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Nota do editor
Último poste da série de 25 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19333: Parabéns a você (1548): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2018
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
Guiné 61/74 - P19336: Historiografia da presença portuguesa em África (142): Meu Corubal, meu amor (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Maio de 2018:
Queridos amigos,
O relato que se segue é já da I República, o manuscrito foi datilografado em 1931. O Capitão José António de Castro Fernandes, natural da Índia, faz-nos um empolgante registo da região de Buba, de que foi administrador. Percorreu rios e braços de mar, é uma vivência e um saber feitos de comprovada experiência, como se poderá ver.
Depois do Geba, o Corubal é um rio da minha vida, pelo que fui ao Xitole, ao Xime, à Ponta do Inglês. E a experiência que tive, em novembro de 2010 quando percorri de mota a estrada Xime-Ponta do Inglês foi inesquecível, eu ia embevecido por aqueles campos frondosos em torno do Corubal, que atravessei em várias direções com a G3 nas mãos, quem aqui combateu conhece o significado da Ponta do Inglês, Ponta Varela, Poidom, Buruntoni.
Uma das tristezas que guardo dessa viagem é não ter ido a Ponta Luís Dias, Tabacuta, Mina e Galo-Corubal, vindo depois por Xitole, e regressando a Bambadinca por Moricanhe, Taibatá e Amedalai.
Prometi a mim mesmo que será itinerário obrigatório na próxima viagem, o Corubal é muitíssimo belo.
Um abraço do
Mário
Meu Corubal, meu amor (1)
Beja Santos
Nos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa consta um dossiê assim apresentado: Província da Guiné – Relatório de autor ignorado (mas que julgamos ter sido elaborado pelo antigo administrador de Buba, Capitão José António de Castro Fernandes, natural da Índia, cujo filhos residem, ainda, na Guiné. O original existia em poder do falecido Capitão Alberto Soares, antigo Administrador do Concelho de Bolama, combatente das campanhas de pacificação. Quem datilografou em 1931 diz que faltam as primeiras páginas, o que reproduz inicialmente está cheio de tracejado, é manifestamente incompreensível. O manuscrito, como iremos ver, é da década de 1910.
E o que é compreensível começa exatamente com o rio Corubal, deste modo:
“O rio Corubal é muito profundo mas cheio de baixos; e maior profundidade apresenta na margem esquerda ou na margem do lado do Forreá. Não é navegável senão para barcas que não demandem mais de duas braças de água, e isto mesmo até Xitole, e dali até próximo à cachoeira de Cussilinta, perto de Gambessé, com bastante dificuldade e perícia, por parte do respectivo piloto do barco.
Impedem a navegação, além das diversas cachoeiras e o banco que forma logo à entrada defronte de Gampará e, que na baixa-mar, se vê que é, em uns quilómetros de extensão, os bancos de areia e lodo, que, segundo as estações e outras circunstâncias, e entre estas o macaréu, são arrastados pela caprichosa natureza, em diferentes sentidos, afirmando os pilotos práticos neste rio que um banco encontrado num mês nem sempre se encontra, passados dias, no mesmo local, pelo que a navegação, mesmo até ao Xitole, deve ser feita cuidadosamente. Na época pluviosa, acresce a este inconveniente de mudanças de baixos a vertiginosa corrente do rio que atrasa e dificulta bastante a navegação.
A dificuldade de não se ter ainda conseguido a navegação além das cachoeiras dá ocasião a que variados produtos, designadamente arroz, que em grande quantidade se planta e colhe no Alto Forreá (parte do Boé) sejam desviados para o território francês, onde fazem a permuta, principalmente na época das chuvas, durante essa época torna-se impossível conservar-se em estado de ser transitado um caminho que eu mandei abrir na cambança de Juda – Maganacho até Xitole”.
O relator apresenta-nos agora o rio Grande de Bulola ou de Buba, dizendo:
“É antes um braço do mar do que rio propriamente dito. Muitos anos se julgou que tinha comunicação com o rio Corubal, sendo talvez o motivo de o chamarem Rio Grande. Nas suas margens divisam-se extensas e graciosas colinas cheias de verdejantes matas e uma infinidade de cibes (palmeiras). Estas margens cortadas quase a pique, com bastante altura, oferecem assim dispostas um seguro abrigo aos navegantes contra os tornados (ciclones especiais da costa da Guiné, tendo por foco a Serra Leoa).
Bastante profundo e sem baixos, pode ser facilmente navegado por navios de longo curso até próximo do rio Regina, onde, pelo constante assoreamento, formou-se um baixo que uma sonda o encontra a duas braças de profundidade, porém, passado este baixo, pode continuar-se a navegar até próximo de Buba, em navios que não demandem mais de quatro braças, se bem que, com muita cautela se deve fazer, por causa do constante e progressivo assoreamento do rio desde o referido baixo do rio Regina até Buba.
De Buba até à sua confluência com o rio de Bolama, na Ponta Colónia, faz um percurso aproximado de 50 milhas, em constantes ziguezagues, formando pontas ou antigas e ricas feitorias que existiram em número superior a 60 e que aqui atraíram, outrora, pelo seu importante comércio e pela facilidade de navegação do Rio Grande, navios de longo curso. Em algumas pontas vêem-se ainda restos destas feitorias com as suas cisternas, armazéns, prisões, etc, feitorias, que, senão fora as lutas havidas lá pelos anos de 1882 a 1885-86, entre Fulas e Biafadas, ainda hoje existiriam, e o Rio Grande não teria perdido a sua importância e nem estaria na decadência em que hoje se encontra; se bem que, ainda se espera pelo constante repovoamento dessas pontas, que nos últimos dois anos se tem acelerado bastante, vem a aproximar-se, pelo menos, da sombra do que foi.
Tem este rio ou braço de mar um grande número de afluentes, alguns importantes pela sua profundidade e largura, principalmente no praia-mar, onde se encontra mais de 3 a 5 braças de profundidade, sendo pena que na baixa-mar fiquem por completo desaguados, conservando, apenas, em certos lugares, bacias que têm servido de ancoradouros a barcos à espera da praia-mar para dele saírem”.
O Capitão Castro Fernandes é minucioso, não se contentou em descrever o rio de Buba, dá-nos igualmente a relação dos afluentes que ele percorreu em lancha a vapor ou em escaler a remos: rio Regina, rio Banin ou de Mato-Grande, rio Buduco, rio Tinto, rio Cumbijan, rio Mansole, Rio Ocaz, Canal da Ilha Seca, rio Bissilão. Diz que o rio Regina é bastante largo, o rio Banin situa-se na margem direita, lado do Quínara, o Buduco é bastante largo, tem um braço do lado direito para o Posto Administrativo de Fulacunda.
Como é minucioso, deixa no seu relatório que julga importante:
“À entrada deste rio, encontra-se um grande baixo de pedra, deixando ver na baixa-mar um grande recife, pelo que se torna bastante perigoso, sendo por este motivo e ainda para se poder seguir a favor da corrente que se entra no rio depois de principiar a enchente e antes do recife ficar coberto; o rio Tinto fica na margem esquerda no Rio Grande; o rio Cumbijan é bastante largo e profundo, atravessa a circunscrição de Cacine".
E o nosso relator comenta:
“Não o conheço por mar, mas por várias vezes estive nas suas margens, no local de Cumbijan, onde existe um estabelecimento comercial. Na época pluviosa, dizem ser perigosa a navegação, devido a grandes troncos de árvores arrastadas pela corrente. Durante as chuvas constantes e torrenciais, transbordando as superfícies pantanosas, formam-se no Forreá vários regatos que junto com as nascentes existentes, correm para este rio Cumbijan; o Mansole é um afluente do rio de Bolama, bem como o rio Salanca ou de Nhala, este com largura de mais de 400 metros e extensão até à Ponta de João Preto; falando do rio Ocaz, diz que contornado a ponta de Nhala, fica do outro lado a povoação Balanta de Bissásema; regista que entre o Quínara e o Ilhéu do Rei, um pouco mais para cima, fica a Ilha Seca. Entre esta ilha e o Quínara é o canal da Ilha Seca".
E regista:
“Na entrada tem um baixo; contudo, um barco que não demande mais de duas braças o transpõe na praia-mar facilmente e sem perigo algum. Passado este baixo, o canal acusa, invariavelmente, cinco ou seis braças folgadas. Na saída para o rio Geba, perto de Jabadá, há um outro baixo nas mesmas condições do da entrada”.
(Continua)
Nota do editor
Último poste da série de 19 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19307: Historiografia da presença portuguesa em África (140): As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (3) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
O relato que se segue é já da I República, o manuscrito foi datilografado em 1931. O Capitão José António de Castro Fernandes, natural da Índia, faz-nos um empolgante registo da região de Buba, de que foi administrador. Percorreu rios e braços de mar, é uma vivência e um saber feitos de comprovada experiência, como se poderá ver.
Depois do Geba, o Corubal é um rio da minha vida, pelo que fui ao Xitole, ao Xime, à Ponta do Inglês. E a experiência que tive, em novembro de 2010 quando percorri de mota a estrada Xime-Ponta do Inglês foi inesquecível, eu ia embevecido por aqueles campos frondosos em torno do Corubal, que atravessei em várias direções com a G3 nas mãos, quem aqui combateu conhece o significado da Ponta do Inglês, Ponta Varela, Poidom, Buruntoni.
Uma das tristezas que guardo dessa viagem é não ter ido a Ponta Luís Dias, Tabacuta, Mina e Galo-Corubal, vindo depois por Xitole, e regressando a Bambadinca por Moricanhe, Taibatá e Amedalai.
Prometi a mim mesmo que será itinerário obrigatório na próxima viagem, o Corubal é muitíssimo belo.
Um abraço do
Mário
Meu Corubal, meu amor (1)
Beja Santos
Nos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa consta um dossiê assim apresentado: Província da Guiné – Relatório de autor ignorado (mas que julgamos ter sido elaborado pelo antigo administrador de Buba, Capitão José António de Castro Fernandes, natural da Índia, cujo filhos residem, ainda, na Guiné. O original existia em poder do falecido Capitão Alberto Soares, antigo Administrador do Concelho de Bolama, combatente das campanhas de pacificação. Quem datilografou em 1931 diz que faltam as primeiras páginas, o que reproduz inicialmente está cheio de tracejado, é manifestamente incompreensível. O manuscrito, como iremos ver, é da década de 1910.
E o que é compreensível começa exatamente com o rio Corubal, deste modo:
“O rio Corubal é muito profundo mas cheio de baixos; e maior profundidade apresenta na margem esquerda ou na margem do lado do Forreá. Não é navegável senão para barcas que não demandem mais de duas braças de água, e isto mesmo até Xitole, e dali até próximo à cachoeira de Cussilinta, perto de Gambessé, com bastante dificuldade e perícia, por parte do respectivo piloto do barco.
Impedem a navegação, além das diversas cachoeiras e o banco que forma logo à entrada defronte de Gampará e, que na baixa-mar, se vê que é, em uns quilómetros de extensão, os bancos de areia e lodo, que, segundo as estações e outras circunstâncias, e entre estas o macaréu, são arrastados pela caprichosa natureza, em diferentes sentidos, afirmando os pilotos práticos neste rio que um banco encontrado num mês nem sempre se encontra, passados dias, no mesmo local, pelo que a navegação, mesmo até ao Xitole, deve ser feita cuidadosamente. Na época pluviosa, acresce a este inconveniente de mudanças de baixos a vertiginosa corrente do rio que atrasa e dificulta bastante a navegação.
