quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5336: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (1): Quatro Histórias com Mural ao Fundo



1. Mensagem do novo membro da nossa Tabanca Grande, Belmiro Tavares, ex-Alf Mil, CCAÇ 675 (Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), Prémio Governador da Guiné (1966), empresário hoteleiro.





Terça, 24 de Novembro 2009

Aterrou há dias, na minha mesa, um texto do camarada Luís Graça o qual me tocou profundamente (*). Ressalta que o autor é ex-combatente (já o sabíamos) muito atento ao mundo que o rodeia, e destacam-se as suas qualidades humanas a sua perspicácia, bem como a sua formação académica. Curto e incisivo.

As duas partes do texto que mais intensamente me tocaram foram as que transcrevo: “suicidas altruístas” e o “telegrama seco, brutal, frio, impessoal enviado pelos competentes serviços do Exército a comunicar a funesta notícia”. Duas pontas que se enlaçam em parte, no caso que vamos narrar.

Como alferes miliciano estive dois anos na Guiné, algures a norte do Cacheu, mais precisamente em Binta, integrado na CCaç 675 uma companhia extraordinária (foi lá e, mais de 40 anos depois, continua a sê-lo cá) que deu “água pela barba a muita gente”. 

O nosso comandante era o Capitão Tomé Pinto, hoje Tenente General, um militar fora de série, autenticamente um homem doutra galáxia. Podemos descrevê-lo parafraseando o poeta: “Homem dum só parecer, dum só rosto e duma só fé... d’antes quebrar que torcer”...! É o Homem que sabe ser militar (de que maneira o sabe!) e o Militar que não deixa de ser Homem, qualidades que juntas se acham raramente.

Entre os graduados da companhia havia um furriel miliciano, natural de V. N. Famalicão, de seu nome Álvaro Manuel Vilhena Mesquita o qual é o epicentro dos factos que aqui vão ser contados.

Em fins de Dezembro de 1964 o Mesquita estava de “baixa”; aguardava transporte para o HMP 241 em Bissau.

No dia 28 desse mês, dois grupos de combate (pelotão com morteiro, Breda e LGF – lança granadas foguete, vulgo bazuca) iam fazer uma patrulha para além do limite oeste da nossa zona na margem direita do rio de Buborim, um afluente do Cacheu. O Mesquita pertencia ao 1.º Gr Comb mas estava inoperacional.

A companhia à qual aquela zona pertencia e tinha a incumbência de a patrulhar, estava sediada em Bigene; para ali chegar, teria de passar pela tristemente célebre base de Sambuiá (um mito de inexpugnabilidade que a CCaç 675 se encarregou de fazer desaparecer) que era a base inimiga mais forte do norte da Guiné.

O nosso Capitão decidiu estabelecer no “terreno do vizinho” aquilo a que se chama “uma zona tampão”. Pretendia-se ter o inimigo não só fora da nossa zona mas também bem afastado. Aliás a CCaç 675, dentro da mesma estratégia foi a única companhia que, entre Junho de 1964 e Abril de 1966, “bateu” a Península de Sambuiá como se de “passeio” se tratasse... ou quase.

Nota: aconselhamos a leitura do Cap 26 do livro Golpes de Mão’s, de José Eduardo Reia Oliveira, Fur Mil Enf da CCaç 675. [Foto ca capa, à esquerda]

Voltemos aos carris! Os dois Gr Comb seguiram de viatura durante cerca de 12 km. Quanto se apearam e partiram para o cumprimento da missão, a segurança das viaturas passou a ser feita por alguns (poucos) soldados europeus, alguns soldados africanos e uns tantos milícias.

Entre os militares europeus havia doentes e feridos ligeiros que não necessitavam de cama para se restabelecer. Entre os doentes “leves” estava o fur Vilhena Mesquita, pois a sua doença – não sei qual - não o impedia de andar de camuflado e armado em cima duma viatura. Ele próprio se apresentou voluntariamente para tomar parte na segurança das viaturas. Um alferes comandava esta escolta muito heterogénea, como se depreende.

