1. Comecei publicar no blogue, desde meados de março passado, uma série de textos, da minha autoria, sobre as ensinamentos que se podem tirar dos provérbios populares portugueses, nomeadamente sobre a saúde, a doença, os hospitais, os prestadores de cuidados de saúde (médicos, cirurgiões, farmacêuticos, enfermeiros, terapeutas, etc.), mas também sobre a proteção e a promoção da saúde, incluindo a vida, o trabalho, o envelhecimento ativo e a "arte de bem morrer" (*)...
São textos com cerca de 25 anos, que constavam da minha antiga página na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/NOVA). A págima foi recuperada pelo Arquivo.pt: Saúde e Trabalho - Luís Graça (página pessoal e profissional cuja criação remonta a 1999).
Às vezes quando a doença e a morte me batem à porta, é que eu me lembro que dediquei uma boa parte da minha vida (quase quatro décadas) ao ensino e à investigação da arte e da ciência da proteção da doença e da promoção da saúde, o mesmo é dizer às "coisas" da saúde pública...
Depois de sobrevivermos à dura prova que foi para todos os nossos leitores a pandemia de Covid-19, eis-nos agora a fazer o luto pela perda recente de pessoas que nos eram muito queridas. Daí a oportunidade da publicação deste textos que fui (re)buscar ao meu "baú", mas que não têm a ver, pelo menos diretamente, com a Guiné e a guerra que lá travámos... Ou têm mesmo ? Tudo depende das "leituras" e dos "leitores"...
Contando com a complacência (e sobretudo com a cumplicidade) dos nossos leitores, espero, ao menos, que a sua leitura possa ter algum proveito. É também uma forma de continuar a lidar com o meu sofrimento psíquico e o sofrimento psíquico das pessoas que me estão próximas.
Por outro lado, o nosso blogue já atingiu, na Internet, a "terceira idade": vai fazer 20 anos (!) em 23 de abril de 2024 (se lá chegar, se lá chegarmos). E tem que ser "alimentado" todos os dias, com pelo menos três postes... Estes textos também funcionam como uma espécie de "tapa-buracos"... LG
1.1. "Mais que curar o mal, a arte (médica) deve prevenir" (Escola de Salerno)
Não se pense que o modelo salutogénico (ênfase nos factores multidimensionais que determinam positivamente a saúde, por oposição ao modelo patogénico, biomédico, organicista, orientado para a causa específica da doença) é uma construção intelectual dos nossos tempos. Na Europa Ocidental, o modelo salutogénico tem pelo menos 2500 anos e está igualmente presente nos provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa.
Em termos muito simples, o modelo salutogénico está na origem do conceito de protecção e promoção da saúde, enquanto o modelo patogénico está mais próximo do conceito de prevenção da doença e sobretudo de cura e tratamento da doença.
Aplicado ao local de trabalho, o paradigma salutogénico pode ser melhor entendido através da seguinte questão principal:
Como é que o indivíduo (e, por extensão, a família, o grupo, etc.) realiza as suas potencialidades de saúde e responde positivamente às exigências (físicas, biológicas, psicológicas e sociais) dum ambiente (laboral e extra-laboral) cada vez mais complexo e em constante mutação;
Para responder positivamente a essas exigências, o indivíduo tem de ter controlo sobre os factores (individuais, ambientais e societais) que determinam a sua saúde;
A promoção da saúde é uma intervenção conjunta e integrada sobre o indivíduo e o meio envolvente em que nasce, cresce, vive, respira, trabalha, consome e se relaciona;
Na abordagem mais tradicional e redutora da segurança e saúde no trabalho (em inglês, occupational safety and health) a questão que se punha (ou ainda põe) é como prevenir e, em última análise reparar, do ponto de vista médico e legal, os riscos profissionais.
A promoção da saúde é tradicionalmente um conceito baseado na evidência. No que respeita à protecção e manutenção da saúde, a filosofia de senso comum é céptica em relação ao papel da medicina ("O melhor médico é o que se procura e se não encontra"), se não mesmo sarcástica ("Se tens físico teu amigo, manda-o a casa do teu inimigo").
