sábado, 28 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5360: Estórias avulsas (18): “O trinta putas” (Armandino Alves)


1. Em 22 de Novembro de 2009, recebemos uma divertida estória do nosso Camarada Armandino Alves, que foi 1.º Cabo Auxilitar de Enfermagem na CCAÇ 1589 (Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68) e que passamos a transcrever:


Camaradas,

Vou-vos contar uma estória, que não presenciei, mas que ainda hoje, durante os convívios da nossa companhia, se recorda com grande diversão.

Nos princípios de 1967, já a minha companhia estava em Fá Mandinga, quando recebeu ordem para fazer uma batida, a uma certa área, por suspeitas de movimentação de tropas IN. Lá saíram mato fora e, depois de muito andarem, o capitão pediu um voluntário para carregar o rádio AN\PRC 10, que era bastante pesado.

Logo um soldado se ofereceu. Era o nosso apontador do morteiro 60 mm, conhecido pelo “trinta putas” (pois quando a pontaria dele não era a melhor, costumava dizer “Com trinta putas não acertei.”).

Ora o rádio tinha uma antena, que era uma fita de aço vertical, igual á das fitas métricas, esverdeada e que na passagem pelas ramagens se vergava e depois de recolhida voltava à sua posição normal.

Durante o percurso da batida tinham que atravessar um rio (não faço a mínima ideia do seu nome), que se processava por cima de pedras submersas, mas que possibilitavam manter o tronco fora de água e, portanto, não molhar as armas.

Por aí foram o capitão e os outros camaradas.

O nosso “trinta putas” porque estava carregado com o rádio e nunca mais chegava a vez dele, não esteve com meias medidas e meteu-se a atravessar o rio a vau e, como é de prever, começou a desaparecer, ficando submerso, pois o declive era grande, até se ver apenas a ponta superior da antena.

Toda a gente se pôs a gritar e o capitão rapidamente descalçou as botas e atirou-se ao rio, para o resgatar. Outros camaradas que sabiam nadar fizeram o mesmo e lá conseguiram que o homem viesse à tona da água.

Este “trinta putas” não sabia ler uma letra do tamanho da Basílica da Estrela, mas como apontador de morteiro 60 mm, era difícil errar uma granada.

Passou à “peluda” com a 4ª classe.

Mais tarde apareceu um novo rádio nas NT, conhecido na gíria por Racal, que era mais leve e mais bonito que o da nossa companhia.

Não tivemos direito a nenhum.

Assim se viu como um voluntariado poderia ter acabado numa tragédia, por mera estupidez do seu protagonista.

Abraço,
Armandino Alves
1º Cabo Aux Enf CCAÇ 1589
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:


Sem comentários: