Foto: © Humberto Reis (2005) (com a colaboração do Braima Samá)
Texto Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Undunduma, Mato Cão) , CCAÇ 15 (Mansoa ).
Caro Luis Graça:
Acabei de ler o último post do Paulo Santiago, que me causou obviamente recordações amargas, não só pela perda de vidas que é o mais importante, mas também pela perda de vidas sem sentido, ou apenas para satisfazer o ego de alguém ou de alguens perfeitamente identificados.
Como disse, o Armandino foi meu camarada de curso nos Ranger's e como tal tínhamos uma ligação mais forte e até tínhamos estado a almoçar em casa do Jamil Nasser poucos dias antes (1). Assim que tiver a foto digitalizada, envia-ta.
Pergunta o Paulo Santiago: "Qual a razão que levou o Alf Armandino a não acreditar ?Porque quis prosseguir, utilizando até algumas ameaças para obrigar os civis a subirem para a GMC ? Não tenho uma explicação racional para esta atitude".
Ele sabe a resposta, tal como eu: O Armandino era um tipo generoso e cumpridor. Erámos periquitos e o raio do curso dos Ranger's tinha-nos imbuído daquele espírito de cumprir e obedecer.
Não sabemos o que o proveta lhe terá dito, mas com certeza terá colocado a ordem como vinda do Comandante de Batalhão, à qual ele, proveta, obviamente não disse que não, visto que se calhar até teria sido a fazer a proposta para mostrar serviço.
O Armandino não disse que não e sabemos o que se passou.
Faz-me mais impressão é porque é que o Armandino facilitou, deixando ir o pessoal na GMC de costas voltadas para as bermas, tal como a versão que de imediato chegou ao Xitole.
Tenho a certeza que, se tudo se tivesse passado uns meses mais para diante na comissão, o Armandino provavelmente teria dito ao proveta (2):
- Vai tu sozinho, que nós ficamos aqui a tomar conta.
Tenho quase a certeza que esse Batalhão do Galomaro fez a viagem connosco no Niassa, mas ainda ninguém me confirmou isso.
Quando tiver as fotografias contarei umas histórias, algumas sobre a incompetência de mandar fazer coisas que não serviam para nada, mas que felizmente não tiveram o desfecho que esta teve.
Soubesse ao menos o nosso País homenagear verdadeiramente aqueles que deram a vida por ele, independentemente da política!!!
Tudo isto ainda dói muito!!!
Abraço
Joaquim Mexia Alves
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Notas de L.G.
(1) Vd. post de 11 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P952: Evocando o libanês Jamil Nasser, do Xitole (Joaquim Mexia Alves, 1971/73)
(2) Referência ao capitão miliciano Lourenço, da CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74): vd. post de 23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)
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