Ou por outras palavras: Tu és o melhor médico de ti mesmo... Mas nem por isso esta filosofia popular deixa de estar eivada das concepções dominantes da medicina arábico-galénica e da influência da teoria hipocrática dos quatros humores:
- "A doença e a dor conhecem-se na cor";
- "Contra os maus humores grandes suores";
- "Fora de horas urinar é sinal de enfermar";
- "Quem bem urina escusa medicina"; ou
- "Mijar claro, dar figas ao médico"
Alguns preceitos simples são recomendados para conservar a saúde e, por conseguinte, dispensar os serviços do médico e do boticário, inevitavelmente associados a uma vida regrada (alimentação, etc.) e às condições de higiene pessoal e ambiental (habitação, etc.), de acordo com os ensinamentos do compêndio hipocrático e desse espantoso programa medieval de promoção de estilos de vida saudáveis que foi o Regime de Saúde da Escola de Salerno (em latim, Regimen Sanitatis Salernitanum).
Salerno, perto de Pompeia e de Nápoles, na região da Campânia, Itália meridional, era conhecida pela sua escola médica, cuja origem remonta à Alta Idade Média (Séc. IX-X), antecedendo por isso o aparecimento da Universidade no Ocidente cristão (Séc. XIII).
Segundo a lenda, era um escola verdadeiramente ecuménica, tendo nascido do encontro de quatro homens, que representavam quatro culturas distintas (um romano, um grego, um judeu e um árabe, três dos quais seriam médicos).
Esta escola teve um papel importantíssimo na preservação e divulgação do legado greco-romano, no campo da medicina, nomeadamente devido ao papel do monge cartaginês e tradutor arabista Constantino, o Africano. Mas foi sobretudo o tratado de higiene que lhe perpetuou a fama de "cidade hipocrática" (Lafaille e Hiemstra, 1990; Nigro, 2003; Sournia, 1995)
Este documento, em verso, do Século XII ou XIII, terá sido um dos manuscritos mais amplamente divulgados na Europa durante a Idade Média; mais tarde impresso, em Lovaina, por volta de 1480, dele fizeram-se até 1850 cerca de 250 edições, não só em latim como na maior parte das línguas vernáculas europeias, estimando-se entre 120 e 250 mil o número de cópias que terão circulado (Lafaille e Hiemstra, 1990).
Segundo Nigro (2003), "la redazione multiforme con la quale il 'Regimen' si presenta, sia per la varietà numerica e la disposizione dei versi, che per le frequenti contraddizioni e ripetizioni, fa attualmente ritenere che l’opera sia frutto di una compilazione a più mani e di ripetute revisioni".
Por exemplo, o número de versos foi sucessivamente aumentando com as edições: 362 versos na primeira edição impressa (c. 1480), mais de 3500 nas últimas edições.
Mas durante muito tempo a autoria do regime de saúde de Salerno foi atribuída erradamente ao catalão Arnaldo da Villanova (c.1240-1313), que também é autor de um "regimen sanitatis", em prosa, dedicado a Fredereico de Aragão.
Voltando a citar Nigro (2003), o regime de saúde de Salerno é uma obra colectiva, anónima, "risultato della consuetudine popolare, raccolta e commentata nel secolo XIII dal medico e alchimista catalano Arnaldo da Villanova", e que se enquadra "nel filone letterario dei tacuìna e dei theatra sanitatis, opere a carattere enciclopedico, in cui accanto all’illustrazione degli elementi della natura, vi è quella degli alimenti, degli stati d’animo, delle stagioni, allo scopo di salvaguardare la salute mantenendo un perfetto equilibrio tra uomo e natura".
