quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Guiné 63/74 – P5349: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (29): O COP4 (Mário Pinto/José Teixeira/Vasco da Gama/Carlos Farinha)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos uma mensagem com o seu 29º texto, que é o complemento do poste P5322. A complexidade da matéria abordada, contou com as preciosas colaborações dos nossos Camaradas José Teixeira (1.º Cabo Enf da CCAÇ 2381 - Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), Vasco da Gama (Cap Mil da CCAV 8351 – Cumbijã -, 1972/74) e Carlos Farinha (Alf Mil da CART 6250 - Mampatá e Aldeia Formosa -, 1972/74):

ZONA DE GUERRA NO COP4 (BUBA-ALDEIA FORMOSA)

2.º Semestre de 1969


Com o abandono da construção da estrada Buba-Aldeia Formosa, a transição do COP4 para o Quebo e a deslocação de todas as forças humanas e material bélico que se encontravam naquela ZA, para outros locais do Território da Guiné, o Sector passou por uma acalmia aparente.

Durante um curto período de tempo, os Altos Comandos do Sector puderam assim planear e organizar a estratégia para o futuro.

Foi então criado o Plano de Operações do COP4, a que foi dado o nome de Orfeu Oriental, tendo a minha companhia passado a Companhia de Intervenção. A quadrícula foi aquartelada na Tabanca de Mampatá, com as seguintes ordens operacionais e ZA:

CART 2519,
Pel Caç Nat 68,
Pel Milª 137,
Esq Pel Mort 2138.

1) Impedir ou, no mínimo, dificultar ao máximo os movimentos do IN, no eixo Unal-Missirá-Uane-Portugol, para o que se orientou o esforço sobre as linhas de infiltração materializadas sobre: Baramboli-Missirá-Iero/Saldé-Sara/Dibane-Uane-Sardonha, (com especial incidência sobre esta área), efectuando constantes:

- Reconhecimentos da Região;
- Emboscadas;
- Minagem e armadilhamento;
- Patrulhas na Estrada Buba-Aldeia Formosa;
- Organização e segurança na defesa de Mampatá.

Às forças instaladas em Aldeia Formosa, foram dadas as seguintes missões integradas no Plano Operacional "Orfeu Oriental":

-Impedimento a todo o custo da fixação e da infiltração do IN, para Oeste da linha definida por Saltinho-Contabane-Bongofé (abandonada)-Fronteira, para o que procedia a:

- Patrulhamentos, Reconhecimentos na sua ZA;
- Emboscadas, Minagem e Armadilhamento dos trilhos compreendidos entre Gandembel-Gamã-Aldeia Formosa;
- Coordenação das suas acções com as outras forças: CART 2519, CCAÇ 2464 e CCAÇ 2465.

Em Aldeia Formosa:

BCAÇ 2834,
CCAÇ 2464 ( mais tarde, em Novembro, a CCAÇ.2615),
CCAÇ 1792 - Lenços azuis (que foram rendidos pela CART 2521),
Pel Fox 2022,
Pel Nat 60,
Pel Mort 1242,
Pel Obuses 14.

Em Chamarra:

Pel Nat 58,
Em Nhala,
Em Novembro, CCAÇ 2614,
Esq Pel Mort 2138.

Em Buba:

CCAÇ 2382 ( mais tarde, em Novembro, CCAÇ 2616),
Pel Milª,
Dest Fuzas 7,
Pel Mort 2138,
1 Gr Comb da 2381 (até Novembro de 1969).

Em Nhala:

2º Gr Comb da CCAÇ2382

Estas eram as forças em presença, que iriam, nos tempos que se seguiram, assegurar a estabilidade do Sector e deter a penetração do IN para a zona do XITOLE.

O IN concentrou os seus efectivos na região de Unal-Missirá-Sara Dibane, em que se empenhou ao máximo no impedimento do cumprimento das missões das NT, colocando minas, realizando emboscadas, atacando e flagelando os nossos aquartelamentos.