Quando os dois Gr Comb regressaram às viaturas, iniciou-se a viagem de volta em direcção a Binta. Alguns quilómetros à frente ouviu-se um rebentamento enorme: uma mina anti-carro explodiu estrondosamente debaixo da roda direita traseira, duma das viaturas. Por cima dessa roda seguia o malogrado Mesquita que naquele momento abandonou o mundo dos vivos.

Nota: ver página 181 e seguintes do livro atrás citado.

A primeira viatura era uma GMC e a mina rebentou na roda de trás da 2.ª viatura, um Unimog, o que nos levou a crer que se trataria duma mina telecomandada, o que seria numa novidade na actuação do inimigo.

Era o nosso segundo morto e pela 2.ª vez custeámos a urna própria (de chumbo) para que a família do nosso companheiro pudesse fazer-lhe um funeral condigno e “com o corpo presente”. Fizemos o mesmo também ao nosso 3.º morto, o malogrado soldado Nascimento.

Mais uma vez nestas situações a CCaç 675 foi ímpar; talvez tenham sido poucas as unidades - ou talvez nenhuma – a proceder deste modo... à maneira da CCaç 675.

Neste caso não temos certamente um ”suicida altruísta” mas na verdade o Mesquita – que a terra lhe seja leve – partiu voluntariamente para um “encontro marcado com a morte”.


PS1

O nosso capitão informou dolorosa e comovidamente os pais do Mesquita sobre o trágico acontecimento.

Eles também receberam, à posteriori, o tal “telegrama seco, brutal, frio, impessoal” a informar que a urna com os restos mortais de seu filho se encontrava no D.G.A. (Depósito Geral de Adidos) na Calçada da Ajuda, [em Lisboa]. 

[Na foto, à esquerda, o Mesquita, de camuflado, na Guiné, Binta, 1965].

Os familiares enlutados deslocam-se a Lisboa com a Agência Funerária; entram na Unidade Militar, o pai contacta o graduado de serviço, um ordenança é mandado indicar-lhe o local onde se encontra a urna. Havia várias; O soldado procura pelo nome e informa com toda clareza, sem pestanejar:

- É esta! Pode levar!

Mais “seco, brutal, frio, impessoal” nem o telegrama. Só faltou mandar embrulhar!

Devemos, apesar de tudo, ter em conta que se tratava dum soldado talvez pouco letrado, talvez mesmo analfabeto, sem formação nem preparação para tal e que não tinha vivido os horrores da guerra. Não terá sido ele de certeza o único culpado nem até talvez o maior culpado.

Na tropa, naquela época, todos tínhamos de ser “pau para toda a colher” – frequentemente seríamos pau tosco,... demasiado tosco até... Naquela época, na tropa de cá, quantos soldados haveria preparados para informar cabalmente e com humanidade os familiares dos nossos mortos em combate?!

Por cá, naquela época, quem se apercebia e sentia por dentro os pesadelos da guerra? – Os pais, os irmãos, os amigos íntimos dos combatentes e poucos mais! A guerra travava-se muito longe... lá noutro continente.

PS2

Os pais do Mesquita terão sofrido – sofreram mesmo
 – a bom sofrer aquela morte absurda (como absurdas são todas as mortes da guerra) e antecipada de seu filho. Eles não eram diferentes dos outros pais! Também eles eram de carne e osso e tinham dentro do peito um coração que sangrou... sangrou muito! Disso temos a certeza!

Naquela altura chegou a Famalicão um combatente vindo da Guiné (creio que seria um cabo) que tinha acabado a comissão. Como muitos combatentes, especialmente os da “guerra de Bissau” ou do “ar condicionado” sabiam tudo à cerca de tudo sem saberem nada de nada e para se impor aos concidadãos inventavam estórias por vezes sem sentido e sem ponta de verdade.

