Meus caros camarigos
Embora saiba que nem todos partilhamos da mesma fé, mas como este texto me foi suscitado pela minha "estadia" na Guiné, aqui vo-lo envio.
http://queeaverdade.blogspot.com/2012/02/o-macareu.html
Julgo que dado o tema tratado não será de publicar na Tabanca Grande.
Um abraço sempre camarigo do
Joaquim Mexia Alves
2. No mesmo dia o nosso camarada Hélder Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), colaborador permanente no nosso Blogue, mandava-nos esta mensagem:
Caro camarigo Mexia Alves e restantes Ilustres
Diz o Mexia, em rodapé, que "dado o tema tratado", não será de publicar na Tabanca Grande....
Ora bem, já vi e li coisas mais afastadas do 'core business' do Blogue do que este texto/reflexão do Mexia.
É certo que se trata de evidenciar uma das três coisas que serão (ou deverão ser) 'tabu' nestas coisas de "conglomerados de grupos com pessoas de 'formação' diversa" e que são o "futebol, a política e a religião".
Pessoalmente não concordo com esses 'tabus' mas compreendo, porque a maioria das pessoas não discute ideias, pontos de vista ou propostas, mas sim procura impor os seus e nisso acabam sempre por distorcer o que poderia ser uma maior e melhor troca de opiniões: por exemplo, não discutem futebol mas sim os seus clubes; não discutem a política mas sim as suas preferências partidárias; não discutem a religião, no sentido da sua interacção com o homem mas sim na 'bondade' de cada um dos seus dogmas, sejam eles outras religiões, outras versões da mesma religião ou até a ausência de qualquer religião.
Neste caso concreto o Joaquim, homem assumidamente 'militante' da causa cristã, do catolicismo, e publicamente integrado no seu 'movimento carismático', procura mostrar-nos como a observação dos fenómenos da Natureza nos pode indicar a ideia de Deus. E faz tudo isso a partir do "macaréu", fenómeno bem conhecido por muitos de nós, por conhecimento directo (no meu caso 'apanhei-o' numa viagem na "Bor" do Xime para Bissau e bem que me assustei por alguns momentos), ou por conhecimento adquirido no Blogue. Portanto, a Guiné está bem patente nesta sua reflexão e acho que tem 'cabimento', independentemente das opiniões (que não me parece virem a ser fracturantes) que se possam vir a exteriorizar.
Abraços
Hélder Sousa
3. Segue-se a reflexão do camarada Mexia Alves, transcrito a partir do endereço por ele indicado:
"Que é a Verdade? - Página do nosso camarada Joaquim Mexia Alves
O MACARÉU
O facto de ter estado na guerra da Guiné, entre 1971 e 1973, é algo que, obviamente, vem muitas vezes ao meu pensamento.
Recentemente, estando em oração na igreja, veio à minha memória um fenómeno natural, a que assisti muitas vezes num destacamento militar nas margens do rio Geba, chamado Mato Cão, em que estive “aquartelado” durante cerca de 9 longos meses, e que é conhecido por macaréu.
O macaréu para explicar em palavras simples e concisas, é uma onda marítima, sobretudo nas marés mais cheias, que pela sua força, galga a corrente do rio, desde a sua foz em Bissau, até perto de Bafatá, já no interior da Guiné.
Este fenómeno acontece noutros rios, noutros lugares, como por exemplo no Brasil, e é muito curioso, pois podemos dizer que enquanto a onda marítima galga o rio e sobe por ele acima, o rio vai continuando a correr para a sua foz, por baixo da onda do macaréu.
Perguntei-me então o que tinha esta memória a ver com a oração que fazia?
Eis aquilo que fui reflectindo:
O rio corre sempre para o mar, como nós homens, acreditando ou não, “corremos” para o nosso encontro final com Deus.
O mar é uma imensidão, um “todo”, e a sua onda, portanto, tem um enorme poder.
O nosso Deus é o Todo, e o seu poder não tem limites.
