Memória dos lugares: Por esse Geba acima... até Contuboel, o eldorado (*)
por Luís Graça
(foto à esquerda, o ex-Fur Mil Henriques, Ap Arm Pes Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, Junho de 1969/Março de 1971)
Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados
Aos marinheiros das LDG,
que também foram barqueiros de Caronte;
Aos meus camaradas, tugas, da CCAÇ 2590,
futura CCAÇ 12,
que fizeram comigo esse trajecto Bissau-Contuboel
em 2 de Junho de 1969;
Ao meu conterrâneo e amigo Agnelo Pereira Ferreira,
da CCS do BCAÇ 2852,
que encontrei em Bambadinca, nesse dia;
Ao Renato Monteiro, o homem da piroga,
amigo de mês e meio em Contuboel,
e hoje um homem de múltiplos fotografares;
aos meus soldados instruendos, guineenses, da CCAÇ 2590,
futura CCAÇ 12;
enfim, ao povo gentil de Contuboel...
L.G.
Como um cão apanhado na rede,
repetias tu,
nessa madrugada de 2 de Junho de 1969,
no fundo de uma lata de uma LDG,
atracada ali ao lado do mítico cais
do Pijiguiti,
entre fardos de colchões de espuma,
camas metálicas,
redes mosquiteiras,
trens de cozinha,
tendas,
cacifos,
mesas,
cadeiras,
cunhetes de munições,
Berliets e Unimogs novinhos em folha,
velhas malas de viagem atadas com cordões,
homens esverdeados,
de farda engomada
e ar assustadiço,
pensando em minas anfíbias,
crocodilos,
hipopótamos,
ou nem sequer pensando em nada,
bêbedos de sono,
enjoados,
suados,
tirando dos bornais
as primeiras latas de Fanta e de Coca-Cola,
a água suja do imperialismo,
cliché de todos os Maios de 68
que não viveste…
- Olha, Tite, olha, Porto Gole,
que, quando embrulham, ouve-se em Bissau!
Guiné > Rio Geba > A bordo da LDG >
O Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74... Veja-se a sua deliciosa descrição do Xime, quando ele estava hospedado, aguardando embarque para Bissau, onde foi entregar viaturas para abate...
Foto: © Juvenal Amado (2008). Direitos reservados. (2005).
… Mas, não, ninguém diz nada,
olhos como binóculos
assestados nas margens espessas do rio…
Para trás fica uma cidadezinha
que fervilha de vida,
logo pela manhã,
gente que transpira,
entre a Amura e o Grande Hotel,
gente que inspira,
à tona de água,
água de Lisboa, manga di sabi,
gente que labuta,
nas pirogas ou nas bolanhas,
e gente que conspira,
no Pilão da clandestinidade,
dando que fazer à PIDE/DGS
de Herr Spínola.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime> 1969: A LDG 105 pronta a descarregar mais um contingente de tropas no cais do Xime, a caminho da Zona Leste. O Geba Estreito, a partir do Xime, só agora navegável através de LDM e LDP
Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.
No estuário do Geba há um silêncio de morte,
no Geba há morte,
uma ligeira brisa de morte,
vais para o leste,
não para o norte,
que rima com Choquemone,
nem para o sul,
onde as almas penadas gemem
Oh! Gandembel das morteiradas…
Aqui apenas se ouve o barulho dos motores da LDG,
Lancha
de Desembarque
Grande,
daquelas como nos filmes e romances,
da II Guerra Mundial,
Norman Mailer,
os nus e os mortos,
mas nem sequer há guia turístico,
nem bar aberto,
neste cruzeiro sem regresso para alguns de nós.
Passado o Cumeré,
Geba acima,
como há 500 anos atrás,
no tempo dos primeiros exploradores,
portugueses,
que baptizaram Porto Gole,
tugas, se faz favor,
que ainda está para vir
o tempo do politicamente (in)correcto.
Tuga é
o epíteto com que te vão insultar na mata,
quando a guerra começar a sério.
- Vai para a tua terra, tuga,
que esta é nossa terra bem amada,
a terra dos nosso avós! -
cantam os pioneiros do PAIGC,
a caminho da escola,
de lencinhos tricolores ao pescoço
e Kalash na mão,
sob a bandera di strela negro,
que há-de unir todos os guinéus,
dos Felupes no norte
aos nalus no sul.
Vamos no gosse gosse, pá,
que o calor já aperta,
a caminho da zona leste,
terra de fulas forros e futa pretos,
o chão fula,
dos antigos conquistadores,
valentes guerreiros,
exímios cavaleiros,
lês na brochura de propaganda
que te deram no Niassa,
vamos à vida,
que a morte é certa,
camaradas,
antes que seja tarde,
antes que caia o pano da história,
antes que o sol se ponha em África,
enquanto a terra vai estreitando as águas barrentas,
como uma cobra gigante
que sufoca lentamente a sua presa…
Fuzileiros,
hercúleos,
heróicos,
barbudos,
garbosos,
bronzeados,
em tronco nu,
de garrafa de cerveja na mão
(bazuca, aprenderás mais tarde),
marinheiros,
aventureiros
heróis do mar,
nobre povo,
nação valente,
assustam bichos e homens
com tiros de morteirete,
próximo da temível Ponta Varela.
Exorcizam os diabos negros
que infestam o tarrafo
e espantam os irãs
acocorados nos cerrados palmeirais
que circundam as margens do rio.
- Turras a estibordo, patrão ?!
... Não, é apenas um ritual de passagem,
sempre que se passa na Ponta Varela,
para desacagaçar os piras,
tirar-lhe os três,
que eles vão hirtos e tensos,
recolhidos como meninos de coro,
almas virgens,
de sobrepeliz
e vozes celestiais,
no cacilheiro do Geba,
em procissão,
como se fossem caminho da eternidade…
- Senhor imediato,
obrigado pela boleia,
mas por favor não seja chato,
que há aqui gente que enjoa…
Um solitário T-6,
protector como um anjo da guarda,
sobrevoa a foz do Corubal,
um pouco acima da Ponta do Inglês,
um outro topónimo que aprenderás mais tarde,
com sangue, suor e lágrimas,
três palavras tatuadas no braço,
Guiné 69/71,
amor de mãe,
nunca vi escrito amor de pai,
meu pai, meu velho, meu camarada,
que o teu país é uma sociedade matriarcal,
cinco séculos de solidão das mulheres,
de xailes negros,
os filhos no além, no além-mar...
Um T-6, ronceiro,
sob um céu de chumbo,
ou de bronze incandescente,
em círculos concêntricos
como o voo do sinistro jagudi
que fareja a morte,
a quilómetros de distância.
Acaba por alijar a sua carga mortífera,
lá para longe,
após a nossa chegada a bom porto,
talvez a norte,
em Madina/Belel,
talvez a sul,
lá para o Fiofioli,
onde a nossa imaginação febril,
em noites palúdicas,
irá ver enfermeiras cubanas,
feiticeiras de olhos verdes e carapinha,
de peito farto,
e bunda larga,
cenas de sexo sado-masoquista,
em camas de lençóis brancos
em hospitais dos turras,
camuflados na floresta-galeria,
o inferno verde do Xime-Xitole.
- Fiofioli, meu amor,
acelera o meu coração,
a cada explosão
das bombas do T-6.
Tite, Porto Gole, Geba,
Corubal, Fiofioli, Ponta Varela,
Xime, Xitole,
Ponta do Inglês, Madina, Belel…
Como esta toponímia exótica
da tua baralhada e curta geografia
irá ficar gravada a ferro e fogo
na tua memória,
meu pira,
meu camarada,
minha pobre criatura
que não páras de rosnar
e praguejar no teu diário:
- Como um cão apanhado na rede,
como um cão…
Desde os teus catorze anos,
desde 1961,
desde o grito de guerra
Angola é Nossa,
que ouvias, de olho e ouvido bem abertos,
na televisão,
do café público da tua vilória,
a RTP, o novo ópio do povo,
Negage, Pedra Verde, Nambuangongo,
enfim, há pouco mais de oito anos,
que sabias
que foras apanhado como um cão,
em contra-mão da história…
- Angola… é Nossa!,
Angola… é Nossa!
