, que têm a ver com a nossa matriz judaico-cristã (por ex., "porco fresco e vinho novo, cristão morto");

Pelo contrário, há provérbios que têm um conteúdo que se baseia no conhecimento empírico milenar dos povos mediterrânicos e que é hoje em dia suportado pela própria investigação farmacológica e biomédica: por ex., a importância do consumo moderado do vinho (tinto) na prevenção das doenças cardiovasculares ("Um copo de vinho por dia mantém o médico à distância"); ou as propriedades terapêuticas do azeite: "Azeite de oliva o mal cura".



Quadro XV— Provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa sobre a saúde e os estilos de vida



Objecto / Provérbio

Actividade física

"Andar, ventura até à sepultura"

"Espírito são em corpo são"

"Mais vale romper sapatos que lençóis"

"O corpo não deita raízes"

"Para baixo todos os santos ajudam, para cima é que as coisas mudam"

"Para ter saúde, pouca cama, pouco prato e muito sapato"

"Parar é morrer"

"Quem corre por gosto não cansa"

"Quem em novo dança bem, em velho algum jeito tem"


Água

"A quem Deus quer dar vida, a água da fonte é mezinha"

"A quem é de vida a água lhe é medicina"

"Água e vento são meio sustento"

"Água fervida alimenta a vida"

"Água fria sarna cria; água quente nem a são nem a doente"

"Água que não soa não é boa"

"Água quente saúde para o ventre"

"Águas paradas, cautela com elas"

"Ao doente forte a água é medicina"

"Mal de morte não tem jeito, e o que não é, se cura com água do pote" (d)

"Quando Deus quer, água fria é remédio"


Álcool  | Tabaco  | Vinho

"A cachaça tira juízo, mas dá coragem" (d)

"A mulher e o vinho tiram o homem do seu juízo"

"Abafa-te, abifa-te e avinha-te" (a)

"Afoga-se mais gente em vinho do que em água"

"Antes embebedar do que constipar"

"Baco, tabaco e Vénus reduzem o homem a cinzas" (b)

"Bebe vinho mas não bebas o siso"

"Beber vinho mata a fome"

"Cada bucha sua pinga"

"Carne de ontem, peixe de hoje, vinho do outro verão fazem o homem são"

"Do vinho e da mulher livre-se o homem se puder"

"Haja saúde e dinheiro para vinho"

"Isso é birra: quem toma tabaco espirra"

"Livra-te de mau vizinho e de excesso de vinho"

"Mais pessoas se afogam no copo do que no mar"

"Malandro não tem vícios, só fuma e bebe quando joga" (d)

"Na taberna enquanto bebes, na igreja enquanto rezas"

"Nada escapa aos homens senão o vinho que as mulheres bebem"

"Nem vinho sem Cristo nascer nem laranja sem Cristo morrer"

"O beijo é como o cigarro, não sustenta mas vicia" (d)

"O bom vinho arruina o bolso; o mau, o estômago"

"O cigarro adverte: O Governo é prejudicial à saúde" (d)

"O homem que vive na taberna acaba por morrer no hospital"

"O pródigo e o bebedor de vinho nunca têm casa nem moinho"

"O vinho faz mal aos homens quando são as mulheres que o bebem"

"Onde entra o vinho sai a razão"

"Quando a cachaça desce, as palavras sobem" (d)

"Quem tiver paixão tome tabaco"

"Tabaco e aguardente transformam os sãos em doentes"

"Tabaquear o caso"

"Três coisas enganam o homem: as mulheres, os copos pequenos e a chuva miúda"

"Três coisas mudam o homem: a mulher, o estudo e o vinho"

"Um copo de vinho por dia mantém o médico à distância"

"Vinho e medo descobrem o segredo"

"Vinho, mulheres e tabaco põem o home fraco"

"Vinho que baste, casa que farte, pão que sobre e seja eu pobre"

"Vinho sobre melancia faz pneumonia"

Alimentação | Frugalidade | Nutrição Saudável

"A fome é a melhor cozinheira"

"Anda quente, come pouco, bebe assaz e viverás"

"Aquilo que sabe bem ou é pecado ou faz mal"

"Barriga cheia, cara alegre"

"Boca que apetece, coração que deseja"

"Carne que baste, vinho que farte, pão que sobre"

"Come como são e bebe como doente"

"Come para viver, pois não vives para comer" (Séc. XVII)

"Come que a hora de comer é a da fome" (Séc. XVII)

"Das grandes ceias estão as covas cheias"

"De fome ninguém morreu, mas sim de muito que comeu"

"Gordura é formosura"

"Gota é mal de rico; cura-se fechando o bico"

"Mais cura a dieta que a lanceta"

"Mais mata a gula que a espada"

"Menino bolsador - menino engordador"

"Moças, quem vos deu tão ruins dentes ? Água fria e castanhas quentes"

"Morra Marta, morra farta"

"Morre o peixe pela boca" ou "Pela boca morre o peixe"

"Na casa desta mulher come-se tudo o que ela der"

"Nem sempre galinha nem sempre sardinha"

"O menino engorda para crescer e o velho para morrer"

"Para longa vida regra e medida no beber e na comida"

"Pede o guloso para o desejoso"

"Por cima de comer nem um escrito ler"

"Quem caga e come não morre de fome"

"Quem não é para comer, não é para trabalhar"

"Se queres enfermar, ceia e vai-te deitar"

"Se és velho comilão encomenda o teu caixão"

"Ter mais olhos que barriga"

"Vinho que baste, casa que farte, pão que sobre e seja eu pobre"


Alimentos (Carne, Peixe, Fruta, etc.) | Higiene Alimentar


"A carne de um ano e o peixe de dez"

"A laranja de manhã é ouro, à tarde prata e à noite mata"

"Azeite de oliva todo o mal tira"

"Carne de ontem, peixe de hoje, vinho do outro verão fazem o homem são"

"Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a doente"

"Comer verdura e deitar má ventura" (Séc. XVII)

"Comer pinhões antes de chover dá sezões"

"Depois de Maio a lampreia e o sável dai-o"

"Dia de São Silvestre (b), não comas bacalhau que é peste"

"Fiambre e fiado sabem bem e fazem mal"

"Laranja antes do Natal livra do catarral"

"Livre-te de fruta mal sazonada que é peste disfarçada"

