1. Mensagem do António Santos (*), com data de 30 de Novembro:
Eu sou daqueles que falo pouco, observo e gosto mais de actuar, por vezes nem penso, e já sofri na pele por ser assim, inclusive monetariamente.
Fala-se tanto dos que passaram ao lado da guerra, por isto ou por aquilo, não interessa agora para o caso o porquê, recentemente veio juntar-se aquela frase escrita por um olheiro do nosso blogue - "velhos a lamentarem-se", ou coisa parecida... Não merece importância.
Bem vamos ao assunto que me leva desta vez a falar, escrever, primeiro. Há dias ouvi na Antena 2 uma entrevista com o Artur Agostinho, em que a dado momento disse "que gostava de PORTUGAL e não de muitas pessoas". Ora esta frase despertou em mim certas lembranças que passo descrever: eu também sou como o Sr. Artur, gosto muitíssimo de Portugal e não gosto de muitas pessoas, especialmente se são políticos, dou valor aos amigos do seu amigo, esses sim é que têm valor.
Tenho um tio que esteve na Guiné, em 63/65, na CCAÇ 557, companhia do nosso camarada José Colaço. Depois de regressar, passado algum tempo foi clandestino para França, a salto, como todos os outros, antes do tratado de Maastritch, e ainda la está.
Quando estava a aproximar-se a data de eu ser forçado a dar o nome para a tropa, ele apareceu e quis levar-me com ele. Pois já adivinharam que não conseguiu que eu fosse, primeiro por que gosto muito da minha terra, depois não me estava a ver viver noutro país que não o meu e na altura a Guiné, para onde acabei também por ir parar, diziam ser Portugal. Ele bem que me contou coisas da guerra da Ilha do Como e não sei mais quê, mas... não me demoveu.
Não sou herói, porque não os há, há sim indivíduos mais corajosos que outros, indivíduos que perante certas situações se transcendem e/ou se passam dos carretos, e cometem actos de bravura, mas nem sempre são os medalhados.
Tudo isto para dizer que Portugal é um país muito querido, antigo como poucos e com muita História, aqui sim com H grande.
A. Santos
SPM 2558
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Notas de L.G.:
(*) Ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74; membro da nossa Tabanca Grande desde 15 de Maio de 2006; residente em Caneças, concelho de Odivelas.
Vd. último poste do A. Santos > 21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3496: Hospital Militar Principal: Fazendo mini-caixões antes de ser mobilizado (António Santos)
(**) Vd. último poste desta série > 5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3566: Blogoterapia (73): Um elogio vindo da Bélgica (Soldado Carvalho / Santos Oliveira)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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3 comentários:
António Santos
Além de solidariedade, comunhão de ideias, já somos dois.
Admiro a tua postura diante da Pátria constituída por todos nós, os que ficaram e lutaram por serem Homens com H grande, independentemente dos prejuízos que sofremos por sermos genuínos.
A História um dia, anonimamente, agradecerá.
Pena que não estejamos para o saborear.
Um supremo abraço, do
Santos Oliveira
A título de informação devido aos contactos com António Santos.
Este tio é o tal Porto o da palada ao brigadeiro (Louro) creio que era esse o nome do comandante operacional, se algum camarada tiver informação mais concreta sobre o nome agradeço e que faço referencia no P3287.
Um alfa bravo.
Colaço
Camarigos do meu tempo cada vez são menos, por isso a informação sobre o nome do brigadeiro ainda hoje espero esclarecimento.
Mas recorrendo as minhas pesquisas creio que era o então brigadeiro Sá Carneiro que interinamente tinha assumido o cargo de comandante operacional da Guiné.
Pois o governador da Guiné comandante Vasco Rodrigues e o comandante operacional brigadeiro Fernando Louro de Sousa tinham sido demitidos em Lisboa logo um ou dois dias a seguir ter terminado a operação Tridente.
A razão da demissão de ambos está em acta e poderá ser consultada.
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