A dificuldade de não se ter ainda conseguido a navegação além das cachoeiras dá ocasião a que variados produtos, designadamente arroz, que em grande quantidade se planta e colhe no Alto Forreá (parte do Boé) sejam desviados para o território francês, onde fazem a permuta, principalmente na época das chuvas, durante essa época torna-se impossível conservar-se em estado de ser transitado um caminho que eu mandei abrir na cambança de Juda – Maganacho até Xitole”.
O relator apresenta-nos agora o rio Grande de Bulola ou de Buba, dizendo:
“É antes um braço do mar do que rio propriamente dito. Muitos anos se julgou que tinha comunicação com o rio Corubal, sendo talvez o motivo de o chamarem Rio Grande. Nas suas margens divisam-se extensas e graciosas colinas cheias de verdejantes matas e uma infinidade de cibes (palmeiras). Estas margens cortadas quase a pique, com bastante altura, oferecem assim dispostas um seguro abrigo aos navegantes contra os tornados (ciclones especiais da costa da Guiné, tendo por foco a Serra Leoa).
Bastante profundo e sem baixos, pode ser facilmente navegado por navios de longo curso até próximo do rio Regina, onde, pelo constante assoreamento, formou-se um baixo que uma sonda o encontra a duas braças de profundidade, porém, passado este baixo, pode continuar-se a navegar até próximo de Buba, em navios que não demandem mais de quatro braças, se bem que, com muita cautela se deve fazer, por causa do constante e progressivo assoreamento do rio desde o referido baixo do rio Regina até Buba.
De Buba até à sua confluência com o rio de Bolama, na Ponta Colónia, faz um percurso aproximado de 50 milhas, em constantes ziguezagues, formando pontas ou antigas e ricas feitorias que existiram em número superior a 60 e que aqui atraíram, outrora, pelo seu importante comércio e pela facilidade de navegação do Rio Grande, navios de longo curso. Em algumas pontas vêem-se ainda restos destas feitorias com as suas cisternas, armazéns, prisões, etc, feitorias, que, senão fora as lutas havidas lá pelos anos de 1882 a 1885-86, entre Fulas e Biafadas, ainda hoje existiriam, e o Rio Grande não teria perdido a sua importância e nem estaria na decadência em que hoje se encontra; se bem que, ainda se espera pelo constante repovoamento dessas pontas, que nos últimos dois anos se tem acelerado bastante, vem a aproximar-se, pelo menos, da sombra do que foi.
Tem este rio ou braço de mar um grande número de afluentes, alguns importantes pela sua profundidade e largura, principalmente no praia-mar, onde se encontra mais de 3 a 5 braças de profundidade, sendo pena que na baixa-mar fiquem por completo desaguados, conservando, apenas, em certos lugares, bacias que têm servido de ancoradouros a barcos à espera da praia-mar para dele saírem”.
O Capitão Castro Fernandes é minucioso, não se contentou em descrever o rio de Buba, dá-nos igualmente a relação dos afluentes que ele percorreu em lancha a vapor ou em escaler a remos: rio Regina, rio Banin ou de Mato-Grande, rio Buduco, rio Tinto, rio Cumbijan, rio Mansole, Rio Ocaz, Canal da Ilha Seca, rio Bissilão. Diz que o rio Regina é bastante largo, o rio Banin situa-se na margem direita, lado do Quínara, o Buduco é bastante largo, tem um braço do lado direito para o Posto Administrativo de Fulacunda.
Como é minucioso, deixa no seu relatório que julga importante:
“À entrada deste rio, encontra-se um grande baixo de pedra, deixando ver na baixa-mar um grande recife, pelo que se torna bastante perigoso, sendo por este motivo e ainda para se poder seguir a favor da corrente que se entra no rio depois de principiar a enchente e antes do recife ficar coberto; o rio Tinto fica na margem esquerda no Rio Grande; o rio Cumbijan é bastante largo e profundo, atravessa a circunscrição de Cacine".
E o nosso relator comenta:
“Não o conheço por mar, mas por várias vezes estive nas suas margens, no local de Cumbijan, onde existe um estabelecimento comercial. Na época pluviosa, dizem ser perigosa a navegação, devido a grandes troncos de árvores arrastadas pela corrente. Durante as chuvas constantes e torrenciais, transbordando as superfícies pantanosas, formam-se no Forreá vários regatos que junto com as nascentes existentes, correm para este rio Cumbijan; o Mansole é um afluente do rio de Bolama, bem como o rio Salanca ou de Nhala, este com largura de mais de 400 metros e extensão até à Ponta de João Preto; falando do rio Ocaz, diz que contornado a ponta de Nhala, fica do outro lado a povoação Balanta de Bissásema; regista que entre o Quínara e o Ilhéu do Rei, um pouco mais para cima, fica a Ilha Seca. Entre esta ilha e o Quínara é o canal da Ilha Seca".
E regista:
“Na entrada tem um baixo; contudo, um barco que não demande mais de duas braças o transpõe na praia-mar facilmente e sem perigo algum. Passado este baixo, o canal acusa, invariavelmente, cinco ou seis braças folgadas. Na saída para o rio Geba, perto de Jabadá, há um outro baixo nas mesmas condições do da entrada”.
(Continua)
Rápidos de Cusselinta, rio Corubal
Fotografia de José António Sousa publicada no site http://geoview.info/, com a devida vénia.
Che-Che, rio Corubal
Fotografia retirada da rede social Pinterest, com a devida vénia.
O Corubal visto da Ponta do Inglês
Tirei esta fotografia em novembro de 2010, acompanhou a viagem do Tangomau, pertence ao nosso blogue.
____________Nota do editor
Último poste da série de 19 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19307: Historiografia da presença portuguesa em África (140): As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (3) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P19335: (D)outro lado do combate (41): Carta de Aristides Pereira a 'Nino' Vieira, escrita em Cassacá, em 22 de janeiro de 1964 (Jorge Araújo)
Cassacá em 2018. Foto do camarada Patrício Ribeiro, com a devida vénia [P18697].
Mapa de Cacine, Sector de Quitafine (Frente Sul). Cassacá, local onde foi manuscrita a carta de Aristides Pereira, em 22 de janeiro, e, também, o da realização do I Congresso do PAIGC, organizado entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964, estava situada a quinze quilómetros a sul de Cacine e a trinta da fronteira com a Guiné-Conacri.
Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974): coeditor do nosso blogue
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
CARTA DE ARISTIDES PEREIRA A 'NINO' VIEIRA, ESCRITA EM CASSACÁ EM 22 DE JANEIRO DE 1964, UM ANO DEPOIS DO ATAQUE A TITE
- AS ORIGENS DO PRIMEIRO CORPO DO EXÉRCITO DO PAIGC -
Os relatos publicados nos P19254 e P19259 suscitaram-me particular interesse, do ponto de vista histórico, por recuperarem mais alguns dos episódios do período que antecedeu o início do conflito armado no CTIG, nomeadamente durante o ano de 1962, por permitirem identificar os principais actores de cada um deles.
Estes e muitos outros que, na fita do tempo, se foram sucedendo acabariam por influenciar, para o bem ou para o mal, os comportamentos sociopolíticos em cada um dos lados em confronto, que culminaram com o ataque ao aquartelamento de Tite, localizado na região de Quinara, facto ocorrido em 23 de Janeiro de 1963.
No primeiro caso [P19259], o depoimento do ancião autóctone que surge no vídeo a falar da sua experiência e das suas memórias, e que se considera ser um dos primeiros sete ex-combatentes que tomaram a decisão de aceitar fazer parte do universo da guerrilha nacionalista, dá conta que uma das primeiras "barracas" [acampamentos] criada no Cantanhez, região de Tombali, foi em Caboxanque.
No segundo caso [P19254], é relevante o facto de ser reduzido o número de efectivos militares na Guiné, uma vez que a CCAÇ 153, comandada pelo, então, capitão e infantaria José dos Santos Carreto Curto, era a única companhia em todo o Sul da Guiné em 1961, com um pelotão em Buba e uma secção em Aldeia Formosa. Mais tarde fez deslocar um Gr Comb para Cacine. Estiveram também aquartelados em Cufar numa fábrica de arroz, bem como em Catió, até que a situação se agravou em termos operacionais [Vd. P19264 e P19291; notas de leitura do camarada Beja Santos].
Em função do vasto território em que se movimentou, particularmente nas Regiões de Tombali e Quínara, o capitão Carreto Curto, que no passado dia 30 de Novembro nos deixou, e a sua CCAÇ 153, viveu/viveram momentos difíceis e dramáticos, pois ficaram associados ao começo [oficial] da guerra no CTIG.
Entretanto, em 26 de dezembro de 1962, como reconhecimento da sua acção/ intervenção psicossocial, o capitão Carreto Curto foi agraciado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos com palma [imagem ao lado], devido ao facto de "como comandante de companhia no Comando Territorial Independente da Guiné, desde Junho de 1961, ali vem exercendo, por meio de acções de reconhecimento e de objectivo psicossocial, uma actividade altamente meritória de que tem beneficiado todo o sector do batalhão [BCaç 237], revelando, a par de notáveis qualidades de organização e disciplina, excepcionais dotes de comando, de iniciativa e de audácia, transmitindo a todos os subordinados uma confiança ilimitada, o que permitiu criar e desenvolver na sua unidade [CCAÇ 153] um espírito de corpo tal, que a mesma pode ser apontada como exemplo de disciplina, de eficiência e de sacrifício no cumprimento do dever. Os serviços prestados por este oficial ao Exército e à Nação, na presente conjuntura da Guiné, devem ser considerados relevantes e distintos".
Quanto ao ataque ao aquartelamento de Tite acima referenciado, o nosso blogue tem um vasto espólio de narrativas que pode (e deve) ser consultado. Em cada leitura que se faça, descobre-se, por vezes, novos detalhes que suscitam outros pontos de interesse e investigação, que merecem ser aprofundados. É isso que vamos tentar fazer numa próxima oportunidade, triangulando conteúdos e adicionando-lhe novas informações contraditórias.
Recupero, a esse propósito, entre outras, a entrevista dada em 2001 por Arafam ["N'djamba" Mané; Bissau, 1945.09.29 / Madrid, 2004.09.04] ao jornal "O Defensor", órgão de Informação das FARP – Forças Armadas Revolucionárias do Povo da Guiné-Bissau e reproduzida em 2015 no sítio das FARP, por iniciativa do major Ussumane Conaté. Esta entrevista foi/está dividida em quatro partes, por diligência do camarada José Teixeira, 1.º cabo aux enf CCAÇ 2381, "Os Maiorais", Buba, Quebo, Mampatá e Empada; 1968/1970 – P16794; P16812; P16823 e P16851.
O testemunho do camarada Gabriel Moura [falecido em 2006], do Pel Mort 19, escrito em «Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra», pp 83/88, é outra leitura obrigatória, uma vez que ele foi o primeiro militar português a responder ao fogo da força que atacou o aquartelamento de Tite, pois encontrava-se de guarda naquela ocasião [P17649].
Com o objectivo de fazer a ponte ligando duas peças da historiografia da guerra: o ataque a Tite (23Jan1963) e o I Congresso do PAIGC (Cassacá; 13/17Fev1964), enquanto processo na organização e desenvolvimento da luta armada durante o ano de 1963, tomei a iniciativa de partilhar convosco uma carta manuscrita por Aristides Pereira, em Cassacá, e enviada a 'Nino' Vieira, a 22 de janeiro de 1964, ou seja, um ano após o primeiro evento.