"Milhafre em Janeiro escusa capão de poleiro"

"Não comas cru, nem andes com o pé nu"

"O coelho e a perdiz, uma mão na boca e outra no nariz"

"Pão durázio, caldo de uvas, salada de carne e deixa a medicina"

"Peixe não puxa carroça"

"Pela boca morre o peixe" (Séc. XVI)

"Pobre só come carne quando morde a língua" (d)

"Porco fresco e vinho novo, cristão morto"

"Quem come salgado, bebe dobrado"

"Raia em Maio, tumba à porta"

"Se queres o marido morto, dá-lhe couve em Agosto"

"Todas as indigestões são más e a da perdiz é péssima"

"Um copo de vinho por dia mantém o médico à distância"

"Uvas, pão e melão é sustento de nutrição"


Ambiente | Ar | Clima

"A vassoura limpa a casa mas é o sol que mata os micróbios"

"A velho muda-lhe o ar, vê-lo-ás acabar"

"Casa onde não entra o sol entra o médico"

"Come caldo, vive em alto, anda quente, viverás longamente" (Séc. XVII)

"Dia frio e dia quente fazem andar o homem doente"

"Livra-te dos ares, que eu te livrarei dos males"

"No quente é que se cura a gente"

"Respirar mau ar é beber a morte"

"Se queres viver são, anda quente, come pouco, vive em alto"

"Tarde fria, dia quente, põem um homem doente"

"Um ar purgado - morte no cabo"


Casa | Habitação


"Casa em que caibas, vinha quanto bebas, terra quanto vejas"

"Casa onde não entra o sol entra o médico"

"Casa sem luz, tumba de vivos"

"Deus te dê saúde e gozo e casa com quintal e poço"

"Dormir com a janela aberta - constipação quase certa"

"Na casa se vê quem tem maleitas"

"Onde entra o sol não entra o médico"

"Quem quiser medrar viva em pé de serra ou poto de mar"

"Se a tua casa é húmida abre conta na botica"


Corpo | Higiene | Peso | Excretos !| Retentos

"Gordura é formosura"

"Mijar claro - dar uma figa ao médico"

"O que a boca apetece o coração deseja"

"O rabo sempre cheira ao que larga"

"Pés quentes, cabeça fria, boa urina - merda para a medicina"

"Quando em casa engorda a moça, ao corpo o baço e ao rei a bolsa - mal vai a coisa"

"Quem ao ano andou e aos dois falou bom leite mamou"

"Quem bem urina escusa medicina"

"Quem grande peido dá do cu se atreve"

"Quem má boca tem má bostela faz"

"Quem se lava e não se enxuga toda a pele se lhe enruga"

"Quem sofre de coração não tome banho suão"

"São peidar faz bom jantar" (Medieval) (e)

"Se queres que o teu filho engorde e cresça, lava-lhe o corpo e rapa-lhe a cabeça"

"Se queres ter um corpo são, lava-te com água e sabão" ou "se queres ter um corpo são, lava-te com água de erva montão"

"Tripa cheia nem foge nem peleja"


Prevenção da doença | Promoção da saúde

"Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz não faças o que ele faz"

"Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém"

"Coração alegre é melhor que botica"

"Mais vale a saúde que o dinheiro" ou "Mais vale saúde boa que pesada bolsa"

"Mais vale perder um minuto na vida do que a vida num minuto"

"Mais vale prevenir que remediar"

"Mais vale um pé no travão do que dois no caixão"

"Melhor é curar gafeira que casa inteira"

"Não há dinheiro que pague a saúde"

"Nem com cada mal ao médico, nem com cada dúvida ao letrado"

"O homem velho é médico de si"

"Para longa vida boa regra e boa medida"

"Para longa vida regra e medida no beber e na comida"

"Pés quentes, cabeça fria, coração bom, ventre desembaraçado e desprezar medicina"

"Pés quentes, cabeça fria, cu aberto, boa urina - merda para a medicina"

"Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga"

"Quem bem vive, bem morre"

"Quem bem urina, escusa medicina"

"Só se sabe o que é a saúde quando se está doente"

"Tenhamos saúde e paz e teremos assaz"

"Usa cama de frade e mesa de pobre, terás saúde que farte e alegria que sobre"

"Vale mais prevenir do que remediar"

"Vale mais uma onça de cautela que uma arroba de botica"

"Vida de porco, curta e gorda"

"Vive o pastor com a sua rudeza e morre o físico que a física reza"


Sono | Vigília

"De longos sonos e grandes ceias estão as sepulturas cheias"

"Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer"

"Levanta-te às seis, almoça-te às dez, jantarás às seis, deita-te às dez: viverás dez vezes dez"

"O braço quer peito e a perna quer leito"

"Quatro horas dorme um santo, cinco o que não é santo, seis o estudante, sete o caminhante, oito o porco e nove o morto"

"Se não és de bronze deita-te às onze"

"Se queres enfermar, ceia e vai-te deitar"

"Se queres enfermar, lava a cabeça e vai-te deitar"

"Usa cama de frade e mesa de pobre - terás saúde que farte e alegria que sobre"


Paixões da alma | Gestão do stress

"A boa vida não quer pressa"

"A ferrugem gasta o ferro e o cuidado o coração"

"A quem dorme descansado dorme-lhe o cuidado"

"A razão é fruta do tempo, as paixões são de todo o momento"

"Boca, que queres; coração, que desejas?"

