quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5258: A tragédia de Cufar, sábado, dia do Diabo, 2 de Março de 1974 (António Graça de Abreu)







Guiné > Região de Tombali > Cufar > Fotos obtidas de slides do António Graça de Abreu, autor de Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (2007)... São fotos, carregadas de horror, impotência e luto.

Nas páginas 200-2003 do citado livro, pode ler-se o seguinte (resumo):
Foi no dia 2 de Março de 1974, sábado, um "dia do diabo" (sic)... Entre Cufar e o porto do rio Manterunga, numa picada que não teria mais de cem metros, batida milhares de vezes pelos jipes e demais viaturas militares, os guerrilheiros do PAIGC lembraram-se de lá deixar uma brinquedo de morte: uma vulgar mina anti-carro, reforçada por uma bomba de um Fiat (!) que não tinha explodido... Um jipe do pelotão da Intendência, o PINT 9288, comandado pelo Alf Mil João Lourenço (membro da nossa Tabanca Grande) (*), accionou o engenho. Os cinco ocupantes, dois militares, brancos (o Fur Mil Pita e o Sold Santos, o Jeová), e três civis, estivadores, guineenses, encontraram aqui a morte...

Mais à frente, outra mina, enterrada no lodo do rio, provocou a explosão, em cadeia, de batelões atracados ao cais e carregados de bidões de gasolina... Cerca de duas dezenas de estivadores perderam a vida, num cenário dantesco..."Vi coisas nunca vistas e que nunca mais quero ver", escreveu o António...

Fotos: © António Graça de Abreu (2009). Direitos reservados.


1. Mensagem de 5 do corrente, remetida pelo António Graça de Abreu :

Meus caros Luís, Vinhal e Magalhães Ribeiro:

Peço-vos que publiquem este texto que está no meu Diário da Guiné, nas paginas 200-203. Creio ser valioso porque agora o posso acompanhar com os slides que fiz na altura e só a semana passada consegui digitalizar. É um documento importante a mês e meio do fim da guerra na Guiné [, a duas semanas do 16 de Março de 1974, nas Caldas da Raínha]. Estas duas minas, na picada e no lodo, provocaram 19 mortos, em Cufar. Algumas fotografias são cruéis, mas não há muitas imagens como estas. Deixo ao vosso arbítrio a sua publicação.

Um abraço forte do

António Graça de Abreu


Cufar, 3 de Março de 1974

Hoje é domingo, dia do Senhor, o nosso Deus salvador do mundo. Ontem foi dia do Diabo, Santanás andou por aqui à solta. Ignoro se o Céu existe, mas sei que ontem viajei pelos caminhos do Inferno.

Tudo começou às quatro da tarde com um rebentamento fortíssimo a quatrocentos metros do quarto onde eu dormia uma sossegada sesta. Acordei sobressaltado, vesti-me rapidamente. Lá fora já havia gente a correr e a gritar.

O rio Cumbijã passa a dois quilómetros de Cufar, mas existe o rio Manterunga, um pequeno afluente, melhor um braço de rio que chega quase até à nossa povoação. A quinhentos metros daqui construiu-se um pequeno pontão, um cais de abicagem no
Manterunga.

É aquilo a que chamamos o “porto interior”, utilizado por barcos de pouco calado que chegam carregados de Bissau e descarregam neste porto. Quando a maré está cheia, os batelões sobem o rio e ficam ancorados lá em baixo. A maré desce e os barcos pousam em cima do lodo do leito do rio que é mole e não lhes danifica o casco. Voltam a aproveitar uma maré-cheia para regressar a Bissau. São batelões pequenos, uma espécie de barcaças com motor que trazem para aqui muitos produtos de que necessitamos todos os dias, sobretudo gasolina para abastecer os aviões e helicópteros.

Entre Cufar e o porto do rio Manterunga existe uma picada de terra batida com umas centenas de metros. Até ontem circulava-se nessa estradinha com o maior à vontade, considerava-se a estrada como fazendo parte dos caminhos de Cufar. Já passei por lá dezenas de vezes conduzindo os jipes e é um dos trajectos que costumo utilizar nos meus crosses.

