1. Trata-se de um comentário ao poste anterior (1), que merece ter mais visibilidade no nosso blogue, escrito por um Alf Mil Op Especiais que estava em Gadamael , no sul da Guiné, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, em 25 de Abril de 1974. Por não ter conta no Google, e provavelmente viver no estrangeiro (o texto não tem os caracteres portugueses), este nosso camarada não assinou o comentário.
É contra as nossas regras publicar comentários e postes anónimos. Abro aqui uma excepção, porque acho este comentário oportuno e autêntico. Espero que o nosso camarada, que nos lê habitualmente, possa dar a cara e escrever algo mais - se possível acompanhado de documentação fotográfica - sobre este período final da guerra, em relação ao qual sabemos pouco (2). Gostaria, nomeadamente, de saber qual a unidade a que ele pertencia, quanto tempo permaneceu em Gadamael, e se tem mais recordações dos contactos com os guerrilheiros do PAIGC no período a seguir ao 25 de Abril. Revisão e fixação do texto: LG.
Camarada Graça Abreu:
Li o teu comentário e estou totalmente de acordo contigo. A guerra não estava militarmente perdida. Eu era alferes miliciano de Operações especiais e estava no aquartelamento de Gadamael em 1974. Apesar de muitos bombardeamentos que tivemos, estes foram inconsequentes pois raramente acertavam no Quartel e o fogo deles era sempre por nós respondido, inclusive para o outro lado da fronteira. Fazíamos regulamente batida de fogo para zonas onde tínhamos informações sobre [as posições onde] o inimigo poderia estar.
Apesar de estarmos a 6 Km da fronteira, íamos regularmente para o mato fazer protecção ao quartel sem nunca termos encontrado o PAIGC (também para nossa sorte).
A realidade era que estávamos todos cansados daquilo (nós e eles) e a vontade de lutar não existia mas defender-nos-íamos, se fosse necessário, como sempre o fizemos quando por lá andámos.
A questão principal que se tem levantado aqui é a passagem a uma guerra convencional com tanques e aviões a jacto. Na minha opinião se o PAIGC tivesse esta capacidade, isto traria muitos problemas para nós e talvez até uma revés nos acontecimentos, de início, mas não acredito que o PAIGC tivesse capacidade de ocupar terreno dentro da Guiné por muito tempo.
Depois do 25 de Abril nós tivemos muitos encontros com quadros do PAIGC em Gadamael e é óbvio, pelas nossas conversas, que o poder militar deles não era assim tão superior ao nosso assim como não era a vontade [de] luta[r].
No meu parecer Portugal teria arranjado meios de defesa para uma guerra convencional porque esta envolveria seguramente a Guiné Conacri e os nossos aliados (se é que os posso chamar assim) enviariam material.
Para terminar, na minha opinião se o 25 de Abril não tivesse acontecido, a guerra duraria muito mais tempo até uma solução política ser arranjada e muitos de nós por lá teriam ficado.
Uma guerra de guerrilha não se ganha nem se perde desde que haja interesses dos dois lados a financiá-la.
Um abraço a todos
(Não assinado)
________
Notas de L.G.
(1) Vd. poste de 14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2939: No 25 de Abril eu estava em... (1): Guidage (João Dias da Silva, CCAÇ 4150, 1973/74
(2) Vd. poste de 19 de Junho de 2008 >Guiné 63/74 - P2962: A guerra estava militarmente perdida? (20):Um fraco rei faz fraca a Forte Gente (António Graça de Abreu)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário