Foto 1 > "Eu, com a Cruz de Guerra, por ter transportado um soldado preto, ou seja nativo, morto, às costas, de baixo de fogo".
Foto 2 > "Mascote da companhia em Bissau, nos primeiros dias de permanência na Guiné"
Foto 3 > "Uma mulher com miúdos de Camamudo"
Foto 4 > "Eu, No meio da juventude de Camamudo"
Foto 5 > "Foto após um batuque em que fiz questão ficar nela com mais militares"
Foto 6 > "Com dois simpáticos miúdos que muitas vezes me acompanhavam pela tabanca de Camamudo"
Foto 7 > "Mais uns companheiros que pediam para lhes emprestar a bola e lá ia eu com eles, eu também gostava"
Foto 8 > "Eu, com uma família de Balantas em Geba"
Foto 9 > "Eu, com o Régulo de Cantacunda"
Foto 10 > "Pessoal à espera de comer e tratamentos na enfermaria"
Foto 11 > "Eu, com o Regulo de Cantacunda e pessoal de todas as idades"
Fotos e legendas: © Fernando Chapouto (2008). Direitos reservados.
1. Mensagem do Fernando Chapouto, com data de 8 de Janeiro último. O Fernando foi Fur Mil, Op Esp, CCAÇ 1426 (Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67). O Chapouto chegou, no Niassa, à Guiné em Agosto de 1965; em Outubro de 1965 foi para Camamudo; em Dezembro de 1965 foi destacado para Banjara; em meados de 1966 foi destacado para Geba; em Março de 1967 foi colocado em Cantacunda; e, por fim, em Maio de 1967 regressou à metrópole no Uíge. Recebeu uma cruz de guerra... É dos nossos mais antigos tertulianos. Há tempos ficou zangado comigo, por que ficou com a ideia (errada) de que eu terei insinuado que ele era racista... Bem pelo contrário, eu quis apenas defendê-lo contra aqueles que, não o conhecendo, poderiam pensar mal do Fernando. Não foi assim que entendeu as boas minhas boas, pias, cristalinas, palavras, comos e pode deduzir do texto que ele na altura me mandou... Felizmente que está tudo ultrapassado, uma vez desfeito o mal entendido... Enfim, os habituais problemas da comunicação humana... (LG).
Racismo é palavra que não existe no meu dicionário
por Fernando Chapouto
O meu racismo está espelhado nas fotografias acima mencionadas. Podia pôr mais, mas são suficientemente esclarecedoras do meu racismo, palavra que não existe no meu dicionário. Sou e semopre fui um não-racista.
Isto é uma demonstração do meu respeito por todos, fossem idosos, novos ou quem quer que seja.
Quando me deslocava a Bafatá ou a Geba, eu dava-lhes boleia, levava-os e trazia-os, não os deixava ficar no caminho. Era a nossa missão, é por isso que hoje tenho saudades daquela gente, sejam pretos, brancos, mestiços, amarelos ou de outra cor. Porque era por eles que eu ali estava, defendendo-os de ataques do IN.
Espero que toda a minha discordância seja publicada e dado conhecimento, a todos os ex-combatentes, do meu descontentamento.
Se não concordam com os meus depoimentos e se assim o desejarem podem-me excluir-me da lista do blogue.
Só lamento certas histórias não terem o mesmo tratamento. Concordo que cada um se exprima e relate as suas histórias, pois vivemos em democracia, pela qual sempre lutei.
Espero continuar, na sombra, a ser um leitor assíduo do vosso blogue, pelo qual tenho vivido horas felizes em relembrar aqueles tristes dias da Guiné.
Um abraço para todos
Fernando Chapouto
2. Comentário do editor na altura enviado, por mail, ao nosso camarada Fernando Chapouto, e que ficou sem resposta na altura:
Fernando: Obrigado pela tua mensagem e pelas fotos que mandaste. E que eu vou publicar. Mas quero que fique claro uma coisa: ninguém disse, no nosso blogue, que tu eras racista, muito menos eu ou qualquer um dos nossos co-editores... Aliás, nenhum de nós, que passou pela Guiné, pode ser racista: temos uma grande amizade aqueles povos... Tu convivestes com os pretos, andastes com eles às costas, defendeste-os... Eu estive numa compnhia de pretos, retintos, fulas, fulas pretos... Portanto, tu não precisas de te justificares nem de defenderes de acusações que não existem...
Vejo, com tristeza, que ainda estás zangado connosco, ou só comigo...Ora não é caso para isso... Há um mal-entendido que eu tenho que esclarecer contigo... Não vou perder um amigo e uma camarado só por causa de um mal-entendido... Deixa-me falar contigo: manda-me o teu número de telefone ou telefona tu mesmo, agora mesmo, para o número que te dou. Espero poder esclarecer todos os equívocos. Luís Graça
3. O Fernando entendeu ficar em silência estes meses todos. Há dias rompeu esse silêncio e mandou-me imagens de velhos postais ilustrados... Espero poder vê-lo, e dar-lhe um abraço no dia 17 de Maio, no nosso III Encontro Nacional, em Monte Real.
A mensagem vem endereçada ao Companheiro Luís e camaradas da Guiné... E acaba assim:
"Continuem o trabalho exemplar para beneficio de todos os ex-combatentes da Guiné. O meu muito obrigado
Um abraço
Fernando Chapouto
Ex Fur Mil CCaç 1426
Guiné 65/67"
___________
Nota de L.G.:
(1) Vd. poste de 5 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2409: Estórias avulsas (12): Uma atribulada viagem de barco pelo Rio Cacheu até Farim (Fernando Chapouto)
(...) "O regresso foi mais rápido e sem problemas até à entrada da barra. Ai apanhámos uma grande tempestade, pois estávamos na época das chuvas, uma grande trovoada, ondas com muita altura... O preto desamarrou os batelões que ficaram à deriva e o barquito onde fiquei com mais dois ou três soldados e a tripulação que era preta. Pensei:- Não morro com um tiro, mas morro afogado...
"Apesar de saber nadar, pensei que era o fim, os pretos (2) rezavam, pareceu-me uma eternidade, com o clarão dos relâmpagos via o lamaçal na margem...Como é que nos safamos se o barco se volta ? Lá ficaremos atolados" (...)
___________
Nota de L.G.:
(...)
(2) Pelo que conheço do Fernando (já nos encontrámos três ou quatro vezes), o termo preto aqui utilizado não tem qualquer conotação racista, é apenas linguagem de caserna...
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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