O Pai do Mesquita, profundamente fragilizado pela dor que o atormentava, teve o azar de encontrar (não sabemos como nem por quê) um autêntico charlatão que lhe fez uma narração rocambolesca, malévola e mentirosa dos factos. Inventou e deturpou! Chamando o boi pelo nome: “mentiroso sem escrúpulos”.

 [Na foto, à esquerda, o Fur Mil Mesquita, ao lado do Cap Tomé Pinto].

Aproveitou a depressão emocional daquele Pai com o coração desfeito para dar asas à sua imaginação. O cabo em questão terá eventualmente contactado com o Mesquita em Maio ou Junho de 1964 em Bissau.

Este hipotético encontro – se realmente aconteceu – ocorreu antes de irmos para o mato, ou seja seis meses antes da fatíidica morte do Mesquita. Assim sendo o tal cabo não podia saber o quer que fosse à cerca do que, em 28 de Dezembro de 1964, aconteceu nos arredores de Binta.

Este pobre pai acabrunhado e desesperado pela morte dum filho querido, de “mal com a vida” até pela maneira como foi tratado no DGA e por outros motivos que nos ultrapassam... Por tudo isto e talvez muito mais, o Pai do Mesquita, apesar de homem de letras, tornou-se terreno fértil para acreditar na mentira e tê-la-á publicado no Jornal de Famalicão de que era Director e creio que proprietário.

Até onde um coração desesperado, esfrangalhado nos pode conduzir!...

A verdade nua e crua dos factos terá no entanto ficado por contar aos amigos do nosso companheiro Mesquita.

Mais uma vez... que a terra lhe seja leve.

PS3

Em 1967, creio que em Abril, o companheiro e camarada JERO e o autor destas linhas deslocámo-nos a Valença para assistir ao casamento dum dos seus furrieis.

Por mero acaso (ou propositadamente?) pernoitámos em Famalicão. De manhã pedimos a um taxista que nos conduzisse ao cemitério. Não encontrámos a sepultura do Mesquita. 

[Foto à esquerda,  o nome do Mesquita, inscrito no mural dos mortos do Ultramar, Forte do Bom Sucesso, Belém , Lisboa].

Pedimos apoio ao taxista que logo nos informou que o Mesquita estava sepultado no cemitério novo e para lá nos levou. Lá estava o sepulcro do Mesquita, bem diferente – para melhor, muito melhor – das demais sepulturas. Lá encontrámos, cravada no mármore a lápide de bronze que os seus companheiros da CCaç 675 lá fizeram chegar, perpetuando a camaradagem e aquela amizade pura, simples, desinteressada que sempre nos uniu e, incorruptível, continua a enlaçar-nos.

Por motivos que não são aqui chamados, tínhamos dúvidas se íamos ou não visitar os pais do Mesquita. Por um lado entendíamos que devíamos visitá-los; por outro sentíamos que não tínhamos o direito de reabrir ou mesmo avivar aquela ferida no peito e na alma daqueles pais que sentiram o filho partir tão novo, tão na flor da idade.

Não estamos (raramente estamos) preparados psicologicamente para ver os nossos pais partir (e isso é o normal); mas um filho partir antes dos pais é a inversão total das leis da vida! Daí a dor ser mais intensa, mais marcante, mais profunda, mais feroz!

A atitude do taxista foi decisiva e nós fomos visitar os pais do nosso companheiro. A mãe apareceu logo. Toda de preto vestida, rosto carregado de pesar, olhos plenos de tristeza, baços, penetrantes. Já tinham decorrido mais de dois anos sobre a morte do filho!...

Conversámos durante breves instantes. A senhora aproximou-se de mim, olhou-me bem por dentro, poisou nos meus ombros as suas mãos brancas de cera, pesadas como chumbo e disparou:

- O senhor vai responder-me com toda a verdade sobre o que vou perguntar-lhe?

Respondi afirmativamente e ela perguntou de chofre, ansiando pela resposta:

- Era o meu filho que vinha naquela urna?

