sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9501: (Ex)citações (175): Retalhos de uma guerra - BCaç 4512/72 - Farim/Guidage (8 e 9 de Maio de 1973) (Amílcar Carreira)

1. Ainda a propósito do dossiê Guidaje 1973, recebemos mais esta mensagem do nosso camarada Amílcar Carreira* (ex-Fur Mil Inf Op da CCS/BCAÇ 4512, Farim, 1972/74), com data de 14 de Fevereiro de 2012:


RETALHOS DE UMA GUERRA

GUIDAGE - Adenda 1 Fevereiro de 2012**

Permiti-me chamar a atenção para a necessidade dos camaradas, ex-combatentes, serem verdadeiros nos seus relatos de guerra, como exemplo referi as discrepâncias sentidas nos diversos relatos contando o sucedido com a 1ª coluna de Farim/Guidage, em Maio de 1973, acabei por ser chamado de mentiroso e acariciado com outros mimos…
Respeito a memória dos que tombaram e reconheço o empenho, o sacrifício e a lealdade daqueles que estiveram em todas as frente de combate e por maioria de razão os de Guidage. No entanto não existe como alterar os factos.
Não tenho qualquer dúvida de que a operação Guidage resultou numa vitória para as NT, apesar de muito, muito sangue, suor e lágrimas derramados, porque foi garantido o acesso terrestre com o resto do território e o quartel foi reabastecido de munições e víveres. Espero que ninguém tenha dúvidas nisso.

Agora os factos:

A OP (ordem de operações), a OB (ordem de batalha), ou a acção militar, designem-na como quiserem determinava: o quartel de Farim faria chegar, via terrestre, à guarnição de Guidage munições por esta se encontrar em estado crítico, devido ao desgaste que tinha estado sujeita, provocado pelos frequentes ataques e flagelações do IN.
Para segurança e escolta das munições e viaturas foram escalados grupos de combate pertencentes à Ccaç 14 e à 1ª compª do BCaç 4512/72.
(Anotação minha: esta foi a 1ª coluna.)


Descrição/relatório sobre a coluna a Guidage
(suportada por mensagens militares)

A coluna que seguia na picada Binta/Guidage, no dia 8/5/1973, ao final da tarde/noite, sofreu uma emboscada do IN que impediu a sua progressão. As NT pernoitaram junto às viaturas. Ao raiar do dia, 9/5, as hostilidades recomeçam. As NT tinham caído numa violenta emboscada do IN. Passado algum tempo são pedidos reforços para as NT. Decorre o combate e é pedido mais ajuda pois referiam que alguns elementos IN estavam em cima das viaturas a roubar o seu conteúdo. Mais tarde, ainda na manhã desse dia, por determinação do QG, de Bissau, os aviões, da Força Aérea Portuguesa, bombardeiam e destroem as nossas viaturas e seu conteúdo (munições). As NT envolvidas nesta acção militar regressam a Binta. Dos confrontos as NT sofrem 4 mortos e muitos feridos, entre graves e ligeiros e o IN sofre 12 mortos e um número indeterminado de feridos, mas muitos.
(Anotação minha: esta foi a 1ª coluna.)
Conclusão
… (convido que cada ex-combatente a faça de uma forma desapaixonada e mais neutra possível)
Conclusão -1 (minha)
As munições não só não chegaram a Guidage como tiveram de ser destruídas. A coluna não chegou a Guidage porque o IN não permitiu, logo o objectivo da OP não foi conseguido.

Quem tiver duvidas consulte as mensagens militares trocadas entre a frente de combate, o Comando do BCaç 4512/72, em Farim, o QG em Bissau e as respostas que receberam. Tudo estava lá registado. Elas devem existir em qualquer parte, ou na sua falta, deve existir um documento credível que relate o que aconteceu.
Os camaradas ex-combatentes têm o direito de defender a sua posição, mas permitam-me que lhes diga que é exactamente esse direito que estou a exercer e estribado em documentos militares oficiais.
Demonstrem, com documentos, ou outros, como os acontecimentos referidos não foram estes. Deixemo-nos de generalizações. A OP não obteve êxito. Não se pode confundir o fundamental com o que é acessório.

Ninguém mais do que eu gostaria de poder dizer que os factos foram outros, mas foram estes.

Um abraço
Amílcar
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9425: O Nosso Livro de Visitas (125): Amílcar, ex-Fur Mil Inf Op da CCS/BCAÇ 4512 (Farim, 1972/74)

(**) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9433: (Ex)citações (172): Ainda o dossiê Guidaje - Maio de 1973 (Manuel Marinho / Amílcar Carreira)

Vd. último poste da série de 9 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9465: (Ex)citações (174): A mágoa de, no meu País, os bravos, os vivos e os mortos, não terem o reconhecimento e o respeito do seu sacrifício, que merecem (Rui Dias Moreira)

8 comentários:

Anónimo disse...