Foi referenciado neste período um Bi-Grupo do PAIGC, designado por “Comando de Estaline”, comandado pelo Malagueta Man, que desenvolveu intensa actividade nesta ZA.

Nos meses de Julho e Agosto de 1969, as actividades do IN enfrentadas pelas nossas tropas, foi quase nula, resumindo-se a algumas flagelações aos aquartelamentos de Mampatá, Buba, Chamarra e Aldeia Formosa, e a colocação de minas nos nossos itinerários, com maior incidência na estrada (velha) Buba-Aldeia Formosa, registando-se duas emboscadas de pouca envergadura.

As NT neste período actuaram em conformidade, com o plano operacional "Orfeu Oriental", patrulhando, emboscando e minando os habituais trilhos de infiltração do IN, conforme a sua ZA. Em 15AGO69, efectuou-se a intercepção, em Uane, de um Grupo de Combate IN de 20 elementos, que se deslocava no sentido Sul-Norte, tendo o mesmo conseguido retirar, provavelmente com várias baixas, devido aos rastos de sangue encontrados na área do combate.

Nos meses de Setembro e Outubro de 1969, registou-se um abrandamento significativo das acções do IN na ZA, devido em parte à época das chuvas e ao estado dos itinerários que se encontravam todos praticamente intransitáveis para as NT. No mesmo período, verificaram-se dois ataques a Mampatá e Chamarra, e um a Aldeia Formosa. O aquartelamento de Buba, sofreu o maior ataque da ZA.

Em 10 de Outubro de 1969, 5 Bi-Grupos, estimados em 300 elementos, comandados pelo célebre Cap. Peralta (Cubano), armados com artilharia ligeira e canhões s/ recuo atacou Buba, tendo tomado posições de tiro na margem do rio, frente a Buba. O IN foi repelido com diversas baixas, retirando para Sul.

As NT continuaram a desencadear as acções previstas no plano operacional, tendo emboscado uma coluna de abastecimento inimiga, no carreiro de Missirá, causando-lhe 2 mortos confirmados e a captura de diverso material de guerra didáctico, alimentar e logístico.

Novembro e Dezembro de 1969. No princípio do mês de Novembro foi desfeito o COP4, sendo substituído pelo Comando do BCAÇ 2892. Chegaram três Companhias de “periquitos” á ZA, as CCAÇ 2614, CCAÇ 2615 e CCAÇ 2616, ficando estas distribuídas por Aldeia Formosa, Nhala e Buba, substituindo as CCAÇ 2382, 2464 e 2465.

Com estas alterações no Sector, o Comando do BCAÇ 2892, elaborou outro plano operacional, designado por plano de operações "Galgos Ligeiros", cujo plano de acção era semelhante ao anterior, tendo mudado simplesmente as companhias intervenientes.

No mês de Novembro de 1969, a actividade foi nula, não se registando acções relevantes, muito por causa da época das chuvas, que, como é óbvio, limitava a prática de tais acções. As NT limitaram-se a patrulhar e emboscar, em itinerários de possível penetração do IN.

Houve, no entanto, fora da nossa ZA uma operação, no dia 17NOV69, denominada "Operação Jovi" que foi efectuada no corredor de Guileje e resultou na captura do Cap. Peralta, tendo Aldeia Formosa servido de base de apoio.

Em Dezembro de 1969, com a época das chuvas a terminar, o IN retomou as suas actividades de infiltração e o número de acções de combate cresceu de intensidade, terminando assim aquele breve período de acalmia, que foi a época das chuvas.

O IN neste período flagelou à distancia com armas pesadas Aldeia Formosa, Buba e Mampatá, sem qualquer consequência.

O PAIGC efectuou um ataque de grande dimensão a Chamarra, no dia 21DEZ69, sendo repelido pelas NT, e, na retirada, foi emboscado por um Grupo de Combate da CART 2519, que lhe provocou várias baixas. Na mesma acção, tinha saído um Grupo de Combate da mesma Companhia, em auxílio ao destacamento da Chamarra, que veio a confrontar o IN em debandada, junto a Colibuia, eliminando 4 dos seus homens, confirmados no terreno, e capturado material diverso. As NT sofreram nesse confronto 4 feridos ligeiros, 2 furriéis e 2 Soldados.