"Desejo e satisfação raro de acordo estão"

"Homem apaixonado não quer ser aconselhado"

"Não corre mais o que caminha, mas sim o que mais imagina"

"O ventre sacia-se, os olhos não"

"Quem canta seu mal espanta"

"Quem come a correr do estômago vem a sofrer"

"Quem mais tem mais quer"

"Quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos"

"Quem se ralou já morreu"

"Quem tem cu tem medo"

"Quem tem saúde e liberdade é rico e não o sabe"

"Quem tiver paixão tome tabaco"

"Quem vai muito depressa pode quebrar a cabeça"


Trabalho | Capital ! Trabalho & Saúde

Capital

"Aonde oiro fala, tudo se cala"

"Deus ajuda a quem trabalha, que é o capital que menos falha"

"Tempo é dinheiro"

"Um tem a bolsa, outro o oiro, e assim vai andando o mundo"

Trabalho

"A martelada do mestre vale por mil das dos operários"

"Bendita a ferramenta que pesa mas alimenta"

"Dá ofício ao vilão, conhecê-lo-ão"

"Há mais aprendizes que mestres"

"Janeiro, gear; Fevereiro, chover; Março, encanar; Abril, espigar; Maio, engrandecer; Junho, aceifar; Julho, debulhar; Agosto, engravelar; Setembro, vindimar; Outubro, revolver; Novembro, semear; Dezembro, nasceu Deus para nos salvar"

"Madruga e verás, trabalha e terás"

"Mais vale bom administrador do que bom trabalhador"

"Mais vale um bom mandador que um bom trabalhador"

"Mão de mestre não suja ferramenta"

"Mãos de oficial, envoltas em sandal"

"Mineiro, nem a prazo nem a dinheiro"

"Na casa deste home quem não trabalha não come"

"O boi pega no arado mas não por seu grado"

"O Verão colhe e o Inverno come"

"Oficial tem ofício e al"

"Para gozar eu; para trabalhar um irmão que Deus me deu"

"Para homem dado ao trabalho não há dia grande"

"Para o trabalho se chama uma, duas ou três vezes; para comer uma só"

"Quando o mestre canta boa vai a obra"

"Quanto mais patrão mais cabrão"

"Quem ao moinho vai enfarinhado sai"

"Quem não poupa a lenha, não poupa nada que tenha"

"Quem não tem ofício não tem benefício"

"Quem não trabuca não manduca" (do latim: Qui non laborat, non manducet )

"Quem poupa seu mouro poupa seu ouro"

"Quem sabe de luta luta e quem não sabe labuta"

"Saber muitas artes é ter pouco dinheiro"

"Semeia e cria, viverás com alegria"

"Sete ofícios, catorze desgraças"

"Só trabalha quem não sabe fazer mais nada"

"Trabalhar a seco"

"Trabalhar de jornal"

"Trabalhar é bom pró preto"

"Trabalhar para aquecer"

"Trabalhar para aquecer, é melhor morrer de frio"

"Trabalhar para o boneco (para o bispo)"

"Trabalho de menino é pouco, quem não o aproveita é louco"

"Trabalho se fez para burro e português" (f)

Trabalho & Saúde

"A tarefa que agrada é depressa acabada"

"É preciso ser doido para trabalhar aqui"

"Não há trabalho sem trabalhos"

"O trabalho dá saúde"

"O trabalho não mata ninguém"

"Se o trabalho dá saúde que trabalhem os doentes" (g)

"Tendo saúde e comendo bem, o trabalho não mata ninguém"

"Trabalha como se vivesses sempre; ama como se fosses morrer amanhã"

"Trabalhar como um animal (um cão, um boi, um touro, um burro, um leão, um cavalo, etc.)

"Trabalhar como um escravo (um mouro, um negro, um preto)"

"Trabalhar que nem um boi"

"Trabalhar que nem um galego"

"Trabalhar que nem um mouro"

"Trabalhar que nem uma puta"

"Trabalhar que nem um touro"

"Trabalhar sem comer é cegar sem ver"

"Trabalho com gosto alegria no rosto"

"Trabalho é meio de vida e não de morte"

"Trabalho é caminhar a cavalo, que a pé é morte"

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(a) Receita tradicional para combater a gripe; (b) Rifão italiano (Amaral, 1994); (c) 31 de Dezembro

(d) Ditado brasileiro: Vellasco (1996) (e) Mattoso (1987) (f) Brasil

(g) Ou como dizem os franceses: "Si le travail c'est la santé, à quoi sert alors la médecine du travail ?" (Se o travbalho dá saúde, para que serve afinal a medicina do trabalho?)

(Bibliografia a apresentar no final da série)

(Continua)

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Notas do editor:

Último poste da série > 12 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24550: Manuscrito(s) (Luís Graça) (226): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IVB: Enfermagem, Misoginia e Sexismo

Ver postes anteriores:

20 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24328: Manuscrito(s) (Luís Graça) (225): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IVA: Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras

4 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24281: Manuscrito(s) (Luís Graça) (223): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte III C: Contestação da Iatrogénese, da Medicina Defensiva e do Encarniçamento Terapêutico

3 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24189: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IIIB: Quando o pobre come frango, um dos dois está doente

28 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24173: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIIA: Hospital, o triunfo da hospitalidade e da caridade... mas "o peixe e o hóspede ao fim de três dias fedem"

23 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24164: Manuscrito(s) (Luís Graça) (218): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIB: "Com malvas e água fria faz-se um boticário num dia"

20 de março de 2023 Guiné 61/74 - P24155: Manuscrito(s) (Luís Graça) (217): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIA: 'Deus Cura os Doentes e o Médico Recebe o Dinheiro"

17 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24148: Manuscrito(s) (Luís Graça) (216): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte I: "Muita saúde, pouca vida, porque Deus não dá tudo"

Guiné 61/74 - P25025: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte VI: a representação gráfica do "Ano Novo" de há 100 anos, 1924: a ilusão da fénix renascida, o mito da eterna juventude, do eterno retorno...

 


Capa da "Ilustração Portuguesa", 2ª Série, nº 933, Lisboa, 5 de janeiro de 1924. Cortesia da Hemeroteca Digital de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa


1. Eis a representação gráfica da chegada do Ano Novo, há 100 atrás. Uma menina, com o fenótipo nórdico,  de olhos azuis,  e gorro de peles, olhando-se ao espelho... Ainda hoje celebramos, mais ou menos nos mesmos termos, a entrada do Ano Novo, em pleno inverno, a estação da chuva e do frio. 

 "Ano Novo, vida nova". Em Lisboa havia a tradição, na primeira noite do ano, de se lançar, pela janela,  para a rua,  toda a tralha velha que se ia acumulando em casa.  Era o mito da fénix renascida,  a doce ilusão da eterna juventude, o engano do eterno retorno... Na realidade, o que se passa é que rasgamos mais uma folha do calendário, enquanto o relógio biológico continua a trabalhar, inexorável...

Por outro lado, o espelho nas diversas culturas humanas têm diversas funções: não só a de retratar a dura realidade, como também uma função adivinhatória, a de prever o futuro... E em 1924, o futuro (do país e do mundo) estava longe de ser risonho...apesar de se estar em plenos "loucos anos vinte"...