Ao longo dos séculos e das diferentes edições a obra foi sendo conhecida por diversos títulos (Nigro, 2003). Exemplificam-se alguns
- "Regimen Sanitatis Salernitarum" (Colónia, [1480]);
- "Schola Salernitana" (s/l, 1480);
- "Regimen sanitatis, Das ist das Regiment der Gesundheit" (Froschauer, 1501)
- "De conservanda bona valetudine" (Frankfurt, 1545)
- "Medicina salernitana" (s/l, 1591)
- "The Englishman's doctor, or the School of Salerne, or physicall observations for the preserving of the body of man in continuall health" (Londres, 1601)
- "Le Reglement ou Regime de la Santé" (Douai, France, 1616);
- "L'art de conserver sa santé, composé par l'école de Salerne" (Haia, 1743; Paris, 17);
- "Flos medicinae Scholae Salerni" (Nápoles, 1859)
- "La regola sanitaria della Scuola salernitana" (Milão, 1930)
Ao que parece, haveria uma edição portuguesa que desconhecemos (não consta da Biblioteca Nacional nem não sequer é referida pelos nossos historiógrafos médicos, tais como: Lemos, 1889; Mira, 1947; Correia, 1960; Pina, 1981; Ferreira, 1990).
Versos do Regimen Sanitatis Salernitanum apareciam com frequência nos Lunários Perpétuos dos Séculos XVII e XVIII, embora erradamente atribuídos a Avicena (segundo informação da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira que se baseia numa publicação de Luís de Pina, Um prático calendário...de higiene seiscentista, editada no Porto, em 1950, e a que ainda não tivemos acesso).
Em muitos dos provérbios que nos chegaram até aos nossos dias há uma filosofia sobre a arte de viver com saúde, por oposição à arte de curar, e que vai beber as suas raízes ao legado da medicina hipocrática e ao seu modelo salutogénico. Para a sua preservação e divulgação muito contribui sem dúvida o Regimen Sanitas Salernitanum (ver extracto, Caixa 1).
Face à impotência da medicina arábico-galénica para lidar com a alta morbimortalidade que atingia a população europeia nos finais da Idade Média, o livro de saúde de Salerno tem um propósito didáctico mas também programático: "Mais do que curar o mal, a arte [ a medicina ] deve prevenir".
Respira um ar sereno, brilhante de pureza,
Do qual nenhuma exalação turve a clareza;
Evita os odores infectos e vapores deletérios
Que sobem dos esgotos e empestam a atmosfera...
Queres dos teus prazeres prolongar o sucesso?
Do vício e da mesa evita o excesso...
Se o mal é insistente, cabe à arte reagir:
Mais que curar o mal, a arte deve prevenir.
O ar, o repouso e o sono, o prazer e a comida
Preservam a saúde do homem, saboreados com medida:
O abuso torna em veneno este bem inocente
Destruindo o corpo e turvando a mente
Na prática, há provérbios, na nossa língua, sobre tudo (ou quase tudo) o que constitui hoje as preocupações dos educadores e promotores de saúde (Quadro XV, em anexo). Por exemplo:
"Espírito são em corpo são";
"O corpo não deita raízes";
"Parar é morrer".
"Mijar claro - dar uma figa ao médico";
"O homem velho é médico de si";
"Pés quentes, cabeça fria, boa urina - merda para a medicina";
"Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer";
"O braço quer peito e a perna quer leito";
"Quatro horas dorme um santo, cinco o que não é santo, seis o estudante, sete o caminhante, oito o porco e nove o morto".
"Tabaco e aguardente transformam os sãos em doentes";
"Vinho, mulheres e tabaco põem o home fraco".
"Carne de ontem, peixe de hoje, vinho do outro verão fazem o homem são"
"Come para viver, pois não vives para comer";
"Uvas, pão e melão é sustento de nutrição"
"O menino engorda para crescer e o velho para morrer";
"Pede o guloso para o desejoso";
"Tripa cheia nem foge nem peleja".
"Águas paradas, cautela com elas";
"Deus te dê saúde e gozo e casa com quintal e poço";
"Onde não entra o sol entra o médico";
"Se a tua casa é húmida abre conta na botica";
"Toma caldo, vive em alto, anda quente - viverás longamente";
"Um ar purgado - morte no cabo".
"A ferrugem gasta o ferro e o cuidado o coração";
"Quem se ralou já morreu";
"Quem tiver paixão tome tabaco", etc.
