quarta-feira, 26 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P993: A tragédia do Quirafo ainda dói muito (Joaquim Mexia Alves)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Estrada Xime - Bambadinca > 1997 : Ponte (velha) do Rio Undunduma. Por aqui também passou o Joaquim Mexia Alves, comandante em 1972 do Pel Caç Nat 52. Acabou por ir comandar a CCAÇ 15, sedeada em Mansoa.

Foto: © Humberto Reis (2005) (com a colaboração do Braima Samá)

Texto Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Undunduma, Mato Cão) , CCAÇ 15 (Mansoa ).

Caro Luis Graça:

Acabei de ler o último post do Paulo Santiago, que me causou obviamente recordações amargas, não só pela perda de vidas que é o mais importante, mas também pela perda de vidas sem sentido, ou apenas para satisfazer o ego de alguém ou de alguens perfeitamente identificados.
Como disse, o Armandino foi meu camarada de curso nos Ranger's e como tal tínhamos uma ligação mais forte e até tínhamos estado a almoçar em casa do Jamil Nasser poucos dias antes (1). Assim que tiver a foto digitalizada, envia-ta.
Pergunta o Paulo Santiago: "Qual a razão que levou o Alf Armandino a não acreditar ?Porque quis prosseguir, utilizando até algumas ameaças para obrigar os civis a subirem para a GMC ? Não tenho uma explicação racional para esta atitude".
Ele sabe a resposta, tal como eu: O Armandino era um tipo generoso e cumpridor. Erámos periquitos e o raio do curso dos Ranger's tinha-nos imbuído daquele espírito de cumprir e obedecer.

Não sabemos o que o proveta lhe terá dito, mas com certeza terá colocado a ordem como vinda do Comandante de Batalhão, à qual ele, proveta, obviamente não disse que não, visto que se calhar até teria sido a fazer a proposta para mostrar serviço.

O Armandino não disse que não e sabemos o que se passou.

Faz-me mais impressão é porque é que o Armandino facilitou, deixando ir o pessoal na GMC de costas voltadas para as bermas, tal como a versão que de imediato chegou ao Xitole.

Tenho a certeza que, se tudo se tivesse passado uns meses mais para diante na comissão, o Armandino provavelmente teria dito ao proveta (2):
- Vai tu sozinho, que nós ficamos aqui a tomar conta.

Tenho quase a certeza que esse Batalhão do Galomaro fez a viagem connosco no Niassa, mas ainda ninguém me confirmou isso.

Quando tiver as fotografias contarei umas histórias, algumas sobre a incompetência de mandar fazer coisas que não serviam para nada, mas que felizmente não tiveram o desfecho que esta teve.

Soubesse ao menos o nosso País homenagear verdadeiramente aqueles que deram a vida por ele, independentemente da política!!!

Tudo isto ainda dói muito!!!

Abraço
Joaquim Mexia Alves
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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 11 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P952: Evocando o libanês Jamil Nasser, do Xitole (Joaquim Mexia Alves, 1971/73)

(2) Referência ao capitão miliciano Lourenço, da CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74): vd. post de 23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)

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