quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19152: Historiografia da presença portuguesa em África (135): Relatório anual da Circunscrição Civil dos Bijagós, 1932 (Mário Beja Santos)

Antiga casa comercial António Silva Gouveia, posteriormente utilizada para instalações militares do quartel de Bolama

Fotografia de Francisco Nogueira, retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
O mínimo que se pode dizer é que este relatório não pode ser escamoteado nos estudos historiográficos da colónia, exatamente naquele tempo em que começara a submissão de Canhabaque, última etapa das chamadas Guerras da Pacificação. O administrador Manuel Luiz Silva é pouco dado a floreados e explica o que se passa com o imposto de palhota, com as roubalheiras dos grumetes, como os Bijagós desconfiam de tudo e todos e eram na verdade uma sociedade horizontal, há muito que tinham desistido de fazer guerra aos Beafadas, preferiam o seu isolamento. Atenda-se ao que o administrador diz sobre o quadro sanitário do arquipélago e à carência de meios para garantir a soberania portuguesa.

Um abraço do
Mário


Relatório anual da Circunscrição Civil dos Bijagós, 1932

Beja Santos

Quem o assina é Manuel Luiz Silva, o Administrador, andou por outras paragens guineenses, regressou aos Bijagós e revela-se hipercrítico do trabalho desenvolvido pelos antecessores. Dando cumprimento aos preceitos estabelecidos para o que deve ser um relatório anual, logo no capítulo I, referente ao solo e clima, lembra que o arquipélago possui 19 ilhas habitadas e 16 ilhas e ilhéus e diversas ilhotas desabitados. São tudo terrenos baixos, não há qualquer espécie de elevação. Ao tempo, existe o Comando Militar de Canhabaque, a ilha é insubmissa, constituído por uma ilha habitada, oito ilhas e ilhéus desabitados. Informa que não existe nenhum rio no arquipélago e que a constituição do solo não difere do do continente. Não lhe desagrada o recurso a imagens quase poéticas, como esta: “Nas marés baixas, desnudam-se grandes superfícies, na sua quase totalidade coberta de vaza lodacenta permitindo ao indígena poder deslocar-se de algumas ilhas para outras sem auxílio de embarcações. A água é mais ou menos potável. Os problemas de saúde são graves e endémicos: as ilhas de Bubaque, Canhabaque e Orangozinho foram visitadas pela febre-amarela; grassa o tracoma, com intensidade, nas ilhas de Caravela e Caraxe e com menos intensidade noutras ilhas.
Vejamos agora a fauna e flora. Todas as ilhas são verdadeiras matas. Quanto a plantas frutíferas, apenas se veem em maior quantidade a laranjeira, a mangueira e frutos silvestres. Quanto a animais, avultam a gazela e a cabra ou fritambá em pequena quantidade na Ilha das Galinhas, Canhabaque, Orango e Caravela. A ave predominante é o papagaio cinzento".

E de seguida vai esmiuçar a situação política. Em 26 de abril seguiu para as cobranças do imposto de palhota de 1930-1931:  
“Pelas ilhas onde andei, verifiquei no indígena um estado de desânimo e desconfiança. Tendo-me demorado uns 10 dias por algumas ilhas, no meu regresso mandei ao Exm.º Sr. Director dos Serviços e Negócios Indígenas uma carta em 12 de Maio com um mapa indicando o número de palhotas arroladas e cobradas durante o decénio de 1922-1932, estando nele incluído, nos dois primeiros anos, a Ilha de Canhabaque. Por ele, pode V. Ex.ª verificar a alta em 1923-1924, baixando no ano seguinte para ser elevada ao máximo em 1925-1926, sem a ilha de Canhabaque, passando a decrescer até este ano”.
Considera que os habitantes do arquipélago precisam de contrair empréstimos para pagar o imposto de palhota e assinala o êxodo para outras regiões, há indígenas válidos da ilha de Bubaque que se fixaram em Catió, alegam não terem terrenos para cultivar, pois que a Companhia Agrícola e Fabril da Guiné lhes tirou tudo, e o administrador diz que não é verdade, pois a Companhia deixa-os fazer sementeiras dentro da concessão desde que não extraiam vinho de palma, o que é inaceitável para qualquer Bijagó; dentro dessa linha do êxodo diz também que os da ilha de Soga vão assentar arraiais em Cubisseco onde têm as suas palhotas, eles dão as mesmas justificações que os de Bubaque. Comenta o administrador: 
“É uma desolação ver hoje algumas povoações, quem as viu em anos transactos, só se vêem velhos e mulheres e poucos homens novos. Sei que devido ao estado anormal em que a Circunscrição se encontra devido a enormes dificuldades em encontrar trabalho para todos, com o tempo, paciência e boa vontade, tudo se há de conseguir”.

Falando de hierarquia e poder, o relator diz que o Bijagó só reconhece como única autoridade indígena o balobeiro (padre), mas a sua obediência é só na vertente religiosa. O único régulo é o de Orango, o resto só existem para as autoridades terem a quem se dirigir.
Faz longos comentários à situação administrativa. O arquipélago dos Bijagós fez parte até 1913 da área do Concelho e da Circunscrição Civil de Bolama; em 1927 passou a ser Circunscrição Civil de Bubaque e em 1 de janeiro de 1929 ficou a fazer parte da Intendência de Bolama; em 1931 voltou de novo o arquipélago a estar sobre o regime da Circunscrição Civil e esta divide-se em quatro postos administrativos.
O relator enfronha-se agora na antropologia:
“O Bijagó, devido ao seu atraso de civilização, fugindo a esta tanto quanto pode, à sua indolência e resistência passiva, à contínua desconfiança de todos, tudo esconde”.
Falando da educação, menciona a existência da Escola Rural:
“Além de crianças de outra raça, frequentam a escola 12 indígenas que tendo vindo com as suas características saias e lopé tiveram que ser vestidos não fosse a máquina fotográfica de algum estrangeiro, auxiliado por certos portugueses, tirar alguns instantâneos, para lá fora nos deprimirem. O vestuário só o devem vestir na ocasião de irem e estarem na escola”.

Diz que o estado sanitário é precário, muitos indígenas estão atacados de bobas, bastante no estado terciário, o que leigos como ele chamam lepra; 50% da população de Caravela e Caraxe está atacada de tracoma. “Para o tratamento desta doença, o Sr. Dr. Eurico de Almeida, no seu relatório, creio que de Novembro, propunha a criação de uma ambulância sanitária em Caravela para ali os indígenas serem convenientemente tratados, mas para o bom êxito era necessário que o indígena constituísse palhotas para não dormirem na promiscuidade, para evitarem o contágio e para isso era preciso que o indígena deixasse de pagar o imposto por dois ou três anos, pois as casas não as constrói para não as pagar. Só obrigado”.

A varíola em 1930 fez grande desbaste na população. E pronuncia-se sobre a febre-amarela:  
“Todos os anos, de Outubro a Fevereiro, morrem bastantes indígenas sem se saber porquê. Dizia-se que é gripe e morrem de pneumonia. O Dr. Fritz Rennefeldt, encarregado do Hospital da Companhia Agrícola e Fabril da Guiné, em 1927-1928, diagnosticou febre-amarela. Creio que é o centro e sul da ilha de Canhabaque o foco mais ou menos virulento do vómito negro”.