A elaboração deste escrito do dirigente Aristides Pereira [Boavista, Cabo Verde; 1923.11.17 / Coimbra; 2011.09.22] dirigido ao principal Cmdt da guerrilha 'Nino' Vieira [Bissau; 1939.04.27 / Bissau; 2009.03.02 (assassinado)] surge na sequência de alguns acontecimentos que estão na génese da reunião magna [congresso].
No primeiro caso [P19259], o depoimento do ancião autóctone que surge no vídeo a falar da sua experiência e das suas memórias, e que se considera ser um dos primeiros sete ex-combatentes que tomaram a decisão de aceitar fazer parte do universo da guerrilha nacionalista, dá conta que uma das primeiras "barracas" [acampamentos] criada no Cantanhez, região de Tombali, foi em Caboxanque.
No segundo caso [P19254], é relevante o facto de ser reduzido o número de efectivos militares na Guiné, uma vez que a CCAÇ 153, comandada pelo, então, capitão e infantaria José dos Santos Carreto Curto, era a única companhia em todo o Sul da Guiné em 1961, com um pelotão em Buba e uma secção em Aldeia Formosa. Mais tarde fez deslocar um Gr Comb para Cacine. Estiveram também aquartelados em Cufar numa fábrica de arroz, bem como em Catió, até que a situação se agravou em termos operacionais [Vd. P19264 e P19291; notas de leitura do camarada Beja Santos].
Em função do vasto território em que se movimentou, particularmente nas Regiões de Tombali e Quínara, o capitão Carreto Curto, que no passado dia 30 de Novembro nos deixou, e a sua CCAÇ 153, viveu/viveram momentos difíceis e dramáticos, pois ficaram associados ao começo [oficial] da guerra no CTIG.
Entretanto, em 26 de dezembro de 1962, como reconhecimento da sua acção/ intervenção psicossocial, o capitão Carreto Curto foi agraciado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos com palma [imagem ao lado], devido ao facto de "como comandante de companhia no Comando Territorial Independente da Guiné, desde Junho de 1961, ali vem exercendo, por meio de acções de reconhecimento e de objectivo psicossocial, uma actividade altamente meritória de que tem beneficiado todo o sector do batalhão [BCaç 237], revelando, a par de notáveis qualidades de organização e disciplina, excepcionais dotes de comando, de iniciativa e de audácia, transmitindo a todos os subordinados uma confiança ilimitada, o que permitiu criar e desenvolver na sua unidade [CCAÇ 153] um espírito de corpo tal, que a mesma pode ser apontada como exemplo de disciplina, de eficiência e de sacrifício no cumprimento do dever. Os serviços prestados por este oficial ao Exército e à Nação, na presente conjuntura da Guiné, devem ser considerados relevantes e distintos".
Quanto ao ataque ao aquartelamento de Tite acima referenciado, o nosso blogue tem um vasto espólio de narrativas que pode (e deve) ser consultado. Em cada leitura que se faça, descobre-se, por vezes, novos detalhes que suscitam outros pontos de interesse e investigação, que merecem ser aprofundados. É isso que vamos tentar fazer numa próxima oportunidade, triangulando conteúdos e adicionando-lhe novas informações contraditórias.
Recupero, a esse propósito, entre outras, a entrevista dada em 2001 por Arafam ["N'djamba" Mané; Bissau, 1945.09.29 / Madrid, 2004.09.04] ao jornal "O Defensor", órgão de Informação das FARP – Forças Armadas Revolucionárias do Povo da Guiné-Bissau e reproduzida em 2015 no sítio das FARP, por iniciativa do major Ussumane Conaté. Esta entrevista foi/está dividida em quatro partes, por diligência do camarada José Teixeira, 1.º cabo aux enf CCAÇ 2381, "Os Maiorais", Buba, Quebo, Mampatá e Empada; 1968/1970 – P16794; P16812; P16823 e P16851.
O testemunho do camarada Gabriel Moura [falecido em 2006], do Pel Mort 19, escrito em «Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra», pp 83/88, é outra leitura obrigatória, uma vez que ele foi o primeiro militar português a responder ao fogo da força que atacou o aquartelamento de Tite, pois encontrava-se de guarda naquela ocasião [P17649].
Com o objectivo de fazer a ponte ligando duas peças da historiografia da guerra: o ataque a Tite (23Jan1963) e o I Congresso do PAIGC (Cassacá; 13/17Fev1964), enquanto processo na organização e desenvolvimento da luta armada durante o ano de 1963, tomei a iniciativa de partilhar convosco uma carta manuscrita por Aristides Pereira, em Cassacá, e enviada a 'Nino' Vieira, a 22 de janeiro de 1964, ou seja, um ano após o primeiro evento.
A elaboração deste escrito do dirigente Aristides Pereira [Boavista, Cabo Verde; 1923.11.17 / Coimbra; 2011.09.22] dirigido ao principal Cmdt da guerrilha 'Nino' Vieira [Bissau; 1939.04.27 / Bissau; 2009.03.02 (assassinado)] surge na sequência de alguns acontecimentos que estão na génese da reunião magna [congresso].
Recorda-se, pela sua pertinência, por um lado, a visita de Luís Cabral [Bissau; 1931.04.11 / Torres Vedras; 2009.05.30] à zona de Quitafine e tabanca de Cassacá em finais de 1963, por outro, as informações recolhidas em todos os contactos estabelecidos com os combatentes e aquelas que lhe chegavam das frentes.
Estes factos levaram a que o irmão [Amílcar Cabral (Bafatá; 1924.09.12 / Conacri; 1973.01.20, assassinado dez anos depois de Tite)] aceitasse, como necessária, a realização de uma reunião geral dos responsáveis pelo PAIGC, no sentido de se poder discutir e aprofundar estas questões, de maneira a tirar delas todas as lições para o futuro, numa altura que estava concluído o primeiro ano da luta armada.
Citação: (1965), "Desfile de combatentes do Exército Popular comandados por Nino Vieira", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43728 (2018-12-9)
A operacionalização de cada uma das diferentes acções projectadas para antes, durante e depois do I Congresso podem (devem) ser consultadas no livro de memórias de Luís Cabral: «Crónica da Libertação», (1984), Lisboa, Edições 'O Jornal', Publicações Projornal [Vd. trabalho de recensão realizado pelo camarada Beja Santos – P7216; P7223; P7232; P7241 e P7259].
Como dimensão histórica, cito uma passagem [P7232] onde é referido o seguinte:
Citação: (1965), "Desfile de combatentes do Exército Popular comandados por Nino Vieira", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43728 (2018-12-9)
A operacionalização de cada uma das diferentes acções projectadas para antes, durante e depois do I Congresso podem (devem) ser consultadas no livro de memórias de Luís Cabral: «Crónica da Libertação», (1984), Lisboa, Edições 'O Jornal', Publicações Projornal [Vd. trabalho de recensão realizado pelo camarada Beja Santos – P7216; P7223; P7232; P7241 e P7259].
Como dimensão histórica, cito uma passagem [P7232] onde é referido o seguinte:
"Em finais de 1963, Luís Cabral faz a sua primeira visita ao Quitafine, a partir de Sangonhá, depois partiram para a base de Cassacá, onde foi recebido por Manuel Saturnino [da Costa; n-1942-]. Em Cacine estava instalado o primeiro quartel das tropas portuguesas [CART 496], a que se seguiu Gadamael [CART 640]. Segundo Luís Cabral, as tropas portuguesas estavam confinadas a Cacine".
Para um melhor conhecimento da evolução do contexto operacional desenvolvido pelas NT - unidades militares -, sedeadas naquela região, sugere-se a leitura do importante trabalho de investigação historiográfica elaborado pelo nosso camarada Manuel Vaz, ex-Alf. Mil da CCAÇ 798, iniciado no P19261, que saudamos.
2. A CARTA DE ARISTIDES PEREIRA A 'NINO' VIEIRA, ESCRITA EM CASSACÁ, EM 22 DE JANEIRO DE 1964
Neste segundo ponto apresentamos, de acordo com o acima exposto, a transcrição da carta, de quatro folhas, manuscrita em Cassacá, por Aristides Pereira, e enviada a 'Nino' Vieira, em 22 de janeiro de 1964.
Eis o seu conteúdo:
"Cassacá, 22 de Janeiro de 1964
"Meu caro Nino,
"É com imenso prazer que te saúdo, bem como a todos os camaradas, daqui deste ponto livre da nossa terra.
"Como sabes, devia encontrar-me contigo e com o Arafam ["N'djamba"] Mané, a 20 [Fev'1964], aqui na Zona. Com efeito, no dia 20 estava no interior, mas não foi possível fazer a reunião, dadas as novas condições que se apresentaram na tua [zona], grandemente atacada pelo inimigo [NT], e também porque o Arafam certamente se atrasou na missão.
"Entretanto, nós, em Conacri, em especial o Amílcar [Cabral], temos tudo preparado e desejamos que o encontro da missão do Arafam se faça o mais breve possível, não sendo possível neste mês, nos primeiros dias do mês de Fevereiro [1964].
"Seria bom se o encontro se pudesse realizar na tua barraca [acampamento], mas as condições não o permitem. Temos, pois, que nos contentar com um local mais próximo da fronteira [Sul], onde as condições de segurança dos presentes são maiores. Sugiro-te Cassacá, que já conheço. Entretanto, espero a tua resposta. Devo dizer-te que consideramos este encontro dos acontecimentos mais importantes na história da nossa luta e ele vai marcar uma nova etapa do nosso combate."
[Este encontro… é (foi) o I Congresso do PAIGC realizado em Cassacá, entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964].
Citação: (1964), "I Congresso do PAIGC em Cassacá", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_85098 (2018-12-9)
Fonte: CasaComum; Fundação Mário Soares. Pasta: 07223.002.046. Título: I Congresso do PAIGC em Cassacá. Assunto: Amílcar Cabral e grupo de (dezanove) milicianos em Cassacá [região libertada do sul da Guiné-Bissau], por ocasião do I Congresso do PAIGC. Data: Fevereiro de 1964. Opaco/Transparente: Opaco Negativo/Positivo: Positivo. PB/Cor: Preto e Branco. Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade. Tipo Documental: Fotografias.
"Esperamos fazer vir para assistir no último dia da reunião [I Congresso; 17Fev1964], alguns jornalistas estrangeiros, aos quais seria distribuído um documento sobre os problemas tratados na reunião. Queremos ainda que no fim dos trabalhos e diante dos jornalistas, o Secretário-Geral do Partido faça o "baptismo" do primeiro destacamento do nosso Exército. Esse corpo teria cerca de 150 homens cujas fardas viriam ainda de Conacri.
"Estou certo que compreendes bem o interesse que esta reunião tem para a fase nova da luta que estamos vivendo, no plano interior, e no plano exterior, o que isso pode representar como reforço da nossa posição no plano internacional e sobretudo, junto dos países vizinhos, em especial o Senegal.
Tinha muito interesse em ver-te também para discutirmos o problema do material que te falta. Autorizei que fosse tirado do material do Norte, 10 carabinas e 10 cxs de balas 7,62 mm PM para te mandar. Não compreendo com o que se teria passado com as balas 7,62 mm. No barco em que vieste estavam 30 cxs para a Zona 11. Houve engano com certeza. Estão no barco 2 morteiros para a tua Zona, assim como algumas minas antitanque e antipessoal.
