sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19139: Efemérides (294): Há 49 anos, neste dia 24 de Outubro, no RAP 2, soube que estava mobilizado para a Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

Porta de Armas do Quartel da Serra do Pilar - Rua Rodrigues de Freitas


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 25 de Outubro de 2018:

Camarigos,
Há 49 anos neste dia 24 de Outubro soube que estava mobilizado para a Guiné. Era o meu dia de “Casamento” com o Teatro de Operações do Comando Territorial Independente da Guiné.

A proclamação foi publicada na Ordem de Serviço n.º 250 de 24.10.1969 do RAP 2, que transcrevo:

Nomeação de pessoal para o Ultramar
- Que segundo nota n.º 52400, Pº. 6/4 - HC de 13.10.1969 da RSP/DSP/ME, o pessoal abaixo indicado foi nomeado para servir no Ultramar nos termos da alínea c) do Art.º 3.º do Dec. 42937 de 22/4/60
BCaç.2912/C.Caç.2699, 2700 e 2701/RI 2
B. Caç.2912
ALIMENTAÇÃO – RI 2/RAP 2 ANTÓNIO CARLOS S. TAVARES – 2989/69 – NM 03175469.  

Ao longo dos anos outros nomes e números foram escritos em Ordens de Serviço. Com certeza só a alínea c) do Art.º 3.º do Dec. 42937 de 22/4/60 era comum e aterradora para um jovem em idade militar.

O Quartel de Vila Nova de Gaia – RAP 2 – viu partir milhares de jovens para a Guerra Colonial.
Recebia os Soldados de toda a região Norte mortos no Ultramar.

Nos três meses que estive no RAP 2 vi partir e regressar muitos militares.
Não sei qual o momento mais emotivo a que assisti. A partida era uma incógnita para o desconhecido… Para a Guerra!
Os familiares acompanhavam os militares até aos cais de embarque: Estação das Devesas ou um Cais Marítimo de Lisboa.
A chegada talvez fosse mais emotiva ao receber os Heróis do Ultramar.

As ruas de Rodrigues de Freitas e dos Polacos enchiam-se de pessoas. Estas, quando avistavam os camiões da coluna auto, que transportavam os regressados militares, gritavam e choravam de emoção a chamar os familiares que estiveram na guerra durante dois e até mais anos.
As barreiras colocadas no perímetro da Porta de Armas facilmente eram derrubadas pelo mar de gente.

 Rua dos Polacos

Os Comandos do quartel davam ordens para os militares, que faziam a segurança, recolherem ao quartel. Assim aconteceu com o meu pelotão.

Para todos uma infinidade de tempo decorria entre os períodos em que o militar entrava no RAP 2 e o que abraçava a família.
Militar que regressava diferente do Homem que tinha partido.
A chamada Peluda ficava para uns meses mais tarde.

O Quartel da Serra do Pilar ao longo dos anos teve vários nomes, a saber:
- Maio 1889 a 1897 – Brigada de Artilharia de Montanha;
- 1897 a 1911 – Baterias Destacadas do RA6, RA4 e RA5;
- 1911 a 1926 – Regimento de Artilharia n.º 6;
- 1926 a 1927 – Regimento de Artilharia n.º 5;
- 1927 a 1939 – Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5;
- 1939 a 1975 – Regimento de Artilharia Pesada n.º 2;
- 1975 a 1993 – Regimento de Artilharia da Serra do Pilar;
- 1993 a Julho 2014 – Regimento de Artilharia n.º 5 e
- a partir de Agosto de 2014 - Quartel da Serra do Pilar.

Um Quartel onde assentaram Praça gerações familiares talvez predestinadas para a arma de Artilharia.

 Obuses na Parada General Torres

“ E AQUELES QUE POR OBRAS VALOROSAS SE VÃO DA LEI DA MORTE LIBERTANDO” 
Monumento aos Mortos na Guerra Colonial na Parada General Torres. 
O General Torres foi o 1.º Comandante da Fortaleza da Serra do Pilar.

 
A Caserna dos Polacos da Serra que se distinguiram durante a Guerra Civil (entre as tropas de D. Miguel e D. Pedro IV) e o Cerco Porto (entre Julho de 1832 e Agosto de 1833)

 Monumento na Parada General Torres, evocativo das Invasões Francesas

A minha despedida do Quartel de Galomaro, nas matas do Leste do Teatro de Operações do Comando Territorial Independente da Guiné, em Março de 1972.

Abraço do
António Tavares
Foz do Douro, Quarta-feira 24 de Outubro de 2018
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19135: Efemérides (293): Homenagem aos paraquedistas que completaram 50 anos de brevet (1968-2018): Tancos, 27 de setembro de 2018 (Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil pára, 1ª CCP/BCP 21, Angola, 1970/72)

5 comentários:

Anónimo disse...

Olá Tavares:
O RAP2 - Regimento de Artilharia Pesada nº 2 foi assim que sempre o conheci. O meu sobrinho esteve lá ainda como RASP2. Agora mudou de nome.
Também faz por esta altura, mês de Outubro de 1969, portanto 49 anos, que fui chamado lá, para ir levantar 3 caixotes (digamos 3 caixotes do tamanho de caixões) carregados de garrafas de todas as bebidas que a maioria das pessoas nem conheciam. Foi o meu espolio de guerra. Dezenas de garrafas das melhores bebidas do planeta, ainda duraram uns anos, mas foi tudo abaixo.
Tinha regressado em 10AGO69, e estas coisas vieram nos porôes do UIGE e depois foram sendo despachadas, como eu era do Porto, tive de lá ir com uma carrinha levantar aquilo tudo. Já tinha pensado que tinham ido 'borda fora'. Ainda bem. São estas coincidências, talvez nos tivéssemos encontrado, pois ainda lá fui umas 3 vezes, nesse mês, depois voltei algumas vezes para conhecer melhor este belo edifício e vistas do Porto e Gaia.
Mas sei pouco da sua História, como baluarte da nossa independência e soberania.
Um dia vamos encontrar-nos na Foz, pois tenho a minha filha mais velha a morar lá, e pode ser que tendo os teus dados ainda apareça.
Ab, Virgilio





Hélder Valério disse...

Caro António Tavares

A data do conhecimento da mobilização será, naturalmente, uma "data marcante".
É, como dizes, a marca do casamento com o CTIG.

A minha foi a 1 de Setembro de 1970.
Também não a esqueci.

Abraço
Hélder Sousa

Anónimo disse...

Caro António Tavares,

Já agora tinha-se esquecido de comentar o assunto, a data do meu casamento com o CTIG foi a 10AGO67, e o divórcio, em 10AGO69, no RI15 em Tomar. Dois anos certos.

Não sei se foi assim tão marcante, acho que já se adivinhava, e bateu certo. Mas na realidade a data marcante foi mesmo a 21 SET67 o dia em que desembarquei na Guiné depois de uma viagem de 24 horas no avião de 4 hélices, um Douglas DC6 da FAP.
Aí, quando abriram as portas do avião, aquele escaldão foi o inicio do massacre.
Abraço,
Virgilio Teixeira
(ex alf mil do SAM)

Julio Vilar pereira Pinto disse...

RAP2 o meu quartel, estive lá de Agosto de 66 a a Agosto de 67, era da 2ª Bateria, formei BART 1926, aí e em Setembro de 69 fuiu para a Bateria de Leixões com a minha CART 1769 de onde em 11 de Novembro de 67 embarquei para Angola, fui no UIGE

Carlos Vinhal disse...

Amigo Júlio, onde apanharam o Uíge? Leixões ou Lisboa?
Abraço