E aqui estás, neste caixote flutuante,
sem colete nem salvação,
sem bode expiatório,
nem álibi,
sem uma simples palavra de explicação,
sem razão
para matar ou morrer,
de morte matada,
de G3 na mão,
porquê eu, porquê tu, meu irmão,
mas com cinco litros de sangue
no corpo,
a derramar pela Pátria,
se for preciso,
em rega gota gota,
ou até em bica aberta,
que a Pátria não se discute,
a Pátria, a Fátria ou a Mátria
que te pariu,
meu safado,
meu javardo,
a caminho da guerra,
que não sabes onde começa
e onde acaba.
E sobretudo quando acaba…
Recapitulas:
- Tite, Porto Gole, Ponta Varela…
E registas no teu caderninho
os primeiros termos da gíria de caserna:
embrulhanço,
turras,
gosse-gosse,
irãs,
jagudis,
bolanha,
mancarra,
jubi,
bunda,
macaréu…
E eis que chegas agora,
ao primeiro porto,
seguro,
um porto fluvial,
um sítio chamado Xime,
sem qualquer tabuleta que o identifique,
um pontão acostável,
meia dúzia de estacas no lodo,
caranguejos de um só pata
devorando os olhos dos pobres dos mortos
arrastados pela fúria do macaréu,
uma guarnição militar a nível de companhia
com um destacamento no Enxalé,
do outro lado do rio e da bolanha.
Aqui começa o Geba Estreito,
avisam-te,
mais à frente é o Mato Cão,
que irás conhecer como a palma da tua mão,
um leito de rio incerto,
sinuoso,
viscoso,
como o corpo de uma serpente,
em que ficas ao alcance de uma granada de mão,
nas curvas da morte…
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > "Estrago de mina na estrada Bambadinca/Xime"
Foto e legenda: © Jaime Machado (2008). Direitos reservados.
O Jaime Machado foi Alf Mil Cav, comandante do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70)
- Xime, meu amor! - nunca to direi em nenhum aerograma,
pela simples razão
de que nunca escreverei nenhum aerograma a ninguém,
o Xime é uma bandeira das quinas ao vento,
descolorida,
esfarrapada,
gente brava, lusitana,
três obuses Krupp,
alemães,
de 10 ponto 5,
do tempo da II Guerra Mundial,
silenciosos mas ameaçadores,
meia dúzia de casas de estilo colonial,
de adobe e chapa de zinco,
e mais umas escassas dezenas de cubatas de colmo,
ruínas dum antigo posto administrativo,
restos de uma comunidade mandinga,
gente que não é de inteira confiança,
dir-te-ão mais tarde os teus soldados fulas,
vestígios de um decadente entreposto comercial,
cercados de holofotes,
arame farpado,
espaldões,
valas,
abrigos,
a estrada cortando ao meio a tabanca e o aquartelamento,
dois irmãos siameses condenados a viver e a morrer juntos…
- Bem vindos, piras,
ao primeiro dia do inferno
que vai ser o resto das vossas vidas! –
Alguém, um velhinho,
cacimbado,
apanhado do clima,
desgraçado,
que ouves com temor e reverência,
escreveu numa daquelas paredes desboroadas,
de cores desbotadas…
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime > 1972 > Obus 10,5 cm (ou 105 mm). No aquartelamento do Xime, existiam três obuses deste calibre e um morteiro 81 m/m.
Foto: © Sousa de Castro (2005). Direitos reservados.
- Ah! Como tudo isto é tão triste, meu Deus!