Refere-se depois ao imposto de palhota e faz uma minuciosa descrição da sua cobrança. É favorável a que o imposto indígena de capitação substitua o imposto de palhota.
Quanto ao comércio, diz que o único comércio estabelecido nas ilhas é o da permuta de arroz por coconote, e nas épocas mais intensas de cobrança do imposto de palhota, aumenta o número de negociantes que se dedicam também à permuta conjuntamente com a compra de produtos a dinheiro. Revela que o indígena se desloca para fora de Circunscrição por não simpatizar muito com a Companhia Agrícola e Fabril da Guiné. A segunda empresa importante no arquipélago era a Empresa Agrícola e Comercial dos Bijagós.

Prestes a terminar o seu relatório, entende o administrador que é indispensável falar dos transportes:
“As Circunscrições do continente, todas elas, estão fornecidas de automóveis, esta é a única que não tem esse transporte nem aquele que mais precisa e bastante falta está sentindo – um barco – motor ou a vapor.
A falta de transportes com que se luta na Circunscrição, faz que em toda ela, especialmente nas ilhas onde não está autoridade que, clandestinamente se exerce o comércio com embarcações e tais comerciantes, grumetes sem dinheiro, levam os indígenas enganados para as ‘pontas’, de onde poucos voltam; induzindo os Bijagós a entregar-lhe os seus produtos e gado para irem vender em Bissau ou em Bolama por mais dinheiro do que lhe pagam os negociantes nas suas ilhas, no regresso desses indivíduos os indígenas não recebem um centavo, desculpando-se que a canoa se virou, perdendo-se tudo, só ele se salvou. Os Bijagós jamais se queixam quando lhes dizem que os produtos e gado ficaram no fundo do mar e também não são capazes de denunciar os traficantes.
Por falta de embarcações, os chefes de posto limitam a sua acção somente à ilha onde o posto está instalado. Os quatro postos precisam, cada um, de uma baleeira, embarcação que não têm, servindo-se às vezes, com o risco da própria vida, de canoas dos indígenas, assim como o signatário também já se tem servido desses dongos, uma ou outra vez de embarcações dos fiscalizados”.

Queixa-se e reclama, a autoridade portuguesa só se poderá verdadeiramente sentir quando houver meios minimamente suficientes.

Este importante relatório está na secção dos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa.


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19134: Historiografia da presença portuguesa em África (133): Relatório referente ao uso e costumes dos indígenas da Região de Farim (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19151: Fotos à procura de... uma legenda (109): a GNR de ontem e de hoje, na Feira Saloia da Lourinhã, no passado dia 27 de maio de 2018... Ou os uniformes que também contam histórias... (Luís Graça)



Foto nº 1


Foto nº 2 


Foto nº 3

Lourinhã > Feira Saloia > 27 de maio de 2018 > A GNR, ontem e hoje...O fotógrafo estava lá...Legenda provisória: um uniforme  também conta história(s)... (*)

Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2018). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Vejo, com apreço, que a GNR - Guarda Nacional Republicana goza hoje de muito mais prestígio e respeito do que no meu tempo de menino e moço... Muita coisa aconteceu na sua história já centenária (, comemorou em 2011 os 100 anos) e tem um museu, aberto ao público, no histórico Quartel do Carmo em Lisboa, que merece uma visita. 

Criada pela República, em 1911, a decadência do regime republicano também marcou o declínio desta força militarizada, como se pode ler na história da instituição [Vd. portal  Arquivo Histórico, Biblioteca e Museu da Divisão História e Cultura da Guarda Nacional Republicana (GNR)].

Recorde-se alguns factos:

(i) A GNR, a República, a Ditadura Militar

 (...) "Contra a ditadura [militar, iniciada com o golpe de Estado d0 28 de maio de 1926,] reagiram logo a Marinha, a GNR, a Guarda Fiscal e outros setores republicanos, iniciando um movimento revolucionário 'reviralhista', que caracterizou os anos de 1927 a 1931. 

"O 'Reviralho' fracassou e a ditadura reagiu energicamente contra os revoltosos, extinguindo unidades e procedendo a saneamentos e depurações políticas, incluindo muitos dos militares da GNR. Assim aconteceu nas revoltas de fevereiro de 1927, no Porto e Lisboa, e no pronunciamento militar de 26 de agosto de 1931. 

"A forte reação do regime e a ação enérgica do general Farinha Beirão, 'herói da Grande Guerra' e comandante-geral da GNR de 1927 a 1939, acabou por converter a GNR numa força leal ao regime autoritário em Portugal." (...)


(ii) Com o Estado Novo, a GNR tornou-se "rural" e "fiel ao regime autoritário":

(...) "Em ambiente de guerra fria e adesão à NATO (1949), a GNR passou a poder recrutar oficiais milicianos provenientes das forças armadas, por períodos renováveis de 3 anos (situação que se manteve até 1969).


"O Estado Novo reprimiu e condicionou as liberdades individuais dos cidadãos, perante a garantia de estabilidade das instituições assegurada pelo Exército e pela ação da censura e da polícia política. Esta última foi criada em 1933 com o nome de Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PIDE a partir de 1945) e, juntamente com a Legião Portuguesa (criada em 1936), combateram os opositores do regime.

"A GNR, a Guarda Fiscal e as restantes forças de segurança também integraram o aparelho repressivo do regime, tendo combatido os conflitos político-laborais, no Barreiro, em outras localidades da cintura de Lisboa e no Alentejo, os ciclos migratórios e de contrabando nas zonas de fronteira com Espanha, a campanha política de Humberto Delgado (1958), as fugas à incorporação militar para a guerra em África (1961-1974) e a crise académica (1968-1969)."


(iii) A GNR e o fim do regime de Salazar-Caetano:

(...) "A janela de oportunidade para pôr fim ao regime acabou por ser a oposição à guerra que se perpetuava desde 1961 em África, que emergiu no Exército, até então principal sustentáculo do sistema. O regime sentindo-o vacilar no papel de garante da estabilidade das instituições ainda tentou, 'à pressa', equilibrar as restantes forças, tendo reforçado os meios e equipamentos da GNR mas na Guarda ainda imperavam as 'velhas' espingardas Mauser do tempo da I Guerra Mundial.

"O golpe derradeiro realizou-se neste quartel do Carmo, no dia 25 de abril de 1974, data em que o Movimento das Forças Armadas, com o apoio de populares, derrubou o governo de Marcello Caetano, terminando a longa ditadura de quase meio século em Portugal." (...)

Fonte: Excertos de História da Guarda Nacional Republicana (com a devida vénia)...

2. É essa imagem do passado que me vem à memória ao ver este jovem da GNR do posto da Lourinhã, com a "velha" farda de cotim de algodão, bota de cano alto e chapéu colonial, e equipado com biclicleta e espingarda mauser...  Não usavam barba, naturalmente, já que era proibido, ao tempo, pelo RDM.

Essa imagem contrasta com a dos outros dois jovens militares com a nova farda da ciclopatrulha: os três  fazem parte, afinal,  da mesma força, só que hoje professionalizada, rejuvenescida,  integrada na ordem democrática e com uma relação de proximidade com a comunidade. A imagem, depreciativa e estereotipada, do soldado da  GNR a cavalo, boçal,  descrito "com um burro em cima de um cavalo", é hoje definitivamente do passado...

Do meu tempo de menino e moço, na minha terra, Lourinhã, que era um pacata vila, no extremo norte do distrito de Lisboa, lembro-me de três ou quatro coisas relacionadas com a GNR: (i) o posto militar, que era nas instalações do antigo convento de Santo António, havendo um conflito latente da GNR com o pároco e a paróquia, "vizinhos à força"; (ii) o calaboiço, imundo, nauseabundo, com grades de ferro, também nas mesmas instalações,. e que, felizmente, já não existe hoje mais; (iii) a GNR, a cooperar com a PIDE de Peniche na caça aos imigrantes clandestinos, que davam o "salto" para França e também dos faltosos e refratários que procuravam escapar à guerra do Ultramar... Não havia GNR a cavalo, na minha terra... a espadeirar o povo.