Continuo aqui na barraca do Manuel [Saturnino da Costa?], aguardando a tua resposta amanhã, para poder regressar depois de amanhã. O Embaná vai comigo para trazer as coisas [será que se trata do Fiere Embaná, que desertou do PAIGC e se apresentou no quartel de Tite, em Maio'1971, ao tempo do BART 2924 (P18746)?].
"O Zé traz uma grande barraca e 3 macas para doentes.
"Devo dizer-te que o Comité dos 9 soube reconhecer e avaliar os trabalhos do nosso Partido. Esperamos, no entanto, ainda, qualquer coisa de mais concreto.
"O segundo assunto importante que queria tratar contigo é o da vinda dos dois amigos que deviam vir ver e filmar coisas no interior. Eles chegam a Conacri a 29 [Jan de 1964] e devem vir, como combinámos, a 1 ou 2 de Fevereiro. Dá-me a tua opinião sobre o caminho que devem seguir.
Para um melhor conhecimento da evolução do contexto operacional desenvolvido pelas NT - unidades militares -, sedeadas naquela região, sugere-se a leitura do importante trabalho de investigação historiográfica elaborado pelo nosso camarada Manuel Vaz, ex-Alf. Mil da CCAÇ 798, iniciado no P19261, que saudamos.
2. A CARTA DE ARISTIDES PEREIRA A 'NINO' VIEIRA, ESCRITA EM CASSACÁ, EM 22 DE JANEIRO DE 1964
Neste segundo ponto apresentamos, de acordo com o acima exposto, a transcrição da carta, de quatro folhas, manuscrita em Cassacá, por Aristides Pereira, e enviada a 'Nino' Vieira, em 22 de janeiro de 1964.
Eis o seu conteúdo:
"Cassacá, 22 de Janeiro de 1964
"Meu caro Nino,
"É com imenso prazer que te saúdo, bem como a todos os camaradas, daqui deste ponto livre da nossa terra.
"Como sabes, devia encontrar-me contigo e com o Arafam ["N'djamba"] Mané, a 20 [Fev'1964], aqui na Zona. Com efeito, no dia 20 estava no interior, mas não foi possível fazer a reunião, dadas as novas condições que se apresentaram na tua [zona], grandemente atacada pelo inimigo [NT], e também porque o Arafam certamente se atrasou na missão.
"Entretanto, nós, em Conacri, em especial o Amílcar [Cabral], temos tudo preparado e desejamos que o encontro da missão do Arafam se faça o mais breve possível, não sendo possível neste mês, nos primeiros dias do mês de Fevereiro [1964].
"Seria bom se o encontro se pudesse realizar na tua barraca [acampamento], mas as condições não o permitem. Temos, pois, que nos contentar com um local mais próximo da fronteira [Sul], onde as condições de segurança dos presentes são maiores. Sugiro-te Cassacá, que já conheço. Entretanto, espero a tua resposta. Devo dizer-te que consideramos este encontro dos acontecimentos mais importantes na história da nossa luta e ele vai marcar uma nova etapa do nosso combate."
[Este encontro… é (foi) o I Congresso do PAIGC realizado em Cassacá, entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964].
Citação: (1964), "I Congresso do PAIGC em Cassacá", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_85098 (2018-12-9)
Fonte: CasaComum; Fundação Mário Soares. Pasta: 07223.002.046. Título: I Congresso do PAIGC em Cassacá. Assunto: Amílcar Cabral e grupo de (dezanove) milicianos em Cassacá [região libertada do sul da Guiné-Bissau], por ocasião do I Congresso do PAIGC. Data: Fevereiro de 1964. Opaco/Transparente: Opaco Negativo/Positivo: Positivo. PB/Cor: Preto e Branco. Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade. Tipo Documental: Fotografias.
"Esperamos fazer vir para assistir no último dia da reunião [I Congresso; 17Fev1964], alguns jornalistas estrangeiros, aos quais seria distribuído um documento sobre os problemas tratados na reunião. Queremos ainda que no fim dos trabalhos e diante dos jornalistas, o Secretário-Geral do Partido faça o "baptismo" do primeiro destacamento do nosso Exército. Esse corpo teria cerca de 150 homens cujas fardas viriam ainda de Conacri.
"Estou certo que compreendes bem o interesse que esta reunião tem para a fase nova da luta que estamos vivendo, no plano interior, e no plano exterior, o que isso pode representar como reforço da nossa posição no plano internacional e sobretudo, junto dos países vizinhos, em especial o Senegal.
Tinha muito interesse em ver-te também para discutirmos o problema do material que te falta. Autorizei que fosse tirado do material do Norte, 10 carabinas e 10 cxs de balas 7,62 mm PM para te mandar. Não compreendo com o que se teria passado com as balas 7,62 mm. No barco em que vieste estavam 30 cxs para a Zona 11. Houve engano com certeza. Estão no barco 2 morteiros para a tua Zona, assim como algumas minas antitanque e antipessoal.
Continuo aqui na barraca do Manuel [Saturnino da Costa?], aguardando a tua resposta amanhã, para poder regressar depois de amanhã. O Embaná vai comigo para trazer as coisas [será que se trata do Fiere Embaná, que desertou do PAIGC e se apresentou no quartel de Tite, em Maio'1971, ao tempo do BART 2924 (P18746)?].
"O Zé traz uma grande barraca e 3 macas para doentes.
"Devo dizer-te que o Comité dos 9 soube reconhecer e avaliar os trabalhos do nosso Partido. Esperamos, no entanto, ainda, qualquer coisa de mais concreto.
"O segundo assunto importante que queria tratar contigo é o da vinda dos dois amigos que deviam vir ver e filmar coisas no interior. Eles chegam a Conacri a 29 [Jan de 1964] e devem vir, como combinámos, a 1 ou 2 de Fevereiro. Dá-me a tua opinião sobre o caminho que devem seguir.
"Entretanto, sugiro que estejas em Sangonhá, que visitem Bricama para ver gente do povo no mato, sem casa. Vêm depois a Cassacá, onde fariam o resto do filme (combatentes, casas destruídas, etc.). Seria decerto mais interessante se lhes fosse possível ver a base central, mas não creio que isso seja possível. Diz o que pensas sobre o assunto. Eles regressariam de barco à República da Guiné."
Citação: (1964), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_39103 (2018-12-9).
Fonte: CasaComum; Fundação Mário Soares. Pasta: 07062.034.025. Assunto: Constituição do primeiro destacamento do Exército [Popular]. Visita do Comité dos 9 [OUA]. Vinda de "dois amigos" para filmar no interior. Remetente: [Aristides Pereira]. Destinatário: Nino Vieira. Data: 22 de Janeiro de 1964. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral. Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de BOAS FESTAS.
Jorge Araújo.
15DEZ2018.
______________
Reprodução do original da carta de Aristides Pereira
Citação: (1964), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_39103 (2018-12-9).
Fonte: CasaComum; Fundação Mário Soares. Pasta: 07062.034.025. Assunto: Constituição do primeiro destacamento do Exército [Popular]. Visita do Comité dos 9 [OUA]. Vinda de "dois amigos" para filmar no interior. Remetente: [Aristides Pereira]. Destinatário: Nino Vieira. Data: 22 de Janeiro de 1964. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral. Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de BOAS FESTAS.
Jorge Araújo.
15DEZ2018.
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 16 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19296: (D)o outro lado do combate (40): A ambulância UAZ-452, de fabrico soviético, capturada ao PAIGC na região de Copá, junto à fronteira do Senegal, em fevereiro de 1974 (Jorge Araújo)
Último poste da série > 16 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19296: (D)o outro lado do combate (40): A ambulância UAZ-452, de fabrico soviético, capturada ao PAIGC na região de Copá, junto à fronteira do Senegal, em fevereiro de 1974 (Jorge Araújo)
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
Guiné 61/74 - P19334: Memórias dos lugares (382): Bissau, 1952, quando lá passei o meu primeiro Natal, aos 15 anos: uma tradição crioula que se perdeu, as crianças de Bissau, vindas do Chão Papel, Alto do Crim, Cupilon, Gã Beafada, Santa Luzia e outros bairros, que inundavam as ruas com as suas casinhas luminosas ou com os “kinkons” articulados e garrafas para marcar o ritmo, "tintim, tintim, kinkon, kinkon"... (Mário Fernando Roseira Dias, compositor musical, ex-srgt 'comando' reformado, Brá, 1963/65)
Portugal > s/l, algures, > de Setembro de 2005 > Um reencontro de velhos camaradas, militares portugueses que estiveram na Guiné, tendo participado na Op Tridente (Ilha do Como, de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964)... Quarenta anos depois... Alguns dos bravos da mítica batalha do Como... Entre eles, está o nosso Mário Dias (o segundo, a contar da direita). ... Já agora aqui fica a legenda completa (Os postos, referentes a cada um, são os que tinham à época dos acontecimentos): Da esquerda para a direita: (a) sold João Firmino Martins Correia; (b) 1º cabo Marcelino da Mata (hoje tenente-coronel, na situação de reforma); (c) 1º cabo Fernando Celestino Raimundo; (d) fur mil António M. Vassalo Miranda; (e) fur mil Mário Fernando Roseira Dias (hoje sargento na reforma); (f) sold Joaquim Trindade Cavaco.
Foto (e legenda): © Mário Dias (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
Angola > Luanda > 1963 (?) > Em primeiro plano, o fur mil 'comando' Mário Dias, em segundo plano, da esquerda para a direita, o fur mil Artur Pereira Pires, o sold Adulai Jaló e o alf mil Justino Coelho Godinho (estes três últimos já falecidos). No aeroporto de Luanda à espera de transporte para o QG / CTIG. O primeiro grupo de Comandos do CTIG, sob o comando do alf mil Saraiva, particpou na Op Tridente (jan-mar de 1964).
Foto cedida por Vassalo Miranda, ex-fur mil, Gr Cmds ‘Panteras’
Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > A catedral de Bissau símbolo do catolicismo, que sempre teve fraca penetração num país em que predominam o islamismos e o animismo.
Foto: © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de Mário Dias
(i) Mário [Fernando Roseira] Dias [, foto de 2005, à direita]
(ii) nasceu em 1937 em Lamego;
(iii) foi pra a Guiné, com a família, em 1952, ainda adolescente;
(iv) assistiu à modernização e crescimento de Bissau, capital da Província desde 1943;
(vi) conheceu, entre outros futuros dirigentes e combatentes do PAIGC, Domingos Ramos, de que se vai tornar amigo, na recruta e depois no 1º Curso de Sargentos Milicianos [CSM], que se realizou na Guiné, em 1959;
(vii) com o posto de fur mil, partiu, em 29 de outubro de 1963, para Angola, integrando num grupo de Oficiais, Sargento e Praças, do CTIG, a fim de frequentarem um curso de Comandos, no CI 16 na Quibala - Norte, e on se incluía o major inf Correia Diniz; alf mil Maurício Saraiva; alf mil Justino Godinho, 2º srgt Gil Roseira Dias, fur mil cav Artur Pereira Pires, fur mil cav António Vassalo Miranda, 1.º cano at inf Abdulai Queta Jamanca e Sold. At. Inf.ª Adulai Jaló.
(viii) este grupo esteve na origem da criação, em julho de 1965, da Companhia de Comandos do CTIG (CCmds/CTIG), tendo sido nomeado seu comandante o cap art Nuno Rubim, substituído em 20 de fevereiro de 1966 pelo cap art Garcia Leandro;
(ix) em 1966, seguiu para Angola, onde prestou serviço, seguindo a carreira militar.