Duvido que tenhas dito Meu Deus,
como não dirias turras,
que aos vinte e dois anos,
não evocavas o nome de Deus em vão,
e sentias-te órfão,
sem pai nem nem mãe no mundo,
nem tinhas carta de condução,
nem bússola,
nem nenhuma ideia definitiva sobre o sentido da vida
mas achavas ainda romântica a ideia daquela maldita guerrilha…
E ali vais tu,
meio acagaçado,
meio curioso,
disposto a salvar o coiro,
alinhado ma non troppo,
desformatado,
violentado na tua consciência,
o quico bem enterrado até às orelhas,
entre filas de velhinhos,
brancos e pretos,
de lenços garridos ao pescoço,
com ar de fadistas,
a palhinha de capim ao canto da boca,
como o estereótipo do chulo do Bairro Alto,
fingindo fazer um cordão de segurança no mato,
até à famigerada bolanha de Madina Colhido,
a caminho de Bambadinca,
a próxima paragem…
Guiné > Zona Leste > Xime > CART 2520 (1969/70) > Foto 14 > "Cais do Xime, a cores já esbatidas" (RM)…Atracagem de uma LDG - Lancha de Desembarque Grande... Em primeiro plano, o Fur Mil Renato Monteiro, meu amigo de Contuboel, que foi parar ao Xime (e depois ao Enxalé, destacamento do Xime, no outro lado do Rio Geba) por não morrer de amores pelo comandante da sua unidade de origem, a CART 2479 (1968/70)... Conheci-o em Contuboel, em Junho/Julho de 1969. Nunca mais o vi... Só há poucos anos nos reencontrámos... Graças ao blogue... É a história de um feliz acaso, já aqui contada (*). Ele era(é) o misterioso homem da piroga, fotografado comigo no Rio Geba, em Contuboel, uma das poucas fotos que tenho da Guiné...
Fotos: © Renato Monteiro (2007). Direitos reservados.
- Terra importante-
diz o capitão,
em jeito de sermão,
como se fora padre, pai e patrão.
... Vértice do triângulo
Bambadinca- Xime – Xitole,
Sector L1 da Zona Leste,
fazendo fronteira,
através do Rio Corubal,
com o mítico sul,
Quínara e Tombali,
as terras do lendário Nino.
Regista aí,
para memória futura,
para o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné,
que já o viram, vestido de cow-boy,
a cabeça a prémio,
wanted dead or alive,
como nos filmes do faroeste.
Alguém te dissera,
em jeito de confidência,
na 5ª Rep, o Café do Bento,
o maior mentidero de Bissau.
- Quantos pesos e traições
vale a tua cabeça, camarada Nino ?
E sobretudo tu, grande Cabral ?
E lá vai o tuga, pobre infante,
a três metros do solo,
sobrevoando o capim,
no alto de um Matador,
que serve para transportar tudo o que lhe mandam
desde obuses a carne para canhão…
Destino: Contuboel,
a norte de Bafatá,
terra de marabus,
artesões, cavaleiros,
e bajudas com cabaço
e mama firme,
fulas e mandingas,
pontas de caboverdianos
com bíblicas plantações
de bananas, abecaxis e víboras verdes,
Contuboel, enfim,
onde é esperado que chegues,
são e salvo,
já noite dentro…
- Que desta já escapaste,
o que é preciso é acordares com a tusa toda,
e o dedo mindinho do pé a mexer-
assegura um dos velhinhos lá do sítio.
Percebes, por fim, que estás na Guiné,
para lá de Bissau,
das esplanadas,
dos desenfiados,
dos felizardos,
para lá do Cumeré,
para lá de Porto Gole,
longe do Vietname,
quanda passas pela ponte do Rio Udunduma,
semi-destruída quatro dias antes,
e agora guardada por toupeiras humanas,
e quando chegas a Bambadinca,
e há medo estampado no rosto
do escriturário,
do cripto,
do básico,
do cozinheiro,
do chulo,
do proxeneta,
do condutor,
do cabo,
do comerciante,
do cipaio,
do administrador de posto,
da professora,
dos meninos da escolinha,
do furriel,
do alferes,
do capitão,
e que sobe pela espinha cima
até ao topo da hierarquia militar…
- Dá-me licença, meu comandante ?!