___________
Alguns são puros disparates (por ex., o "abafa-te, abifa-te e avinha-te", como remédio contra a gripe; ou outro parecido: "antes embebedar do que constitapar");
Outros, e nomeadamente no domínio da nutrição, reproduzem preconceitos, como os perigos da carne de porco, que têm a ver com a nossa matriz judaico-cristã (por ex., "porco fresco e vinho novo, cristão morto");
Pelo contrário, há provérbios que têm um conteúdo que se baseia no conhecimento empírico milenar dos povos mediterrânicos e que é hoje em dia suportado pela própria investigação farmacológica e biomédica: por ex., a importância do consumo moderado do vinho (tinto) na prevenção das doenças cardiovasculares ("Um copo de vinho por dia mantém o médico à distância"); ou as propriedades terapêuticas do azeite: "Azeite de oliva o mal cura".
Objecto / Provérbio
"Andar, ventura até à sepultura"
"Espírito são em corpo são"
"Mais vale romper sapatos que lençóis"
"O corpo não deita raízes"
"Para baixo todos os santos ajudam, para cima é que as coisas mudam"
"Para ter saúde, pouca cama, pouco prato e muito sapato"
"Parar é morrer"
"Quem corre por gosto não cansa"
"Quem em novo dança bem, em velho algum jeito tem"
"A quem Deus quer dar vida, a água da fonte é mezinha"
"A quem é de vida a água lhe é medicina"
"Água e vento são meio sustento"
"Água fervida alimenta a vida"
"Água fria sarna cria; água quente nem a são nem a doente"
"Água que não soa não é boa"
"Água quente saúde para o ventre"
"Águas paradas, cautela com elas"
"Ao doente forte a água é medicina"
"Mal de morte não tem jeito, e o que não é, se cura com água do pote" (d)
"Quando Deus quer, água fria é remédio"
"A cachaça tira juízo, mas dá coragem" (d)
"A mulher e o vinho tiram o homem do seu juízo"
"Abafa-te, abifa-te e avinha-te" (a)
"Afoga-se mais gente em vinho do que em água"
"Antes embebedar do que constipar"
"Baco, tabaco e Vénus reduzem o homem a cinzas" (b)
"Bebe vinho mas não bebas o siso"
"Beber vinho mata a fome"
"Cada bucha sua pinga"
"Carne de ontem, peixe de hoje, vinho do outro verão fazem o homem são"
"Do vinho e da mulher livre-se o homem se puder"
"Haja saúde e dinheiro para vinho"
"Isso é birra: quem toma tabaco espirra"
"Livra-te de mau vizinho e de excesso de vinho"
"Mais pessoas se afogam no copo do que no mar"
"Malandro não tem vícios, só fuma e bebe quando joga" (d)
"Na taberna enquanto bebes, na igreja enquanto rezas"
"Nada escapa aos homens senão o vinho que as mulheres bebem"
"Nem vinho sem Cristo nascer nem laranja sem Cristo morrer"
"O beijo é como o cigarro, não sustenta mas vicia" (d)
"O bom vinho arruina o bolso; o mau, o estômago"
"O cigarro adverte: O Governo é prejudicial à saúde" (d)
"O homem que vive na taberna acaba por morrer no hospital"
"O pródigo e o bebedor de vinho nunca têm casa nem moinho"
"O vinho faz mal aos homens quando são as mulheres que o bebem"
"Onde entra o vinho sai a razão"
"Quando a cachaça desce, as palavras sobem" (d)
"Quem tiver paixão tome tabaco"
"Tabaco e aguardente transformam os sãos em doentes"
"Tabaquear o caso"
"Três coisas enganam o homem: as mulheres, os copos pequenos e a chuva miúda"
"Três coisas mudam o homem: a mulher, o estudo e o vinho"
"Um copo de vinho por dia mantém o médico à distância"
"Vinho e medo descobrem o segredo"
"Vinho que baste, casa que farte, pão que sobre e seja eu pobre"
"Vinho sobre melancia faz pneumonia"
"Anda quente, come pouco, bebe assaz e viverás"
"Aquilo que sabe bem ou é pecado ou faz mal"
"Barriga cheia, cara alegre"
"Boca que apetece, coração que deseja"
"Carne que baste, vinho que farte, pão que sobre"
"Come como são e bebe como doente"
"Come para viver, pois não vives para comer" (Séc. XVII)
"Come que a hora de comer é a da fome" (Séc. XVII)
"Das grandes ceias estão as covas cheias"