(x) depois de reformado dedicou-se à música: dotado de grande sensibilidade e talentos artísticos, é mais conhecido por M. Roseira Dias, no meio musical, é autor de inúmeros arranjos musicais de canções populares a açoriana Olhos Negros, e tantas outras que por aí circulam em Portugal e no Brasil: são e dezenas e dezenas de arranjos para coro, saídos do talento musical do nosso camarada: por exemplo, Granada, de Agustin Lara; Minha História, de Chico Buarque; Morte que mataste lira (Popular, Açores); Natal de Évora (Popular); Lembranças do Douro (Folclore do Alto Douro); Perdigão perdeu a pena (Cancioneiro da Alta Estremadura); Tempo suão (Cancioneiro da Alta Estremadura)... Mas não só arranjos como músicas orignais: por exemplo, Dança do vento (poema de Afonso Lopes Vieira); Regresso ao lar (poema de Guerra Junqueira); Cantiga das tristes queixas (poema de Afonso Lopes Vieira)...só para citar uns tantos exemplos.
Escreveu ele na altura, nas proximidades do Natal de 2005 (*):
(...) Aqui vai, não propriamente uma estória, mas o que poderemos chamar uma crónica ou memória de como era celebrado o Natal pelos rapazes (nunca vi raparigas a participar) de Bissau.
Caros camaradas de tertúlia:
Tintim, tintim, tintim,… “Bom festa pa tudo dgenti. Prança Deus bó iangaça tudo quê que bó misti”
Traduzo, ou não é preciso? Então lá vai: Boas-festas para todos. Queira Deus que alcanceis tudo quanto desejais.
Mário Dias
Nota do editor: Achámos por bem reproduzir aqui, hoje, esta sua descrição do Natal de Bissau de 1952. É reveladora da sua grande sensibilidade socioantropológica. Com votos de bom ano de 2019 e um alfabravo fraterno ao Mário, que é dos um membros da nossa Tabanca Grande, da primeira hora. Muitos dos mais recentes grã-tabanqueiros nunca tiveram oportunidade de ler os seus notáveis textos (como por exemplo as crónicas da Op Tridente, 1964 ou as "memórias do antigamente" de Bissau ou "o segredo"..., o seu reencontro no mato com o amigo Domingos Ramos...)
2. Memória dos lugares > O Natal de Bissau nos tempos do "antigamente"
Tinha 15 anos no tempo já distante de 1952. Ia passar o meu primeiro Natal em Bissau (**) e nem calculava, nesses meus verdes anos, quão verdadeiro é o ditado popular: “cada terra com seu uso; cada roca com seu fuso”.
Em casa de meus pais, reunida a família para celebrar a consoada, comecei a escutar na rua sons e cantigas que me eram de todo estranhas, bem diferentes das que, em Portugal, celebravam o Natal. Curioso, vim à varanda e deparei com um cenário que me encantou de tal forma que ainda hoje dele me recordo com muita saudade.
Toda a rua onde morava (ia dar à avenida principal, perto do cinema da UDIB) era um mar de luzinhas e de sincopados sons. Não resisti e fui ver. Não queria perder o espectáculo para mim novo e bem longe do que poderia imaginar pudesse existir.
Grupos de 3 ou 4 crianças, transportavam pequenas casas feitas com armações de finas tiras de cana ou material semelhante revestidas com papel de seda de várias cores. Com um coto de vela aceso no seu interior, resplandeciam como se de vitrais se tratasse. E como havia algumas tão bem construídas e belas!... A catedral de Bissau, a casa do governador, o edifício da Administração Civil, ou simples casas saídas da fértil fantasia do seu construtor.
Também havia quem desse asas à criatividade e aparecesse com navios, aviões e de quanto a imaginação fosse capaz.
Iam parando em cada casa, ora à porta quando situada ao rés do passeio, ora penetrando nos pequenos jardins das mais recuadas, e um deles, portador de uma garrafa vazia e de um pequeno ponteiro de ferro batia o ritmo: tintim, tintim. tintim…
Então, ao compasso que o “tocador de garrafa” ordenava, todos rompiam nesta cantilena: (por sinal bem afinados)
S. José, sagrada nha Maria,
e quando foi, quando foi para Belém,
a resgatar o Menino de Jesus,
lá ao pé, lá ao pé da santa cruz.
(refrão)
Adoro mistério sobrinho da minha alma (1)
sobrinho da minha alma louva o Senhor.
Coração Santo todo ruminado
Todo vez em quando sempre a chorar
ai, ai, ai de vez em quando sempre a chorar,
ai, ai, ai de vez em quando sempre a chorar. (2)
O Angelino, Angelino já morreu,
e não queria confessar senão do Papa,
e nem do Papa nem do Bispo confessou
para nos dar boas-festas boa sorte. (3)
(repetiam o refrão)
Terminada a cantilena, dirigindo-se aos donos da casa, soltavam o inevitável “partim festa” (dê-nos as festas), querendo com isso pedir dinheiro ou algo que lhes fosse útil. Um deles estendia a mão para o donativo que sempre surgia e enquanto iam a caminho de outra casa algum perguntava:
- Kanto qui dá-bo? (quanto te deu)
- Dôs peso e meio.
- Esse i bom branco.
Desta maneira corriam todas as ruas de Bissau, visitando as casas ou abordando quem passava nas ruas:
- Partim festa.
- Kanto que dá-bo?
- Só cinco patacon (20 centavos)
- Bé… rijo mon (bolas…que avarento)
Intercalados, outros grupos diferentes surgiam. Eram os rapazes do “Kinkon”. Traziam também uma garrafa para marcar o ritmo, (tintim, tintim, tintim,) mas o “chamariz” apelativo ao “partim festa” era outro. Um boneco recortado em papelão, com braços e pernas articuladas por um engenhoso sistema de cordéis e montado numa vara, era transportado por um dos miúdos que o fazia movimentar ao ritmo da batida na garrafa “tintim, tintim, tintim”.
O portador do boneco atirava:
- Kinkon, kinkon.
Respondiam os outros em coro:
- Rabada di kon.
De novo o líder:
- Kinkon, Kinkon.
Resposta do coro:
- Nariz di Kon.
E sempre alternando, líder e coro iam acrescentando à cega-rega diversas partes do corpo:
Kinkon, kinkon,
Cabeça di Kon.
Kinkin, kinkon,
Orelha di Kon.
Por vezes, os mais ousados lançavam alusões a partes anatómicas menos próprias. Alguns dos companheiros riam-se, outros não gostavam e protestavam:
-Abó ka t’a burgonho (tu não tens vergonha).
Mantinham a cantilena o tempo necessário a que alguém viesse oferecer as desejadas “festas” e seguiam para outro lado.
Por ali me quedava embevecido, admirando estas encantadoras cenas tão inesperadas e atraentes.
E por ter ficado de tal forma apaixonado com tão extraordinária tradição, todos os anos, mal se aproximava o Natal, não continha em mim a ânsia da sua rápida chegada, para mais uma vez veras crianças de Bissau, vindas do Chão Papel, Alto do Crim, Cupilon, Gã Beafada, Santa Luzia e outros bairros, inundarem as ruas com as suas casinhas luminosas ou com os “kinkons” articulados e garrafas para marcar o ritmo:
…tintim, tintim… São José, sagrada nha Maria…
…tintim, tintim… Kinkon, kinkon,… rabada di kon…
Certamente que muitos dos que passaram por Bissau assistiram a esta tradição e dela se devem recordar. Quanto a mim, já passaram mais de 50 anos e ela continua tão viva na minha memória que, quando chega o Natal, dou por mim a cantarolar aquela lenga-lenga e nos meus ouvidos ecoa o “tintim, tintim”. Involuntariamente sinto-me transportado ao passado e perante mim desfila, com toda nitidez e riqueza de pormenores, o encanto de cores e de sons que os rapazes de Bissau me proporcionavam.
Falando há tempos com um amigo que lá esteve recentemente, por ele fui informado que esse costume se perdeu e que as actuais gerações nem o conhecem. Se assim for, é pena. Nenhum povo deve esquecer e, menos ainda, menosprezar as sua tradições.
Caros amigos guineenses: Vamos restaurar esta tão bela tradição?
Torna-se talvez conveniente explicar o significado da cantiga que, como devem ter reparado, não é crioulo. É pretensamente cantada em português, com versos de cânticos religiosos que os rapazes, na sua ingenuidade deturparam.
Notas do autor:
(1) “Adoro o mistério sobrinho da minha alma…” corresponde a: “Adoro o mistério sublime da minha alma…”
(2) “Coração santo todo ruminado, todo vez em quando, sempre a chorar” é do cântico “coração santo, tu reinarás, o nosso encanto, sempre serás”.
(3) Quanto a esta alusão ao tal Angelino, nunca consegui saber do que se trataria.
(**) Último poste da série > 1 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19062: Memória dos lugares (381): Bigene, na fronteira com o Senegal... Foi lá que fomos render a CART 3329, em outubro de 1972, antes de ir parar ao Cantanhez (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar, Nhacra, 1972/74)
Escreveu ele na altura, nas proximidades do Natal de 2005 (*):
(...) Aqui vai, não propriamente uma estória, mas o que poderemos chamar uma crónica ou memória de como era celebrado o Natal pelos rapazes (nunca vi raparigas a participar) de Bissau.
Caros camaradas de tertúlia:
Tintim, tintim, tintim,… “Bom festa pa tudo dgenti. Prança Deus bó iangaça tudo quê que bó misti”
Traduzo, ou não é preciso? Então lá vai: Boas-festas para todos. Queira Deus que alcanceis tudo quanto desejais.
Mário Dias
Nota do editor: Achámos por bem reproduzir aqui, hoje, esta sua descrição do Natal de Bissau de 1952. É reveladora da sua grande sensibilidade socioantropológica. Com votos de bom ano de 2019 e um alfabravo fraterno ao Mário, que é dos um membros da nossa Tabanca Grande, da primeira hora. Muitos dos mais recentes grã-tabanqueiros nunca tiveram oportunidade de ler os seus notáveis textos (como por exemplo as crónicas da Op Tridente, 1964 ou as "memórias do antigamente" de Bissau ou "o segredo"..., o seu reencontro no mato com o amigo Domingos Ramos...)
2. Memória dos lugares > O Natal de Bissau nos tempos do "antigamente"
por Mário Dias
Tinha 15 anos no tempo já distante de 1952. Ia passar o meu primeiro Natal em Bissau (**) e nem calculava, nesses meus verdes anos, quão verdadeiro é o ditado popular: “cada terra com seu uso; cada roca com seu fuso”.
Em casa de meus pais, reunida a família para celebrar a consoada, comecei a escutar na rua sons e cantigas que me eram de todo estranhas, bem diferentes das que, em Portugal, celebravam o Natal. Curioso, vim à varanda e deparei com um cenário que me encantou de tal forma que ainda hoje dele me recordo com muita saudade.
Toda a rua onde morava (ia dar à avenida principal, perto do cinema da UDIB) era um mar de luzinhas e de sincopados sons. Não resisti e fui ver. Não queria perder o espectáculo para mim novo e bem longe do que poderia imaginar pudesse existir.
Grupos de 3 ou 4 crianças, transportavam pequenas casas feitas com armações de finas tiras de cana ou material semelhante revestidas com papel de seda de várias cores. Com um coto de vela aceso no seu interior, resplandeciam como se de vitrais se tratasse. E como havia algumas tão bem construídas e belas!... A catedral de Bissau, a casa do governador, o edifício da Administração Civil, ou simples casas saídas da fértil fantasia do seu construtor.
