segunda-feira, 12 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6147: O Spínola que eu conheci (7): Spínola na Guiné: Histórias que se contam, Cor Carlos Alexandre de Morais (Mário Beja Santos)

1. O nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), enviou-nos, com data de 12 de Abril de 2010, a seguinte mensagem:
Queridos amigos,
Trata-se de histórias contadas por alguém que privou directamente com Spínola.
Acho que vale a pena conhecê-las:

Spínola na Guiné: 
Histórias que se contam

O coronel Carlos Alexandre de Morais, amigo e antigo colaborador de Spínola na Guiné, resolveu descrever um repertório de factos que, em seu entender, possam ajudar a compreender a personalidade do controverso cabo-de-guerra e político (António de Spínola, o Homem, por Carlos Alexandre de Morais, Editorial Estampa, 2007).
O falecido coronel Carlos Morais refere que Spínola se pautava por uma determinação inabalável, era dotado de uma enorme coragem física e moral, tinha temperamento difícil e sabia motivar os seus colaboradores devido às qualidades impares de liderança.
Acrescenta que Spínola sabia distinguir com rapidez os aspectos importantes dos anódinos, refutando energicamente os aspectos secundários de qualquer questão.
Impulsivo, arrebatado, perfeccionista, meticuloso, era acima de tudo um homem de acção.
Vivia preocupado com a saúde, sempre a fugir ao espectro do excesso de peso (por causa do hipismo), não ia a espectáculos nocturnos ao ar livre, tal era o medo de se constipar.
Entrando directamente na comissão de serviço na Guiné, coube ao coronel Carlos Morais relacionar-se regularmente com o comandante-chefe devido a duas matérias tidas por extremamente sensíveis por Spínola: organização dos processos de condecoração e ao bem-estar das tropas.
Observa o extremo cuidado com que Spínola lia todos os dossiês para a atribuição de condecorações.
Quanto aos documentos que tinham a ver com problemas dos militares, o coronel Carlos Morais observa que Spínola era dotado de uma incrível capacidade para atender a detalhes que envolvessem situações familiares.
E conta a história de a mãe de um alferes falecido em combate que insistia vir à Guiné conhecer o local em que combateu o filho.
É uma história comovente em que o general teve um comportamento de grande afabilidade com a mãe enlutada.
As reuniões diárias com o general eram, segundo o coronel Carlos Morais, um espectáculo digno de se ver e ouvir: uma sala de operações coberta de mapas onde não entrava a luz do dia, com um calor sufocante já que o comandante-chefe recusava que o ar condicionado estivesse em funcionamento.
Competia, ao tempo, ao major Firmino Miguel, referir as acções das nossas tropas nas últimas 24 horas, bem como as do inimigo. Spínola estava permanentemente a interromper e a pedir esclarecimentos.
E conta num episódio elucidativo: 

“Em dada altura de um briefing, Firmino Miguel assinalou uma emboscada sofrida pelas nossas tropas em determinado local.
O general interrompeu, fez uma cara de dúvida, franziu o nariz e pediu a repetição do que ouvira.
Firmino Miguel, que era extremamente escrupuloso, no final da intervenção foi ao seu gabinete para se certificar do que tinha dito, e constatou que, de facto, a localização que indicara para a emboscada não estava correcta.
Voltou à sala de operações e rectificou o lapso. Este facto veio confirmar mais uma vez o perfeito conhecimento que o general tinha do terreno”.
Spínola começava a trabalhar cerca das 5 da manhã, ainda na cama e com auxílio de uma prancheta escrevia os seus despachos a lápis e só mais tarde a tinta. Observado pelo coronel Carlos Morais, justificou-se que de que assim tinha a vantagem adicional de só despachar a tinta depois de fazer a sua higiene, assim tinha tempo para avaliar da justeza das suas decisões.
Era destemido e exibicionista, conta-se a história de que assistiu à instrução de milícias na área de Bafatá, iriam depois para aldeamentos em auto-defesa na região.
Na presença de jornalistas, e perante as hesitações dos milícias em provas de tiro a alvos colocados a pouca distância, Spínola dirigiu-se aos alvos que eram o objecto do fogo, colocando-se a cerca de um metro destes, e começou a dar em voz alta indicações de correcção de tiro.
O coronel Carlos Morais relata igualmente outros episódios: o que envolveu o massacre de três majores, um alferes e dois guias em 20 de Abril de 1970, na região de Jolmete.
Logo no regresso da deslocação local, Spínola encarregou o coronel Carlos Morais de organizar os processos de condecoração para os três majores; as reuniões, por vezes tumultuosas com os comandantes dos três ramos das Forças Armadas, a visita de um grupo de deputados da Assembleia Nacional em que num acidente de helicóptero morreram vários deputados e em que Spínola, depois de patentear consternação, não deixou de fazer o briefing, numa atitude que deu confiança aos seus subordinados.
Estas são algumas das histórias mencionadas por um coronel que não chegou a ver publicado o trabalho que dedicou ao seu amigo e superior.
Algumas dessas histórias aparecem agora reproduzidas na biografia de Spínola de autoria do historiador Luís Nuno Rodrigues, a que em breve nos referiremos. Um abraço,
Mário Santos
Alf Mil At Inf Cmdt do Pel Caç Nat 52 
_____________ 

Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em: 12 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6144: O Spínola que eu conheci (6): Depoimentos de Paulo Raposo e Luís Graça

1 comentário:

Unknown disse...

1. A psico do Spínola era mais do que conhecida. Conversa fiada.Pelo menos para alguns de nós. Exemplos ?
2. Essa de se colocar na posição de alvo e corrigir a pontaria de quem não sabia fazer tiro, é de morrer a rir. Como diria o outro, só contaram para você...
3. Não li mais nada porque as estórias devem ser reais ou então contadas como anedotas.
4. O Beja Santos não tem culpa. Mas o que é ceto é que preenche o blogue com tudo e mais alguma coisa que lhe aparece.
Mas há malta que já não entende porque os seus emails não são publicados e o B.S. aparece quási todos os dias. Censura dos editores ? Ou falta de tempo ?