Os guerrilheiros não andam longe e conhecem bem estes lugares, estão em casa. Na picada, a cinquenta metros do porto interior resolveram colocar uma mina anti-carro reforçada por uma bomba dos nossos Fiats que não havia explodido. A mina foi accionada pelo jipe do pelotão de Intendência, até há uns tempos atrás comandado pelo [João] Lourenço (*), meu ex-companheiro de quarto. Foi o estouro monumental, o rebentamento desta mina que me acordou. Iam cinco homens no jipe, dois brancos, um furriel da Intendência[, o Pita e] o Santos, Jeová, mais três negros estivadores dos batelões de Bissau. Quatro deles morrerem logo, os corpos voaram e caíram desfeitos a mais de cinquenta metros do local da mina, o jipe também voou e poisou de rodado para o ar, completamente destruído a vinte metros da estrada. Sobreviveu o furriel Pita, mas dizem-me agora que morreu no hospital de Bissau.

Às sete e meia da tarde, já noite escura, ouviu-se novo rebentamento. Ataque?!... Houve logo gente a saltar para as valas. Eu estava no meu gabinete e percebi que não se tratava de um ataque. Para os lados do porto interior cresciam chamas enormes. Peguei num jipe e avancei pela picada a grande velocidade em direcção ao porto. Um soldado quis vir comigo mas quando me viu a acelerar por ali abaixo, saltou do jipe e deixou-me sozinho. Em menos de um minuto estava junto do buracão feito pela mina anti-carro da tarde e não podia avançar mais. Logo ali, diante de mim ardiam os batelões com labaredas que subiam a mais de quinze metros. Iluminei o caminho com os faróis do meu jipe. Na minha direcção corriam meia dúzia de homens com o corpo em chamas, e gritos atrozes, lancinantes.

Os batelões transportavam umas dezenas largas de bidões de gasolina. Ora os guerrilheiros haviam deixado outra mina anti-carro enterrada no lodo do rio Manterunga. Quando a maré desceu, o fundo de um dos barcos tocou na mina que rebentou perfurando-lhe o casco. De imediato, a gasolina pegou fogo. Começaram a rebentar bidões e num ápice os três batelões que estavam juntos começaram a arder, um incêndio colossal. Os homens da tripulação e os estivadores que jantavam dentro dos barcos foram regados com gasolina, alguns deles, com os rebentamentos, foram projectados em todas as direcções.

Os homens ardiam como tochas, gritavam, vinham direitos a mim. O inferno deve se um lugar bem mais agradável do que aquelas dezenas de metros de picada com pessoas a serem consumidas pelas chamas, o ar, o escuro da noite empestado por um horrível, um nauseabundo cheiro a carne humana queimada. Despi a minha camisa e com ela tentei apagar restos do fogo que cobria aqueles homens. Meti quatro negros no carro, dei a volta com o jipe e subi, acelerando em direcção a Cufar. Uma viatura blindada Fox descia a picada com os faróis e as metralhadoras apontadas para nós.

Eram os primeiros militares que acorriam à explosão dos barcos. Gritei-lhes para pararem. Ficaram espantadíssimos por encontrarem ali o alferes Abreu em tronco nu com homens todos queimados dentro do jipe. Rodeei a Fox com dificuldade – ocupava quase toda a picada, – e em segundos cheguei com os desgraçados à enfermaria de Cufar. Foram deitados em macas e regados com água. Dois grupos de combate da 4740, bem armados, desciam entretanto para o porto interior e havia mais pessoas atingidas pela gasolina a arder, a caminho. Não era mais comigo.

Hora e meia mais tarde, com a pista iluminada pelas garrafinhas com petróleo veio o Nordatlas que transportou quase uma dezena de homens horrorosamente queimados para o hospital de Bissau. O Bastos, o médico, disse-me que apenas três tinham hipóteses de sobreviver.

Faltava alguma tripulação e estivadores. Hoje, de manhã cedo, o espectáculo era ainda tenebroso, dantesco. Os batelões continuavam em chamas e no lodo do rio Manterunga havia sete corpos carbonizados, espalhados em volta dos barcos. Os homens a arder saltaram para o lodo e morreram ali, meio enterrados na lama cinzenta. Faltavam corpos que não foram encontrados, caíram ao rio e quando a maré subiu devem ter sido levados pela corrente. Apareceu um último cadáver todo esventrado, comido pelos abutres.

Vi coisas nunca vistas e que nunca mais quero ver.

Os homens que morreram queimados ou desapareceram eram todos africanos, o que provocou algum alívio entre a tropa branca. Apenas o Jeová e o furriel Pita da Intendência eram nossos, nossos amigos.[1]

*************

[1] O soldado Rodrigo Oliveira Santos, Jeová, era natural da freguesia de Romariz, Vila da Feira; o furriel miliciano Pita da Silva nasceu no Funchal, Madeira.