Também havia quem desse asas à criatividade e aparecesse com navios, aviões e de quanto a imaginação fosse capaz.
Iam parando em cada casa, ora à porta quando situada ao rés do passeio, ora penetrando nos pequenos jardins das mais recuadas, e um deles, portador de uma garrafa vazia e de um pequeno ponteiro de ferro batia o ritmo: tintim, tintim. tintim…
Então, ao compasso que o “tocador de garrafa” ordenava, todos rompiam nesta cantilena: (por sinal bem afinados)
S. José, sagrada nha Maria,
e quando foi, quando foi para Belém,
a resgatar o Menino de Jesus,
lá ao pé, lá ao pé da santa cruz.
(refrão)
Adoro mistério sobrinho da minha alma (1)
sobrinho da minha alma louva o Senhor.
Coração Santo todo ruminado
Todo vez em quando sempre a chorar
ai, ai, ai de vez em quando sempre a chorar,
ai, ai, ai de vez em quando sempre a chorar. (2)
O Angelino, Angelino já morreu,
e não queria confessar senão do Papa,
e nem do Papa nem do Bispo confessou
para nos dar boas-festas boa sorte. (3)
(repetiam o refrão)
Terminada a cantilena, dirigindo-se aos donos da casa, soltavam o inevitável “partim festa” (dê-nos as festas), querendo com isso pedir dinheiro ou algo que lhes fosse útil. Um deles estendia a mão para o donativo que sempre surgia e enquanto iam a caminho de outra casa algum perguntava:
- Kanto qui dá-bo? (quanto te deu)
- Dôs peso e meio.
- Esse i bom branco.
Desta maneira corriam todas as ruas de Bissau, visitando as casas ou abordando quem passava nas ruas:
- Partim festa.
- Kanto que dá-bo?
- Só cinco patacon (20 centavos)
- Bé… rijo mon (bolas…que avarento)
Intercalados, outros grupos diferentes surgiam. Eram os rapazes do “Kinkon”. Traziam também uma garrafa para marcar o ritmo, (tintim, tintim, tintim,) mas o “chamariz” apelativo ao “partim festa” era outro. Um boneco recortado em papelão, com braços e pernas articuladas por um engenhoso sistema de cordéis e montado numa vara, era transportado por um dos miúdos que o fazia movimentar ao ritmo da batida na garrafa “tintim, tintim, tintim”.
O portador do boneco atirava:
- Kinkon, kinkon.
Respondiam os outros em coro:
- Rabada di kon.
De novo o líder:
- Kinkon, Kinkon.
Resposta do coro:
- Nariz di Kon.
E sempre alternando, líder e coro iam acrescentando à cega-rega diversas partes do corpo:
Kinkon, kinkon,
Cabeça di Kon.
Kinkin, kinkon,
Orelha di Kon.
Por vezes, os mais ousados lançavam alusões a partes anatómicas menos próprias. Alguns dos companheiros riam-se, outros não gostavam e protestavam:
-Abó ka t’a burgonho (tu não tens vergonha).
Mantinham a cantilena o tempo necessário a que alguém viesse oferecer as desejadas “festas” e seguiam para outro lado.
Por ali me quedava embevecido, admirando estas encantadoras cenas tão inesperadas e atraentes.
E por ter ficado de tal forma apaixonado com tão extraordinária tradição, todos os anos, mal se aproximava o Natal, não continha em mim a ânsia da sua rápida chegada, para mais uma vez veras crianças de Bissau, vindas do Chão Papel, Alto do Crim, Cupilon, Gã Beafada, Santa Luzia e outros bairros, inundarem as ruas com as suas casinhas luminosas ou com os “kinkons” articulados e garrafas para marcar o ritmo:
…tintim, tintim… São José, sagrada nha Maria…
…tintim, tintim… Kinkon, kinkon,… rabada di kon…
Certamente que muitos dos que passaram por Bissau assistiram a esta tradição e dela se devem recordar. Quanto a mim, já passaram mais de 50 anos e ela continua tão viva na minha memória que, quando chega o Natal, dou por mim a cantarolar aquela lenga-lenga e nos meus ouvidos ecoa o “tintim, tintim”. Involuntariamente sinto-me transportado ao passado e perante mim desfila, com toda nitidez e riqueza de pormenores, o encanto de cores e de sons que os rapazes de Bissau me proporcionavam.
Falando há tempos com um amigo que lá esteve recentemente, por ele fui informado que esse costume se perdeu e que as actuais gerações nem o conhecem. Se assim for, é pena. Nenhum povo deve esquecer e, menos ainda, menosprezar as sua tradições.
Caros amigos guineenses: Vamos restaurar esta tão bela tradição?
Torna-se talvez conveniente explicar o significado da cantiga que, como devem ter reparado, não é crioulo. É pretensamente cantada em português, com versos de cânticos religiosos que os rapazes, na sua ingenuidade deturparam.
Notas do autor:
(1) “Adoro o mistério sobrinho da minha alma…” corresponde a: “Adoro o mistério sublime da minha alma…”
(2) “Coração santo todo ruminado, todo vez em quando, sempre a chorar” é do cântico “coração santo, tu reinarás, o nosso encanto, sempre serás”.
(3) Quanto a esta alusão ao tal Angelino, nunca consegui saber do que se trataria.
___________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 18 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - P367: ´'Bom festa pa tudo dgenti' ou o Natal de Bissau de 52 (Mário Dias)
(**) Último poste da série > 1 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19062: Memória dos lugares (381): Bigene, na fronteira com o Senegal... Foi lá que fomos render a CART 3329, em outubro de 1972, antes de ir parar ao Cantanhez (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar, Nhacra, 1972/74)
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Guiné 61/74 - P19333: Parabéns a você (1548): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 24 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19326: Parabéns a você (1547): Fernando Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71)
Nota do editor
Último poste da série de 24 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19326: Parabéns a você (1547): Fernando Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71)
segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
Guiné 61/74 - P19332: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (12): O nosso editor Luís Graça, régulo da Tabanca de Candoz...
Porto > Parque da Cidade > 23 de dezembro de 2018 > Duas fotos, tiradas com a minha nova máquina reflex, Nikon D5300... Parabéns ao Porto por este magnífico equipamento urbano, projeto do arquiteto paisagista Sidónio Pardal!... Faço votos para que, em 2019, se enchem os 80 hectares do parque com tertúlias de caminheiros... (À consideração dos régulos das tabancas de Matosinhos, da Maia e dos Melros e ainda do bandalho-mor do Bando, para que se empenhem também na promoção do envelhecimento saudável e ativo dos nossos camaradas tabanqueiros e bandalhos.)
Fotos (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
"So(r)neto" natalício
das tabancas de Candoz & Madalena:
Natal todo o ano ?...
Não, muito obrigado!
por Luís Graça
Com duas sílabas e cinco letras,
Se escreve a nossa palavra Natal.
Como nos ensinaram as nossas mestras,
É das mais belas que há em Portugal.
Mas, sendo a vida filha de putice,
Por favor, não façam Natal todo o ano,
Que grande freima, que grande chatice,
Seria um logro, um cruel engano.
É bom p’rás baterias carregar,
O Natal no solstício do inverno,
Pode-se comer, beber, orar… e amar.
Três dias é d’mais como o Carnaval,
Mas Natal todo o ano seria inferno,
E só nos poderia fazer mal!...
Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, e Madalena, Vila Nova de Gaia,
22 e 23 de dezembro de 2018
Luís Graça
Post scriptum ou adenda (muito importante) - Recomendação dos filhos e netos aos pais e avós:
Não, muito obrigado!
por Luís Graça
Com duas sílabas e cinco letras,
Se escreve a nossa palavra Natal.
Como nos ensinaram as nossas mestras,
É das mais belas que há em Portugal.
Mas, sendo a vida filha de putice,
Por favor, não façam Natal todo o ano,
Que grande freima, que grande chatice,
Seria um logro, um cruel engano.
É bom p’rás baterias carregar,
O Natal no solstício do inverno,
Pode-se comer, beber, orar… e amar.
Três dias é d’mais como o Carnaval,
Mas Natal todo o ano seria inferno,
E só nos poderia fazer mal!...
Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, e Madalena, Vila Nova de Gaia,
22 e 23 de dezembro de 2018
Luís Graça
Post scriptum ou adenda (muito importante) - Recomendação dos filhos e netos aos pais e avós:
Tanto crime contra a mãe-natureza,
Pelas nossas gerações cometido!...
P'ró ano, queremos ter a certeza
De que o nosso futuro está garantido!
______________Pelas nossas gerações cometido!...
P'ró ano, queremos ter a certeza
De que o nosso futuro está garantido!
Nota do editor:
Último poste da série > 24 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19331: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (11): José Belo, na terra do Pai Natal e das Auroras Boreais, régulo da Tabanca da Lapónia, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)
Último poste da série > 24 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19331: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (11): José Belo, na terra do Pai Natal e das Auroras Boreais, régulo da Tabanca da Lapónia, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)
Guiné 61/74 - P19331: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (11): José Belo, na terra do Pai Natal e das Auroras Boreais, régulo da Tabanca da Lapónia, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)
Festas Felizes desde a terra do Pai Natal e das Auroras Boreais. [Fotos: Joseph Belo, 2018]
1. Mensagem do José [Joseph] Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:
Domingo, 23/12, 13:49
Para Ti e Família,assim como para todos os Amigos e Camaradas, envio desde o extremo do extremo norte da Suécia um grande abraço com votos de Festas Felizes.
(ii) ex-alf mil inf da CCAÇ 2381,Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70;
(iii) cap inf ref;
(iv) é jurista, vive na Suécia há 4 décadas, e onde formou família;
(v) reparte o seu tempo entre a Suécia, a Lapónia Sueca e os EUA, onde família tem negócios.
Nota do editor:
Último poste da série > 23 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19323: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (10): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 e Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF
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Nota do editor:
Último poste da série > 23 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19323: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (10): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 e Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF
Guiné 61/74 - P19330: Memórias de Gabú (José Saúde) (75): Marcelino da Mata, um homem que deu o corpo às balas (José Saúde)
1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.
Gabu em memórias
Marcelino da Mata, um homem que deu o corpo às balas
De herói a vilão
O tema poderá, eventualmente, considerar-se polémico. Reconheço o atrevimento, mas não o é considerado por mim nefasto. Respeito o contraditório. Tanto mais que falamos de uma temática onde o conteúdo da guerra tem dois opositores. Por conseguinte, alerto que me cinjo exclusivamente ao heroísmo de homens que não esconderam “a cabeça na areia” como faz a avestruz.
A minha longa vida como jornalista (iniciada em fevereiro de 1983), também escritor com oito obras publicadas, sempre a pautei pela dignidade. Ouvir, e saber ouvir, deu-me “estaleca” e ânimo, acessórios que indicam uma força enorme na destreza de bem caminhar numa “picada” que considero, até hoje, limpa.
Ouvir as partes é um direito do código deontológico e rege literalmente as frações envolventes. Sei, porém, que a energia de uma narrativa nem sempre agrada a gregos e a troianos. E mexer com a “coisa” incomoda.
Camaradas, na condição de jornalista fui, por duas vezes, sujeito à condição de réu. Escrevi publicamente a verdade, somente a verdade, mas eis que essa visível verdade não era a verdade dos queixosos. Não lhes convinha. Mentes mesquinhas que por vezes se julgam senhores da razão, não sabendo, porque assim o querem, distinguir “o trigo do joio”. A honra do homem é impagável e primo por essa nobreza. A retidão faz parte do meu ADN. Ninguém se assuma superior ao parceiro do lado.