A "Ilustração Portguesa" era uma publicação luxuosoa para a época, que fazia recurso aos melhores fotógrafos de então. Era uma edição semanal do jornal "O Século", propriedade da "Sociedade Nacional de Tipografia". O diretor era o António Maria Lopes.  Um número avulso custava um escudo (1$00).

E logo a sguir, entre a capa e a página 1, vem a publicidade, com destaque para os médicos e as videntes que prometem a saúde, a felicidade, o sucesso e a imortalidade... Cem anos depois parece que o mundo mudou pouco, neste capítulo...



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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P25015: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte V: O CEP que partiu para França, em 1917, em barcos ingleses, mal equipado, mal calçado...

domingo, 31 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P25024: Manuscrito(s) (Luís Graça) (242): De que nos servem os "anjos da guarda" se os que estão de serviço ao presépio deixam roubar o Menino Jesus em Vila Nova de Cerveira ? Não tenho nenhum alibi, mas juro que não fui eu que o roubei...






Vila Nova de Cerveira > 28 de dezembro de 2023 > Presépio, sem o Menino Jesus,  junto á igreja matriz local, também conhecida por igreja de São Cipriano (na foto acima, vista do Jardim Mestre José Rodrigues, Escultor, 1936-2016)

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 


1. Viajando, "amuletado" e tristonho, pelo Alto Minho, na semana de dilúvio pós-natalícia, achei-me de repente numa praça, vazia,  de Vila Nova de Cerveira onde se erguia, na parede exterior da igreja matriz local, um presépio à escala humana. 

De máquina fotográfica a tiracolo, ali largado, sem grandes ideias nem expetativas, na rua principal da "Vila das Artes", despertou-me o presépio  a curiosidade de turista estúpido em férias... e fui lá espreitar. 

Tirei meia dúzia de  chapas. E só agora, de regresso a casa, na Madalena, Vila Nova de Gaia, ao visionar as fotografias que tirei na minha Nikon D-5300, comprada em Tóquio mas "made in Thailand", é que dou conta que a figura principal deste teatro sagrado estava ausente.  Na primeira foto, que publico acima, é bem visível  que o Menino Jesus não está no seu berço improvisado com as palhinhas da manjedoura do burro e da vaca,,,,

Pensei logo: algum engraçado da terra terá levado para casa, de noite, a imagem do Menino Jesus, para desgosto, no dia seguinte de manhã, da "canalha", do padre, da comissão fabriqueira, das beatas e do vereador do pelouro do turismo... (E até do burro, de orelhas espetadas,  sem esquecer  o pobre Baltazar que veio de longe, quiçá da Guiné, para trazer ao novo  Rei dos Reis a mirra, símbolo da imortalidade.)

Brincadeira, reinação, vandalismo, malvadez ?!...  Parece que todos os anos há cenas destas em Espanha. Roubam e sequestram o Menino Jesus, na Catalunha, por pirraça, bravata ou até com a intenção, já criminosa,  de pedir um resgate... E agora com as redes sociais, estas cenas são rapidamente imitadas...

Não sei se  foi o caso em Vila Nova de Cerveira, pacatíssima terra raiana onde vi poucos indígenas, e os raros de que  me aperecebi, em noite fria e chuvosa, num tasco, eram vizinhos galegos, em geral famílias, alegres e ruidosas,  que vieram  ao lado de cá do rio Minho para "tapear"... (Já não há o escudo nem a peseta, mas o raio do euro vale mais na margem direita do rio, pelo que os comes & bebes na margem esquerda são mais baratos.)

Fiquei deveras intrigado e até preocupado. Será que as autoridades lá da terra  (religiosas, autárquicas e policiais)  já deram conta do misterioso desparecimento do Menino Jesus, que era pressuposto estar nas  suas palhinhas deitado, e fortemente guardado por um "securitas" celestial  ?  

E se alguma beata, pela frincha da janela, me viu rondar o presépio e até tirar fotografias, com o meu ar estranho, suspeito e até louco ? Para mais com duas muletas, barba e cabelo comprido, não é difícil à PJ fazer-me um rápido-robô e depois ir, com mandato judicial na mão,  bater-me à porta da rua dom Afonso Henriques, na Madalena, onde procurei abrigo provisório por estes dias tristes, em fim de ano amargo como foi o de 2023... 

"Estou feito ao bife!"...  e ainda passo as festas do Ano Novo com termo de residência e identidade ou até pulseira eletrónica,,,  Enfim, não foi nada que não me tenha passado pela minha pobre cabeça!...Ou então foi algum pesadelo securitário que tive esta noite, fruto das pesadas digestões da quadra natalícia.... 

Daí apressar-me agora, a escassas duas horas do fim do ano,  para, publicamente, neste blogue de antigos combatentes da Guiné, protestar a minha inocência... Dormi em 28 e 29 de dezembro de 2023 num hotel por ali perto,  junto ao rio Minho, não tenho nenhum alibi, mas juro que não fui eu que roubei o Menino Jesus do Presépio da "Vila das Artes"...  

Só me resta desejar um noite descansada para aqueles que, na nossa terra e na nossa democracia, zelam pela nossa segurança, próxima, mediata e remota... E que para o ano sejam tão bons ou melhores zeladores  e guardiões  que o "anjo da guarda da minha companhia" que, na minha infância , me guardava  "de noite e de dia". Ámen.  

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P25003: Manuscrito(s) (Luís Graça) (241): o meu primeiro Natal no Norte, em 1976

Guiné 61/74 - P25023: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XLII: ten art Ernesto Luiz Lemonde de Macedo (Lisboa, 1892 - Quelimane, Moçambique, 1918)


Ernesto Luiz Lemonde de Macedo (1892 - 1918)


Nome: Ernesto Luiz Lemonde de Macedo

Posto: Tenente de Artilharia

Naturalidade: Lisboa

Data de nascimento: 23 de Maio de 1892

Incorporação: 1914 na Escola de Guerra (nº 39 do Corpo de Alunos)

Unidade: Regimento de Artilharia de Montanha

Condecorações: Promovido a Capitão por distinção, a título póstumo

TO da morte em combate: Moçambique

Data de Embarque: 31 de Março de 1917

Data da morte: 22 de Julho de 1918

Sepultura: Quelimane - Moçambique

Circunstâncias da morte: A força de segurança afastada de Quelimane, posicionada na zona de Nhamacurra, foi atacada pela guerrilha alemã pelas 15 horas de 1 de Julho tendo como primeiro objectivo a posição das bocas de fogo de artilharia comandadas pelo Tenente Lemonde que as defendeu com bravura e destemor até ser gravemente ferido. Evacuado para Quelimane faleceu em 22 de Julho.



António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem


1. Fim da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola (n=5), Moçambique (n=6) e França (Flandres) (n=20), num total de 31. Na nossa série, houve de um erro de numeração: saltámos da parte XIX para a parte XXX ( erro esse que ainda não foi corrigido). (*)

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

Agradecemos a este ilustre militar, que nos honra com a sua presença (ativa) na Tabanca Grande, o nos ter faculdade, em formato ebook, o resultado da sua laboriosa e altamente meritória pesquisa. Num blogue como o nosso de antigos combatentes, temos a obrigação (pelo menos moral) de lembrar aqueles que morreram pela Pátria, bem longe de casa. 
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Guiné 61/74 - P25022: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XLI: ten inf Viriato Sertório da Rocha Portugal Correia de Lacerda (Oeiras, 1887 - Serra de Mecula, Moçambique, 1917)



Viriato Sertório da Rocha Portugal Correia de Lacerda (1887-1917)


Nome: Viriato Sertório da Rocha Portugal Correia de Lacerda

Posto: Tenente de Infantaria

Naturalidade: Oeiras

Data de nascimento: 2 de Janeiro de 1887

Incorporação: 1909 na Escola do Exército (nº 38 do Corpo de Alunos)

Unidade: Regimento de Infantaria n.º 21

Condecorações: Promovido a Capitão por distinção (a título póstumo)

TO da morte em combate: Moçambique

Data de Embarque: 7 de Outubro de 1915

Data da morte: 8 de Dezembro de 1917

Sepultura: Alto da serra de Mecula

Circunstâncias da morte: Morreu numa trincheira combatendo bravamente na serra de Mecula ao 5º dia de combate intenso com as tropas alemãs. No assalto final foi atingido por fogo inimigo quando tentava inutilizar a sua metralhadora. Assim morreu o famoso chefe dos sipaios do Niassa.




António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem


1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

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Guiné 61/74 - P25021: Bombolom XXX (Paulo Salgado): Como a Guerra é (re)contada

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor dos livros, "Milando ou Andanças por África""Guiné, Crónicas de Guerra e Amor" e "7 Histórias para o Xavier", com data de 29 de Dezembro de 2023:

Meus Caros Camaradas,
Desejo a todos os editores do nosso Blogue, e a todos os que nele participam, Bom Ano de 2024.
Uma saudação de camaradagem e o pedido de bombolarem o meu bombolom.
Paulo Salgado



O meu Bombolom

Como a Guerra é (re)contada

Olossato, 1970 - O Alf Mil Op Esp Paulo Salgado - Foto: © Paulo Salgado


N
um dos encontros que a Companhia de Cavalaria 2721 tem realizado, pela mão de um grande camarada, para lembrar a camaradagem e a solidariedade que se construíram em tempo de guerra, dizia-me um ex-militar, graduado, face às histórias que cada um ia narrando:
- Eh pá, pelo que ouço nestes nossos encontros, dá-me a impressão que não estivemos na mesma guerra, no mesmo local, que percorremos os mesmos caminhos, que sofremos as mesmas emboscadas, que estivemos sujeitos aos mesmo bombardeamentos, sofrendo as mesmas vicissitudes!

Perante o meu espanto, prosseguiu:
- Não te admires, camarada. Participei, como te lembras, numa grande operação, houve barafunda, tiroteio forte, confusão, no meio da mata, feridos, alguns graves, evacuações. Pois bem, chegados ao aquartelamento, ouvi diferentes versões, inclusive sobre o que decidi, sobre as ordens que dei, sobre a minha intervenção. E aqui, nestes encontros, dezenas de anos depois, ouço versões diferentes, por vezes contraditórias. Isto é do caraças…!

Calado fiquei por breves instantes. Porém adiantei:
- Claro que me aconteceu uma situação similar, alguns meses despois, ao episódio que focaste. Um camarada lembrava que teria havido uma manobra mal feita pelo grupo (a que eu pertencia) que fazia a segurança ao grupo que retirava do golpe de mão, e que teria deixado passar o IN. E falava com uma certeza impressionante. Foi contraditado na altura, mas ainda hoje, mantém a mesma versão… Até posso afirmar que os camaradas que habitualmente seguiam à frente comigo nos patrulhamentos contarão os factos diferentemente uns dos outros, e de mim, naturalmente... sempre que o perigo era pressentido ou quando havia contactos…

Ouvindo a conversa nesta amena cavaqueira, logo um outro veio afirmar:
- Não foi assim que se passaram as coisas. É preciso lembrar que o IN sabia muito bem contornar as situações… o grupo que fazia a segurança (os “aguentas”), procedeu da forma correcta. Obviamente, ambos não chegaram a acordo, e cada qual ficou com a sua.

Não liguei muito ao caso sobre o foco de cada um. Nem ligo, hoje. Por duas razões.

Primeira: vivi intensa e criticamente o tempo em que estive na guerra, esforcei-me por dar o meu melhor em contribuir para todos regressarmos, o que infelizmente não sucedeu: dois mortos e alguns feridos. Escrevi notas, escrevi cartas, poetei alguma coisa, li alguns livros, comandei a companhia durante alguns meses, bem ou mal, construímos um jornal, jogámos futebol, passámos fome e sede, até fizemos operações helitransportados, fiz exames da quarta classe aos jovens, contactei e respeitei a população dentro da filosofia que o capitão imprimiu... Colaborei na feitura da História da Companhia. Fui louvado.

Segunda: por convite e convicção, fui cooperante na República da Guiné-Bissau vinte anos depois do 25 de Abril. Ao revisitar o “local” (por diversas vezes, uma delas com o cabo Moura Marques (grande soldado, meu convidado no Bairro da Cooperação, cerca de 35 anos depois), fui reconhecido pelos soldados feitos milícias. Calcorreei grande parte daquele País, acompanhado pela minha mulher, namorada na altura da guerra. Vi homens e mulheres, alguns eram crianças…! – agora libertos do jugo colonial e da força das armas. Pelo serviço prestado, foi-me concedido um diploma de honra ao mérito pelo poder instituído no País. Poucos haverá que tenham sido louvados pelos dois lados – já agora.