[ Revisão / fixação de texto / legenda / bold a cor / título: L.G.]
__________________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:
17 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4366: Tabanca Grande (144): João Lourenço, ex-Alf Mil, PINT 9288, Cufar (1973/74)

16 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1284: A Intendência também foi à guerra (Fernando Franco / António Baia)

10 comentários:

Luís Graça disse...

E que inferno!... Um abraço solidário para os nossos "intendentes", do BINT, e cito de cor: Fernando Franco, António Baia, João Lourenço... Falta alguém, da nossa Tabanca Grande ?

António: as fotos dão duras. mas mais dura, física e psicologicamente aquela guerra... Os nossos amigos e familiares que cá ficaram, os nossos filhos e netos que vieram depois, têm direito a conhecer estes documentos... E nós próprios, que não estivemos em Cufar.

Outra coisa: minas anfíbias... Por que razão o PAIGC não as usou mais ? No Rio Cacheu, no Rio Geba, no Rio Cumbijã... e por aí fora. Creio que há um poste sobre isto, do Pedro Lauret, Comandante de Mar e Guerra, Ref... O Manuel Lema Santos, da Reserva Naval, também é pessoa, competentíssima, para nos falar de minas anfíbias... Além, claro, dos nossos inúmeros sapadores... (Acho que se os juntássemos, davam para fazer um pelotão)...

MANUEL MAIA disse...

CARO GRAÇA DE ABREU,

O CHOQUE DA VISIONALIZAÇÃO DESTAS TUAS FOTOGRAFIAS FAZEM LEMBRAR SITUAÇÕES PRÓXIMAS QUE TODOS CONHECEMOS UM POUCO, ESPECIALMENTE NO CANTANHEZ.

A REVOLTA É ENORME E A SAUDADE PELOS QUE PARTIRAM É ESTIMULADA .

MAU GRADO A DUREZA QUE CAUSAM,SÃO IMPORTANTES PARA QUE NUNCA SE IGNORE O NOSSO SOFRIMENTO NEM PERMITA O APARECIMENTO DE INDIVIDUOS A BRANQUEAR A GUERRA
COMO OS DEFENSORES DA "INEXISTÊNCIA" DOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO ALEMÃES E DO HOLOCAUSTO...

PELA FORMA COMO A HISTÓRIA EM PORTUGAL É CONDUZIDA,ONDE TODOS OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DE ISENÇÃO SÃO ATROPELADOS, MERCÊ DO NOJO QUE A POLÍTICA REPRESENTA,PELA MANEIRA COMO ALGUMAS FIGURAS DO ANTERIOR REGIME SAO APRESENTADAS ÀS "CRIANCINHAS",DESDE O GOLPE DE 74,SATANIZANDO-AS DE FORMA IGNÓBIL,(E ISTO NÃO É SAUDOSISMO MAS IMPARCIALIDADE)O DIA DE AMANHÃ PRECISA QUE AS CONSCIÊNCIAS SEJAM ALERTADAS ATRAVÉS DA VERDADE SUPORTADA POR DOCUMENTOS COMO OS TEUS.
BEM HAJAS!
UM ENORME ABRAÇO DE PARABÉNS PELA QUALIDADE DAQUILO COM QUE NOS PRESENTEIAS, EVIDENTEMENTE RECONHECIDA POR TODOS, E FUNDAMENTALMENTE POR ESSE TEU SENTIDO LOUVÁVEL DE QUEM TEM UMA INABALÁVEL FORMAÇÃO MORAL E DELA NÃO ABDICA A TROCO DE NADA.

MANUEL MAIA

Anónimo disse...

Graça de Abreu: já tinha lido no teu livro. Parecem-me ser fotos importantes a mostrarem a brutalidade da guerra. De um modo geral vimos "in loco"; eu vi um matulão que levou um tiro na testa, caiu para dentro da tabanca que ardeu. Resultado: parecia um miudo de 8 amos e vi e vi...por isso a importância dos relatos e das fotos. São as tais fotos falantes e dos relatos feitos como tu e outros o fazem. Com um senão, um senão, para mim claro. Estamos a dar a conhecer aos antigos adversários o resultado da acção ou operação x ou y. Algum, já aqui ou noutro lado, da guerra falou? Olha a emboscada do Quirafo, aquilo é uma emboscada com canhões sem recuo e etc? Aquilo tem um nome! E a História da Guiné, pós independência o que é...Declaração em 73 da Independência "algures no Boé". Outros factos. Mesmo a História que eu aqui tenho.
Depois quantos sorrisos ao saberem dos factos ou verem estas e outras fotos. Questões que eu coloco a mim mesmo. Continuava sem ser comentário e não espero, mesmo de alguns pretensos responsáveis, que, de quando em vez aparecem por aqui não vão alem da indiferença...
Abraços fraternos para ti, para todos os Tertulianos e para o Povo irmão da Guiné-Bissau.

