domingo, 21 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19124: Blogpoesia (590): "No meio da geometria", "Não tem pele a alma" e "Estado de alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


No meio da geometria

Vivemos mergulhados na geometria.
Geometria das flores e das galáxias.
Das esferas e planetas.
Das dunas e dos vulcões.
Somos massa e pedra multiforme.
Temos ossos e temos carne.
Somos frágeis em demasia.
Átomos e moléculas de carbono em ebulição.
Temos pés e temos mãos.
Seria o fim do mundo se também tivéssemos asas.
Descontentes, tudo lamentamos.
Até o ar gelado que nos dá a vida.
Nos fingimos doces, só por fora.
Cá por dentro, tão amargos.
Insaciáveis. Queremos tudo.
Prometemos e não cumprimos.
Ortorrômbicos e octaédricos.
Nem um só ângulo recto...

Berlim, 19 de Outubro de 2018
8h 32m
dia de sol, frio
Jlmg

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Não tem pele a alma

Sua cor é a transparência e brilha à luz do bem.
Tem o sopro da vida eterna e a força do amor sem fim.
Sempre atenta ao que o corpo pede.
Faz de conta a ver se aprende quando ele erra o seu caminho.
Não tem pele a alma
Tem o sopro da vida eterna e a força do amor sem fim.
Sempre atenta ao que o corpo pede.
Faz de conta quando ele erra só para ver se aprende
Como o astro-rei gravita ao sabor do tempo.
Sabe de cor os passos que seu corpo dá.
Dá-lhe a arte pura de saber dizer.
É em união perfeita que os dois se entendem.
Têm a sabedoria inata de saber sorrir.
Só a lei da morte os pode separar.
Que ela venha tarde...

Berlim, 16 de Outubro de 2018
10h46m
Jlmg

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Estado de alma

Não é sempre a mesma a cor do mar.
As núvens do céu não param de mudar.
Seus tons e suas formas.
O sol e o vento as molda como quer.
Cada dia nasce e é de sua maneira.
Todos temos nossas formas de adormecer e de dormir.
O chorar e o sorrir é ao corpo que compete mas vem da alma a hora de os sentir.
Cada voz tem o seu tom.
Tem cor e não tem pele
E mais nenhuma é igual.
Ninguém escolhe onde nascer
Nem a hora de morrer.
O sabor da vida só depende do estado de alma...

ouvindo HAUSER - Vocalise (Rachmaninov)
Berlim, 14 de Outubro de 2018
8h51m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de14 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19101: Blogpoesia (589): "Com um ponteiro de lousa...", "É amarelo o Outono" e "Pardo e negro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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