Como temos vários camaradas ligados à GNR (, nomeadamente depois do regresso da Guiné, alguns ingressaram nos seus quadros...ou continuaram lá as suas carreiras como oficiais do Exército, como foi o caso do meu capitão, o primeiro comandante da CCAÇ 12, Carlos Alberto Machado Brito, hoje cor inf ref)  seria interessante poder-se completar e  enriquecer a "legendagem" destas três fotos.. (**) . LG
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E ainda:


10 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14454: Notas de leitura (701): “Desaparecido em combate", por Duarte Dias Fortunato, o primeiro prisioneiro de guerra depois da Operação Mar Verde (Mário Beja Santos)

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19150: Fotos à procura de... uma legenda (108): Xime... ou Jabadá ? (Virgílio Teixeira)



 Foto nº 31


Foto nº 32


Foto nº 33

Guiné > Região de Quínara > Jabadá 

Fotos (e legenda): ©  Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Rio Geba > c. 1970 >  Foto nº 1A > Um porto fluvial, visto de uma embarcação que se dirige a Bissau... Será Bafatá ? Será Bambadinca ? Será Xime ? Será Porto Gole ? Será Gampará ? Será Jababá ? Será Cumeré ? Será Ilha de Rei ? ... O que será ? (A foto nº 1 foi ampliada e editada.)


Foto: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário sobre o poste P14795 (*) , enviado por email por Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Data - 28/09/2018, 12:41
Assunto - POSTE 14795, de 24/6/2015 - À procura de uma legenda (56)

Bom dia Caro Luís,

Hoje andei por aqui a navegar à procura de algo, e aparece um Poste, acima indicado (*), já se passaram 3 anos, mas ainda é actual: à Procura de uma Legenda, ou onde fica aquela foto, e entre as hipóteses lá vem o nome de Jabadá!

Num dos meus Postes, não o encontro mas acho que os mandei para editar, é a saída de Nova Lamego, Rio Geba abaixo até Bambadinca.

Entre as muitas que tenho desta deslocação do Batalhão, a caminho depois para São Domingos, são do dia 26 Fev 68. Não há dúvidas. Tenho aqui 3 fotos onde escrevi à mão, o quartel e instalações de Jabadá, por onde passamos, e alguém disse que aquele posto era o quartel de Jabadá.

Quando vi o Poste 14795, a foto inicial nº 1, mesmo a cores, passados mais de 2 anos, foi tirada em 1970, tem indícios que se trata de Jabadá.  Tem o guindaste e mais alguns equipamentos, pode ter sido feita alguma obra importante em Jabadá, quem lá esteve em 1970 e seguintes, deve saber melhor.
aComo não há conclusão final após tantas opiniões, a maioria apontam para Xime, que não conheço, mas sem a total convicção, aqui vão estas para dar alguma luz ao assunto, ou simplesmente dizerem que não se trata disso.

Como fiz 2 viagens por este caminho, para cima e para baixo, também passei por Mato Cão, onde quase chegávamos com as mãos às margens, e também me passou pela cabeça, não da primeira vez mas da segunda, que estávamos ao alcance de uma granada de mão! Mas ninguém as lançou, pois os «T6 » andavam lá em cima a acompanhar toda a viagem.

Também li um poema teu a um Capitão, agora não me lembra o nome, talvez  [António] Vaz, que esteve doente, que me encheu as medidas. É uma obra prima o poema, parece que ainda é uma parte, pois há mais,  chamava-se a caminho do inferno...

Mas os louros vão mesmo para o poeta, são coisas ditas e poema, com as verdades todas lá escritas, não deixo de apreciar esta veia, os meus parabéns, já depois de tantas outras lidas...

Andam por aí umas confusões com as fotos das mamas das bajudas, alguém deve ser tão puritano como o Padre Frederico!.

Um abraço e manda dizer alguma coisa.

Virgilio Teixeira

2. Comentário do editor LG:

Virgílio, a malta que conheceu o Xime, como a palma da mão, não tem dúvidas: a foto nº 1A é o cais fluvial do Xime, em dia de chegada de barco ( Fernando Gouveia, J. L. Vacas de Carvalho, António Manuel Sucena Rodrigues, Antº Rosinha,  Sousa de Castro, eu próprio)... Mas também há  camaradas com dúvidas, e que conheceram ainda melhor do que eu o Xime: Abílio Duarte, Jorge Araújo... O Jorge diz que um das fotos pode ser do cais fluvial de Bambadinca... As tuas fotos, essas, sim,  mostram Jabadá, na margem esquerda do Rio Geba, no estuário, muito depois do Xime, já mais próximo de Bissau, entre Fulacunda e Tite... São tiradas da LDG, no meio do rio...Mas, eu, pessoalmente não gosto de teimar... Não confio assim tanto na minha memória visual... (**)
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Notas do editior:

(*) Vd. poste de 24 de junho de  2015 > Guiné 63/74 - P14795: Fotos à procura de... uma legenda (56): por aquele rio Geba... abaixo: que porto fluvial seria este ?

Guiné 61/74 - P19149: Agenda cultural (655): lançamento oficial do livro do ten gen ref António Martins de Matos, Voando sobre um Ninho de 'Strelas' , no dia 13 de novembro de 2018, terça-feira, às 17h00, no Estado Maior da Força Aérea, Alfragide... Membro da nossa Tabanca Grande, o autor foi ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, tem mais de 80 referências no nosso blogue. Uma sessão de apresentação da obra, aberta ao público em geral, e aos amigos e camaradas da Guiné, em particular, será realizada em Lisboa, em data a anunciar, no princípio de dezembro. próximo.



António Martins de Matos, ten gen ref, exten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74. É membro da Tabanca Grande, de longa data, tem mais de 80 referências no nosso blogue, em especial na série FAP





Convite personalizado para a sessão de lançamento do livro do ten gen pilav ref António Martins de Matos,Voando sobre um Ninho de 'Strelas" (edição da BooksFactory), 3ª feira, 13 de novembro de 2018, às 17h00, no Estado Maior da Força Aérea (EMFA),  Alfragide, Amadora.

O autor prevê a realização, num hotel de Lisboa, de uma sessão de apresentação do seu livro,  destinada expressamente aos amigos e camaradas da Guiné, em data a anunciar, mas seguramente em princípio do mês de dezembro. Essa sessão será aberta ao público, em geral.  No dia 13 de novembro, em Alfragide, a sessão de lançamento está condicionada aos convites do CEMFA e à lotação da sala.


1. Mensagem das Relações Públicas do CEMFA - Chefe do Estado-Maior da Força Aérea


29/10/2018, 19:09



Excelentíssimo Senhor Luís Graça,

Encarrega-me o Chefe do Gabinete de Sua Excelência o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea de enviar a Vossa Excelência o convite em anexo alusivo ao evento em apreço.

Agradecemos confirmação pelos contactos disponibilizados no convite.