Anónimo disse...

Graça de Abreu: já tinha lido no teu livro. Parecem-me ser fotos importantes a mostrarem a brutalidade da guerra. De um modo geral vimos "in loco"; eu vi um matulão que levou um tiro na testa, caiu para dentro da tabanca que ardeu. Resultado: parecia um miudo de 8 amos e vi e vi...por isso a importância dos relatos e das fotos. São as tais fotos falantes e dos relatos feitos como tu e outros o fazem. Com um senão, um senão, para mim claro. Estamos a dar a conhecer aos antigos adversários o resultado da acção ou operação x ou y. Algum, já aqui ou noutro lado, da guerra falou? Olha a emboscada do Quirafo, aquilo é uma emboscada com canhões sem recuo e etc? Aquilo tem um nome! E a História da Guiné, pós independência o que é...Declaração em 73 da Independência "algures no Boé". Outros factos. Mesmo a História que eu aqui tenho.
Depois quantos sorrisos ao saberem dos factos ou verem estas e outras fotos. Questões que eu coloco a mim mesmo. Continuava sem ser comentário e não espero, mesmo de alguns pretensos responsáveis, que, de quando em vez aparecem por aqui não vão alem da indiferença...
Abraços fraternos para ti, para todos os Tertulianos e para o Povo irmão da Guiné-Bissau.

Anónimo disse...

Caro António gGraça de Abreu

Estas fotos que nos apresentas,em toda a sua crueza real e ainda para mais acompanhadas pela descrição que fazes desses momentos dantescos vividos,são documento gritante ,-como tantos outros, de uma guerra por nós vivida e sofrida com Honra ,mas não escolhida - que importa tambem dar a conhecer, para que não se escamoteie ou se branqueie,como diz o Manuel Maia e muito menos se passe a esponja a apagar de vez o sofrimento da nossa Geração neste período da nossa História.

Há que pensar.

O Homem é um animal de hábitos e a nossa Geração de Portugueses (foi)é (por hábito) cordata e complacente ... em demasia!

Faço votos para que as que se nos seguem não o sejam.

Um Abraço
Luis Faria

Luís Graça disse...

"São as tais fotos falantes e dos relatos feitos como tu e outros o fazem. Com um senão, um senão, para mim claro. Estamos a dar a conhecer aos antigos adversários o resultado da acção ou operação x ou y. Algum, já aqui ou noutro lado, da guerra falou? Olha a emboscada do Quirafo, aquilo é uma emboscada com canhões sem recuo e etc?"...

Julgo que o autor do comentário é o nosso querido José, um rapaz que andou por Mansambo, entre 1968/69, e me mandou há uns anos atrás um notável álbum de "fotos falantes"...

Por lapso, deve ter-se esquecido de "assinar" o seu comentário como mandam as boas regras do protocolo cá da Tabanca Grande... Estás perdoado, desta vez, José!

A questão que levantas não é fácil de responder... "War is over", a guerra acabou (ou talvez ainda não, dentro de nós...). Não creio que estas imagens, horrorosas de corpos, carbonizados, de guineenses, marinheiros ou estivadores de Bissau, ao serviço do Batalhão de Intendência (BINT), jovens como nós, possivelmente manjacos, possivelmente até simpatisantes do PAIGC, possam provocar gáudio, prazer sádico,a alguém, hoje em dia, muito menos ao(s) sapador(es) do PAIGC que montaram as duas minas... E que minas, meu Deus, uma delas reforçada com uma bomba de Fiat G-91!

Não somos, não éramos MONSTROS, nós, os homens, que de um lado e do outro fizemos a guerra, montámos minas e armadilhas, matámos combatentes e "gente inocente", etc. Agora, a guerra acabou (acabou, José, há 35 anos!...ou não ?), e eu não vejo, nos rostos nem das palavras, escritas ou faladas, dos ex-combatentes de um lado e do outro, eu não vejo ÓDIO, RESSENTIMENTO, DESEJO DE VINGANÇA...

Todos os camaradas que têm voltado à Guiné, em "romagem de saudade", podem garantir isso... Também não tens lido, no nosso blogue, palavra de ódio, de parte a parte... Pode haver um ou outra picardia, entre nós, a propósito deste ou daquele pormenor da guerra, mas nem sequer há polémicas com os antigos combatentes do PAIGC...

