Fotos: © César Dias (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Mansoa, 24 de Maio de 1973
Foi no tempo
Foi no tempo
em que o riso das crianças
era azul como o mar
que inventei no fundo dos teus olhos.
Foi no tempo
em que eras a princesa
habitando o meu castelo,
de pedra, vento e sol poente.
Foi no tempo
em que amanhecias luz dentro dos meus braços
e a tua boca desenhava espirais de fogo
nos meus lábios abertos à loucura.
Foi no tempo
em que eu colhia rosas na covas do teu rosto,
esvoaçávamos por pinhais, montes e rios,
e o teu corpo
povoava as searas onde o trigo cresce.
Foi no tempo
em que o teu ventre soluçava
em ondas rubras de alegria
e viajavas na fúria doce do meu sangue.
Hoje, a guerra,
uma lágrima quente enevoando os dias.
In: António Graça de Abreu - Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007.
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Nota do editor:
Último poste da série > 14 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9481: Blogpoesia (177): Dia de S. Valentim - E se de repente o comércio reinventasse o Amor? (Felismina Costa)
8 comentários:
Meu Caro Graça de Abreu!
Já aquele tempo, era passado?
Como a guerra envelhece um homem!
Ainda não tinham começado a viver e já sentiam, que tinha ficado para trás...o melhor tempo!
Muito bonito o poema, e... se pensarmos que foi escrito por um jovem de vinte anos, ainda atinge uma maior expressão.
Parabéns ao jovem que o escreveu!
Gostei muito.
Um abraço da
Felismina
Pode-se discordar sempre(!) contigo, em simples "notas de pé de página", quanto ás tais guerras militarmente não perdidas.Quanto aos teus poemas a conversa é outra.Aí...ficas a ganhar! Aquele abraço.
António!
Concordo com o J.Belo!
Neste campo, da poesia, da beleza e profundidade das palavras, da sensibilidade latente que emana delas(das palavras) aqui ganhas e ganharás sempre, aliás ganharemos todos, nós os tabanqueiros e os vindouros que nos ouçam ou leiam!.
Nos outros campos, no das guerras perdidas, ganhas, empatadas etc. etc....,perdemos todos, tu incluido!.
Um abraço camarigo
Francisco Godinho
Lindo!
Graça de Abreu no seu melhor e logo no dia dos namorados.
Um abraço.
Manuel Reis
António!
Conhecendo já alguma da tua poesia, porque tenho dois ou três dos teus livros, este belo poema já não me surpreende assim tanto, já o tinha lido, creio que no teu diário de guerra.
Os meus sinceros parabéns e um Grande abraço Amigo.
António Rodrigues.
Aí vamos meu amor,
nos lábios do sonho,
beijar os lírios de mar.
De mãos dadas,
enlaçar a ternura
num raio de luar.
Poema retirado do livro CHINA DE JADE do autor António Graça Abreu.
Aproveito para homenagear o autor e marcar este dia dos namorados da melhor forma.
Um abraço
Eu envio-te um ABRAÇO,
António da Graça Abreu.
Comungo das palavras por muitos aqui e agora ditas.
Mas quando escreveste isto não tinhas vinte...e que interessa isso?
o Juvenal envia um pequeno poema d´China de Jade. Igualmente lindo!
Ab T.
Que bom! Acho que este poema de namorados consegue congregar, a meu favor, diferentes sensibilidades bloguísticas.
Fui para a Guiné em 1972 por informação da PIDE que andava no meu encalço desde 1967. Está tudo no meu processo,PIDE/DGS, na Torre do Tombo.
Já tinha quase dois anos de tropa e 25 anos de vida. Regressei com 27 anos e concluí então o meu curso de Filologia Germânica, na Faculdade de Letras, cortado a meio pela tropa. Aos 30 anos parti para a China.
Este poema foi escrito com 26 anos,
mas só publiquei o meu primeiro livro de Poesia, China de Jade, em 1997, já com cinquenta anos. Depois vieram mais cinco livros de poesia, num total de quinze que já publiquei.
Obrigado pelas vossas palavras.
António Graça de Abreu
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