Com os melhores cumprimentos,

Tenente-Coronel Manuel Bernardo da Costa
Chefe das Relações Públicas

Guiné 61/74 - P19148: Ser solidário (220): Festa para ajudar a Construir uma Escola em Candamã, Guiné-Bissau: Leiria, Teatro Miguel Franco, 3 de novembro, 21h00 ( Luís Branquinho Crespo, Associação Resgatar Sorrisos)



Cartaz do espetáculo
RESGATAR SORRISOS – Associação Humanitária para a Cooperação e Desenvolvimento (ONGD) – Largo da Infantaria 7, n.º 19 – 1.º Andar – 2410-111 Leiria, NPC: 513 914 897

e-mail: resgatarsorrisos@gmail.com;
Facebook: resgatar sorrisos;


1. Mensagem do nosso camaradaLuís Branquinho Crespo (ex-alfmil,  CART 2413, Xitole e Saltinho, 1968/70),

Data: segunda, 29/10/2018 à(s) 19:14

Assunto: Festa de Solidariedade para ajudar a Construir uma Escola na Guiné-Bissau

Caro(a) Amigo(a)

A Associação Humanitária para a Cooperação e Desenvolvimento Resgatar Sorrisos (ONGD), com sede em Leiria,  é uma associação que actua nos sectores da educação, formação, assistência social e sanitária nos países em vias de desenvolvimento, sobretudo na Guiné-Bissau.

No âmbito e desenvolvimento da sua actividade tem em vista a conclusão da construção de uma Escola em Candamã, cujos trabalhos foram iniciados em Março passado por 12 associados que aí se deslocaram e que estão a ser continuados por uma equipa de 4 locais.

Com vista à angariação de fundos para conclusão das obras, a associação, entre outras actividades, irá promover a realização de espectáculo no Teatro Miguel Franco em Leiria, no dia 3 de Novembro pelas 21.00 horas, ao qual gostaríamos que assistisse, ajudando assim aqueles que necessitam. Com 10 sorrisos já pode assistir à Festa.

Desejando assistir ao espectáculo, onde actuará o CANTO ONDO e a ACADEMIA DE BALLET ANNARELLA poderá comprar o bilhete de uma das seguintes maneiras:

1) Dirigir-se à bilheteira do Teatro José Lúcio da Silva entre as 18.00 horas e as 20.00 horas;

2) Através da compra on-line. Para tal deverá ir à internet: www.teatrojlsilva.pt e usar os seguintes procedimentos/passos:

Programação – dia 3 de Novembro – concerto de solidariedade – Teatro Miguel Franco; Comprar bilhete; Escolher o lugar do Bilhete na sala; Avançar; Seleccionar o meio de pagamento e continuar; Seleccionar "sem registo" avançar (tem 12 horas para fazer o pagamento);

Após o pagamento, receberá no e-mail os bilhetes (colocar também nome e telefone).

3) Pode também colaborar fazendo chegar o  v/ donativo à conta da Resgatar Sorrisos cujo IBAN é o seguinte: PT50 5180 0001 0000 0119 1437 2 e remetendo-nos por e-mail a informação do valor depositado, do v/ nome, contacto e número de contribuinte. Pois com o recibo terá benefícios fiscais, porque somos uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento.

VEM. AJUDA TAMBÉM A CONSTRUIR UMA ESCOLA NA GUINÉ-BISSAU

Resgatar Sorrisos (ONGD)

Luís Branquinho Crespo

RESGATAR SORRISOS – Associação Humanitária para a Cooperação e Desenvolvimento (ONGD) – Largo da Infantaria 7, n.º 19 – 1.º Andar – 2410-111 Leiria, NPC: 513 914 897

e-mail: resgatarsorrisos@gmail.com;
Facebook: resgatar sorrisos;
contactos: luismanuelcrespo22@gmail.com; l.branquinhocrespo-1430c@adv.oa,pt; e joseferbapt@gmail.com;
e os telemóveis 918 353 265; 964 396 573
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19090: Ser solidário (219): "Nô pintcha tabanka Tabatô"!... Vamos dar um empurrão à construção da escola de música de Tabatô!... Hoje, no B.Leza Clube, Lisboa, Cais da Ribeira Nova, a partir das 22h30, com os nossos grã-tabanqueiros Mamadu Baio, Braima Galissá e outros músicos guineenses

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19147: O nosso livro de visitas (197): Conheci em Angola o cap inf António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira, ex-cmdt da CCAÇ 2316 / BCAÇ 2835, que passou por Guileje (1968/69) e que esteve prisioneiro na Índia (1961/62), tendo falecido em 2014 (Fernando Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3380, 1972/74)


Guião do BCAÇ 2835 (Bissau e Nova Lamego, 1968/69): Mobilizado pelo RI 15, partiu para o TO da  Guiné em 17/1/1968 e regressou a 4/12/1969. Esteve em Bissau e Nova Lamego. Comandantes: ten cor inf Esteves Correia, maj inf Cristiano Henrique da Silveira e Lorena, e ten cor inf Manuel Maria Pimentel Bastos. Subunidades de quadrícula: CCAÇ 2315 (Binar, Bissau, Mansoa, Mansabá, Mansoa, Nova Lamego, Dara, Madina Mandinga); CCAÇ 2316 (Bissau, Bula, Mejo, Guilejem, Gadamael, Bissau); e CCAÇ 2317 (Bissau, Bula, Mansabá, Guileje, Gandembel, Bula, Nova Lamego).


1. Comentário do nosso leitor e camarada Fernando de Sousa Ribeiro (*)

Chamo-me Fernando de Sousa Ribeiro e fui alferes miliciano em Angola, integrado na CCaç 3535, do BCaç 3880, entre 1972 e 1974 (**).

O primeiro oficial de operações e informações que o meu batalhão teve foi o capitão de Infantaria António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira, mais conhecido por capitão Castel-Branco. Em comissão anterior, este capitão esteve na Guiné, onde comandou a CCaç 2316, do BCaç 2835, em Guileje.

A sua passagem por Guileje deixou-lhe profundas marcas psicológicas, que lhe afetaram de forma claramente visível o seu espírito. A sua posterior estadia no meu batalhão em Zemba, Angola, não melhorou em nada o seu estado mental e, ao fim de menos de um ano de comissão, veio evacuado para a Metrópole e internado no Serviço de Psiquiatria do Hospital Militar Principal, como maníaco-depressivo.

Nunca, repito nunca, ouvi o capitão Castel-Branco fazer qualquer referência a Guileje e à sua experiência pessoal lá. Ele falava da Guiné em geral, contava casos passados em Bissau e noutros lados, mas a palavra "Guileje" nunca saiu da sua boca. Nunca. 

Talvez o facto de ele se ter sentido incapaz de "deitar cá para fora" as suas recordações e os seus sentimentos em relação a Guileje tenha contribuído de forma determinante para a sua degradação psicológica. De resto, tirando o seu estado de espírito alterado, o capitão Castel-Branco foi um oficial de operações muito competente e que deixou boas recordações em quem com ele conviveu em Angola.

Antes de Angola e da Guiné, o capitão Castel-Branco esteve na Índia como alferes ou tenente, encontrando-se em Goa quando se deu a invasão pela União Indiana. Foi prisioneiro de guerra. Enfim, como se costuma dizer, «a sua vida dava um filme».

O capitão Castel-Branco nunca falava de Guileje, mas falava, e muito, de Goa e da sua situação como prisioneiro na Índia. Para começar, ele aprovava a atitude do general Vassalo e Silva, que lhe salvou a vida. O que ele não aprovava, mas compreendia, foi a forma desordenada como se deu a rendição. Segundo o Castelo Branco, os militares portugueses puseram-se em fuga diante do inimigo, em vez de se entregarem, e só a contenção e disciplina das Forças Armadas Indianas impediu que muitos deles fossem mortos. Contou ele que foi uma situação deste tipo: «Onde estão os indianos, estão ali? Então fujo para acolá».

Em resultado de tudo o que viu e viveu, o capitão Castelo Branco ficou a admirar profundamente as Forças Armadas Indianas, cujo aprumo, disciplina e cavalheirismo terão sido irrepreensíveis. Segundo ele, a população civil goesa foi tratada com toda a deferência e os prisioneiros de guerra foram tratados no mais estrito cumprimento das convenções internacionais. Ele mesmo foi tratado como um oficial e não como um prisioneiro. Disse o Castelo Branco que quase a única diferença entre ele e um oficial indiano da mesma patente,  era que ele não podia comandar tropas e não podia voltar para casa. As saudades da família e a incerteza sobre a sua libertação é que foram o que mais lhe custou a suportar.

Um abraço

Fernando de Sousa Ribeiro


2. Há um primeiro comentário do Fernando de Sousa Ribeiro, sobre o cap Castel-Branco Ferreira, com data de 27/7/2018 (**)

Conheci em Angola o capitão de Infantaria António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira, que terá rendido Joaquim Evónio de Vasconcelos no comando da CCAÇ 2316 / BCAÇ 2835, em Guileje. O capitão Castelo Branco (como lhe chamávamos) foi o primeiro oficial de operações e informações que o meu batalhão (BCaç. 3880) teve em Zemba, no norte de Angola.

Logo desde o primeiro dia da comissão se notou que o capitão Castelo Branco "não batia bem da bola". «Ele esteve em Guileje, na Guiné», dizia-se. «Aquilo foi tão mau, que ele ficou maluco», acrescentava-se. E ninguém se atrevia a contrariar o Castelo Branco, não por receio do que ele pudesse fazer, mas por respeito por alguém que tinha comido o pão que o diabo amassou.

Como pessoa, o capitão Castelo Branco era bondoso e compreensivo, ou pelo menos assim parecia. Quando não se tem responsabilidades de comando de tropas, como ele não tinha, é relativamente fácil ser compreensivo. Não sei como ele se comportaria no comando de uma companhia.

Como militar, o capitão Castelo Branco deu provas de uma enorme competência. O maior êxito que o meu batalhão teve, e que valeu a promoção do comandante a coronel, deveu-se sobretudo à forma cuidada como o capitão Castelo Branco planeou uma determinada operação. Nessa operação, os guerrilheiros da FNLA foram completamente apanhados de surpresa, abandonaram uma vasta região e deixaram de exercer pressão militar sobre o distrito do Cuanza Norte.

À medida que o tempo foi passando, o estado de saúde mental do capitão Castelo Branco foi-se agravando cada vez mais. Ao fim de dez meses de comissão, mais ou menos, teve que ser evacuado para a Metrópole e internado no Serviço de Psiquiatria do Hospital Militar Principal. Vi-o uma vez em meados dos anos 90 e pareceu-me estar com excelente aspeto. Faleceu por volta de 2014.

3. Comentário do editor LG:

Obrigado, camarada Sousa Ribeiro, pelo depoimento... O nome do capitão António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira figura na lista dos ex-prisioneiros de guerra da Índia com direito a uma pensão, conforme despacho conjunto  dos ministros da defesa e das finanças.

Identifico igualmente o meu primo, de Ribamar, Lourinhã, Luís Filipe Maçarico... Não vejo o nome do general Vassalo e Silva, que nãio consta da lista pela simples razão de já ter morrido (em 1985).

Despacho conjunto 648/2004

A Lei 34/98, de 18 de Julho, regulamentada pelo Decreto-Lei 161/2001, de 22 de Maio, alterado pelo Decreto-Lei 170/2004, de 16 de Julho, veio estabelecer um regime excepcional de apoio aos ex-prisioneiros de guerra, nomeadamente a atribuição de uma pensão.

Assim, nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 14.º do Decreto-Lei 161/2001, de 22 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei 170/2004, de 16 de Julho, e concluída que está a instrução dos processos pelo respectivo ramo das Forças Armadas, determina-se a concessão aos ex-prisioneiros de guerra constantes da lista anexa ao presente despacho, do qual faz parte integrante, a pensão a que se refere o artigo 4.º do referido decreto-lei.

O presente despacho produz efeitos desde 1 de Janeiro de 2004.

15 de Outubro de 2004. - O Ministro de Estado, da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, Paulo Sacadura Cabral Portas. - O Ministro das Finanças e da Administração Pública, António José de Castro Bagão Félix.

ANEXO

(...) António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira

Caro Sousa Ribeiro, vejo que és leitor, mais ou menos assíduo do nosso blogue, e já não é o  primeiro contributo que dás para a partilha de memórias entre todos nós que fizemos a guerra do ultramar / guerra colonial (**).  O nosso blogue integra camaradas que passaram por outros teatros de operações, incluindo Angola. Não há fronteiras rígidas. Por razões de "mera economia de tempo e espaço", este blogue tem-se centrado na experiência operacional dos militares que passaram pela Guiné, entre 1961 e 1974. Mas temos falado também de outros territórios, incluindo Angola, Cabo Verde, Índia...

Obrigado por nos teres trazido notícias de um camarada da Guiné, o então cap inf Castel-Branco Ferreira que não conheci, e infelizmemte já falecido, como dizes, em 2014.  Deve ter-se reformado como coronel de infantaria. Conheci, isso sim, em 1969, o oficial que o foi substituir na CCAÇ 2316, o cap art Octávio Manuel Barbosa Henriques, mas noutras funções, como instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga (Setor L1, Bambadinca),

Nessa medida venho-te convidar para te juntares à nossa "caserna virtual" onde cabe sempre mais um camarada e/ou amigo da Guiné. Somos 779 entre vivos e mortos. Tu poderás ser o 780 a sentares debaixo o nosso mágico e fraterno poilão...Só tens que mandar as duas fotos da praxe (uma atual e outra do tempo da tropa), mais o teu endereço de email. Um alfabravo. Luís Graça

4. Ficha de unidade: CCAÇ 2316 / BCAÇ 2835 

Foi mobilizada pelo RI 15, partiu para o TO da Guiné em 17/1/1968 e regressou a 4/12/1969. Esteve em Bissau, Bula, Mejo, Guileje, Gadamael e Bissau. Teve 4 comandantes:

(i) cap inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos;

(ii) cap inf António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira; 

(iii) cap art Octávio Manuel Barbosa Henriques;

 e (iv) cap cav José Maria Félix de Moraes.

O BCAÇ 2835 esteve em Bissau e Nova Lamego. Tinha como subunidades, além da CCAÇ 2316, a CCAÇ 2315 e a CCAÇ 2317.  Comandantes: ten cor inf Joaquim Esteves Correia; maj inf Cristinao Henrique da Silveira e Lorena; ten cor inf Manuel Maria Pimentel Bastos.

Temos 14 referências à CCAÇ 2316 no nosso blogue, e 20 ao BCAÇ 2835.

______________

Notas do editor:


Guiné 61/74 - P19146: Notas de leitura (1115): Quem mandou matar Amílcar Cabral, reportagem publicada no Expresso em 16 de Janeiro de 1993 (2) (Mário Beja Santos)

Capa da revista do Expresso de 16 de Janeiro de 1993


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Setembro de 2016:

Queridos amigos,
À pergunta de quem mandou matar Amílcar Cabral, manda a probidade que se responda que não há provas concludentes sobre a natureza dos mandantes. Sabe-se que havia organização, assassinado o fundador do PAIGC os sublevados repartiram-se em diferentes atividades, é óbvio que havia um plano.

