sábado, 28 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5364: Notas de leitura (40): De Conakri ao M.D.L.P., de Apoim Calvão (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Novembro de 2009:

Luís e Carlos,

O Alpoim Calvão prestaria um bom serviço à Guiné e ao estudo crítico da guerra colonial se procedesse a uma profunda revisão das operações em que se envolveu.

“De Conacri ao MDLP” é um livro necessariamente datado, tem lá ajustes de contas e requisitórios hoje sem qualquer interesse. As operações onde interveio, até ao ataque a Conacri, estou em crer, foram momentos extraordinários que deviam ser conhecidos com mais minúcia.

Alguém devia estimular o comandante a escrever (mas não a ditar...) as suas memórias com base na documentação fidedigna.

Um abraço do
Mário


De Conacri ao M.D.L.P.

Por Beja Santos

Em 1976, o livro de Alpoim Calvão foi um pequeno acontecimento. O acompanhante de Spínola, o valoroso homem da Armada que cometera façanhas na Guiné, resolvera escrever as suas memórias, contar os seus golpes de mão, descrever os planos da operação “Mar Verde”, dar a sua opinião sobre a morte de Amílcar Cabral, desvelar o que fizera dentro de uma organização tratada como sinistra pelo regime democrático, o M.D.L.P.

O livro fora ditado para um gravador, os documentos parecem caídos do céu e apresentados de forma desgarrada, daí a sensação de que simultaneamente estamos a ter acesso a documentos importantes mas apresentados da forma mais caótica possível e num texto povoado de gralhas e disparates de articulação, tudo produto da falta de revisão (De Conakry ao M.D.L.P., dossier secreto, Intervenção, 1976.

Alpoim Calvão aparece no início do seu relato medalhado com a sua Torre e Espada, o seu Valor Militar de Ouro, as suas Cruzes de Guerra. Fala de Lourenço Marques e das impressões inesquecíveis de Moçambique, rememora os seus ídolos, o seu regresso a Lisboa na altura em que a visão do colonialismo se transfigurara mundialmente.

Em 1963, tirou o curso de fuzileiro especial e foi lançado na Guiné. Esteve na operação “Tridente”, que ele considera a mais longa e uma das mais duras em que participou. Aí recebeu a sua primeira Cruz de Guerra. Assistiu à criação dos destacamentos de Fuzileiros Especiais Africanos. Datam dessa sua primeira comissão uma operação no rio Camexibó e a operação “Hitler”. Regressou e continuou ligado aos fuzileiros.

Em 1969 regressa à Guiné onde irá cobrir-se de glória e lançar polémica que ainda não se extinguiu: mais golpes de mão (caso das operações “Nebulosa” e “Gata Brava” e a controversa operação “Mar Verde”) que travaram temporariamente a presença naval do PAIGC no Sul. Afirma sem hesitação que manteve a partir de Londres contactos com o topo da hierarquia do PAIGC.

Depois vem o 25 de Abril, a descolonização e a criação do M.D.L.P., factos que já nada tem a ver com a Guiné. Nos anexos junta um documento sobre maus tratos infligidos a Marcelino da Mata, com a sua própria declaração das sevícias que sofreu em Caxias, onde permaneceu 150 dias.

O livro passa a pertencer ao blogue. Tendo tido necessidade de procurar mais alguns elementos acerca dos Manjacos, povo estudado pelo primeiro marido da minha heroína, no romance Mulher Grande, encontrei uma imagem de um régulo, tirada ainda nos anos 50, que não resisti a oferecer-vos.


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5355: Notas de leitura (39): Indústria Militar Portuguesa no Tempo da Guerra 1961-1974, de João Moreira Tavares (Beja Santos)

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