Uns dias antes, houvera o aparatoso
ataque de 28 de Maio de 1969…
Há 43 anos atrás
o façanhudo do Gomes da Costa
viera de Braga, a cavalo,
a trote,
e de espada em riste,
impor o respeitinho
que era muito bonito,
no Terreiro do Paço,
num outro 28 de Maio, o de 1926,
uma efeméride importante
para o regime.
- Efemérides ? Coincidências ?
Ingénuo, vês o génio de Cabral
por toda a parte,
e o filme da história
a passar pelos teus olhos,
sem legendas,
a preto e branco,
sem som,
nem sequer a mísera pianola do tempo do mudo…
- Senhor engenheiro Cabral,
como fica tão bem,
de fraque e de cartola,
é deveras o africano mais português de Portugal!
A ti, apanharam-te como um cão,
danado,
e soltaram-te nesta terra,
de azenegues e de negros,
para lhes morderes as canelas…
- Dog, dog,
if turra comes back,
jampa-lhas às pernas,
diz o calafona.
Guiné > Zona Leste > Contuboel> Junho de 1969: Passeio de piroga junto à ponte de madeira de Contuboel, sobre o Rio Geba. Furriéis milicianos Luís Manuel da Graça Henriques (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12) e Renato Monteiro (CART 2479 / CART 11).
Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados
Até o humor do meu companheiro de viagem
é deslocado…
Viemos no mesmo camarote,
no T/T Niassa,
a tresandar a óleo e a vomitado…
Vou agora mais descontraído,
sem pena nem tema,
numa surpreendente estrada alcatroada,
entre Bambadinca e Bafatá…
Vais gozar as delícias do sistema,
meu safado:
- Contuboel - dizem-te - é um eldorado… (**)
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
13 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1366: A galeria dos meus heróis (6): Por este rio acima, com o Bolha d'Água, o Furriel Enfermeiro Martins (Luís Graça)
(...) " Três dias depois iriam dar-nos uma G-3, novinha em folha, e uma ração de combate, para de seguida nos porem no fundo duma LDG, a caminho do Leste, Rio Geba acima, escoltados por uma equipa de fuzileiros navais que, à medida que o ri estreitava, batiam com fogo de morteirete a cerrada vegetação das margens (o tarrafe) até às proximidades do Xime" (...) .
16 de Dezembro de 2006>Guiné 63/74 - P1371: Foi a LDG 101 Alfange que transportou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 até ao Xime em 2 de Junho de 1969 (Manuel Lema Santos)
(...) "Quem vos transportou no dia 2 de Junho de 1969 ao porto de Xime, no Geba, um pouco acima da confluência com o Corubal foi a LDG 101 Alfange, tendo regressado no mesmo dia, conforme consta dos registos oficiais de navegação da Alfange" (...).