 Desapareceram ou continuam religiosamente escondidas as conclusões das comissões de inquérito. Mesmo que um dia venham a aparecer, também se poderá pôr em causa o que ali vem escrito, já houve testemunhos suficientes de que foram arrancadas declarações ao sublevados da forma mais bárbara, à altura das polícias políticas mais torcionárias.

Não deixa de embaraçar quem analisa os factos a situação chocante de duas fações distintas, cabo-verdianos e guineenses, estes apresentam-se a Sékou Touré alegando que estão fartos de ser dominados pelos cabo-verdianos, por quem nutrem uma hostilidade multissecular. Creio que não se pode ir mais longe sem exibição de provas. Mas reconheça-se que para os velhos nostálgicos da unidade Guiné-Cabo Verde continua a saber bem alegar que foi Spínola e a PIDE/DGS em Bissau que dirigiram a manobra. 

E, por fim, convém não esquecer que a morte do fundador do PAIGC é o início de um mito poderosíssimo: o que teria acontecido ao país independente sob a liderança de Amílcar Cabral?

Um abraço do
Mário


Quem mandou matar Amílcar Cabral, reportagem publicada no Expresso em 16 de Janeiro de 1993 (2) 

Beja Santos  (*)

A reportagem de José Pedro Castanheira publicada na Revista do Expresso em 16 de Janeiro de 1993 teve o mérito de reacender em bases de investigação proba e rigorosa a investigação histórica quanto às motivações e constituição do complô que levou ao assassínio de Amílcar Cabral. 

Anos depois de José Pedro Castanheira ter dado forma de livro à sua importantíssima reportagem aparecia na imprensa portuguesa um livro-testemunho de análise irrecusável. Oscar Oramas, embaixador cubano em Conacri, ao tempo dos acontecimentos, tecia um rasgado elogio ao homem Amílcar Cabral e ao génio construtor de nações. É uma biografia, infelizmente cheia de imprecisões: atribui uma falsa importância a Juvenal Cabral na formação de Amílcar, pura mistificação; faz de Cabral um deportado pelo Governador Mello e Alvim, quando ele fazia o recenseamento agrícola, está demonstrado que Cabral regressou à pressa com a mulher a Portugal, estavam gravemente doentes com paludismo… 

O antigo embaixador estudou a história muito à pressa, atrevendo-se a dislates como dizer que o território da Guiné foi descoberto por navegadores portugueses nos finais do século XV… A despeito deste quadro de perniciosas imprecisões, coube-lhe assistir de perto ao assassinato de Cabral. O fundador do PAIGC vinha a insistir de que havia um processo de sabotagem dentro do partido e advertia que a maquinação era incentivada pelas forças coloniais que se aproveitariam de traidores e delinquentes. Minutos depois dos tiros assassinos, Otto Schacht, chefe da segurança do PAIGC telefona a Oramas, pede a sua comparência. No local do assassinato, o segurança cubano que acompanha o embaixador adverte que há um grupo escondido.

E ele escreve no seu livro “Amílcar Cabral para além do seu tempo”, Hugin Editores, 1998: “Mais tarde soube-se que escondido atrás daquelas árvores estava também Osvaldo Vieira”

Oramas procura um dirigente guineense, Bacary Ghibo, este telefona a Sékou Touré, Oramas conversa com o presidente da Guiné-Bissau. Entretanto, Oramas conversa com o embaixador soviético e acerta-se numa estratégia para procurarem recuperar Aristides Pereira que fora sequestrado por sublevados e levado numa lancha. 

Oramas assiste no palácio presidencial à reunião de Sékou Touré com a delegação de sublevados. Entre os conjurados estão Momo Touré e Inocêncio Kani que “explicam que a direção do PAIGC tem estado controlado pelos cabo-verdianos em detrimento dos guineenses que são os que lutam de armas na mão contra os portugueses. Dizem ter denunciado esta situação em várias oportunidades mas Amílcar nunca lhes deu importância. Acrescentam que não queriam matar Amílcar, apenas conversar com ele, convencê-lo a mudar, mas como resistiu, na confusão foi liquidado”.

Esta leitura dos acontecimentos vistos por uma testemunha privilegiada dão conta de uma tensão profunda que se procurava camuflar, embora diversos dirigentes do PAIGC tenham vindo a declarar, pouco depois do assassinato, que a atmosfera em Conacri era irrespirável, era patente que se urdia uma conjura cabo-verdianos e guineenses já não sentavam à mesma mesa.

No seu relevante trabalho, Castanheira houve opiniões díspares. Por exemplo, o Coronel Carlos Fabião era de opinião que fora a PIDE a montar o esquema. Fragoso Allas nega qualquer envolvimento. O respetivo ministro, Silva Cunha declara que não houve intervenção portuguesa. Alpoim Calvão também atira achas para a fogueira, envolve a PIDE. Nas suas investigações dos arquivos da PIDE, nenhum dos documentos trabalhados por Castanheira permite aduzir envolvimento da PIDE no complô, igualmente não há um papel incriminatório para Spínola.

Castanheira vai até Conacri ao local do crime e escreve:  

“É um círculo de cimento, de dois metros de diâmetro, pintado de branco. À volta, um murete baixo, igualmente caiado. No meio, desenhada com pedras do tamanho de uma unha, uma estrela de cinco pontas. Foi ali que caiu Amílcar Cabral a escassos metros da residência, junto à majestosa mangueira que filtra a luz quente e clara do sol africano. Durante anos, aquele punhado de terreno esteve simplesmente protegido por uma cerca de arames velhos e enferrujados. Foi preciso esperar por 1988 para que o local passasse a estar assinalado com alguma dignidade. Em Maio de 1960, Amílcar instalou-se em Conacri, ao PAIGC foram concedidas as quatro casas que hoje são património da embaixada da Guiné-Bissau (…) os quatro imóveis, simples, funcionais, de um único piso, faziam parte de um vasto conjunto urbanístico erguido, no final dos anos 1950, pela Société Minière”.


Neste preciso local foi assassinado Amílcar Cabral ao fim da noite de 20 de Janeiro de 1973

No final da reportagem, Castanheira ouve Nino Vieira. Desconhece-se o número dos fuzilados, mas diz que houve muito mortos, admite mesmo que houve inocentes mortos e comenta: “No congresso de 1984, Fidélis Almada declarou publicamente que foi mandatado para acusar muita gente”. Interpelado quanto ao facto do grupo dos conspiradores ser composto por guineenses, não ilude a clivagem que se estabelecera, mas pensava que a causa principal da morte de Amílcar fora a infiltração, era coisa trabalhada pela PIDE. Não adiante provas. Aqui e acolá, faz a sua crítica azeda a Aristides Pereira e a Luís Cabral.

Esta reportagem de José Pedro Castanheira veio abrir espaço a diferentes interpretações quanto a organizadores. Acrescente-se que não há provas nenhumas sob a natureza dos mandantes: não se sabe quem foi o cérebro do complô guineense, que houve complô demonstra-se pela capacidade de manobra dos revoltosos ao sequestrar Aristides Pereira, ao prender todo o grupo cabo-verdiano, ao querer captar as simpatias e aquiescência de Sékou Touré. Sobre esta matéria, o relato de Oscar Oramas é muito pobre, está constantemente a invocar o que veio na reportagem de José Pedro Castanheira. 