A onda do mar, o macaréu, vence o rio, mas não o anula, pelo contrário o rio continua a correr para o mar em toda a sua “identidade”.
O amor e a vontade de Deus, (se o homem quiser), também vence o homem, mas não lhe retira a sua humanidade nem as características próprias de um ser individual e irrepetível, como o são todos os homens.
O macaréu muda o aspecto exterior do rio, torna-o maior, mais caudaloso.
O amor de Deus e a sua vontade, (aceites pelo homem), muda o homem no seu interior, que depois se reflecte na sua imagem exterior, no testemunho que dá como cristão e católico.
E também o torna mais activo, por força dos dons, dos talentos que Deus vai dando a cada um que O procura em «espírito e verdade».
Quando passa o macaréu o rio deixa de se ver, (embora saibamos que ele lá está), pois reflecte apenas a onda marítima que o domina.
O amor e a vontade de Deus, (conformados no homem), faz com que ele reflicta mais Deus do que a sua própria vontade, embora saibamos que é o homem que ali está em todo o seu ser.
O macaréu é muitas vezes aproveitado pelos barcos para subirem e descerem o rio, a fim de chegarem aos seus portos de destino.
O amor e a vontade de Deus, (testemunhado pelo homem), também leva outros homens ao encontro com Deus, que é o seu eterno porto de salvação.
A força do macaréu arranca por vezes árvores das margens do rio, e no seu regresso traz consigo muito lixo que o rio contém.
O amor e a vontade de Deus, (vividos pelo homem), também arranca dele o pecado, e limpa o que está mal e não presta na sua vida.
O macaréu em toda a sua força, dá uma nova vida ao rio, agitando as suas águas e fornecendo mais alimento aos animais que do rio vivem.
O amor e a vontade de Deus, (queridos pelo homem), renovam a sua vida, alimentando-o da Eucaristia, dando-lhe mais vida, e «vida em abundância»*.
Há, pelo menos, duas diferenças muito grandes, no entanto, nesta comparação, embora estas sejam “coisas” que não são comparáveis.
O macaréu impõe-se ao rio, quer o rio queira quer não.
O amor e a vontade de Deus nunca se impõem ao homem, pois quer precisar que o homem se abra por vontade própria a receber tudo o que Deus tem para lhe dar.
O macaréu é periódico e tem graduações de intensidade.
O amor e a vontade de Deus, são eternas, e a sua “dimensão” é o Todo de Deus, no Tudo que em nós quer fazer.
Senhor,
abre o meu coração ao teu amor e à tua vontade,
para que eu seja sempre um homem novo,
na plenitude da vida que amorosamente me queres dar.
Amen.
*Jo 10,10
Marinha Grande, 13 de Fevereiro de 2012
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 11 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9472: Humor de caserna (24): Um tiro no cu (Joaquim Mexia Alves)
Vd. último poste da série de 12 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9474: Blogoterapia (199): Obrigado, amigos da Tabanca Grande, por tanta partilha e afeto (João Graça)
13 comentários:
Belo Texto!
Abraço.
J.Cabral
Para além da sua sensibilidade humana,poder de observacäo,e não menos,religiosidade,a haver uma séria troca de ideias sobre o texto e a sua subjacente filosofia interpretativa,haverão quanto a mim dois "perigos".Cair-se em generalidades fáceis e incontroversas,por "diplomático-convenientes entre Amigos e Camaradas.Ou fortes e controversas, por baseadas em argumentos subjectivos da Fé.Não querendo com isto dizer que em ambos os casos possa faltar sinceridade.A haver um herético "Panteísmo Cristão",e um ainda mais herético"Panteísmo Católico",(para não referir o herético "Panteísmo Judaico" do tão Lusitano Espinoza),eu,humildemente,teria essa leitura do texto.Sabendo no entanto, não ser certamente esta a leitura do meu Amigo e autor. Um grande abraco.
Camarigo Mexia Alves
Não sei porque tinhas dúvidas?
