Os comentários à volta da tragédia de Fajonquito e as informações neles contidas reavivaram a minha memória trazendo de volta alguns elementos interessantes. Lembro-me de ter comido (ao jantar?), no refeitório nesse dia de Páscoa (2 de Abril 1972) ou na véspera, um prato de arroz doce. Era atípico e inabitual entre nós, parecia mesmo uma provocação dos cozinheiros. Eu e os demais colegas, todos rafeiros experimentados, não tinhamos apreciado aquele mescla de arroz branco com açúcar, puààh...E mais, tinham-nos dito que era um dia de festa.Agora sei que foi num dia de Páscoa.
Depois do "acidente", ou melhor, do homicidio, a versão que circulou e ficou até hoje entre a população nativa é bem diferente daquela que estou a ler agora na maior parte dos comentários. Pela versão que prevaleceu entre nós, alegadamente, o Soldado Almeida estava revoltado por não poder voltar à sua terra após várias comissões de serviço, em virtude de um castigo a que estava sujeito. Tinha decidido acabar com a sua vida e, com ele, também, a do comandante da companhia. Claro que isto faz parte dos rumores que circularam, na ausência de informacoes oficiais, na altura.
Quero dizer a quem me quiser ouvir,e isto por minha conta, que o Almeida era um soldado "profissional", muito aguerrido, que dificilmente poderia levar uma vida civil pacata no meio indígena ou gerindo uma lojeca ou um restaurante para servir a malta europeia numa cidade qualquer da Guiné. O Almeida não era um soldado vulgar e via-se claramante que não se tinha integrado na companhia dos restantes soldados milicianos (sic) pelos quais ele nutria muita pouca consideração e/ou respeito.Tão pouco se podia integrar no meio dos pretos embora se identificasse com eles.
Penso que, antes de mais, o nosso amigo Ameida (ele era de facto um amigo e defensor das crianças que frequentavam o aquartelamento: ai de quem se atrevesse a fazer mal a uma crianca na sua presença!) deve ter sido mais uma das inúmeras vitimas daquela guerra terrivel.
Cherno AB (Chico de Fajonquito)
[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
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Nota de L.G.:
(*) 6 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5938: A tragédia de Fajonquito ou as amêndoas, vermelhas de sangue, do domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972 (José Cortes / Luís Graça
6 comentários:
Meu caro Cherno e demais camaradas que já escreveram sobre essa tragédia.
A versão do Cherno é a que se aproxima do que eu ouvi na altura, pois estava no Xime, quando a coluna chegou com os quatro caixões.
De facto o que circulou sobre o caracter intempestivo do Almeida, bem como as várias comissões que ele já tinha feito. Situação agravada após castigo que prolongaria a actual ,teria sido a causa da sua atitude nessa tragédia.
A avaliação psicológica dos militares em campanha era coisa que se existia era pontual.
Depois resolvia-se a situação com um "morreram pela Pátria"
Um abraço
Juvenal Amado
Caros camaradas,
O número mecanográfico do Almeida termina em 68 e foi mobilizado pelo RI5. Foi, portanto, incorporado em 68 (com os furriéis e alferes nem sempre isto acontecia - o meu número mecanográfico acaba em 66 - inspecção militar - e só fui para o CISMI em 68). Estaria, quando muito, numa segunda comissão. Mas não me parece que em Abril de 72 pudesse estar no fim da comissão. Mesmo que tenha feito a recruta logo no primeiro turno de 68, só em Junho estaria "pronto". Considerando mesmo que imediatamente fora mobilizado, em ou Julho de 70 teria acabado a 1.ª comissão. E começava imediatamente a 2.ª comissão, de tal modo que,logo no início de Abril já brigava com o capitão porque queria ficar na Guiné ou, na outra versão, se queria vir embora?
Um abraço,
Carlos Cordeiro
Não sei nada de justiça militar, mas não me parece crível, à luz do RDM, que alguém pudesse apanhar uma "porrada" desse tipo: fazer outra comissão, "por castigo"... Quando muito, apanhava prisão e ia parar unma presídio militar...
O José Bebiano, que sei que vive em Moura (onde foi professor de educação física, se não me engano), poderá vir a esclarecer-nos este mistério. O Almeida, natural de Portel, era da sua companhia.
Luis Graça
Não sei nada de justiça militar, mas não me parece crível, à luz do RDM, que alguém pudesse apanhar uma "porrada" desse tipo: fazer outra comissão, "por castigo"... Quando muito, apanhava prisão e ia parar unma presídio militar...
O José Bebiano, que sei que vive em Moura (onde foi professor de educação física, se não me engano), poderá vir a esclarecer-nos este mistério. O Almeida, natural de Portel, era da sua companhia.
Luis Graça
Nenhuma das versões me parece convincente.As "porradas" não
tinham esse efeito.O que podia
acontecer era não regressar nem
passar à Disponibilidade enquanto
houvesse um Processo pendente.
Ficavam por Bissau.Tal aconteceu
ao Alf.Correia meu antecessor em
Missirá.Também não existia nenhuma
proibição de permanecer na Guiné,
como civil.Por exemplo o Furriel
Tavares,que esteve comigo em Fá,
ficou.
Jorge Cabral
+
Nenhuma das versões me parece convincente.As "porradas" não
tinham esse efeito.O que podia
acontecer era não regressar nem
passar à Disponibilidade enquanto
houvesse um Processo pendente.
Ficavam por Bissau.Tal aconteceu
ao Alf.Correia meu antecessor em
Missirá.Também não existia nenhuma
proibição de permanecer na Guiné,
como civil.Por exemplo o Furriel
Tavares,que esteve comigo em Fá,
ficou.
Jorge Cabral
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