Com muita pena minha, porque era bom sinal, era sinal que eles finalmente perdiam o "medo" de falar da guerra, venciam os bloqueios, as inibições, os fantasmas... (Quem lá está, na Guiné-Bissau, sabe que muitos - por exemplo, os balantas - só falam sob o efeito do álcool, mas no dia seguinte voltam a ser um muro de silêncio)...

Julgas que é fácil falar do massacre dos três majores ? Ou do massacre do Quirafo ? Ou do assassínio do Amílcar Cabral ? OU das armadilhas que deixámos nas tabancas controladas pelo PAIGC na região Poindon / Ponta do Inglês, onde havia velhos, mulheres e crianças ? ... Tal como não é fácil, aos guineenses, falar dos fuzilamentos dos seus irmãos (fulas, manjacos, etc.) que estiveram do nosso lado, a seguir à independência,ou ´das execuções "revolucionárias" de Cassacá, em 1964...

Para eles, para nós... não é fácil!

Mas, no fim, tu tratas os guineenses como "povo irmão"... E o que é este blogue se não uma tentativa de criar, dia a dia, "uma ponte para as duas margens do rio" que no passado nos separou ?

Conto com o teu tijolo para construir essa ponte... Um Alfa Bravo. Luís

Anónimo disse...

Querido ermon António,

Temos falado tanto de Cufar,e desta "merda" toda da Guerra que por vezes penso que só assim, com a coragem que tiveste de por uma parte da tua fortuna de Saber sobre a Guiné, poderá levar alguns mais jovens não viventes com esta situação a pensarem correctamente e não dizerem que o "Cota" está a pintar.

CUFAR!

A "Pami na Dondo" já aí está.
O "Puto Gandulos e Guerra" sairá
2ª edição revista e complementada.

Falo neste dois escritos, porque é necessário compreender, e até camaradas entenderem, que a diferença destes acontecimentos em Cufar têm a diferênça de sete anos.

Sete anos!
Só quem conheceu e assistiu à evolução de Cufar e os milhares que por lá passaram, compreendem tudo isto.

Não foi fácil, não foram rosas! No teu Diário da Guiné, pérola da literatura e da verdade na Guerra, tu dizes tudo: "Lama, Sangue e Água Pura".

Obrigado António Graça de Abreu, por trazeres aqui documentação ao vivo do teu Best Seller.

Que quem fizer posteriormente a História, pegue no teu Livro e veja a verdade, não só de Cufar mas de toda a Guerra na Guiné.

O velho abraço do tamanho do nosso Cumbijã,

Mário Fitas

Luís Graça disse...

A leitura do diário do AGA, relativa a esta tragédia ocorrida em Cufar, no dia 2 de Março de 1974, onde terá havido um total de 19 mortos (2 militares e 17 civis, todas da Intendência), leva-me a fazer as seguintes observações:


(i) nesse dia, e de acordo com a lista dos mortos na guerra do ultramar, consultada na página da Liga dos Combatentes, só houve 2 mortos, entre eles o Sold Santos. O Fur Mil Pita não consta... Terá morrido a caminho do hospital ?

(ii) os estivadores civis, todos guineenses, ao serviço da Intendência, também não foram contabilizados, já que não eram militares...

(iii) Por outro lado, nesses 19 (ou 17 mortos, civis), não estão incluídos os que vieram a morrer no hospital (cerca de um dezena foi evacuada nessa noite por Nordatlas; e sete tinham um prognóstico muito reservado, segundo o AGA).

Pergunta-se: Saberemos algum dia o número de vítimas daquela guerra ? De um lado e do outro... Militares e civis ?

Julgo que na "contabilidade dos mortos" das NT também não entravam as milícias... Muito menos os civis...

Do lado do PAIGC, então ainda pior: não temos mesmo números nenhuns. Nem sequer uma estimativa... Ou alguém tem ?

José Marcelino Martins disse...

O Pita da Silva, Furriel, morreu a 17 de Março de 1974 no HM 241.
Os caçadores Nativos, Soldados Milicias, Policias Administrativos, Guias e Outros, estão registados, a partir da página 353, no livro 2, Tomo II do 8º volume da CECA.
Há que ter em conta que, segundo creio, estes documentos foram elaborados a partir de relatórios de operações, entre outros. Se não foram citados, a "memória perdeu-os".

anonimo disse...

Era desnecessário tais horrores
se a humanidade respeitasse os valores da vida a terra seria um paraíso
E vai ser nada vai impedir que muito em breve o propósito para que fomos criados se concretize.