1. O nosso Camarada Carlos Matos Gomes, Coronel Cav COMANDO na situação reserva, conhecido estudioso e analista da Guerra do Ultramar, investigador e também romancista e argumentista (autor de, entre outras obras, sob o pseudónimo "Carlos Vale Ferraz", do romance "Nó Cego", 1983), enviou-nos a seguinte mensagem, em 12 de Abril de 2010:
Olá Luís, um abraço para ti e para todos os ilustres tabanqueiros.
Como acontece com frequência e sempre com prazer e proveito, passei pelo blogue.
Como julgo ser interessante reflectir a propósito do que todos temos à nossa disposição nesta extraordinária casa de convívio e como modesto retribuição do muito que dela tenho recebido, junto envio um texto sobre o post P6144, relativo ao general Spínola. (*)
Guiné, Cantanhez, 1973
Julgo, com elevado grau de certeza, que esta fotografia é de Janeiro de 1973 e foi tirada em Caboxanque. O oficial em fundo, atrás de Spínola, no seu lado esquerdo, de boina, é o capitão de cavalaria Fernando Carvalho Bicho (já falecido).
Um pouco de história para enquadrar a foto, retirado da obra «Os Anos da Guerra Colonial» que eu e o Aniceto Afonso publicámos em 2009 no Correio da Manhã (Volumes 13 e 14).
Após Marcelo Caetano ter proibido Spínola de continuar os contactos com o presidente Senghor do Senegal, para encontrar uma solução política para a guerra (Maio 72), o general percebeu que nada mais lhe restava a não ser garantir a posse de um núcleo territorial que permitisse ao seu sucessor continuar a guerra.
Em Julho de 1972 ordenou, através da Directiva 10/72, a reocupação do Cubisseco, com a instalação dos Destacamentos de Fuzileiros Africanos 21 e 22, primeiro passo para a reocupação do Cantanhez. A reocupação desta península será determinada pela Directiva 23/72.
O conceito de manobra de Spínola era estabelecer a fronteira sul da Guiné no rio Cacine. (Um parêntesis para falar de Guileje: Spínola teria previsto retirar de Guileje e de Gadamael, mas por sua iniciativa e não por pressão do inimigo, o que seria sempre apresentado, como foi, como uma vitória do PAIGC – daí a sua insistência para a guarnição resistir e a sua frustração pela retirada).
Cacine poderia manter-se, ou não, para controlar a foz do rio.
Em Dezembro de 1972 foi lançada uma operação coordenada pelo COP 4 (recém constituído) e comandada pelo tenente-coronel páraquedista Araújo e Sá. Foram ocupados três destacamentos na margem do rio Cumbijã: Caboxanque, Cafine e Cadique.
Com esta manobra convencional, Spínola pretendia de criar no Cantanhez uma “zona principal de resistência” e aí controlar militarmente o Sul da Guiné.
O COP 4 ficou na dependência directa de Spínola e tinha as seguintes forças iniciais 2 companhias de Paras, 2 destacamentos de Fuzileiros, 4 companhias de Caçadores (CCaç 6, CCaç 4540, CCaç 4541,CCav 8352); 1 pelotão de Artilharia 14cm.
A zona de acção do COP 4 era definida pelo rio Cumbijã até Guileje e pelo rio Cacine, de Dideragabi até à foz (península do Cantanhez). A implantação do dispositivo foi efectuada entre 8 e 16 de Dezembro de 1972.
Em Janeiro de 1973 o general Costa Gomes deslocou-se à Guiné e foi visitar as tropas. (A foto é dessa visita) É curioso ler o relatório que Costa Gomes fez da situação da Guiné no seu regresso a Lisboa e datado de 22 de Janeiro de 1973:
“O crescente aumento da actividade inimiga e do seu potencial de combate e, ainda, o crescente apoio externo que vem recebendo, deixam antever o agravamento da situação militar; o aumento do potencial militar, quando encarado sob o ponto de vista das novas armas de que o inimigo dispõe já, ou que virá a dispor muito em breve, constituem indício seguro duma próxima subida de patamar na conduta da guerra”(…)
“O êxito da manobra de contrasubversão depende, no campo interno, das possibilidades de atribuição dos meios necessários para assegurar a continuidade, no mínimo ao ritmo actual do esforço socio-económico que está a ser desenvolvido” (…)
“Os militares do QP denotam vestígios de cansaço e quebra psicológica mais acentuados após cada comissão, sendo urgente medidas eficazes que se oponham a esta tendência e que garantam o rejuvenescimento”.
Um abraço amigo
Carlos Matos Gomes
Cor COMANDO Reserva
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Nota de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6152: O Spínola que eu conheci (9): Dia da inauguração da placa toponímica da Av. Marechal António de Spínola (Luís Dias)
2 comentários:
Fotos que fazem história!
Será que o elevado gau de certeza do sr. Coronel Matos Gomes não nos consegue dizer quem é o sr. Major de Infantaria que está ao lado esquerdo do sr. Capitão de Cavalaria Fernando Carvalho Bicho?
Fotos destas, devem ter elevado grau descritivo. Julgo de grande importância para o assunto em questão e para conhecimento de toda a tabanca.
Os melhores cumprimentos,
Mário Fitas
Caro Carlos
Mais uma vez os teus conhecimentos vêm engrandecer este espaço comum.
Esta viagem,do CEMGFA Costa Gomes, tinha em vista uma apreciação à situação na Guiné.
A solução apresentada, pelo menos no que consta em livros da autoria de Spinola, foi que os destacamentos junto à fronteira deveriam ser retraídos mais para o interior. Terá sido assim? Esta estratégia não iria provocar mais "áreas libertadas" como aconteceu no Boé?
Um abraço e, supunho, até logo no lançamento do livro do Amadu+Briote.
José Martins
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