domingo, 12 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9475: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (8): Boatos, em Lisboa, de ameaças de ataques a aviões da TAP... e de bombardeamentos aéreos aos nossos aquartelamentos

1. Na guerra o boato também é (ou pode ser utilizado como) uma arma... De referências a boatos também é feito o Diário do nosso amigo e  camarada António Graça de Abreu (AGA)...  

Por gentileza e generosidade suas, aqui ficam mais uns excertos do seu Diário da Guiné, 1972/74, de que temos um ficheiro em word, o mesmo que serviu de base à edição do seu livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp) (*).
 
(...) Cufar, 27 de Junho de 1973

De Lisboa, contam-me as “bocas” que por lá correm. E “bocas” falsas.

Fala-se em evacuar da Guiné mulheres e crianças. Mas onde e porquê? É verdade que a população nativa, os africanos das aldeias de Guidage, Guileje e Gadamael, abandonou essas tabancas por causa do perigo nas flagelações constantes do IN. Mas não houve nenhuma evacuação nem sei se tal está previsto pela nossa tropa. Também é verdade que muitos milhares de habitantes da Guiné Portuguesa procuraram fugir à guerra e refugiaram-se quer no Senegal quer na Guiné-Conacri, no entanto esta procura de um lugar mais pacífico para habitar não é novidade, começou há já alguns anos com o agravamento do conflito armado.

De Lisboa, dizem-me também que o Eng. Vaz Pinto se demitiu de presidente da TAP por causa de um ultimato do PAIGC, mais ou menos nestes termos: se os aviões da TAP voarem para a Guiné, serão abatidos, se transportarem militares dentro da Guiné, também serão atingidos pelos mísseis terra-ar. Ora isto nada tem a ver com as realidades que aqui vivemos. Deve ser invenção.

Os aviões da TAP vindos de Lisboa e de Cabo Verde entram e saem da Guiné voando sobre as ilhas dos Bijagós e a chamada ilha de Bissau. Com 99,9% de certeza posso garantir que os guerrilheiros não controlam nem têm efectivos militares nessas regiões. São as zonas mais seguras de toda a Guiné. Os aviões da TAP também não fazem qualquer transporte de tropas dentro da Guiné. Os transportes via aérea são assegurados pelos três Nordatlas e pelos dois DC 3 da Força Aérea. Nada têm a ver com a TAP, nem sequer quanto à manutenção. Depois, creio que os homens do PAIGC não estão interessados em atacar aviões civis, grandes ou pequenos. Não atacam os TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) e vão atacar a TAP?... 



Os TAGP são a linha civil, comercial da Guiné. Têm quatro avionetas Auster de cinco lugares e transportam sobretudo civis. Em Abril e Maio, no período crítico a seguir à queda das cinco aeronaves militares, os TAGP ajudaram na evacuação de feridos porque a Força Aérea Portuguesa não voava. Os pilotos dos TAGP não são suicidas, também voam ou muito alto ou muito baixo, mas as suas avionetas vermelhas e brancas, mais pequenas do que as DOs, são facilmente referenciáveis cá de baixo. Quem sabe se os TAGP, mesmo colaborando com as NT, não são também úteis ao IN?

Agora em Cufar, volto a lidar diariamente com os pilotos, almoçam comigo, conversamos bastante. Creio estar bem informado do que se passa na Guiné, em termos de aviões.

Em Portugal, as “bocas”, os boatos são galopantes. Pela ponta de um dedo, toma-se o braço todo.

(...) Cufar, 13 de Agosto de 1973


O Chugué já não “embrulha” há dezassete dias, Cufar há quatro meses. Estamos felizes.

Mas fala-se em aviões para o PAIGC, Migs e tudo! Pelo sim, pelo não estou a arranjar, ou melhor, a mandar os soldados arranjar o abrigo subterrâneo nas traseiras da minha tabanca. No caso de guerra aérea, Cufar pode ser um alvo importante, temos uma grande pista de aviação e reabastecemos os aquartelamentos no sul da Guiné. 


Se o PAIGC, a partir do Senegal ou da Guiné-Conacri, conseguir meter aviões dentro desta sagrada parcela da Pátria, vai ser um sarilho monumental, inclusive a nível internacional. Há quem diga que o domínio português na Guiné está por um fio. Eu digo que está por uma corda. Os guerrilheiros lá vão roendo a corda, no entanto são incapazes de a transformar num fio.