Caro Amílcar
Mais uma vez sou obrigado a responder-te, por inúmeras contradições e algumas insinuações venenosas que fazes a propósito da 1ª coluna para Guidaje.
No teu post de apresentação dizias

“Não estive na frente de combate ou em Guidage, só posso referir o que os camaradas diziam sobre a situação explosiva que se vivia ali e o clima vivido na sede de sector.”

Pois é, arriscas demasiado a adivinhar como foi, porque falas de ouvir dizer…


“Permiti-me chamar a atenção para a necessidade dos camaradas, ex-combatentes, serem verdadeiros nos seus relatos de guerra, como exemplo referi as discrepâncias sentidas nos diversos relatos contando o sucedido com a 1ª coluna de Farim/Guidage, em Maio de 1973, acabei por ser chamado de mentiroso e acariciado com outros mimos…”

Poderei não ser capaz de contar as dores de todos os meus camaradas que estiveram comigo e foram feridos, com gravidade e os que ficaram com mazelas para toda a vida, eu nesse dia também deixei sangue na picada, mas uma coisa te garanto, eles são vivos e querem apenas que os respeitem, e eu quanto puder não permitirei que façam o branqueamento da guerra onde eu estive.

Cada um com as suas guerras, porque na Guiné parece ter havido mais do que uma…..

Será que entendes isto?

A mentira é objectiva quando afirmas que o IN se lançou ao assalto na manhã de 9MAI, é absurdo pensar que poderia ser assim.


Hoje dizes coisas piores, estávamos debaixo de fogo e o IN andava em cima das viaturas a tirar as granadas e mantimentos….francamente….

“Decorre o combate e é pedido mais ajuda pois referiam que alguns elementos IN estavam em cima das viaturas a roubar o seu conteúdo.”

Esta deixo ao critério de quem como eu foi operacional, e não sei se tu o foste.

Esta não é possível, é o que faz a quem não saiu para o mato.


“As munições não só não chegaram a Guidage como tiveram de ser destruídas. A coluna não chegou a Guidage porque o IN não permitiu, logo o objectivo da OP não foi conseguido.”

Mas quem disse que o objectivo foi atingido?
Onde leste essas declarações?

Mas é aqui que eu encontro uma postura de enaltecer os “fracassos” da nossa guerra, e as consequentes “vitórias” do IN.

Se assim não é peço-te desculpa, mas como vivi aquela emboscada, fiquei meio tonto a partir dessa data e se calhar até a estou a imaginar.



“Quem tiver duvidas consulte as mensagens militares trocadas entre a frente de combate, o Comando do BCaç 4512/72, em Farim, o QG em Bissau e as respostas que receberam. Tudo estava lá registado. Elas devem existir em qualquer parte, ou na sua falta, deve existir um documento credível que relate o que aconteceu.”

Peço-te o favor de me arranjares as mensagens da emboscada, porque farias um grande e enorme serviço a camaradas do teu Batal que estiveram envolvidos na defesa de Guidaje , já nem falo por mim, o que sei eu?
Eu tenho alguns documentos para tentar dar alguns contributos para essa grande lição de bravura e heroísmo que foi a luta em defesa de Guidaje, já estão escritas cerca de 80 páginas, e essas mensagens dariam um grande conttributo para isso.

“Demonstrem, com documentos, ou outros, como os acontecimentos referidos não foram estes. Deixemo-nos de generalizações. A OP não obteve êxito. Não se pode confundir o fundamental com o que é acessório.”

Por fim, esta, eu não tenho os documentos tenho a vivência de ter estado lá onde esta emboscada aconteceu, portanto aceita o meu testemunho ou apresenta provas contrárias.

Depois mais uma vez, deixa que te diga que tu é que generalizas, porque objectivamente o que contas não aconteceu, é a diferença de eu ter estado lá e tu não.

Manuel Marinho

Anónimo disse...