Aguardei, calmamente, a decisão do tribunal. Sabia que não havia cometido nenhum crime de lesa a pátria, ou que mexesse com a honestidade moral de alguém. Entretanto, lá fui submetido aos princípios de um conjunto de impedimentos que usurparam o meu quotidiano ao longo de um processo que terminou com a minha absolvição.
Conheço, e muito bem, a força do conteúdo das palavras e como elas são entendidas por quem se julga o único portador da razão. Hoje, sou, tal como sempre o fui, amigo desses companheiros que compreenderam, mais tarde, que o móbil da decisão não estava, nem podia estar, do seu lado. Pediram-me desculpas pelo incómodo e nossa amizade mantém-se.
Arrisco, e a vida é feita de riscos, trazer ao nosso blogue a opinião, que é minha, sobre um antigo guerrilheiro que combateu ao lado das NT no conflito da Guiné. Aliás, foi através de pequenos textos lançados no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné que consegui desarticular tabus que entretanto ainda se consomem no ego de camaradas que não admitem inequívocas realidades por todos nós conhecidas. Lembro, a talho de foice, os “filhos do vento” e o impacto mediático que causou, não só a nível nacional como internacional. Bem-haja a arriscada ideia e as consequências que dela resultaram.
Não tive a oportunidade em combater ao seu lado. Não me foi dada essa missão e a oportunidade esvaziou-se no infinito de um horizonte onde o serpenteado das cores visíveis no infindável céu guineense era deslumbrante. Todavia, a mensagem da sua bravura passava de aquartelamento para aquartelamento a uma velocidade alucinante.
Todos, ou quase todos, lhe atribuíam dotes de combatente de primeira água. Falava-se dele amiúde e esse falatório obrigava a malta atribuir-lhe míticos feitos, uns verdadeiros, outros salpicados de “pozinhos” recheados de meras imaginações. Diz o povo “quem conta um conto, acrescenta-lhe mais um ponto”. Compreendo.
Não vou, como é óbvio, ser minucioso na sua forma de atuar, ou delinear o modo como enfrentava o IN. Foi comando, eu ranger, e muitas vezes me indaguei sobre a sua capacidade em agir quando o zumbido das balas pareciam não ter fim. Ou, a sua sagacidade na sapiência em resolver o conflito por ora deparado.
A guerra proporciona momentos de inquietação, sobretudo quando falamos na componente guerrilha. Enfrentar o inimigo, sem rosto, onde a surpresa amiúde acontecia, era um flagelo para jovens soldados atirados para as frentes de combate sem dó nem piedade. Jovens forçados a combater, sem “escola”, nem tão-pouco uma aprumada capacidade de ação, sendo o intuito prioritário salvar a pele. “Matar para não morrer” era o lema.
Recordo Marcelino da Mata, um guineense que nasceu em Porta Nova, Guiné, no dia 7 de maio de 1940 e que presentemente ostenta a patente de Tenente Coronel. A sua incorporação no exército português teve lugar a 3 de janeiro de 1960, em Bolama, mas acidentalmente, uma vez que acabou por ser agrupado no Centro de Instrução Militar em lugar do irmão.
Ofereceu-se, depois, como voluntário, sendo o fundador das tropas de operações especiais e membro ativo nos comandos africanos.
Segundo registos da História do Exército Português, o antigo combatente terá participado em 2412 operações e que lhe confere o direito em sustentar o título de militar português mais condecorado.
Aconteceu que das várias operações em que as NT levaram a ação ao extremo, e com baixas registadas ao IN, entre recuperações de material bélico e não só, deparamo-nos com nomes de graduados de alta patente como gestores da operacionalidade, sendo que pouco se falava do Marcelino da Mata nessas ditas reuniões. Admito, e aceito o perverso descuido que certamente era intuito, uma vez que a preparação da operação era delineada em gabinetes entre os graduados superiores, como é óbvio, sendo ele, no entanto, a arma “secreta” no terreno em determinadas operações.
Com o fim da guerra, graças ao 25 de Abril, Revolução dos Cravos, a nossa atividade guerrilheira teve o seu términus. O Marcelino “arrumou” as armas e fixou-se em Portugal. Mas, a sua vinda para Pátria à qual muito deu, ter-lhe-á virado as costas e, nessa altura, considerado como um ser humano alegadamente indigente.
Os movimentos revolucionários que então proliferavam num Portugal livre, e democrático, trancou-lhe as portas e o herói, “não morto, e nem tão-pouco posto”, caiu em desgraça. Numa entrevista dada ao jornalista Duarte Branquinho e publicada no jornal “O Diabo” de 1 de janeiro de 2015, segunda edição, sendo a primeira divulgada a 29 de julho de 2014, dizia: “Portugal esqueceu-se de mim, mas os amigos não”.
Marcelino da Mata adianta nessa entrevista, que sublinho com a devida vénia, quando o tema era o seu sentir por parte das Forças Armadas portuguesas, opina: “Tenho a impressão que há aí uma dor de cotovelo. Porque um preto que vem do Ultramar, da Guiné, do mato, e sou mais condecorado que os oficiais da nação, é uma vergonha para eles. Isso caiu mal”.
Leva-me a narração dos factos recuar aos tempos revolucionários e transpor mais uma dica sobre se houve, ou não, sensibilidade na sua prisão: “Parece que não existiu, mas eu fui preso e torturado que nem um cão. Foram a minha casa e não me encontraram. Foi a minha falecida mulher que me disse que lá tinham estado tropas à minha procura”.
E conclui: “… mandaram-me encostar à parede e eu recusei-me, dizendo que um militar não bate num militar, que se queriam deviam participar de mim. Mas agarraram em mim e encostaram-me à parede. Foi o fim da minha vida! Levei tantas que só Deus sabe. Depois de desmaiar, atiraram-me com um balde de água em cima e continuaram. Nem quero falar mais disso…”.
Recuso, perentoriamente, comentar tais factos, sei, melhor, sabemos que tudo terminou com perseguições e a sua subsequente fuga para Espanha, regressando a solo português após o Golpe de 25 de Novembro.
Reflito, convictamente, sobre o Tenente Coronel Marcelino da Mata e a sua destemida bravura na guerra da Guiné, deparando-me com várias Medalhas de Guerra, 1ª, 2ª e 3ª Classes, de entre outras condecorações com que foi agraciado.
No dia 2 de julho de 1969 foi nomeado Cavaleiro da Ordem Militar da Torre, do Valor, Lealdade e Mérito.
Cito, também, o nome de algumas operações para que a memória futura jamais esqueça: “Operação Trindente”, ilha do Como - “Operação Cajado” - “Resgate de 150 portugueses cativos em território senegalês” - “Operação Mar Verde” – “Operação Ametista Real”.
Marcelino da Mata foi várias vezes ferido na ocorrência de combates, mas quando na noite de 24 para 25 de abril de 1974 se ouviu “E depois do Adeus” pela voz de Paulo de Carvalho, o antigo combatente, tal como as tropas lusas que se encontravam nas três frentes de guerra – Angola, Moçambique e Guiné –, cessou a sua atividade operacional.
A sua história é vasta e as opiniões sobre o seu caráter como combatente poderão, eventualmente, não coincidirem. Numa pesquisa internauta fiquei a conhecer melhor o homem que tinha conhecido no meu quartel na então Nova Lamego em princípios do ano de 1973.
A sua vida não foi fácil e enterrar o “machado de guerra” é coisa muito vaga. Veja-se a forma como fora tratado já num Portugal onde os “Cravos” desabrochavam. Mas, o toque de alerta soou e o Exército Português que fez dele o atual Tenente Coronel.
Para trás ficam as memórias e o improvável regresso, mesmo como visitante, ao solo que o viu nascer: Guiné-Bissau.
Concluindo: este é um pequeníssimo texto onde deparamos com combatente guineense que passou de herói a vilão!...
Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Fotos: Com a devida vénia e agradecimentos ao jornal TAL & QUAL.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
18 DE DEZEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19303: Memórias de Gabú (José Saúde) (74): Na Messe de Sargentos em Quadra Natalícia. Natal de 1973 (José Saúde)
Fotos: Com a devida vénia e agradecimentos ao jornal TAL & QUAL.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
18 DE DEZEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19303: Memórias de Gabú (José Saúde) (74): Na Messe de Sargentos em Quadra Natalícia. Natal de 1973 (José Saúde)
Guiné 61/74 - P19329: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LVII: Festas de Natal e Ano, Nova Lamego 67, São Domingos 68
Foto nº 1 > Jantar e Ceia de Natal de 1967, na messe de oficiais em Nova Lamego.
Foto nº 2 > Continuação do Jantar e Ceia de Natal de 67, na messe de oficiais em Nova Lamego. Ao fundo, no topo da mesa, o Virgílio Teixeira.
Foto nº 3 > Dezembro de 1967 > "Feliz Natal: Noite de Natal, Noite Fria, tão gelada / Tocam os sinos / É noite de Consoada... Guiné 67". Desenho e texto do furriel miliciano Rocha, o "Algarvio",
Foto nº 4 > Kantar de fim de ano na messe de oficiais, o Comandante à civil, a brindar a todos. Os protagonistas são os mesmos, vê-se de óculos, o alferes comandante do Pelotão de A.M. Daimler 1143. Foi a última fotografia que tenho do nosso Comandante.
Foto nº 5 > – O mesmo jantar, agora a foto tirada do outro extremo da mesa, já apareço eu, e em grande destaque o nosso Major Henriques, aquele que me queria fazer a vida negra e nunca o conseguiu.
Foto nº 11 > Jantar e Ceia de Natal de 1968, na messe de oficiais em São Domingos.
F12 – Outra visão da mesa de jantar de Natal de 1968, com os outros protagonistas.
Foto nº 13 > – Noite de Natal de 1968, junto dos nossos militares na sua caserna, com uns copos à mistura.
Foto nº 14 > Almoço do dia de Natal de 1968, juntamente com todo o pessoal de todas as companhias e pelotões independentes
Foto nº 15 > Messe de sargentos da CCS, esperando a hora do jantar de fim de ano de 1968.
F16 – Espectáculo programado para o dia de Novo Ano de 1969, com todos os militares a participar na festa. Brancos, negros e população civil, todos foram convidados.
Foto nº 17 > Outro lado do mesmo espectáculo, com outros protagonistas, pode ver-se o Capitão Cardoso, o novo comandante da CCS, o Major Correia ao lado da esposa do Médico, e o sempre omnipresente Capitão Martins, com o seu pingalim!
Guiné > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Natal e Ano Novo
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil,SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)
[Foto à esquerda, o Virgílio e a esposa Manuela, na Tabanca de Matosinhos, Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei), 5 de setembro de 2018 (Foto: LG).
NOVA LAMEGO 67
SÃO DOMINGOS 68
I - Anotações e Introdução ao tema:
Aproveito esta época para além de desejar os melhores êxitos e muita saúde a todos, apresentar mais algumas fotos que seleccionei de uma centena delas, e que são alusivas às festas de Natal e Ano Novo dos anos de 1968 (50 anos) e de 1967 (51 anos).
Foram estes dois anos festivos que passei no CTIG, o primeiro ano de 1967 em terras do Gabu – Nova Lamego – e no segundo ano mais para o extremo ocidental da Guiné na povoação e circunscrição de São Domingos.