Para trás, os detalhes, as histórias narradas que me deram lastro para escrever (narrativa histórica ficcional) sobre alguns momentos e episódios. Sem falar da guerra, propriamente. As cartas, as abundantes cartas, que a minha mulher guardou, raramente falavam de episódios de guerra… Estão conservadas para a memória dos meus descendentes, se tal lhes aprouver.

A História é assim: cada um rememora-a como a sentiu e viu e viveu. Desta guisa, fizeram Cadamosto, Tristão da Cunha, Nola, Diogo Cão, Bartolomeu Dias… E, em especial, os cronistas, que vale a pena ler: Zurara, Rui de Pina, o grande Damião de Góis... Também Albuquerque, Duarte Menezes, entre outros, no Oriente. Em pleno século XIX, Livingstone, Serpa Pinto, Silva Porto (que foi espezinhado pelo inglês…) e outros exploradores narraram as suas andanças pelo continente africano. De forma diversa. Basta compulsar os livros. Até hoje. Repare-se: se perguntarmos aos soldados que estiveram em cima das chaimites, comandados por Salgueiro Maia, cada um conta à sua maneira o que viu no Largo do Carmo… Cada um conta a história à sua maneira, ou, se quisermos, como a viveu, e de acordo com a sua perspectiva. É a força da emoção e da percepção havida no momento, camaradas.

Nos meus livros, as crónicas são ditadas de acordo com o que e como eu vivenciei ou me contaram… mas sempre baseado em factos e personagens verídicos.

Ora, envolvermo-nos em histórias orais da natureza que introduz este desabafo é sinal de pouca clarividência, de pouca lucidez: não foi assim, dirão uns; não, estás enganado, responderão outros… Em História, podemos afirmar o seguinte: os historiadores baseiam-se em fontes, que podem ser de natureza diversa: escritas, orais, materiais… O narrador é a voz que narra os acontecimentos, faça ou não parte, como personagem, da trama.

Nós, que participámos no “teatro” (designação tão interessante esta!) da Guerra Colonial, somos narradores personagens, em primeira pessoa, portanto, relatamos os factos como participantes dos acontecimentos. E descrevemo-los segundo perspectivas que são diferentes, muitas vezes enviesadas, distorcidas, não adrede, claro.

Mas é bom que fiquem as memórias – a chamada Literatura Memorialista.

Saudações, camaradas. Bom ano. Com calor humano. Calor humano, tal como o recebi do povo nas minhas andanças em tempo de liberdade. E, também, em tempo de guerra, quando, sabem Deus e Alá a razão, as mulheres e as crianças sofriam tanto, quando o grande Suleiman me livrou de ter pisado duas minas antipessoal e me protegeu tantas vezes! A minha paga foram as vezes que o visitei no Olossato e quando o procurei ajudar no Hospital Nacional Simão Mendes, onde assisti à sua morte, serena morte, a morte de um soldado que lutou por uma Pátria (?!) que não o soube tratar como devia, a ele e a tantos…

Paulo Salgado
28.12. 23

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE NOVEMBRO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21591: Bombolom XXIX (Paulo Salgado): "Dezasseis anos depois", um poema meu, que li em Santarém, no encontro anual da CCAV 2721, em Abril de 1986, onde esteve presente no final do almoço o Salgueiro Maia (1944-1992)

Guiné 61/74 - P25020: No céu não hã disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (44): Bombons de Aguardente DOC Lourinhã e Tarte D. Isabel, da marca "Doce Lourinhã"

 

A tarte Dona Isdabel, um dos ex-libris da doçaria da Lourinhã .... Neste Natal trouxemos meia-dúzia de tartes para os fãs do Norte...

Os Bombons de Aguardente DOC Lourinhã... São de "morrer e chorar por mais"...

Imagens: cortesia de  www.docelourinha.pt


1. Em matéria de "comes & bebes" (*), nada como acabar o amargo ano de 2023 com uma fatia da tarte D. Isabel e um bombom "Doce Lourinhã"... 

São duas obras-primas, confeccionadas pela nossa amiga e conterrânea, a "chef" Sílvia Baptista, que tem mãos de ouro... É também ela a dona de Pastelaria e Bombonaria "Doce Lourinhã" e da Garrafeira "O Casco"...

Passe a publicidade... Fica na Rua Dr. Francisco de Sá Carneiro, Lt 22 R/Ch Dto. 2530-108 Lourinhã

Tel.: +351 910 121 280 (pastelaria) | Tel.: +351 918 710 871  (garrafeira).

Tem página no Facebook. E aceita encomendasd "on line".

Para saber mais aqui fica o sítio da Doce Lourinhã. Lê-se no sítio:

  • Os Bombons Artesanais “Doce Lourinhã” são confecionados com produtos de excelência. Como o Chocolate “VALRHONA”, considerado o melhor chocolate do mundo,  e a “Aguardente DOC Lourinhã”, única em Portugal.
  • Tarte D. Isabel | Esta saborosa tarte é confecionada com farinha selecionada, ovos frescos, Abóbora de qualidade e uma cobertura de Pevides que lhe dá um sabor único, original e inconfundível.
 
2. A Tarte D. Isabel concorreu, em 2019, às "7 MARAVILHAS DOCES DE PORTUGAL"

Lê-se na páginma do Facebook da Doce Lourinhã, em postagfem de 19 de março de 2019

(...) A Doce Lourinhã submeteu a inscrição da TARTE D. ISABEL a mais uma edição do programa 7 Maravilhas de Portugal, promovido pela RTP, e que este ano é dedicado ao melhor que se faz na doçaria tradicional portuguesa.

Intitulado 7 Maravilhas Doces de Portugal, o programa e a sua organização destacam como factores distintivos o produto endógeno, a marca da terra, a preservação da qualidade dos ingredientes, promovendo assim a capacidade que o país tem de inovar e de se reinventar nas suas tradições. Tendo como base estes critérios, está inscrita para a concurso na categoria Doces de Inovação.

