sábado, 27 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19140: Os nossos seres, saberes e lazeres (290): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (9): A viagem de regresso, tijolo e muito Património da Humanidade (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Agosto de 2018:

Queridos amigos,
Sai-se de casa com boas intenções, aquele museu des Augustins tem suficiente riqueza para lá passar uma boa parte do dia, esclareça-se que só a riqueza em capitéis românicos é de primeiríssima classe, está ali Património da Humanidade. Mas o diabo tece-as, o viandante ia disposto a flanar, e flanou mesmo, de modo que chegou tarde ao museu des Augustins, e quando lá entrou apercebeu-se que tinha à sua espera uma prodigiosa exposição, é a compensação que o museu dá enquanto se fazem obras na secção das Belas-Artes.
Prepare-se o leitor, pois, para os próximos capítulos.

Um abraço do
Mário


Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (9): 
A viagem de regresso, tijolo e muito Património da Humanidade

Beja Santos

O viandante passeia-se pelo Canal do Midi, anda nostálgico, em breve acabarão tão dulcificantes férias. Hoje não sai do burgo, tem muito que fazer em Toulouse, passa pela gare ferroviária, mais um dia de greve, por isso viajou tanto de autocarro, às vezes tem as suas vantagens.



Não se veio a Toulouse à procura da capital do reino Visigótico, sabia-se, consta mesmo do Guia Michelin, que há muito tijolo nesta arquitetura, basta pensar na Basílica de St-Sernin, nas esculturas românicas do Museu des Augustins, onde hoje se volta por causa de um património ultra valioso, os capitéis de templos religiosos que foram demolidos no século XIX e houve um espírito previdente de os guardar e preservar.



Vai o viandante a caminho do Museu dos Augustins, prato de substância para hoje, mas não resiste a bisbilhotar fachadas, praças, houvesse tempo e até se poria um pé dentro do Museu da Aeronáutica, Toulouse tem o seu nome associado à aventura aérea, lembre-se Antoine de Saint-Exupéry, o escritor e piloto que nos deu o Principezinho, ou Jean Mermoz, o pioneiro da linha Rio de Janeiro – Santiago do Chile, foi ele que estabeleceu a primeira ligação postal com a América do Sul; há também o Museu de História Natural de Toulouse e um Museu do Cartaz, tem patente uma exposição de cartazes de transatlânticos, para já não falar da Fundação Bemberg, que permite ao visitante conhecer um conjunto excecional de pinturas de Pierre Bonnard. Paciência, não se pode ter tudo.



Passou-se de raspão pela praça do Capitólio, hoje é dia de feira, o viandante por ali anda a admirar bijuteria marroquina, tudo a dez euros, parecem tesouros saídos da caverna de Ali Babá, bijuteria refulgente, diga-se em abono da verdade que tem o seu quê de impressionante, é um grande bazar a céu aberto.




É fatal como o destino, passar pela Basílica de Saint-Sernin exige uma visita de médico, o viandante já confirmou existir uma admirável harmonia das escalas, esta igreja de peregrinação construída no século XI e, claro está, com acrescentos até ao Renascimento e obras de restauro no século XIX impõe-se pela abside, o cruzeiro, as naves, mesmo as laterais, o deambulatório e aquele espetacular altar do século XI, oferta papal. O viandante anda por ali de olho arregalado, é como se estivesse a visitar S. Pedro ou a Basílica de Assis, são impressões esmagadoras, para diante da magnificência do altar-mor, são horas de partir para os Augustins.





São João Evangelista e Santo Agostinho, por Perugino

Quem diria que se iria encontrar tanta opulência, escultura gótica, escultura românica, salas de pintura, estamos num convento transformado em museu, é um exemplar de grande beleza arquitetónica gótica meridional, construído entre os séculos XIV e XV. Uma parte fundamental do museu está em obras, oferece-se ao visitante uma exposição fabulosa, Toulouse no Renascimento, que o leitor que tem a paciência de acompanhar estas deambulações se acautele, vêm aí iluminuras surpreendentes, vitrais, escultura em pedra e em bronze, relicários, manuscritos espantosos. O viandante volta já.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19122: Os nossos seres, saberes e lazeres (289): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (8): Em Pau, com chuva torrencial, à procura de Henrique IV, aqui nascido (Mário Beja Santos)

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