1. O Amadu Bailo Djaló foi, como todos bem sabemos, um dos mais dinâmicos operacionais e louvados COMANDOS guineenses ao serviço do Exército Português no CTIG, e, além de tudo o mais, é um excelente Camarada e Amigo nosso.
Sabendo que o Amadu, quase a completar sete décadas de existência, não tem atravessado os melhores momentos do seu estado de saúde, queria, aqui neste poste, prestar-lhe mais uma justa e merecida homenagem, em meu nome pessoal e de todos quantos se me quiserem unir neste que pretende ser apenas um gesto singelo de camaradagem e amizade.
São cada vez mais as instituições e os Camaradas que se vão juntando aos gritos, aqui e ali (em jornais, revistas e entrevistas), contra a tremenda injustiça e ostracização que ao longo destes últimos 35 anos, tem vindo a ser praticada pelos sucessivos governos pós-25A74, em relação a estes Homens, ex-Militares de Portugal, que juraram bandeira tal como nós e vestiram com orgulho a mesma farda e cumpriram fielmente o mesmo RDM.
Não paremos com os nossos gritos de revolta e mau estar, que terá que dar, mais dia menos dia, os seus frutos.
2. Para melhor e mais correcta informação sobre o estado de saúde do Amadu Bailo Djaló, recorri ao auxílio de um dos seus melhores Amigos na actualidade, o nosso Camarada Virgínio Briote, que não se fez rogado e me respondeu de imediato, e a quem deixo aqui registado o meu mais elevado agradecimento.
Caro Eduardo,
Obrigado pela tua mensagem.
O Amadu Bailo Djaló, depois de cerca de um mês nos cuidados intensivos do HM (onde foi tratado exemplarmente), regressou a casa armado com outra G-3, uma máquina portátil, ultra-moderna, que lhe fornece oxigénio e, em vez das 7,62, dispara relatórios em papel. Apesar das limitações o Amadu mantém o humor e o desejo de regressar à Guiné, à sua Bafatá, onde quer ficar junto dos pais e avós.
Falamos todos os dias. Primeiro porque quero acompanhá-lo e ver como segue as directivas da equipa médica. E segundo porque o estou a incentivar (e ele tem correspondido) a escrever as memórias do pós-25 de Abril: os contactos com os comandantes do PAIGC, as reuniões entre os comandos guineenses e os quadros europeus, as populações a mudarem de campo (antes muito amigas deles, depois a denunciá-los), a primeira vez em que foi preso e libertado logo a seguir, os tempos indefinidos, o não ter que fazer, a fome em casa, as armas ainda nas mãos deles, a manifestação em Bissau, frente à embaixada de Portugal (o embaixador a pedir ao PAIGC que os dispersasse), a chegada do comandante Umaru Djaló, num carro blindado, de arma na mão... É este o trabalho que o Amadu está a fazer e que eu vou passando para português corrente.
Não sabemos, eu e ele, se algum dia as memórias vão ser publicadas. Depois de concluído o trabalho começaram a surgir problemas de vária ordem. E a falta de dinheiro é um deles, a Associação de Comandos está com dificuldades em arranjar um editor, o Amadu Djaló é um nome desconhecido e a obra só fala de guerra vista pelos olhos e pela memória dele.
Mantemos um desejo: não deixar esquecer os Camaradas Guineenses, COMANDOS ou outros, que durante os anos da guerra, abriram colunas como condutores de viaturas (muitas vezes só com os sacos de areia como companhia) ou foram os primeiros homens das colunas apeadas. E que depois da guerra, feitas as pazes, foi o que se sabe.
Por aqui me fico.
Um abraço
vbriote
vbriote
10 de Junho 2009 > Forte do Bom Sucesso > Belém > Lisboa > Memorial aos Combatentes da Guerra do Ultramar > Virgínio Briote, Amadu Bailo Djaló e Magalhães Ribeiro
3. É assim que eu vejo a situação dos nativos que serviram, combateram e morreram nas NT, ao nosso lado:
A mais alta de todas as traições
Muitos africanos foram os nossos melhores amigos
Tinham orgulho em envergar uma farda portuguesa
Tinham orgulho em envergar uma farda portuguesa
Na instrução eram afincados, cumpridores, e...
No combate davam tudo... até a vida... com nobreza!