Mas Oramas revela profundo ceticismo quanto ao comportamento de Sékou Touré, pergunta mesmo como é que os conspiradores chegaram ao palácio no meio de uma grande mobilização militar que começou logo quando o embaixador cubano conversou telefonicamente com Sékou Touré. E está comprovado que naquela manhã de 20 de Janeiro um alto funcionário guineense, a mando de Sékou Touré, vai informar Amílcar Cabral que está uma intentona em marcha, este chama Mamadu N’Diaye e pede-lhe cautelas redobradas, como hipótese de trabalho terá sido esta determinação de Amílcar que levou os conspiradores a prontamente a entrar em ação.

Enfim tudo no campo das hipóteses mas há factos iniludíveis, de um lado, estavam cabo-verdianos e, do outro, guineenses, foram estes que se sublevaram em número elevado e ninguém acredita que Momo Touré e Inocêncio Kani tivessem estofo para pôr tanta gente em movimento naquele complô. A segunda morte de Cabral será confirmada a 14 de Novembro de 1980, quando os cabo-verdianos forem definitivamente arredados do poder, na Guiné-Bissau.
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Notas do editor

Guiné 61/74 - P19145: Blogoterapia (289): Aquele toque a finados é uma coisa que me arrepia... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

1. Mensagem de Virgílio Teixeira (, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69; natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já mais de 90 referências no nosso blogue):

Data: domingo, 28/10/2018 à(s) 11:54
Assunto: Dia do Exército - Celebrações em Guimarães

Bom dia, Bom amigo Luís,

Hoje é o Dia do Exército e ainda não vi um Poste alusivo a esta efeméride. Não sabia também, talvez pela mudança da hora, alterou os meus circuitos electrónicos.

Estava a fazer a barba, a minha mulher estava na cozinha, como sempre almoçamos em casa.
Ela tem a TV ligada na RTP1. E depois vem a missa de Domingo, que ela segue religiosamente enquanto trabalha.

Quando dou conta, ela tem a TV no máximo, estava a tocar aquele hino ao mortos, pela banda militar.
Como isto me arrepia, vim logo ver e ouvir a cerimónia, embora não em trajes militares... Aquele toque a finados, é uma coisa que me arrepia, ela sabe que eu gosto disso, nem precisa dizer nada, depois diz-me que é o Dia do Exército, e estava a ser celebrado numa igreja algures em Guimarães.
Não sei se estava lá o CEME, ou CEMGFA, havia muitos galões de General.

Esta noite tive novamente mais outro pesadelo. Estava a chegar à Guiné, para uma nova comissão...
E ainda me lembro que no sonho eu disse quando lá cheguei, sozinho, que ia para Nova Lamego!
De onde vêm estes sonhos, que apesar de tudo não são pesadelos, estava a encarar tudo bem, até disse lá à malta que já conhecia aquilo tudo, tinha já estado lá, depois acordei, não sei porquê, eram horas de acordar.

Desculpa estar a ocupar o teu tempo com estas merdices, num Domingo de sol e frio, ainda não fui à rua, mas já o sinto. Mas tenho de desabafar com alguém que me compreenda, os meus já não têm paciência, eu traumatizei-os ao longo dos tempos.

Ontem tivemos um dia muito mau, com um funeral de um amigo dos meus filhos, que também era quase 'filho' da casa, com 46 anos. O Padre Bártolo foi quem fez as cerimónias, às 10 horas da manhã. Veio de carro fúnebre da Alemanha, onde vivia, estava casado com uma mulher da Geórgia, ela também estava cá. A família estava num caos, são nossos conhecidos e amigos, o meu filho foi um dos seus melhores amigos, e carregou também à frente, a urna, juntamente com outros.

Um bom dia para ti junto da tua família.

Abraço,
Virgílio
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domingo, 28 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19144: Armamento (6): Morteiro médio 81 e morteiro pesado 107 (Luís Dias / Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 (1970/72) > O espaldão do morteiro 81.

Foto (e legenda): © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 1968 > CCS/ BCAÇ 1933 (1967/69) >  Espaldão do morteiro 10.7 (tubo com estrias, enquanto o morteiro 81 tem a alma lisa...).

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Guiné > Região de Quínara > Buba > c. 1969/71 > O Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138 (Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71) pesadas de infantaria, do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71), no espaldão do morteiro 81, com uma granada.

Foto (e legenda): © Fernando Oliveira ("Brasinha") (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > Montando segurança próxima do "porto fluvial": o morteiro 81, na margem direita do rio Fulacunda...

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A malta sabia pouco das "armas dos outros": os infantes, por exemplo, não sabiam nada de artilharia (por ex., obuz 10.5,  obus 14, peça 11.4)... Os "artilheiros", por sua vez,  não sabiam (nem tinham que saber) nada de morteiros, uma arma de infantaria...  E por aí fora, até chegar aos pilav, aos fuzos, aos páras...

Os "atiradores" sabiam da sua "canhota", a G3 (, desmontra, limpar, montar, usar...)  e chegava... Hoje, já de nada disso nos serve, saber a distinção entre tubos de alma lisa (morteiro 81) e tubos com estrias (morteiro 107), por exemplo, São coisas que, felizmente, não vão ser precisas lá no Olimpo dos deuses e dos heróis, onde todos temos um lugar reservado, pelo menos os camaradas da Guiné. Por outro lado, estas armas são hoje peças de museu...

Mesmo assim, ainda há um uns "maduros", como eu, que vão gastando o seu latim com a discussão do sexo dos anjos... Já não me pergunto nem respondo à pergunta se vale a pena... Se perguntasse e respondesse, já tinha fechado a loja... (Felizmente, que o não posso fazer, porque o blogue não é meu, é do Luís Graça & Camaradas da Guiné, do Carlos Vinhal, do Virgínio Briote, do Eduardo Magalhães Ribeiro, do Jorge Ara+ujo e tantos mais, ao todo, 779, entre vivos e mortos.)

De qualquer modo, o saber não ocupa lugar nem aumenta o peso da alma... Quando formos para os anjinhos, vamos todos nuinhos, sem botas, bem farda, sem quico, sem a G3, sem os cantis, o cinturão, as cartucheiras... Mas nunca se sabe se o sacrista (sem ofensa...) do São Pedro nos prega a partida e não nos obriga a fazer um teste de conhecimentos  ou até mesmo um teste psicoténico... É que nem todos entram, e há quem se atreva a meter cunhas...

Pelo sim, pelo não, tomem lá boa nota das características das duas armas: sobre o morteiro 81 temos já uma dúzia de referências; sobre o morteiro 107 (, que não existia em todos os aquartelamentos, contrariamenet ao morteiro 81) temos menos referências: não chegam à  meia dúzia  (LG). (*)

O TPC é do Luís Dias, de quem já não tenho notícias há muito , e para quem mando um grande alfabravo (***).

MORTEIRO MÉDIO BRANDT m/931 de 81mm

Tipo:  Morteiro médio
Origem: França
Calibre: 81, 4 mm
Comprimento do cano ou tubo: 126 cm
Peso do cano: 20, 7 Kg
Peso do bipé: 18, 5 Kg
Peso do prato base: 20, 5 Kg
Peso do aparelho de pontaria: 1,3 Kg
Peso total em posição de fogo: 61 Kg
Alcance: 4 000 m
Alinhamento de tiro: Recurso a aparelho de pontaria apropriado
Capacidade de fogo: Variável, entre 15 a 30 granadas por minuto
Funcionamento: Ante carga, com percutor fixo e de tubo de alma lisa. O disparo dá-se por queda da granada sobre o percutor e o lançamento por acção dos gases da carga propulsora e das cargas suplementares, se as houver.
Munição: Variada: granada explosiva normal (3, 2 Kg), explosiva de grande potência (6, 9 Kg), de fumos, iluminação e de treino... As granadas podiam levar cargas suplementares presas nas alhetas que lhe davam um maior alcance. Havia granadas que armavam por inércia e só depois disso é que rebentavam ao contacto e outras que rebentavam pelo contacto da mola do nariz.