* A Tarte D. Isabel resulta na boca num estaladiço inicial dando valor justo à pevide de abóbora tostada, caramelizada obtendo várias emoções na sua consistência e sabor equilibrado. No final um suave doce adequado da sua massa areada com recheio de abóbora.

* Segundo as estatísticas das 44 mil toneladas de abóboras produzidas na Região Oeste, cerca de 74% é armazenada e comercializada por empresas localizadas no concelho da Lourinhã, sendo o concelho com maior importância nacional ao nível da produção de abóbora. Existem cerca de 1500ha de abóbora na região, cerca de mil ha estão na Lourinhã. Esta é uma das razões pela qual o desafio de utilizar a Abóbora no seu todo na confeção da Tarte D. Isabel.

Além disso o seu nome foi em homenagem a Isabel Mateus. Co-fundadora da associação que criou o Museu da Lourinhã, que em Paimogo, Lourinhã descobriu e estudou um dos maiores e mais antigos ninhos de dinossauros do mundo, com ovo e embriões, colocando assim a Lourinhã no mapa mundo da paleontologia. Autora do primeiro esboço para a construção de um novo museu que vinte anos mais tarde culminou na criação do DinoParque Lourinhã. Eleita personalidade do ano 1997 (Revista Expresso). Recebeu também um prémio de reconhecimento em 2017 (ADL- Associação Desenvolvimento Lourinhã) e medalha municipal de Honra, classe Ouro em 2018 (Câmara Municipal da Lourinhã)"

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de deembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24988: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (43): Arroz de moiras com grelos ("Chef" Alice)

Guiné 61/74 - P25019: In Memoriam (491): O Nuno Rubim (1938-2023) que eu conheci nos Comandos do CTIG, de junho a dezembro de 1965 (Virgínio Briote)

 

Capitão Art Nuno Rubim, o "cvapitrão fula" o tempo da CCAÇ 726 (Guileje, Mejo, Cachil, Catió, Out 1964/Jul 1966). Esta subunidade teve quatro comandantes, o último foi o cap art Nuno José Varela Rubim.

Foto: © Nuno Rubim (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legenbdagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

CTIG > Companhia de Comandos > Cartão de Identificação > Cartãonbº 03 > Gr Sang > "A" >Grupo "Diabólicos" > Posto > Alferes Mil  > Nome > Virgínmio António M. da SWilva Briote > O Comandante> Nuni J V Rubim, cap

Foto: © Virgínio Briote (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário (*) do nosso editor jubillado, Virgínio Briote (nascido em Cascais, frequentou a Academia Militar, foi alf mil em Cuntima, CCAV 489 / BCAV 490, entree janeiro e maio de 1965; fez  o 2º curso de Comandos do CTIG, de junho a setembro de 1965;  comandou o Grupo 'Diabólicos', de setembro de 1965 a setembro de 1966; regressou a casa em janeiro de  1967; asado com a Maria Irene Briote, professora do ensino csecundário; foi quadro superior da indústria farmacêutica; publicou entre janeiro de 2006 e junho  de 2009. o blogue  Guiné, Ir e Voltar: Tantas Vidas (entretantto descontinuado: pdoe ser visto aqui,no Arquivo.pt), parcialmente reproduzido no nosso blogue; foi editor lioyterário do livro de memórias do Amadu Bailo Djaló, publicado em 2010, pela Associação de Comandos; tem cerca de 280 referências, é autor,m entre outras. ,da série "Guiné, Ir e Voltar", de qwue se publicaram 27 postes, entre  junho d3e 2015 e janeiro de 2016.


Era do meu conhecimento que o estado de saúde do coronel Nuno Rubim vinha a degradar-se e era de esperar o desenlace a curto prazo.

Lamento a perda do meu antigo comandante que conheci em maio de 1965, e com quem privei até dezembro do mesmo ano.

Ambos fizemos parte de um grupo de cerca de 25 militares dos Cmds do CTIG, constituído por oficiais e sargentos e alguns militares guineesnses, entre os quais o Marcelino da Mata, o Abdulai Djaló, o Djmanca e talvez mais um ou dois militares. 

Durante cerca de dois meses que durou o curso, os nossos fins de semana, entre jun e set1965, foram passados no mato. A maior parte das vezes no Oio, que era muito próximo, e uma vez ao Piai (zona de Canquelifá).

Gostei de o ter conhecido, de ter privado com ele, e, naturalmente, a notícia da morte do cor  Rubim não me pode deixar indiferente.

V. Briote | 30 de dezembro de 2023 às 16:15 | (*)

2. Excertos dos escritos do Virgínio Briote, publicados no nosso blogue, sobre o Nuno Rubim (**):

(...) (xiv) Ponto da situação em Brá (***)

Os primeiros grupos, os 'Fantasmas', 'Camaleões' e 'Panteras', percorreram a Guiné de uma ponta a outra. Com o entusiasmo inicial, superaram tudo o que fossem dificuldades, empregaram-se a fundo, os resultados ultrapassaram as expectativas e eram vistos com muito apreço pelo Comandante Militar e pelo próprio Governador-Geral.

Olha vão ali os gajos dos Comandos, a maralha a olhar para eles. Sabe-se como é, ganharam fama e respeito pelo trabalho que fizeram e por aquilo que contaram também. As comissões individuais e as baixas em combate ou por doença, começaram a fazer estragos, os grupos ficaram mais pequenos, era necessário começar novo curso de quadros, aproveitar os resistentes e formar novos grupos.

O major Dinis fora entretanto promovido e regressou a Lisboa. Depois o capitão Rubim tomara conta do Centro e foi o que se sabe. Não por incompetência militar, operacionalmente até era bem competente. Talvez uma certa dificuldade ou falta de paciência no jogo diplomático dos corredores do QG. As questões prendiam-se com a logística e com o emprego operacional dos grupos.

Promessas e mais promessas. Resolveu bater com a porta, sem estrondo como era da sua maneira. Não se entenderam também uns com os outros, a história da Associação Comercial, os problemas disciplinares e os alferes também não ajudaram muito, a verdade tem que se dizer.

De baixa estatura, o corpo maciço escondia uma robustez física incomum. Espantava num tipo daqueles, o jeito que tinha para o desenho, para as pinturas, para tudo que metesse mãos. O tempo vago passava-o a montar modelos de peças de artilharia, carros de combate, aviões de sonho, militares e civis, navios de guerra, desde patrulhas a porta-aviões. Tudo pintado nas cores dos originais, os nomes e tudo. Na saída, deixou-lhe ficar um porta-aviões, as outras maravilhas levou-as todas.