Olhos nos olhos respondi sem vacilar (por quê vacilar se ia transmitir a mais pura das verdades?!) tentando levar um pouco de paz e tranquilidade àquela mãe desesperada, destroçada pela morte do seu filho e a dúvida que lhe mordia na alma.

- Pode ter a certeza absoluta que era o corpo do seu filho que vinha naquela urna; não podia haver troca!

- Mas morreram muitos juntamente com o meu filho! (versão do tal informador).

- Mesmo que assim fosse não podia haver troca; mas felizmente e infelizmente só morreu o seu filho; foi o nosso segundo morto naquele ano; houve também três feridos graves, é certo, e alguns feridos ligeiros mas só um morto.

- Fico-lhe eternamente grata porque me tirou um tremendo peso de cima! Todos os dias tenho ido rezar junto daquela sepultura mas essa dúvida terrível atordoava-me, dilacerava-me a alma; agora sei que vou rezar junto do meu filho pois fiquei com a certeza que ele está ali.

Houve mais umas palavras de circunstância e... apareceu o pai do Mesquita com ar de pessoa mais velha, acabrunhado, triste, cheio de dor de alma, parecia ter ouvido a nossa conversa. A dor pela morte do filho e a doença não perdoavam; cremos que sofria da doença de Parkinson, em estado bastante adiantado. Pouco falou ou nada para além dos cumprimentos. Pelo menos nada recordo... já lá vão 42 anos!

A nossa missão estava cumprida e o nosso dever também. Despedimo-nos e retomámos a viagem para Valença onde chegámos a meio do almoço mas satisfeitos connosco.

PS4

Desde Abril de 1974 trabalho no Hotel Dom Carlos Park em Lisboa – passe a publicidade.

Um dia, em meados da década de 80, ouvi um recepcionista dizer que ia chegar ao hotel o Eng. Vilhena Mesquita. O nome era muito familiar; era impossível não ser parente próximo do nosso Mesquita.

Perguntei pela sua naturalidade mas só sabiam que era do Norte e tinha escritório em Paris. Pedi que me avisassem, logo que chegasse.

Quando o vi, tremi, fiquei atónito, estupefacto... parecia que estava ali à minha frente o Álvaro Mesquita; era apenas um irmão mais novo mas muito, muito parecido.

Apresentei-me, perguntei pelos pais - um deles, creio que a mãe, ainda era vivo – sabia que os tínhamos visitado. Os pais iam frequentemente visitá-lo em Espanha (Galiza) onde ele se deslocava vindo de Paris.

Depois duma longa conversa sobre a CCaç 675 (como não podia deixar de ser) contou-me as peripécias da sua curta passagem pela tropa.

A meio da recruta fez um requerimento a pedir para não ser mobilizado porque o seu irmão falecera na Guiné! Requerimento indeferido! O Mesquita deu o “salto”; “aterrou” em Paris; ali fundou uma empresa de construção civil, já de boa dimensão àquela data.

Após a revolução dita dos cravos vinha a Portugal com certa assiduidade. Casou com uma sobrinha do ex-ministro Bettencourt Rodrigues, o tal que indeferiu o requerimento.

A vida dá cada volta!...

Lisboa, Novembro de 2009
Belmiro Tavares (**)

[Fixação / revisão de texto / título: L.G.]

2. Comentário L.G.:

A jóia para ingresso no nosso clube são 2 fotos + 1 história... o Camarada Belmiro é homem de boas contas, da velha cepa lusitana, não quis ficar a dever-nos nada e vai daí manda-nos logo à cabeça quatro histórias. Nem mais: PS 1, PS 2, PS 3, PS 4... E que histórias! Daquelas que eu gosto, com MURAL AO FUNDO!!! (Porque daquelas de MORAL AO FUNDO, estamos nós cheios e saturados, entram-nos pelos olhos da cara adentro todos os dias!).