Também se registou neste período, no âmbito da operação “Galgos Ligeiros", no corredor de Missirá, que um Grupo de Combate da CART 2519, em Iero Salde, emboscou um grupo IN (estimado em 20 elementos), que circulava pela linha de infiltração no sentido Unal-Uane, infligindo-lhe 5 mortos confirmados e a captura de vário material de guerra.

Com o abaixamento dos caudais dos rios que atravessavam a ZA, retomaram-se as colunas entre Buba-Aldeia Formosa, vindo a registar-se neste período, o levantamento de minas anti-carro e anti-pessoal na estrada velha, nomeadamente junto a Sare Usso, Uane e Bolanha dos Passarinhos. Verificou-se o rebentamento de um fornilho, com a destruição da viatura e 2 feridos graves das NT.

Ainda houve o registo de uma flagelação à coluna de abastecimento, no dia 12DEZ69, aquando do regresso de Buba, entre Uane e Sare Usso.

Um Grupo de Combate da CCAÇ 2615, reforçado com elementos da CART 2521, sofreu 3 emboscadas dum grupo numeroso de inimigos, junto ao rio Balana, no trilho Bungofé, tendo sido feridos 2 soldados da nossa milícia. O IN retirou para junto da fronteira, perseguido pelas NT, deixando no terreno vários rastos de sangue. Há a registar o apoio de um héli-canhão, que ajudou a dispersar o IN.

Registe-se também a visita do COMCHEF nesta altura às unidades da ZA para desejar as Boas Festas.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Mário Pinto,

Parabéns!
Bom Trabalho.
Gostei de ler e recordar.
Tudo certinho, os nomes, os números e as datas.
Maravilha.

A CCAÇ2615 teve o primeiro morto (um milícia) em 20 de Março/70 em Bungofé. Na 3.ª de três emboscadas, sofridas nesse dia.

Em 20 de Abril, em Sare Amadi, novo recontro, violento, com dois mortos (soldados).

Depois, em Maio, andámos, eu também lá andei, por Bungofé, Contabane e arredores, até à fronteira.

Só em 25 de Julho, (estava eu em Buba), houve novo problema (mina anti-pessoal), com dois feridos, um dos quais faleceu, já no Hospital, em Bissau.

Um Abraço,

Manuel Amaro

Aníbal Magalhães disse...

Amigo Mário Pinto:

No p5349 foi mencionada a C.Caç.2465 como actuando na zona de Aldeia Formosa e Chamarra. Esta informação está errada.
A C. Caç.2465 do B.Caç.2861 esteve de Fevereiro a Maio de 1969 em Có e de Maio de 1969 a Dezembro de 1970 em Bissum-Naga.
Um abraço
Aníbal Magalhães

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caro Camarada
Anibal Magalhães

Agradeço a tua correcção e informação.
Nos elementos que desponho da época dà CCAÇ 2465 neste Sector, talvez erro de sopreposição dado que naquele periodo muitas Companhias passaram neste Sector.

Um abraço

Mário Pinto

Anónimo disse...

Ó Mário.
Vais desculpar, não vejas aqui nenhuma critica, já o Anibal Magalhães corrigiu a posição da 2465, acrescento que a 2464, também do BCAÇ 2861, esteve em Bula e depois em Encheia e por aí se ficou. Já agora, aproveito esta via para, presumindo que o Magalhães era da 2465 mandar-lhe um abraço. Eu era da CCS do 2861.
apires

Unknown disse...

Perdoa, eu não sou anónimo, tenho nome e sou cá da Tabanca, só que me enganei a clicar no local de envio.
Sou, portanto, o que assina por
apires

Anónimo disse...

Amigo A. Pires:

Su Aníbal Magalhães da C.Caç.2465 e aqui está o meu o meu contacto:

avxmagalhaes@sapo.pt

Um abraço

A.Magalhães