Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Excerto da entrevista a André Gonçalves Pereira (*), por Christina Martins e Isabel Vicente. Expresso nº 1859, de 13 de Junho de 2008. Revista Única, pp. 62-74.
Pergunta - Fez tropa ?
Resposta - Sim, felizmente, logo após na licenciatura [em Direito]. Se tivesse demorado mais um ano, teria sido chamado para a guerra.
Pergunta – Que marcas deixou a guerra [do Ultramar] na sociedade portuguesa ?
Resposta – Muitas. Salazar tinha momentos de grande perspicácia, e a guerra de África acrescentou 15 anos ao regime. Admito que ele tenha compreendido que, depois da campanha do general Humberto Delgado, em 1958, era a maneira de reencontrar alguma unidade. Nos primeiros anos, pode dizer-se que a guerra era encarada de forma patriótica. Mas, à medida que se foi percebendo que não tinha solução, a opinião foi mudando.
Pergunta – E isso aconteceu quando ?
Resposta – Num dia de Abril de 1962, quando 18 estudantes da Universidade de Lisboa – entre os quais o Presidente Joaquim Chissano, de Moçambique, que cursava Medicina – desapareceram. Assim como vários alunos meus da Faculdade de Direito, que também fugiram. Tornou-se-me evidente que Portugal não tinha conseguido conquistar as elites (…).
Como visitava muito as colónias, verificava que a vida lá não era nem de longe o sonho que pintavam em Portugal. A discriminação racial era um facto evidente… Sobretudo quando estive nas Nações Unidas em 1960, em que a África se tornou independente. A partir daí, comecei a compreender que era inevitável a descolonização (…)
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Nota de L.G.:
(*) André Gonçalves Pereira, nascido em 1936, filho de mãe francesa e de pai de origem goesa, advogado desde 1959, professor de direito, assistente de Marcelo Caetano, doutorado aos 25 anos, professor catedrático aos 32, sócio sénior do mais antigo escritório de negócios em Portugal, constituído em 1928 (Gonçalves Pereira, Castelo Branco & Associados, Sociedade de Advogados, RL), amigo de Pinto Balsemão e de Sá Carmeiro, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros nos VII (1981) e VIII Governos Constitucionais (1981/83), como independente …
Durante o Estado Novo, foi representante de Portugal na Comissão Jurídica da Assembleia Geral das Nações Unidas (1959/66). Ficou célebre a sua boutade sobre o miserável vencimento dos ministros portugueses que, no caso dele, nem dava para os charutos...
Vd. postes anteriores desta série, (Ex)citações:
2 de Dezembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2324: (Ex)citações (1): Um pouco de humor de vez em quando também nos faz bem (Henrique Matos)
1 comentário:
Acho muito interessante e oportuna esta chamada de atenção para a entrevista referida.
Hélder Sousa
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