A fama da tua generosidade e camaradagem (os Kamaradas tratam-se por tu, já é altura do Tenente Tavares mandar o Sargento Oliveira pôr-se à vontade, afinal de contas Binta, Sambuiá, e outros topónimos que queriam dizer guerra ficaram para trás, para a História, há quase meio século!), essa fama, dizia, embora vinda de longe, condiz com a personagem que eu conheci há dias e que o JERO corrobora, não é "show off", não senhor...

Apesar de teres agora um saldo de três histórias a teu favor, podes continuar a mandar mais e a deliciar-nos com a tua escrita. O teu talento literário também me surpreendeu. E não imaginas o prazer que me dá encontrar camaradas (com ou sem K) que sabem contar uma boa história.

Como me dizia há tempos um velho soldado de Contuboel, "os Kamarada pode ter perdido os guerra, mas nada nem ninguém vai impedir ele de contar tua história. Deixa História com H grandi p'ró sinhô Historiador encartado".

3. Comentário (posterior) do JERO:

Comandante Luís

No seguimento do texto em referência (enviado por e-mail de 24/11) e também de acordo com telefonema de hoje do Belmiro Tavares, remeto em anexo 4 fotos. Farás o favor de escolheres as que achares melhores, tendo eu a noção que não são famosas.

Tenho uma foto do Unimog destruído pela mina mas, pensando na família do Mesquita, achei por bem não a incluir.

Fico ás ordens.
Grande abraço do JERO


PS - À data da sua morte o Mesquita era talvez o amigo mais 'próximo' que eu tinha na Companhia.

Estava no aquartelamento quando se deu o rebentamento [da mina] que lhe causou a morte. Não me deixaram ver seu corpo. Do mais que se passou desse dia não consigo recordar nada. É uma 'branca' completa na minha cabeça.

Mecanismos de defesa da "carola", digo eu.Conto ir em breve a V.N.Famalicão conhecer a sua irmã, Teresa Mesquita, e um sobrinho que me dizem ser a cara chapada do meu amigo Álvaro Vilhena Mesquita. As malhas que a vida tece...
.

_______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 17 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5121: Comentários que merecem ser postes (9): A morte dos nossos camaradas deixou marcas (Luís Graça/JERO)

(...) Gestos como o do Belmiro Tavares da tua história também nos sensiblizam e enobrecem (não já como portugueses, simplesmente como homens)... E as cartas que o Belmiro e tantos outros graduados, anónimos, mandaram aos pais dos nossos camaradas mortos (em combate, mas também por acidente e doença) deviam poder chegar ao nosso conhecimento, deviam ser ser conhecidas e preservadas, deviam figurar no futuro museu da guerra colonial...

São documentos muitos íntimos guardados ainda pelas famílias (?)... Quantas cartas dessas terão sido escritas? Quantas poderão ainda chegar até nós, digitalizadas ou transcritas para suporte digital? Ou ao Arquivo Histórico-Militar, os originais?

Cartas (como a do Belmiro Tavares escrita aos pais do malogrado Nascimento) ajudaram, seguramente, a fazer o luto, a humanizar a morte, a suportar a perda irreparável que era a morte de um filho na flor da vida, e para mais a milhares de quilómetros de distância, numa terra estranha...

Estas cartas, de consolo, de solidariedade, de compaixão, escritas por camaradas nossos às famílias em luto, constrastavam com o seco, brutal, frio, impessoal, telegrama, remetido pelos competentes serviços do Exército... (Mas era assim, julgo que era assim, que se comunicava, naquele tempo, a funesta notícia às famílias... Poderia ter sido de outra maneira? Sem dúvida, deveria ter sido de outra maneira...). (...)

(**) Vd. poste de 1 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5188: Tabanca Grande (184): Belmiro Tavares, ex-Alf Mil, CCAÇ 675 (Binta, 1964/65)

(...) Caríssimo Belmiro: Tu entraste, com todo o direito e toda a naturalidade pela nossa Tabanca Grande adentro, em teres precisado de pedir licença ninguém... Desde 1967 (!) tu fazes, abnegada, persistente, generosa, anualmente, essa tremenda tarefa de congregar a rapaziada da Guiné, da tua querida CCAÇ 675. O teu exemplo merece ser dado a conhecer. Mas ninguém melhor que o nosso já muito querido JERO para falar sobre ti, com aquele jeito doce, quase conventual, com aquele brilhozinho nos olhos, que ele põe quando fala dos amigos do peito. Da nossa parte, da minha parte, do Virgínio, do Carlos e do Eduardo, vai aquele abraço de boas vindas. Senta-te, a Tabanca é tua. Ficas a saber que a tua presença muito nos honra. Em Dia de Todos os Santos, és o São Belmiro (Tavares, porque há outro, o Vaqueiro), és o nº 380, e estás apresentado à Cristandade. (...)

8 comentários:

Anónimo disse...

Grande história de humanismo e de camaradagem nos foi transmitida nestes textos pelo ex-Alferes Belmiro Tavares.
Venho acrescentar que um Dignissimo Professor com o nome de José Carlos Vilhena Mesquita, natural de Vila N. Famalicão, é professor na Faculdade de Economia na Universidade do Algarve.

Os meus cumprimentos,

Conceição

Anónimo disse...

Caro Belmiro Tavares,

Obrigado e ao Gero também.
É com certeza a verdade dos acontecimentos, que fazem a verdadeira História da guerra na Guiné.
São depoimentos destes que fazem esta Tabanca Grande.
Na minha C.CAÇ. 763 em Cufar, também foi cumprido o compromiço assumido por toda a Companhia.
Os nossos mortos, foram colocados nas suas Terras, com a participação de todos, em conformidade com o grau de remuneração de cada um,desde o Comandante até ao mais simples soldado.
Repetindo as palavras do Belmiro, que a todos a terra seja leve.

Que Deus os tenha em bom lugar.

Do Tamanho do Cumbijã o velho abraço.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Ressalvo erro "Compromisso" e não compromiço, no comentário anterior.
Deculpem! Só rever depois de enviar, dá nestes disparates

Mário Fitas

Luís Graça disse...

Em bom português nos entendemos, tugas, guinéus, caboverdianos, beirões do Geba, estremenhos do Corubal, algarvios do Cacheu, ribatejanos do Gabu, minhotos do Oio, transmontanos do Boé e... alentejanos do Cumbijã...

Anónimo disse...

Oh Luís!

Reparaste que com o meu deslize, chegaste à coisa mais linda deste Mundo? Irmãos! É verdade!
Globalizar! Para mim é bonito.
Coisa mais linda que a Globalização do Amor e Amizade entre os Humanos? Não!... Não há.
Porquê? Andamos com guerras aqui na Nossa Tabanca, por causa da "Condição Humana"! AH meu velho CAMÕES como tu sabias falar da fraqueza e vaidades humanas.

Bonito!
Deixem-se de Mangericos e Mangerona!

Estamos em extinção, não tenham dúvidas. Façam as contas médias, e verificarão que não vale a pena machucarmo-nos.

Tenham a paciência de há quarenta anos, e aturem-se.

Obrigado Luis!

Vai! Para toda a Tabanca, o velho Alfa Bravo do tamanho daquele rio, tão comprido. CUMBIJÃ.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Mario Fitas

Pela minha parte agradeço-te esse abraço e retribuo-to.

Por vezes devemos contar até dez...até cem... até mil para nos aturarmos!!! Mais do que mil,não...ainda estamos vivos!

Um abraço para ti e outro para todos

Luis Faria

Anónimo disse...

Belmiro

Uma estória que fala de outa parte da nossa Guerra!

A frieza oficial!

O calor humano tantas e tantas vezes.

Um abraço
Luis Faria

Anónimo disse...

Um relato, humano, sensivel, que

toca bem " Lá no fundo ..."

Um abraço, do,

Jorge Rosales