Tudo isto desmontadinho, dá 60 kg, fora as granadas... Agora imaginem o que é levar tudo isto às costas em operações no mato!... Com turras, abelhas, formigas carnívoras e capim a arder, atrás de nós!... (**)

Diz o nosso especialista em armamento, o Luís Dias (***), que o principal morteiro médio utilizado na guerra colonial foi o Brandt m/931, desenvolvido por esta firma em França, no final dos anos 20 (1927), (ainda que baseado no desenho do morteiro Stokes, de origem inglesa,) e conhecido como o Brandt 81 mm ml/27/31 (por ter sido redesenhado em 1931). Foi o morteiro das forças francesas na II Guerra Mundial. Depois da ocupação nazi foi utilizado pelas forças alemãs a contento e deu origem a um morteiro do mesmo tipo norte-americano e muitas cópias pelo mundo fora.

MORTEIRO PESADO M2 M/951 [ou M2 4.2 inch mortar]

Tipo: Morteiro pesado
Origem: EUA
Calibre: 107 mm
Comprimento do cano: 121,92 cm
Peso do cano: 48 kg
Peso do bipé: 24 kg
Peso do prato base: 79 kg
Peso total em posição de fogo: 151 Kg
Alcance máximo: 4 400 m
Alcance mínimo: 515 m
Alinhamento de tiro: Recurso a aparelho de pontaria apropriado
Capacidade de fogo: 5 granadas por minuto, por períodos de 20 minutos.
Funcionamento: Ante carga, com percutor fixo
Munição: Granada explosiva (11,1 Kg c/3,6 Kg TNT) e de fumos.

O primeiro morteiro pesado M2 entrou ao serviço das forças dos EUA, em 1943, embora o primeiro morteiro de 107mm, o M1, tenha sido introduzido em 1928. O M2 entrou em serviço na Campanha da Sicília e com grande êxito, seguindo o acompanhamento da evolução da IIª Guerra Mundial até ao seu término. Fez ainda a Guerra da Coreia e, a partir de 1951 foi, gradualmente, sendo substituído pelo morteiro M30, também de 107mm. No exército português foi nesta data que entrou ao serviço e acompanhou toda a campanha de África da guerra colonial.
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

15 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19102: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLVII: Armamento: Morteiro 81 e morteiro 60, São Domingos, 1968

4 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18283: Buba e os pelotões de morteiro 81 no período entre 1964 e 1974: um espaldão com história (Jorge Araújo)

19 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18226: Memória dos lugares (370): Buba e o espaldão do morteiro 81 onde eu dormia... (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71)

(**) Vd. poste de 8 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8388: A minha CCAÇ 12 (18): Tugas, poucos, mas loucos...30 de Março-1 de Abril de 1970, a dramática e temerária Op Tigre Vadio (Luís Graça)

(...) Participaram na Op Tigre Vadio as seguintes forças (num total de 300 homens, incluindo carregadores civis que transportaram 2 morteiros 81, granadas de morteiro 81 e de bazuca, ... mas alguém se esqueceu dos jericãs com o precioso líquido chamado... água!) (...)

21 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5682: Armamento (1): Morteiros, Lança-Granadas, Granadas e Dilagrama (Luís Dias)

Guiné 61/74 - P19143: Blogpoesia (591): "O serrador", "Entusiasmo" e "Os enigmas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


O serrador

Duas serras e dois cavaletes eram a ferramenta.
De colete e botas.
Trabalhava à jorna.
Dois preços.
De comer ou a seco.
Chegava ao monte pela manhãzinha.
Pelo chão, espalhados, estavam os toros do eucalipto.
Mais os ramos.
Um cheirinho de invejar.
Escolhido o sítio, vinha a tarefa de pôr o toro sobre os cavaletes.
Sem ajudas.
À altura dum homem.
Em dois lances, uma força bruta,
e o toro jazia pronto para a serração.
Lá no alto, um pé à frente e outro atrás,
Derreado, apontava a serra ao tronco,
Já descascado.
E, vai de força, de cima abaixo,
Daquele jeito que só o mestre sabe,
Zás... Zás... Zás...
O serrim caía no chão e fazia tapete.
Uma tábua surgia e depois outra
E outra, até à última.
Aí, umas dez, conforme a grossura.
Era o primeiro.
A seguir o descanso. O suor escorria.
Ia ao bornal.
Uma caneca de tinto, um naco de broa e um chouriço.
Ao fim do dia, vinha o patrão.
Tarefa pronta.
Satisfação de ambos.
Madeira prá casa.
Quinze mil réis.
Graças a Deus!...

Berlim, 23 de Outubro de 2018
10h8m
Jlmg

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Entusiasmo

Não se compra nem vende o entusiasmo.
É um estado de alma.
Não se sabe donde vem.
É luz acesa. Sem ele, tudo apaga.
Nada tem sabor.
A apatia vem.
Reagir é o remédio.
Dar um passeio.
Pela montanha ou até ao mar.
Refrescar os olhos. Ver além.
Ouvir música.
Alegre e colorida.
Um bom vinho.
Abrir a janela.
Olhar o céu.
Tomar um duche.
Ir ao café.
Na esplanada.
Ver gente.
Ir a uma feira.
Estou certo.
Fica melhor.
Pode ser que tudo passe
E volte a sorrir...

Berlim, 25 de Outubro de 2018
8h33m
Jlmg

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Os enigmas

No começo, tudo está bem.
O sol e o vento são bons.
A chuva e o mar se dão bem.
Não pergunto o que haverá para lá daquela serra.
Me contento com o que tenho ao redor do meu quintal.
Uma bola, de trapos me contenta. De borracha será melhor.
Não importa a cor da camisola ou da camisa.
O que interessa é brincar.
O comer aparece sobre a mesa quando vem a fome.
Se alguém me fez mal digo ao meu pai.
É tão bom viver.
Sem perguntas. Está tudo certo.
Mas, depois vem a escola.
Letras e algarismos trazem dúvidas.
Traduzir a voz em sinais gráficos é uma meada muito envencilhada para decifrar.
Vem a história com suas histórias.
Os réis que já não há.
Suas façanhas sempre a mal.
A geografia a falar de rios e de continentes.
Já me bastava o regato da minha aldeia
e o lago de Sestais.
A aritmética das contas sempre a dar erradas.
Escrever sem erros é uma epopeia.
Depois, a religião a falar do que se não vê.
Para que serve acreditar?
De vez em quando há alguém que morre.
O corpo vai para o chão.
Para onde vai a alma do pensamento.
Dizem que é imortal.
Acreditar sem ver não é bem do nosso agrado.
Os preceitos do bom viver. Qual a fonte?
Porquê o prémio e o castigo, já me chega o que chamam a consciência?
Enfim. Um emaranhado de mistérios.
Se não fossem bem explicados,
Mais valia não haver...

ouvindo Secret Garden- Música para el espíritu - Luty Molíns
Berlim, 26 de Outubro de 2018
8h 56m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19124: Blogpoesia (590): "No meio da geometria", "Não tem pele a alma" e "Estado de alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728