Neste texto cheio de sinceridade, que eu bem conheço, extravasas as coordenadas da tua vida, bem como o teu relacionamento com os outros.
Tu escolhes um caminho que eu admiro pela dificuldade que o mesmo tem.
Não é fácil defender em público as nossas crenças e traçar uma linha de conduta, onde nos tornamos alvos fáceis. Qualquer boato, será sempre acompanhado de "e dizia ele que era isto ou aquilo"
A ideia de Deus será diferente para muitos de nós, tu e eu vemo--Lo em todas as coisas, se calhar não nos mesmos sítios.
O nosso problema nunca será com a raiz mas sim com os ramos que dela saíram.
“O rio corre sempre para o mar, como nós homens, acreditando ou não, “corremos” para o nosso encontro final com Deus.”
Pôr estas tuas palavras em dúvida, seria aceitar que os homens e mulheres que deram e dão a sua vida pelo o próximo, teriam exactamente o mesmo destino, que os praticantes das atrocidades que foram cometidas contra outros homens.
Meu caro Mexia, poderemos sempre discutir o que homens fizeram e fazem em Seu nome, mas nunca discutirei a Sua existência.
Um abraço
Ai! ai! ai! ai! ai! Esta "coisa" de até o macaréu servir de pretexto para nos repetir o que já estamos fartos de saber, já cansa.
Respeito o camínho que cada um escolhe, qualquer que ele seja,mas daí até usar-se a subtileza deste texto, neste espaço e com este tipo de mensagem, devia merecer do seu autor um pouco mais de pudor, ou não.
José Rodrigues
Uma pequena achega ao nosso camarada José Rodrigues.
O Joaquim Mexia Alves não escreveu este texto para o nosso Blogue. Mandou-o para nós, a título particular, depois de o publicar no seu Blogue, com a indicação de que não era para publicar na Tabanca Grande.
Um abraço
Carlos Vinhal
Poderia comentar este texto.
Mas nao..Simplesmente,obrigado camarigo Mexia
Assino por baixo o comentário do
Juvenal
Abraços
Meu caro Zé Martins Rodrigues:
Tenho que vir a terreiro defender (i) o autor do texto, o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, (ii) o nosso colaborador permanente, o conselheiro Hélder Sousa que nos sugeriu a sua publicação e – por fim, mas não menos importante - (iii) o Carlos Vinhal Vinhal, que editou o poste.
No nosso blogue não há delitos de opinião, concordemos ou não com as opiniões emitidas. Permito-me, todavia, discordar, não tanto do teu comentário no seu todo, como sobretudo da frase “daí até usar-se a subtileza deste texto, neste espaço e com este tipo de mensagem, devia merecer do seu autor um pouco mais de pudor, ou não (?)”… (Julgo que a frase deveria terminar com um ponto de interrogação).
Vamos então ao pudor: é sinónimo de sentimento de vergonha, constragimento, embaraço, pejo… Mas é também sentimento de recato, castidade, pudicícia, pundonor, pureza…
O Mexia Alves é crente, eu não sou. Também escreve poesia (ou textos poéticos), como eu e outros de nós…. E este texto, publicado (e muito bem) na série Blogoterapia, podia tê-lo sido na série Blogpoesia, escrito por um crente (ou até por um animista…). Para uns, o macaréu (comparado com o “o amor e a vontade de Deus”) pode inspirar um poema panteísta; para outros, terá leitura(s) mais teológica(s) cristã(s)... Para mim, é um belíssimo texto, de reflexão espiritual, a pretexto do fascinante fenómeno do macaréu, que tu e eu conhecemos bem (tu, talvez não tanto, uma vez que estavas no Xitole, se bem me lembro)...
Este blogue é também um blogue de partilha do pudor… já que falamos de “memórias e afetos”… E nessa medida a tua recomendação de “um pouco mais de pudor” só seria pertinente se o texto violasse abertamente as nossas regras bloguísticas… E viola ?