Estimado Camarada Amílcar Carreira.
Embora veterano de outro TO,que não
o da Guiné.Visito diariamente este
excelente blogue,reparei no seu poste
Ao lê-lo,veio-me à memória o Prólogo
de um livro que tenho e quando o li,
pela primeira vez estava na guerra em Moçambique.Julgo que de alguma
forma se ajusta à maneira com que
muitas pessoas(sem lá terem estado)
contam os factos à medida das suas
"verdades" ou conveniências.
Vou passar um excerto desse Prólogo
"Ser cronista de uma vitória é si_
tuação de privilégio.Em contrapar_
tida,fazer o relato de uma campanha
que termina em desastrosa catástro_
fe militar é,com certeza,a pior das
tarefas.Neste caso,grande é a ten_
tação de só referir de leve as ba_
talhas perdidas e de gritar as mai_
ores invectivas contra os respon_
sáveis.
Não é essa a intenção de quem pre_
tende narrar os factos tal como eles se deram na realidade,cingin_
do o mais possível a verdade his_
tórica,sem excluir as recordações
vividas nem documentos autênticos"
Do livro "Sie Kommem!"de Paul Karl
Shmidt.Tenente-Coronel SS,falecido
em 1997.
Escreveu várias narrativas, com o nome de Paul Carell.O livro que eu
conservo entre outros,tem o titulo
em português(óbvio)"Aí ESTÃO ELES" Carlos Nabeiro.C.caç 2357 B.caç 2842-ZOT-1968/70.
Aceitem as minhas desculpas,ao me_
ter a minha "colherada".

Anónimo disse...

Caro amigo e camarada Vinhal.

Faço uma sugestão ao título que dá nome a este post.

“ Relatório sobre a coluna do dia 8MAI, suportado por mensagens”

Pergunto está o relatório?

Como é que o Amílcar sustenta a tese das mensagens?

Onde estão? Se não à documentos, este post é apenas uma opinião do autor.

Se o título se mantiver, engana quem o for ler.

Um abraço

Manuel Marinho

Carlos Vinhal disse...

Aproveitando a sugestão do camarada Marinho, e porque o título do poste não foi da responsabilidade do camarada Amílcar, alterei-o utilizando o assunto da mensagem.
As minhas desculpas ao Amílcar e ao Marinho por não ter sido preciso.
Carlos Vinhal
Co-editor

Simoa disse...

Ajudando a esclarecer:
Como nos queixamos que temos poucas munições, é organizada uma coluna auto à pressa, com 4 viaturas, que parte de Binta para Guidage, cerca das 18 horas.
De Guidage, picando o itinerário, sai bi-grupo de combate ao seu encontro no CUFEU, onde montam segurança. No quartel e povoação ficamos só com 2 Pelotões e o da Artilharia 24.
O movimento auto não dá sinal de si! Não responde às chamadas dos rádios, que fazem Binta e Guidage! Encalharam e não querem quebrar o silêncio da noite para não serem detectados? Desligaram os rádios? Devido ao terreno… A humidade do local e a neblina impedem?

Presenciei as tentativas de contacto. Deitei-me apreensivo. Acordo e abro a porta do Centro Cripto, que dava para o posto de rádio e pergunto pela coluna, o que levou o Sold Op Trms Ângelo José Oliveira Mendes de serviço, a tentar novo contacto, cerca das 5,5 / 6 horas. Milagrosamente (talvez devido ao aparecer do Sol) conseguiu contactar a coluna: Disseram ter tentado toda a noite ligar a Binta e Guidage… Que solicitasse-mos a Binta socorro imediato. Ligámos também para a base de Bissalanca, que acabou por ceder aos nossos rogos.
Logo de seguida e já com o Sol a bater forte, apercebemo-nos que estão sendo atacados. Encontram-se para cá do Genicó, a uns 3 kms... (?) Trazidas pelo vento ouvem-se perfeitamente as explosões dos RPG`s, das granadas e morteiro 60. As rajadas das armas automáticas… É Fortíssimo!

A FA (2 Fiat`s G-91: [Pilotados pelo Cap Pilav José Manuel Pinto Ferreira (?) e pelo ex-Ten Pilav António Martins de Matos, de Bissalanca] acorreu e não actuou logo com receio de matar alguém das NT, em sítio não localizado. Acabou por bombardear e incendiar as viaturas a fim de impedir a sua captura. Tinham avistado pessoas em cima delas… Tentaram contacto com a coluna, não obtendo resposta e confirmando via rádio com Binta e Guidage, principalmente através do Op Trms Mendes, chegou à conclusão que eram “turras” (?) …Binta, via rádio, deu-nos a entender que as NT já tinham iniciado a retirada do local…

Um abraço a todos,

José Pechorro
Ex. 1º Cabo Op Cripto 71/73
CCaç 19 - Guidage

Simoa disse...

Completando:
As ligações via rádio, compreensívelmente, transpareciam de grande ansiedade...

A coluna auto, como é natural, deu prioridade nos seus contactos com Binta e os seus homens na zona operacional...

Guidage, antes do bombardeamento das viaturas, também não conseguiu contacto com a referida coluna.

Só quem passou por situações semelhantes, no terreno, compreende o desenrolar deste acontecimento...

O PAIGCV, com as baixas sofridas, ficou também bastante combalido...

Cumprimentos,
Um abraço,
José Pechorro

António Martins Matos disse...

Em relação à Força Aérea confirmo integralmente o escrito pelo José Pechorro.
Um abraço
AMM

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.