terça-feira, 24 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5331: Antropologia (15): Um dos maiores tesouros artíticos da Guiné: os Sônôs (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2009:

Malta,
Tivéssemos sabido, e não regressávamos da Guiné sem sônôs! Éramos hoje gente rica, os museus pagam um balúrdio por esta arte magnífica.
Oxalá que os que restam na Guiné-Bissau estejam em bom recato.

Um abraço do Mário


Um dos maiores tesouros artísticos da Guiné: Os sônôs
Por Beja Santos

A Guiné despertou muito tarde para o conhecimento de um dos seus maiores tesouros e aí a influência de Avelino Teixeira da Mota foi determinante. Numa entrevista concedida na Emissora da Guiné, em Abril de 1960, o distinto historiador, cartógrafo e etnógrafo explicou como tudo começara. Em 1956, um agricultor pajadinca entregara na administração do Gabu uma série de objecto de ferro e bronze que havia encontrado perto da tabanca Mandinga de Sumacunda (regulado de Tumaná). Eram objectos constituídos por hastes de ferro de cerca de 1.20 metros de altura, com vários braços laterais terminando em esculturas de bronze, geralmente pequenas cabeças humanas, havendo no topo da haste uma escultura maior, também de bronze, representando seres humanos e diferentes animais. Eram inegavelmente símbolos de realeza de antigos régulos, objectos de culto animista, e não seria de excluir de muçulmanos recentemente convertidos.

Começadas as investigações, o historiador rapidamente apurou que os sônôs existiram em todas as áreas em que viveram Soninqués, Beafadas e Pajadincas. A investigação do Teixeira da Mota teve tal densidade, que até eu estive envolvido em pesquisas locais. Conforme referi nos meus livros, em 1969, Teixeira da Mota enviou-me um aerograma a pedir esclarecimento sobre a existência de sônôs na região de Bambadinca. Nada encontrei, foi essa a triste informação que lhe transmiti.

Perderam-se possivelmente quase todos os sônôs, o Museu da Guiné estava apetrechado com diferentes doações, as guerras civis, ao que parece, fizeram desaparecer parte fundamental deste património valiosíssimo. De tudo quanto se estudou na África Ocidental, só se sabe que os sônôs têm semelhanças profundas com esculturas da Serra Leoa, mas continua na bruma a origem desta arte original.

Seria bom que as autoridades culturais da Guiné-Bissau procurassem um inventário do que existe no seu país, em Portugal e no mundo. Quem os colecciona certamente que troca informação. E não há museu que não se orgulhe de mostrar estas preciosidades. Aqui fica a imagem de dois sônôs descobertos por Teixeira da Mota e foram publicados no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. Se algum dos tertulianos possui um sônô, é bom que saiba que tem um tesouro à sua guarda.


__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5326: Notas de leitura (35): A Geração do Fim, memórias de um Curso de Infantaria de 1954 (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4312: Antropologia (14): Dança dos bijagós, uma redacção escolar, de 1958, do menino Abreu (António Graça de Abreu)

Sem comentários: