sexta-feira, 20 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2970: Ilha do Como, Cachil, Cassacá, 1964: O pós-Operação Tridente (José Colaço)


Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > Cachil > 1964 > CCAÇ 557 (1963/64) > Quartel do Cachil > "Seguem estas fotos: como era norma nesse tempo, numa estou eu na barbearia; e noutra, todo impecável, também estou eu o posto rádio fixo que era meu posto de trabalho. Todos os dias tinha 12 horas de serviço e o meu camarada Dias outras 12. Este posto rádio, como se pode vêr era protegido por terra pelos camaradas de armas e pelo ar por todas as estrelas do céu" (JC).

Fotos e legendas: ©
Jose Colaço. Direitos reservados


1. Texto do José Colaço, ex-Soldado de Trans, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá1963/65), recentemente entrado para a nossa Tabanca Grande (1).


Assunto - Operação Tridente

Resumir um texto tão vasto como o tema Operação Tridente (2), é difícil, para que fique no mínimo compreensível. Vou tentar o desafio e passar o mais possível ao lado da estada no Cachil.

Li com muito apreço o relato correcto que o camarada Mário Dias escreve sobre a Operação Tridente, em Cauane - a que nós que estávamos no Cachil chamávamos a Praia - , os desmentidos a João de Melo e a José Freire Antunes. OK, nós, companhia de caçadores 557, também lá tínhamos um pelotão que era uma força activa às ordens do Tenente-coronel Fernando Cavaleiro.

Parece que o Mário desconhece este facto, pelo menos não li nada em que o Mário fizesse referência a esses homens.

As declarações que o Coronel Fernando Cavaleiro faz ao programa A Guerra, de Joaquim Furtado, são de uma veracidade a toda a prova embora, como se compreende, bastante resumidas. Os meus parabéns a ambos.

Conclusões, em relação ao que diz o Mário Dias no poste de 17 Dezembro 2005 Guiné 63/74-CCCLXXX. (Ilha do Como) 1964:IIIParte (Mário Dias)

Pós operação pontos 1,2 e principalmente o nº 3.V amos fazer uma análise também resumida. Camarada Mário, entrar na mata do Cassaca através da mata do Cachil, nunca nenhuma das nossas tropas o conseguiram entre 23/01/1964 e 27/11/1964. E no Cachil estiveram forças como o destacamento de fuzileiros do tenente Alpoim Galvão.

Porque aquela clareira entre a grande mata do Cachil e a mata do Cassaca era uma autêntica passagem para a morte.

E digo-te mais, terminada a Operação Tridente, não posso precisar o dia mas foi no princípio do mês de Abril de 1964, foi determinado pelo Comando Operacional da Guiné enviar uma força militar para fazer limpeza (penso eu, destruição total) das tabancas da mata do Cassaca.

Nessa noite a artilharia de Catió, os chamados obuses, actuou como era normal durante a operação, bombardeou com os dois obuses durante cerca de 30 a 45 minutos a mata do Cassaca. A seguir veio o avião PV25 largou as suas bombas, de manhã logo ao nascer do sol, dois F86 metralharam a mata. Após os F86 retirarem, entraram na grande mata do Cachil as forças terrestres, não me lembro se era um ou dois destacamentos de fuzileiros e um pelotão de comandos ou pára-quedistas, a quase totalidade da 557, apoiados por dois aviões TC que entretanto chegaram.

Com aquele arsenal todo, assim que tentámos a passagem na tal clareira para a mata do Cassaca, as nossas forças foram atacadas com fogo de armas ligeiras, pesadas e morteiro. O recuo foi inevitável. Nesse dia não houve baixas nas nossas forças, mas feridos cerca de dez, o que eu sei é: Mal o helicóptero levantava já eu estava a enviar nova mensagem para mais uma evacuação. Posso-te dizer que nem atingimos o ponto onde no dia anterior um simples pelotão tinha feito o reconhecimento a toda a mata do Cachil.

Mais uma conclusão errada, nós até pensávamos que o inimigo tinha abandonado a mata. Na parte da tarde as forças especiais regressaram às suas bases.

Por tudo isto tirar conclusões: neste caso deve-se conhecer bem o durante e o após, para não ferir quem ainda vive e sofreu na pele todo aquele passado.
E também não adulterar a história.

No teu caso, conheces sem sombra de dúvidas o durante, mas o após Op Tridente ?...

E as batidas ou reconhecimentos a mata do Cassaca ficaram-se por aqui. Neste ponto fica a interrogação: a Operação Tridente foi um êxito? Pelo que vi e citei após aquela gorada ida à mata do Cassaca, penso que havia mais algo a fazer. (Ou esta gorada limpeza à mata do Cassaca foi apagada da história).

Mário: nós estávamos aquartelados na pequena mata do Cachil, o que tu baptizas por fortaleza de troncos de palmeiras. Mas digo que a grande mata do Cachil durante o dia era território nosso. Com frequência fazíamos reconhecimentos mas à noite era como quase todas as matas do interior da Guiné, nunca se sabia o perigo que se podia encontrar e o inimigo, quer queiras ou não, tinha uma grande vantagem nessas deslocações em relação a nós.

Já falei ao telefone com um camarada da companhia que nos rendeu, a 728, e confirma praticamente o que cito neste pequeno resumo.

O dia a dia no Cachil era sempre uma incerteza: ora atacavam as nossas tropas ora atacava o inimigo.

Vestígios, no Cachil, de Manuel de Pinho Brandão só o que vi: Próximo do rio uns pilares, o que parecia ter sido um pequeno armazém sem qualquer telha porta ou janela e lá dentro o esqueleto de uma balança decimal que possivelmente teria sido usada no comércio do arroz.

Nota: sem margem para erros. A minha estada e a quase totalidade da 557 no Cachil foi de 23/01/64 27/11/64

Um abraço, a todos os camaradas da Guiné

Colaço

________

Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 2 de Junho de 2008 >
Guiné 63/74 - P2912: Tabanca Grande (73): José Botelho Colaço, ex-Soldado de Trms da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

(2) Vd. postes de:

28 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2892: A verdade e a ficção (2): Ilha do Como, Op Tridente: Queres vender a tua água ? Dou-te 100, dou-te 200 pesos (Anónimo)

27 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2889: A verdade e a ficção (1): Op Tridente, Ilha do Como, Jan / Mar 1964 (Mário Dias)

23 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2874: Um dia na Ilha do Como: Operação Tridente, Fevereiro de 1964 (Valentim Oliveira, CCAV 489/BCAV 490)

15 de Janeiro de 2006 >
Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)

15 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

23 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2375: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (8): A Batalha do Como (Mário Dias / Santos Oliveira)

17 de Novembro 2005 >
Guiné 63/74 - CCXXVI: Antologia (25): Depoimento sobre a batalha da Ilha do Como

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2435: PAIGC - Quem foi quem (6): Pansau Na Isna, herói do Como (Luís Graça)

1 de Julho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)

17 de Novembro de 2005 >
Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

16 de Dezembro de 2005 >
Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)

17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias

17 de Novembro de 2005 >
Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)

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