1
Após a revolução dos cravos
Após a revolução dos cravos
Reinava no país a anarquia
Assaltavam-se as Instituições
O povo em “partidos” se dividia
2
Gente a falar do que não sabia
Ou que não sabia do que falava
Que ora dizia uma coisa
E passados minutos... negava
3
No meio de todas as convulsões
O poder político era “restaurado”
Os governos tomavam decisões
Aos repelões... uns p’ra cada lado
4
E assim, no meio deste “arraial”
Foi assinado, se bem me lembro
O acordo p’ra descolonização
Nesse ano, em 9 de Setembro
5
Só para se ter uma leve ideia
Do resultado deste “processo”
Olhe-se para o drama de Timor
O grotesco de um insucesso
6
Mas se Timor é a “cara” da moeda
A “coroa” anda envergonhada
Vamos virá-la e falar nela
Iluminar uma traição abafada
7
Uma ignóbil e cobarde traição
A história qu’aqui se vai contar
Parte do povo ignora... naturalmente
Outra sabe... mas prefere não falar
8
Assim, começando pelo princípio
Na “nossa” África colonial
Os africanos eram baptizados, e…
Registados... em nome de Portugal
8
Portugueses para todos os efeitos
Eram convertidos ao burgo cristão
Eram detidos, julgados e punidos
Por leis e juízes da nossa Nação
9
Pois era, muitos desses africanos
Nas nossas escolas estudavam
Dignos de respeito e estima, e…
No nosso meio trabalhavam
10
Eram tratados com igualdade
E cumpriam serviço militar
Prestavam juramento de bandeira
Juravam, também, a Pátria honrar
11
Na tropa ostentavam com orgulho
As mesmas insígnias e fardas
Tornavam-se aprumados, vaidosos
Seguravam firmes as espingardas
12
Combatiam fiéis ao nosso lado
Ao nosso lado feridos tombaram
Alguns estropiados p´ra sempre
Outros... a vida sacrificaram
13
Em Angola, Moçambique e Guiné
Foram louvados e condecorados
Foram graduados do Exército
E, como Heróis foram saudados
14
Logo após a descolonização
Estes “negros” foram abandonados
Portugal deixou de os considerar “seus”
Os “deles” acusavam: “- São renegados!”
15
Votados ao desprezo e à humilhação
Fria e cruelmente torturados
Apátridas ao “seu” novo “Partido”
Foram sumariamente executados!
16
Odiados por um simples facto
Que nunca lhes foi perdoado
Gostarem e lutarem pelos “tugas”
Seu único e último... pecado
17
Perante a velada indiferença
Dos políticos e das Nações
É tempo da História julgar
A MAIS ALTA DE TODAS AS TRAIÇÕES
*
Haverá porventura… gesto humano mais divinal…
Q’um homem possa fazer para outro auxiliar…
Que disponibilizar o seu mais supremo bem... a vida?
Jamais deixemos a sua memória alguém desonrar!
4. Recordo que no poste P4934, já o Virgínio Briote apresentou um curto, mas elucidativo currículo do Amadu Bailo Djaló, de que destaco estes significativos parágrafos:
“Recenseado pelo concelho de Bafatá, sob o nº 21 em 1962, foi alistado em 04Jan62, como voluntário, no Centro de Instrução Militar. Depois da recruta em Bolama, seguiu-se o CICA/BAC, em Bissau, depois Bedanda na 4ª CCaç, a 1ª CCaç em Farim, regressou à CCS/QG, depois os Comandos de 1964 a 1966, a CCS/QG outra vez, Bafatá no BCav 757, conhecido pelo “Sete de Espadas”, e daquele transitou sucessivamente para os BCac1877, BCav1905 e BCac2856 (todos sediados em Bafatá) e, em meados de Jul69, foi transferido para a 15ªCCmds, seguindo-se então a 1ªCCmds da Guiné, o BCmds da Guiné, a CCaç21 com base em Bambadinca, o 25 de Abril.
Foi promovido a 1º Cabo em 01Jan66 e louvado pelas actuações em operações no ano de 1966. Novamente louvado em 1967, em OS do BCaç1877, de 30Set67, pelo seu comportamento em acções de combate durante o ano de 1967 (07Jan-24Set67). Transferido para a 15ªCCmds em 01Jan70, foi graduado em furriel em 06Fev70, transitando em 13Fev do mesmo ano para a 1ªCCmds da Guiné.
Graduado em 2º Sargento em 07Nov71, foi louvado pelas acções em que participou durante o ano de 1972. Condecorado com a Medalha de Cruz de Guerra de 3ª Classe em 1973 (embora o seu nome não conste nos 8 tomos do 5º volume da “Resenha...”).
Em 28Jun73 foi graduado em alferes e novamente louvado pela actuação nas operações durante o ano de 1973.
Passou à disponibilidade em 01Jan75, devido à independência do território da Guiné.”
Magalhães Ribeiro
Fur Mil Op Esp/RANGER CCS/BCAÇ 4612/74
Fur Mil Op Esp/RANGER CCS/BCAÇ 4612/74
Foto: © Jorge Canhão (2009). Direitos reservados.
Emblema: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
___________
Nota de M.R.:
(*) Vd. no poste P4934, a menção do VB ao Amadu Bailo Djaló:
10 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4934: João Bacar Djaló. O testemunho de Abdulai Djaló Cula. (V. Briote)
5 comentários:
Caro Briote:
Folgo saber da recuperação do Amadú.
Sobre a edição do livro, quando o texto estiver pronto fale comigo. Pode ser que consiga editora.
Já falou ao Dr Graça para corrigir o meu nome para Bernardo e não Bernardes?
Ab
Cor. Manuel Bernardo
So posso unir-me a esta homenagem e reafirmar a minha indignação pelo modo como a minha Pátria trata os seus filhos que por ela deram a sua vida, uns verdadeiramente a entregaram, outros uma boa parte dela que em tantos deixou marcas profundas.
E aqui sim, quando falo nos filhos da Pátria, falo nos seus filhos do Minho a Timor.
A paz só verdadeiramente se alcança quando se faz a paz com o passado e a paz com o passado só se faz quando ele é aceite no presente e essa aceitação passa forçosamente pelo reconhecimento daqueles que para ele contribuiram com a generosidade das suas vidas, mais livremente ou mais obrigados.
Abraço camarigo para todos.
Pois nós,Povo de meu País, nunca fizemos contas com o passado...concordo contigo camarigo Mexia Alves.Séculos...
Não vou escrever nada mais sobre esse tema. Ainda ontem vi na RTP 1 os sem abrigo e, a maior parte entre os 55 e 70 anos eram ex combatentes.Falei com alguém hoje sobre os ex combatentes.Sobre isso muito aqui, no blogue,já se falou. Precisamos é de acção concertada e determinada. BASTA.
A primeira ou segunda vez que aqui escrevi disse logo:nunca esqueço e não sei perdoar...e nomeei o Saiegh. Nada mais escrevo.
Abraços fraternos ao V Briote e ao Amadú, estendo-os a Todos do;
Torcato
O mundo virou-se contra todos os AMADU e só quem viveu ao lado deles é que pode compreender aquilo que todos estes anos se tem passado com os guineenses e outros povos.
Porque os Amadu's, já falavam o que naturalmente ia acontecer.
Pena que o exemplo da Guiné ultrapasse tudo o que se imaginava.
Antº Rosinha
PRETOS OU BRANCOS SOMOS IGUAIS
eM RELAÇÃO AO TRATAMENTO QUE OS VENDE PÁTRIAS QUE NOS GOVERNARAM E OS QUE AGORA NOS GOVERNAM.
VALEMOS ZERO
OS VENDE PÁTRIAS DE ANTIGAMENTE PARA ALÉM DE NOS ROUBAREM DURANTE O SEVIÇO MILITAR,NEM A DEC~ENCIA TINHAM DE ENTERRAR OS QUE MORRERAM PELA PÁTRIA NOS SEUS CEMITÉRIOS DE ORIGEM.
OS VENDE PÁTRIAS ACTUAIS NÃO QUISERAM SABER EM QUE SITUAÇÃO DEIXAVAM OS MILITARES PRETOS DE PORTUGAL NA GUINÉ.
A CULPA DO QUE ACONTECEU NÃO PODE SER IMPUTADA AO PAIGC-PARTIDO OU GOVERNO, POIS ESTES POR MEDO OU POR VINGANÇA OU PELOS DOIS MOTIVOS JUNTOS PARTIRAM PARA A ELIMINAÇÃO DO PROBLEMA.
ASSIM ELIMINARAM OS SOLDADOS PORTUGUESES QUE ACHARAM NECESSÁRIO.
MAS TODA A CULPA PERTENCE AOS VENDEDORES DA PÁTRIA.
COM UM GRANDE ABRAÇO DO CAMARADA
ADRIANO MOREIRA -EX-FUR.MIL.ENF.
CART. 2412 -BIGENE,BINTA,GUIDAGE E BARRO. 1968/1970
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