(**) Vd. poste de 28 de Junho de 2005 > Guiné 63/74 - LXXXVI: No 'oásis de paz' de Contuboel (Junho de 1969) (Luís Graça)
Vd. também:
23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P899: Diga se me ouve, escuto! (Renato Monteiro)
23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P898: Saudades do meu amigo Renato Monteiro (CART 2479/CART 11, Contuboel, Maio/Junho de 1969)
28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1001: Estórias de Contuboel (i): recepção dos instruendos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
30 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1005: Estórias de Contuboel (ii): segundo pelotão (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1017: Estórias de Contuboel (iii): Paraíso, roncos e anjinhos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1026: Estórias de Contuboel (iv): Idades sem lembrança (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1027: Estórias de Contuboel (V): Bajudas ou a imitação do paraíso celestial (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
6 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2412: História de vida (8): Renato Monteiro, um homem de múltiplos... fotografares (Luís Graça)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
Li e naveguei pela manhã em terras de outrora e fui tratar do estômago e depois fiz ao corpo os tratamentos e ia navegando e recordando com a água mais fria ou assim a sentia a escorrer...e vokltei a abrir agora que estou em atraso de partida e reli e reli e sorri---se nesse tempo porque era o mesmo tempo o Furriel Henriques com óculos e palavras de homem de letras encontrasse um militar por vezes de barba farta boina pretae estrela ou quico ou lenço vermelho e simbolos do islão á volta da cabeça...diria aquilo não chego eu ah ah ah mas chegou ao fiofioli a madina ao poidom ao...e o do lenço por lá andou e voltava com mais raiva mais merda debaixo do lenço do quico da boina e envelhecia endurecia menino que á pouco fora...a que um homem chega e vai e vai e um dia diz como o politico jamais mas nunca é jamais pois se clicam ele põe a boina e zás catrapás em geito de velho remendado com cartão de 65 á espera da-se da-se...mas...Um abraço Luis e outro ao Henriques e a todas as gentes da guiné de lá ou importadas pelo império...Torcato
Sem recordações nostálgicas doentias, posso dizer que gostei imenso desta poesia/relato.
É como se tratasse dum ponto de situação no percurso dum determinado personagem (o Henriques) na sua iniciação à Guiné do interior.
A viagem então está muito bem retratada. Fiz a mesma mas em sentido inverso, do Xime a Bissau mas não em LD qualquer coisa mas sim na "Bor", ferry civil.
Apenas mais um pequeno comentário relacionado coma a foto de entrada: "o ex-Fur. Henriques está lá todo, ou seja, os oculinhos de intelectual, os livrinhos a serem lidos, a pose congeminadora...".
Caro amigo, com esses condimentos como é que julgavas que escapavas aos comentários "assassinos" com que alguns "bernardos" já te presentearam?
Um abraço e boas férias.
Hélder S.
Feliz coincidência: Encontrei ontem, ao fim da tarde, o meu amigo Agnelo, entre a Praia da Areia Branca e a Praia de Vale de Fadres!... Conduzia, pela areia, um carrinho de bebé... com o seu neto! Era uma avô feliz e embevecido.
Fiquei deveras contente de o ver e disse-lhe que alguém lhe tinha feito uma referência no blogue, nesse mesmo dia... Não disse quem... Infelizmente o Agnelo não tem o hábito de ir à Net, como muitos outros camaradas nossos... Hei-de lhe dar uma cópia em papel do meu escrito...
Como o nosso encontro, ontem, foi tão diferente do de 2 de Junho de 1969, em Bambadinca, quando nos cruzámos, levados até ali pelo acaso da guerra... Ele já ciom um ano de Guiné, eu acabo de chegar, a caminho de Contuboel... Ainda me lembro das suas palavras, 4 dias depois do ataque a Bambadinca:
- Podíamos ter sido todos mortos!
Luís
Nós todos fomos nessa viagem, a certa altura todos nos chamámos Luís e sentimos o teu poema, como contando uma parte de nós.
Apanharam-nos como cães e docilmente nos deixamos conduzir para um futuro incerto, mas disposto a salvar o coiro como tu dizes.
O suor e medo foi igualmente repartido.
O desencanto de quem tem 21 anos e seu País mais não faz, que o mandar para uma guerra estúpida, com derrota certa em data incerta.
O rio nunca lavou os dramas de quem cruzou as sua águas.
Muitos foram os subiram mas nem todos o voltaram a descer.
Pobres daqueles que na hora da sorte tiraram o o pau de fósforo mais pequeno.
A brisa e silêncio de morte de que falas no teu poema, foram os mesmos para os que antes e depois de ti, por esses lugares carregaram as botas e a espingarda.
Um abraço e boas férias
Juvenal Amado
Bravo Luís!
E agora pergunto eu.
Para quando o teu Livro de POESIA?
Abraço da beira do meu Rio.
Jorge Cabral
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