Como é natural, no primeiro ano de 67 fizemos o jantar de ‘Ceia de Natal’ na messe de oficiais, e seguidamente confraternizei com os camaradas da messe de sargentos, e muito em particular com o pessoal da pesada, os soldados e cabos. Eu fiz isso, os outros não sabemos. Neste ano tudo foi presidido pelo nosso Comandante de Batalhão – Tenente Coronel Armando Vasco de Campos Saraiva, pessoa de uma rara delicadeza e personalidade.
No segundo ano de 68, já assim não aconteceu, o trágico desfecho de uma mina A/P em 20 de Novembro de 68, levou-o definitivamente para a Metrópole, onde após operações sucessivas, conseguiu sobreviver e se encontrou passados mais de 15 anos com os seus militares num almoço realizado em Tomar.
Neste ano presidiu às festas e cerimónias, o nosso 2º Comandante, provisoriamente na função de 1º Comandante, o Major Américo Correia..
Em ambos os anos, houve sempre a Seia de Natal, o Almoço de Natal, o Jantar de Fim do Ano, e o primeiro almoço do dia 1 de Janeiro. Com animação, dentro das possibilidades que a situação o permitia.
II – As Legendas das fotos:
F01 – Jantar e Ceia de Natal de 1967, na messe de oficiais em Nova Lamego – Gabu.
Pode ver-se no topo da mesa o nosso saudoso comandante, fardado, ladeado, como ele gostava, de duas senhoras, a mulher do Tenente Médico Cortez, e da mulher do Alferes Figueiredo, recrutado na Guiné, onde vivia. Perto dele, os dois Majores, Américo Correia e Graciano Henriques, bem como o médico.
Podem ver-se os Capitães – comandante da CCS – Capitão Figueiral, o oficial de informações – Capitão Martins, o oficial de pessoal e reabastecimentos, e outro que não conheci muito bem.
No outro topo da mesa, está o pessoal menor, os alferes milicianos.
Foto captada em Nova Lamego, na noite de 24 de Dezembro de 1967
F02 – Continuação do Jantar e Ceia de Natal de 67, na messe de oficiais em Nova Lamego.
O autor, eu, estou no topo, numa das raras vezes com um blusão, sinal que devia estar mais fresco, era Dezembro. Ao lado outro alferes de blusão, julgo que pertencia aos quadros da aviação, pois tínhamos ali estacionado vários meios aéreos permanentes.
Ao lado esquerdo o Tenente SGE Albertino Godinho, a seguir o alferes Azevedo ‘ O Morteiros’ o a alferes Carvalheira do Serviço da ‘Ferrugem’, o alferes Carneiro, Tesoureiro.
Não consigo identificar mais, além dos nossos ‘gourmet’ os soldados condutores.
Foto captada em Nova Lamego, na noite de 24 de Dezembro de 1967
F03 – Cartaz com uma mensagem de Natal, obra produzida e realizada pelo Furriel Miliciano Rocha. ‘O Algarvio’ .
O Rocha fez várias de outros formatos, ele desenhava, escrevia o poema, depois arranjava os cenários. Da minha parte fiz pelo menos uma centena de fotos destas, e de outros formatos, mudava apenas o personagem o resto era igual. Depois cada um mandou para as suas famílias um postal ilustrado. Coloquei esta, mas há muitas mais. O fotógrafo era eu.
Foto captada em Nova Lamego, provavelmente na primeira ou segunda semana do Dezembro 67,
F04 – Jantar de fim de ano na messe de oficiais o comandante à civil, a brindar a todos.
Foto captada em Nova Lamego, provavelmente na primeira ou segunda semana do Dezembro 67,
F04 – Jantar de fim de ano na messe de oficiais o comandante à civil, a brindar a todos.
Os protagonistas são os mesmos, vê-se de óculos, o alferes comandante do Pelotão de A.M. Daimler 1143.
Foi a última fotografia que tenho do nosso Comandante. Foto captada em Nova Lamego, na noite de 31 de Dezembro de 1967
F05 – O mesmo jantar, agora a foto tirada do outro extremo da mesa, já apareço eu, e em grande destaque o nosso Major Henriques, aquele que me queria fazer a vida negra e nunca o conseguiu.
Foto captada em Nova Lamego, na noite de 31 de Dezembro de 1967
F11 – Jantar e Ceia de Natal de 1968, na messe de oficiais em São Domingos.
Os protagonistas mudaram, face à evacuação do nosso Comandante, em 20NOV68.
O Major Américo Correia preside às cerimónias, curiosamente quase nunca vi o nosso Major Correia vestido à civil, estava sempre fardado. Ao lado o Major Henriques que quase nunca andava fardado, fora de horas, sempre à civil! Agora numa função de 2º comandante.
Vê-se a mulher do Capitão Cortez, Médico, e de costas uma jovem menina em Lua-de-mel, esposa do novo comandante de Companhia da CCS – Capitão Cardoso, visto o nosso anterior ser chamado a altas funções no QG. Em pé o nosso Cabo Pita, auxiliar de mesa, condutor e impedido do Major Henriques.
Foto captada em São Domingos, na noite de 24 de Dezembro de 1968
F12 – Outra visão da mesa de jantar de Natal, com os outros protagonistas. Vê-se agora o novo casal, o novo Capitão da CCS, e a sua esposa, jovem e bonita.
Do lado esquerdo junto à parede o nosso Capitão Martins, do Serviço de Informações! Diz-se que era o torcionário dos turras capturados. Esteve no último encontro em Viseu, 2017, nos anos em que fizemos 50 anos de partida. É General reformado.
Foto captada em São Domingos, na noite de 24 de Dezembro de 1968
F13 – Noite de Natal de 1968, junto dos nossos militares na sua caserna, com uns copos à mistura.
Vê-se uma imagem de uma Nossa Senhora!
Foto captada em São Domingos, na noite de 24 de Dezembro de 1968, no refeitório das praças, conforme está escrito naquele tempo na fotografia.
F14 – Almoço do dia de Natal de 1968, juntamente com todo o pessoal de todas as companhias e pelotões independentes.
Pode ver-se entre outros, o alferes Gatinho e alferes Almodôvar, o Capitão Martins, e ao lado o nosso 1º sargente Carvalho da CCS.
Foto captada em São Domingos, no dia 25 de Dezembro de 1968, num espaço previamente arranjado para o efeito.
F15 – Messe de sargentos da CCS, esperando a hora do jantar de fim de ano de 1968.
Pode ver-se o Vagomestre Furriel Paiva Matos, e outros furriéis.
Foto captada em São Domingos, no dia 31 de Dezembro de 1968, na messe de Sargentos do Batalhão.
F16 – Espectáculo programado para o dia de Novo Ano de 1969, com todos os militares a participar na festa. Brancos, negros e população civil, todos foram convidados.
Foto captada em São Domingos, no dia 01 de Janeiro de 1969, na sombra dos grandes e pequenos mangueirais.
F17 – Outro lado do mesmo espectáculo, com outros protagonistas, pode ver-se o Capitão Cardoso, o novo comandante da CCS, o Major Correia ao lado da esposa do Médico, e o sempre omnipresente Capitão Martins, com o seu pingalim! E curiosamente está como Oficial de Dia! Não me calhou a mim.
Foto captada em São Domingos, no dia 01 de Janeiro de 1969, na sombra dos grandes e pequenos mangueirais. Julgo que se trata de um lugar perto da Oficina da Ferrugem, ou cemitério de viaturas.
NOTA FINAL DO AUTOR:
# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir.#
«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».
Acabada de legendar hoje,
Em, 2018-12-14
Virgílio Teixeira
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 15 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19293: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LVI: E tudo o vento levou... O furacão de 20 de agosto de 1968, em São Domingos
Foi a última fotografia que tenho do nosso Comandante. Foto captada em Nova Lamego, na noite de 31 de Dezembro de 1967
F05 – O mesmo jantar, agora a foto tirada do outro extremo da mesa, já apareço eu, e em grande destaque o nosso Major Henriques, aquele que me queria fazer a vida negra e nunca o conseguiu.
Foto captada em Nova Lamego, na noite de 31 de Dezembro de 1967
F11 – Jantar e Ceia de Natal de 1968, na messe de oficiais em São Domingos.
Os protagonistas mudaram, face à evacuação do nosso Comandante, em 20NOV68.
O Major Américo Correia preside às cerimónias, curiosamente quase nunca vi o nosso Major Correia vestido à civil, estava sempre fardado. Ao lado o Major Henriques que quase nunca andava fardado, fora de horas, sempre à civil! Agora numa função de 2º comandante.
Vê-se a mulher do Capitão Cortez, Médico, e de costas uma jovem menina em Lua-de-mel, esposa do novo comandante de Companhia da CCS – Capitão Cardoso, visto o nosso anterior ser chamado a altas funções no QG. Em pé o nosso Cabo Pita, auxiliar de mesa, condutor e impedido do Major Henriques.
Foto captada em São Domingos, na noite de 24 de Dezembro de 1968
F12 – Outra visão da mesa de jantar de Natal, com os outros protagonistas. Vê-se agora o novo casal, o novo Capitão da CCS, e a sua esposa, jovem e bonita.
Do lado esquerdo junto à parede o nosso Capitão Martins, do Serviço de Informações! Diz-se que era o torcionário dos turras capturados. Esteve no último encontro em Viseu, 2017, nos anos em que fizemos 50 anos de partida. É General reformado.
Foto captada em São Domingos, na noite de 24 de Dezembro de 1968
F13 – Noite de Natal de 1968, junto dos nossos militares na sua caserna, com uns copos à mistura.
Vê-se uma imagem de uma Nossa Senhora!
Foto captada em São Domingos, na noite de 24 de Dezembro de 1968, no refeitório das praças, conforme está escrito naquele tempo na fotografia.
F14 – Almoço do dia de Natal de 1968, juntamente com todo o pessoal de todas as companhias e pelotões independentes.
Pode ver-se entre outros, o alferes Gatinho e alferes Almodôvar, o Capitão Martins, e ao lado o nosso 1º sargente Carvalho da CCS.
Foto captada em São Domingos, no dia 25 de Dezembro de 1968, num espaço previamente arranjado para o efeito.
F15 – Messe de sargentos da CCS, esperando a hora do jantar de fim de ano de 1968.
Pode ver-se o Vagomestre Furriel Paiva Matos, e outros furriéis.
Foto captada em São Domingos, no dia 31 de Dezembro de 1968, na messe de Sargentos do Batalhão.
F16 – Espectáculo programado para o dia de Novo Ano de 1969, com todos os militares a participar na festa. Brancos, negros e população civil, todos foram convidados.
Foto captada em São Domingos, no dia 01 de Janeiro de 1969, na sombra dos grandes e pequenos mangueirais.
F17 – Outro lado do mesmo espectáculo, com outros protagonistas, pode ver-se o Capitão Cardoso, o novo comandante da CCS, o Major Correia ao lado da esposa do Médico, e o sempre omnipresente Capitão Martins, com o seu pingalim! E curiosamente está como Oficial de Dia! Não me calhou a mim.
Foto captada em São Domingos, no dia 01 de Janeiro de 1969, na sombra dos grandes e pequenos mangueirais. Julgo que se trata de um lugar perto da Oficina da Ferrugem, ou cemitério de viaturas.
NOTA FINAL DO AUTOR:
# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir.#
«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».
Acabada de legendar hoje,
Em, 2018-12-14
Virgílio Teixeira
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 15 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19293: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LVI: E tudo o vento levou... O furacão de 20 de agosto de 1968, em São Domingos
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