Cito o Hélder de Sousa: “É certo que se trata de evidenciar uma das três coisas que serão (ou deverão ser) 'tabu' nestas coisas de ‘conglomerados de grupos com pessoas de formação diversa’ e que são ‘o futebol, a política e a religião’.
“Pessoalmente não concordo com esses 'tabus' mas compreendo, porque a maioria das pessoas não discute ideias, pontos de vista ou propostas, mas sim procura impor os seus e nisso acabam sempre por distorcer o que poderia ser uma maior e melhor troca de opiniões: por exemplo, não discutem futebol mas sim os seus clubes; não discutem a política mas sim as suas preferências partidárias; não discutem a religião, no sentido da sua interacção com o homem mas sim na 'bondade' de cada um dos seus dogmas, sejam eles outras religiões, outras versões da mesma religião ou até a ausência de qualquer religião”.
Política, religião e futebol têm que ser entendidos nesta aceção, redutora, supracitada: Política partitária, proselitismo, clubismo... Como há tempos me dizia um amigo, na brincadeira, “mas isso (política, religião e futebol…) é 90% da nossa vida”… Como quem diz: como é que vocês conseguem manter um blogue onde não se fala (ou não se deve falar) de “política, religião e futebol” ?...
Dito isto, meu caro Zé Martins Rodrigues, entendo o teu comentário como uma achega (importante, crítica mas construtiva) para manter as “fronteiras de identidade” do nosso blogue…
Um Alfa Bravo, Luís Graça
Camarigo Joaquim Mexia Alves
Já tinha lido este teu texto no FB e achei-o excelente na sua humanidade e na observação de fenómenos da natureza e na apreensão que se tem de Deus.
O macaréu fui vê-lo de propósito ao Xime, quando estive colocado em Bambadinca, como comandante da companhia de instrução de milícias. A Deus sinto-o no meu coração e no meu pensamento e porque não em pequenos pormenores das nossas vidas.
Obrigado Joaquim pelas tuas palavras e pela fé que manifestas.
Um abraço.
Luís Dias
Joaquim Amigo
Tempo não tenho e gostava de o ter. É bom sinal...
Sabes, meu caro Joaquim M A., em feiras do Alentejo de minha infância vendiam um perfume a que davam o nome Tabu. Terrível ... usado... Ia por aí fora...Li o teu texto fora do blog, agora corri olhos por ele e comentários...
É muito difícil aqui não falar em religião, politica etc...(o Benfica perdeu...bolas. perdão por ter falado de futebol...)vês??? é impossível...felizmente escrevemo-nos...em liberdade e diferença...
O que eu faço é enviar-te um abraço fraterno,camarigo e mais não digo. Para quê e porquê?
Mantenhamos esta união e amizade e respeitemos as nossas salutares divergências no modo como na vida estamos.
Abraço-te a ti e a todos. T.
Faço minhas as palavras do alfero Cabral.
Um grande abraço
manuelmaia
Escreveu, no nosso Facebook, o novo membro da tAbanca Grande, João Martins:
"Sendo profundamente religioso, acredito que, face aos perigos que corri no TO, por lá teria ficado se não fosse a protecção divina. É esta certeza que trago comigo, e que, infelizmente, outros não sentem, que me leva a sentir a presença de Deus no texto que acabei de ler. Bem haja o seu autor a quem felicito por estas suas palavras e a quem endereço as maiores felicidades. Obrigado. João José Alves Martins"
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Escreveu, no nosso Facebook, o novo membro da tAbanca Grande, João Martins:
"Sendo profundamente religioso, acredito que, face aos perigos que corri no TO, por lá teria ficado se não fosse a protecção divina. É esta certeza que trago comigo, e que, infelizmente, outros não sentem, que me leva a sentir a presença de Deus no texto que acabei de ler. Bem haja o seu autor a quem felicito por estas suas palavras e a quem endereço as maiores felicidades. Obrigado. João José Alves Martins"
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