"De fome ninguém morreu, mas sim de muito que comeu"
"Gordura é formosura"
"Gota é mal de rico; cura-se fechando o bico"
"Mais cura a dieta que a lanceta"
"Mais mata a gula que a espada"
"Menino bolsador - menino engordador"
"Moças, quem vos deu tão ruins dentes ? Água fria e castanhas quentes"
"Morra Marta, morra farta"
"Morre o peixe pela boca" ou "Pela boca morre o peixe"
"Na casa desta mulher come-se tudo o que ela der"
"Nem sempre galinha nem sempre sardinha"
"O menino engorda para crescer e o velho para morrer"
"Para longa vida regra e medida no beber e na comida"
"Pede o guloso para o desejoso"
"Por cima de comer nem um escrito ler"
"Quem caga e come não morre de fome"
"Quem não é para comer, não é para trabalhar"
"Se queres enfermar, ceia e vai-te deitar"
"Se és velho comilão encomenda o teu caixão"
"Ter mais olhos que barriga"
"Vinho que baste, casa que farte, pão que sobre e seja eu pobre"
"A carne de um ano e o peixe de dez"
"A laranja de manhã é ouro, à tarde prata e à noite mata"
"Azeite de oliva todo o mal tira"
"Carne de ontem, peixe de hoje, vinho do outro verão fazem o homem são"
"Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a doente"
"Comer verdura e deitar má ventura" (Séc. XVII)
"Comer pinhões antes de chover dá sezões"
"Depois de Maio a lampreia e o sável dai-o"
"Dia de São Silvestre (b), não comas bacalhau que é peste"
"Fiambre e fiado sabem bem e fazem mal"
"Laranja antes do Natal livra do catarral"
"Livre-te de fruta mal sazonada que é peste disfarçada"
"Milhafre em Janeiro escusa capão de poleiro"
"Não comas cru, nem andes com o pé nu"
"O coelho e a perdiz, uma mão na boca e outra no nariz"
"Pão durázio, caldo de uvas, salada de carne e deixa a medicina"
"Peixe não puxa carroça"
"Pela boca morre o peixe" (Séc. XVI)
"Pobre só come carne quando morde a língua" (d)
"Porco fresco e vinho novo, cristão morto"
"Quem come salgado, bebe dobrado"
"Raia em Maio, tumba à porta"
"Se queres o marido morto, dá-lhe couve em Agosto"
"Todas as indigestões são más e a da perdiz é péssima"
"Um copo de vinho por dia mantém o médico à distância"
"Uvas, pão e melão é sustento de nutrição"
"A vassoura limpa a casa mas é o sol que mata os micróbios"
"A velho muda-lhe o ar, vê-lo-ás acabar"
"Casa onde não entra o sol entra o médico"
"Come caldo, vive em alto, anda quente, viverás longamente" (Séc. XVII)
"Dia frio e dia quente fazem andar o homem doente"
"Livra-te dos ares, que eu te livrarei dos males"
"No quente é que se cura a gente"
"Respirar mau ar é beber a morte"
"Se queres viver são, anda quente, come pouco, vive em alto"
"Tarde fria, dia quente, põem um homem doente"
"Um ar purgado - morte no cabo"
"Casa em que caibas, vinha quanto bebas, terra quanto vejas"
"Casa onde não entra o sol entra o médico"
"Casa sem luz, tumba de vivos"
"Deus te dê saúde e gozo e casa com quintal e poço"
"Dormir com a janela aberta - constipação quase certa"
"Na casa se vê quem tem maleitas"
"Onde entra o sol não entra o médico"
"Quem quiser medrar viva em pé de serra ou poto de mar"
"Se a tua casa é húmida abre conta na botica"
"Gordura é formosura"
"Mijar claro - dar uma figa ao médico"
"O que a boca apetece o coração deseja"
"O rabo sempre cheira ao que larga"
"Pés quentes, cabeça fria, boa urina - merda para a medicina"
"Quando em casa engorda a moça, ao corpo o baço e ao rei a bolsa - mal vai a coisa"
"Quem ao ano andou e aos dois falou bom leite mamou"
"Quem bem urina escusa medicina"
"Quem grande peido dá do cu se atreve"
"Quem má boca tem má bostela faz"
"Quem se lava e não se enxuga toda a pele se lhe enruga"
"Quem sofre de coração não tome banho suão"
"São peidar faz bom jantar" (Medieval) (e)
"Se queres que o teu filho engorde e cresça, lava-lhe o corpo e rapa-lhe a cabeça"
"Se queres ter um corpo são, lava-te com água e sabão" ou "se queres ter um corpo são, lava-te com água de erva montão"
"Tripa cheia nem foge nem peleja"
"Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz não faças o que ele faz"
"Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém"
"Coração alegre é melhor que botica"
"Mais vale a saúde que o dinheiro" ou "Mais vale saúde boa que pesada bolsa"
"Mais vale perder um minuto na vida do que a vida num minuto"
"Mais vale prevenir que remediar"
"Mais vale um pé no travão do que dois no caixão"
"Melhor é curar gafeira que casa inteira"
"Não há dinheiro que pague a saúde"
"Nem com cada mal ao médico, nem com cada dúvida ao letrado"
"O homem velho é médico de si"
"Para longa vida boa regra e boa medida"
"Para longa vida regra e medida no beber e na comida"
"Pés quentes, cabeça fria, coração bom, ventre desembaraçado e desprezar medicina"
"Pés quentes, cabeça fria, cu aberto, boa urina - merda para a medicina"
"Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga"
"Quem bem vive, bem morre"
"Quem bem urina, escusa medicina"
"Só se sabe o que é a saúde quando se está doente"
"Tenhamos saúde e paz e teremos assaz"
"Usa cama de frade e mesa de pobre, terás saúde que farte e alegria que sobre"
"Vale mais prevenir do que remediar"
"Vale mais uma onça de cautela que uma arroba de botica"
"Vida de porco, curta e gorda"
"Vive o pastor com a sua rudeza e morre o físico que a física reza"
"De longos sonos e grandes ceias estão as sepulturas cheias"
"Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer"
"Levanta-te às seis, almoça-te às dez, jantarás às seis, deita-te às dez: viverás dez vezes dez"
"O braço quer peito e a perna quer leito"
"Quatro horas dorme um santo, cinco o que não é santo, seis o estudante, sete o caminhante, oito o porco e nove o morto"
"Se não és de bronze deita-te às onze"
"Se queres enfermar, ceia e vai-te deitar"
"Se queres enfermar, lava a cabeça e vai-te deitar"
"Usa cama de frade e mesa de pobre - terás saúde que farte e alegria que sobre"
"A boa vida não quer pressa"
"A ferrugem gasta o ferro e o cuidado o coração"
"A quem dorme descansado dorme-lhe o cuidado"
"A razão é fruta do tempo, as paixões são de todo o momento"
"Boca, que queres; coração, que desejas?"
"Desejo e satisfação raro de acordo estão"
"Homem apaixonado não quer ser aconselhado"
"O ventre sacia-se, os olhos não"
"Quem canta seu mal espanta"
"Quem come a correr do estômago vem a sofrer"
"Quem mais tem mais quer"
"Quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos"
"Quem se ralou já morreu"
"Quem tem cu tem medo"
"Quem tem saúde e liberdade é rico e não o sabe"
"Quem tiver paixão tome tabaco"
"Quem vai muito depressa pode quebrar a cabeça"
Capital
"Aonde oiro fala, tudo se cala"
"Deus ajuda a quem trabalha, que é o capital que menos falha"
"Tempo é dinheiro"
"Um tem a bolsa, outro o oiro, e assim vai andando o mundo"
Trabalho
"A martelada do mestre vale por mil das dos operários"
"Bendita a ferramenta que pesa mas alimenta"
"Dá ofício ao vilão, conhecê-lo-ão"
"Há mais aprendizes que mestres"
"Janeiro, gear; Fevereiro, chover; Março, encanar; Abril, espigar; Maio, engrandecer; Junho, aceifar; Julho, debulhar; Agosto, engravelar; Setembro, vindimar; Outubro, revolver; Novembro, semear; Dezembro, nasceu Deus para nos salvar"
"Madruga e verás, trabalha e terás"
"Mais vale bom administrador do que bom trabalhador"
"Mais vale um bom mandador que um bom trabalhador"
"Mão de mestre não suja ferramenta"
"Mãos de oficial, envoltas em sandal"
"Mineiro, nem a prazo nem a dinheiro"
"Na casa deste home quem não trabalha não come"
"O boi pega no arado mas não por seu grado"
"O Verão colhe e o Inverno come"
"Oficial tem ofício e al"
"Para gozar eu; para trabalhar um irmão que Deus me deu"