Dois meses depois de ter tomado posse, o novo comandante de companhia estava a ver a história toda para trás, relatórios e actas nas mãos.

Analisara a organização, o quadro orgânico, os efectivos, o sistema de recrutamento, as instalações, a alimentação, a administração, fardamentos, cargas. O estado moral, físico e disciplinar do pessoal. Os oficiais, sargentos e praças, os materiais, a instrução durante e depois do curso, as operações em que intervieram, antes e depois da sua tomada de posse, a forma como os grupos estavam a ser utilizados, tudo a pente fino.

Apesar de ter poucos anos ainda como oficial, achava que, atendendo às circunstâncias próprias do povo português, o pessoal, entenda-se cabos e soldados, era quase sempre bom. Quando surgiam problemas, normalmente deviam-se à organização, frequentemente mal montada ou aos graduados, algumas vezes as duas coisas juntas. Neste caso dos Comandos da Guiné, os oficiais eram cruciais na organização, não se cansava de insistir.

Saía com eles para o mato, acompanhava-os na instrução, fazia-lhes ver a importância do papel deles na organização, moralizava-os, até os tempos livres aproveitava para os acompanhar.

Os alferes tinham colaborado e também neles sentiu a necessidade de falarem com ele. A agressividade incrível com que tinham sido formados e treinados, jovens de 20 e poucos! Como é possível que possam ter dois comportamentos tão distintos, no mato em contacto com o IN e umas horas depois com a PM (Polícia Militar) e a população civil na cidade?

E seria mesmo adequado que estivessem tão próximos de Bissau? Não seria mais sensato, e mais proveitoso até, que estivessem em Mansabá, em Nova Lamego, em Buba, ou num sítio desses? De quem fora a ideia, tê-los a meia dúzia de passos da cidade?

Em alguns casos, não tinha dúvidas, tinham sido mal orientados, deixados ao sabor da intuição de cada um, sem a mínima directiva. Até achava que o produto final era positivo e, se tivessem tido orientação, os problemas disciplinares que ocorreram não teriam existido.

Dos cinco alferes a que a companhia tinha direito, quatro comandantes de grupo e um adjunto, restavam-lhe agora dois, o sobrevivente dos chefes de grupo iniciais e o adjunto, o Caldeira, até então com mais experiência administrativa que operacional. E, pelo que tinha visto deles até agora, achava-os competentes, mereciam-lhe confiança, esperava que continuassem como até aqui na parte operacional, e se integrassem no seu estilo de comando. Contava com eles, eram as pedras base do edifício a reconstruir, dissera-lhes mais que uma vez.

No relatório inicial que fizera para o Comandante Militar, adiantara várias propostas, pensara até que com tantas dificuldades, de tanto lado, se calhar não seria má ideia extinguir os grupos. O Brigadeiro refutou com o argumento de que, apesar de todas as dificuldades, os grupos até então existentes eram os que mais contactos tinham tido com o IN e com mais material capturado até à data. Vira os resultados das tropas especiais que a 3.ª Repartição tinha preparado para o brigadeiro, comparou-os com os fuzos, os páras e com os anteriores grupos de comandos.

Contacto efectivo com o IN em mais de 80% das saídas para o mato. Ouvira o Brigadeiro dizer que não se podia esquecer que os Comandos, a maior parte das vezes, actuavam em áreas densas de IN, em grupos de 20 a 25 homens e às vezes menos, enquanto as outras forças não se metiam lá com efectivos inferiores a meia centena de homens.

Nem um por cento do efectivo total das NT na Guiné, quase 10% das baixas totais causadas ao IN. Extingui-los? Não, a saída deve ser outra, o Brigadeiro a decidir-se por outra solução, para aproveitar o pessoal que restava.

Concluíram a reunião assentando que deveria ser feito o recompletamento para manter o quadro orgânico, isolá-los em Brá, resolver a questão alimentar, ministrar o próximo curso e utilizar os grupos em operações específicas para Comandos e não para reforçar algumas guarnições em sector.

O capitão regressara encorajado, sentira o apoio que andava a reclamar. Depois mudou quase toda a organização administrativa, conseguiu mais praças para o recompletamento, arranjou cozinheiros, alimentação própria, obrigou-os a almoçar todos juntos, disciplinou as saídas, arranjou novas viaturas, melhorou as instalações, e conseguiu, o que não fora nada fácil, fazer aprovar as orientações e normas para o emprego dos grupos.

Agora, todo este tempo passado, achava que valera a pena, que tinha feito bom trabalho.
Os grupos melhoraram os resultados, os conflitos com a PM deixaram praticamente de ocorrer, nem um castigo fora necessário. (...)



Assinatura do Nuno J. V.  Rubim, cap art


(...) (xxvi) Uns continuaram nessas guerras, outros noutras 

(...) O capitão Rubim fez 4 comissões, num total de 9 anos em África. Nos anos de brasa envolveu-se ou foi envolvido pelos acontecimentos do 25 de Novembro, esteve preso em Custóias e em Caxias.

 Depois de ter passado à reserva dedicou-se àquilo que sempre o interessou, o estudo da história militar. Foi professor na Academia Militar, deu aulas a mestrandos nas Faculdades de Letras de Lisboa (Universidade Clássica) e Coimbra, montou vários projectos museológicos, como a Artilharia da Fragata D. Fernando, o Museu da Escola Prática de Artilharia, o Forte de Oitavos em Cascais, foi colaborador da Comissão Nacional dos Descobrimentos e do IPPAR num estudo que realizou sobre a Torre de Belém e tem feito palestras e conferências para alunos de Escolas Primárias, professores universitários, idosos iletrados. Tem vários trabalhos publicados, a maioria como separatas da Revista de Artilharia. E continua a investigar e a escrever enquanto para isso se sentir com forças. (...)

(***) Vd., poste de 24 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15149: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XIV Parte): Fuzileiros, Páras e Felupes; O que se terá passado em Catió; Casamento com data marcada e Ponto da situação em Brá

(****) Vd. poste de 17 de dezembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15498: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XXVI Parte): Uns continuaram nessas guerras, outros noutras - 2