"Para homem dado ao trabalho não há dia grande"
"Quando o mestre canta boa vai a obra"
"Quanto mais patrão mais cabrão"
"Quem ao moinho vai enfarinhado sai"
"Quem não poupa a lenha, não poupa nada que tenha"
"Quem não tem ofício não tem benefício"
"Quem não trabuca não manduca" (do latim: Qui non laborat, non manducet )
"Quem poupa seu mouro poupa seu ouro"
"Quem sabe de luta luta e quem não sabe labuta"
"Saber muitas artes é ter pouco dinheiro"
"Semeia e cria, viverás com alegria"
"Sete ofícios, catorze desgraças"
"Só trabalha quem não sabe fazer mais nada"
"Trabalhar a seco"
"Trabalhar de jornal"
"Trabalhar é bom pró preto"
"Trabalhar para aquecer"
"Trabalhar para aquecer, é melhor morrer de frio"
"Trabalhar para o boneco (para o bispo)"
"Trabalho de menino é pouco, quem não o aproveita é louco"
"Trabalho se fez para burro e português" (f)
Trabalho & Saúde
"A tarefa que agrada é depressa acabada"
"É preciso ser doido para trabalhar aqui"
"Não há trabalho sem trabalhos"
"O trabalho dá saúde"
"O trabalho não mata ninguém"
"Se o trabalho dá saúde que trabalhem os doentes" (g)
"Tendo saúde e comendo bem, o trabalho não mata ninguém"
"Trabalha como se vivesses sempre; ama como se fosses morrer amanhã"
"Trabalhar como um animal (um cão, um boi, um touro, um burro, um leão, um cavalo, etc.)
"Trabalhar como um escravo (um mouro, um negro, um preto)"
"Trabalhar que nem um boi"
"Trabalhar que nem um galego"
"Trabalhar que nem um mouro"
"Trabalhar que nem uma puta"
"Trabalhar que nem um touro"
"Trabalhar sem comer é cegar sem ver"
"Trabalho com gosto alegria no rosto"
"Trabalho é meio de vida e não de morte"
"Trabalho é caminhar a cavalo, que a pé é morte"
(a) Receita tradicional para combater a gripe; (b) Rifão italiano (Amaral, 1994); (c) 31 de Dezembro
(d) Ditado brasileiro: Vellasco (1996) (e) Mattoso (1987) (f) Brasil
(g) Ou como dizem os franceses: "Si le travail c'est la santé, à quoi sert alors la médecine du travail ?" (Se o travbalho dá saúde, para que serve afinal a medicina do trabalho?)
(Bibliografia a apresentar no final da série)
(Continua)
Notas do editor:
Último poste da série > 12 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24550: Manuscrito(s) (Luís Graça) (226): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IVB: Enfermagem, Misoginia e Sexismo
Ver postes anteriores:
20 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24328: Manuscrito(s) (Luís Graça) (225): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IVA: Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras
4 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24281: Manuscrito(s) (Luís Graça) (223): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte III C: Contestação da Iatrogénese, da Medicina Defensiva e do Encarniçamento Terapêutico
3 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24189: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IIIB: Quando o pobre come frango, um dos dois está doente
28 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24173: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIIA: Hospital, o triunfo da hospitalidade e da caridade... mas "o peixe e o hóspede ao fim de três dias fedem"
23 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24164: Manuscrito(s) (Luís Graça) (218): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIB: "Com malvas e água fria faz-se um boticário num dia"
20 de março de 2023 Guiné 61/74 - P24155: Manuscrito(s) (Luís Graça) (217): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIA: 'Deus Cura os Doentes e o Médico Recebe o Dinheiro"
17 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24148: Manuscrito(s) (Luís Graça) (216): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte I: "Muita saúde, pouca vida, porque Deus não dá tudo"