O evoluir da situação depende de Portugal e do maior auxílio internacional dado ao PAIGC. As coisas tendem cada vez mais para o lado dos guinéus, mas os guerrilheiros não vencem contando apenas com umas ajudazinhas externas. Se receberem umas ajudazonas, por exemplo, aviões equipados com o que de mais moderno existe, o caso muda de figura. Os nossos Fiats não são capazes de responder a aviões do topo da tecnologia, têm raios de acção curtos, só com dificuldade poderiam ir bombardear bases aéreas do PAIGC no Senegal ou na Guiné-Conacry, correndo ainda o risco de serem abatidos.

Se vêm aviões IN, será talvez a debandada das nossas tropas, com muitos mortos, muito medo, uma desmoralização ainda maior. Abandonaremos a Guiné com os fundilhos das calças todos rotos e um buraco fechadinho ao fundo das costas.

(...) Cufar, 14 de Janeiro de 1974

Por aqui, a nossa insegurança e incerteza face ao futuro próximo gera boatos e mais boatos.


Diz-se que o PAIGC mais a República da Guiné-Conacri vão lançar um ultimato. Ou começam negociações de paz para se acabar com a guerra ou eles avançam com aviões e bombardeiam os nossos aquartelamentos. Diz-se também que o general Bethencourt Rodrigues pediu a demissão ao Marcello e vai embora em Fevereiro. Enfim, bocas, o cagaço, a imaginação a bulir dentro das pessoas, talvez sobre fundos de verdade.

A minha vida na Guiné, eu, o móbil, o centro. Não apenas eu. Tudo o que vejo e sinto começa e acaba no meu eu pessoal, limitado, egoísta. Os olhos são meus, o coração é meu. E escrevo. Há muita gente em meu redor, interveniente, que também escreve cartas, não sei se diários secretos. O que sinto é que a minha caneta pode talvez ser a voz de muitos outros. Porque eles é que são o todo, o fulcro dos dias. (...)

______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9437: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (7): Andava-se de sintex, com motor de 50 cavalos, no Cumbijã, nas barbas do PAIGC... e fazia-se esqui aquático no Cacine... 

16 comentários:

Manuel Reis disse...

Caro amigo Graça de Abreu:

Este texto não me merece qualquer comentário, mas não posso nem devo ficar calado.
Este texto faz parte do teu diário, que li e que comentei no blogue a ti pessoalmente. As páginas do teu diário continuam a ser publicadas no Blogue sem qualquer contestação, o que eu aprovo.

No entanto, o Coutinho e Lima não pode publicitar a apresentação do livro! e digo "publicitar a apresentação"
Aproveitas logo para fazer uma série de considerações sobre o senhor e a sua actuação.
Conta as vezes que o teu livro foi exposto no Blogue e faz a mesma contabilidade para a "publicitação da apresentação" do livro do Coutinho e Lima.

Um abraço.

Manuel Reis

Um abraço.

Manuel Reis

Luís Gonçalves Vaz disse...

Afinal, tenho algumas semelhanças nas minhas "estórias na Guiné", com o camarigo Graça de Abreu! Em finais de 1973, a "Propaganda" e "contra-informação" a serviço do PAIGC, era intensa, e a dos Migs era a que assustava mais, pois nessa altura sentimo-nos "vulneráveis", mesmo na Ilha de Bissau, como tal, também eu e os meus manos, construímos dois bons abrigos antiaéreos (ao fundo do jardim lá da nossa casa perto do clube militar), não lhe faltando a cobertura aérea e alguns pequenos luxos no seu interior.... como um rádio, lanterna e água! E como CUFAR tinha defesa antiaérea (não estou enganado, pois não?) eu no interior da Base militar de STª Luzia, correria mais perigo do que tu, meu caro camarigo Graça de Abreu! Não concordas? Lá além do QG, CCS, Polícia Militar, messes e a piscina,... não tínhamos nenhuma Defesa antiaérea, para nos proteger dos MIGS!Só perto de Bissalanca é que existia as "baterias antiaéreas", não era? Mas "Graças a DEUS" e aos "Oficiais do MFA", não ficamos muito mais tempo na Guiné, para esperarmos por esses tão "propagados ataques" dos Migs, Sorte a nossa!.........

Abraço

Luís G. Vaz

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Sempre que se fala nos Migs, que havia ou não havia, ocorre-me uma frase muito conhecida :

"Não acredito em bruxas, mas que as há, há!".

E isto porquê? Talvez porque HOJE, passados quase quarenta anos sobre a situação, vejo a leviandade e ironia com que alguns afirmam que eram um mito e que não havia Migs nenhuns.

Pois é! Só que o que se diz HOJE sobre os ditos Migs, não conta absolutamente para nada. A não ser do ponto de vista histórico.

O que contou para a realidade da guerra, foi aquilo que se pensava na altura: Que o PAIGC tinha Migs.

E senão vejamos:

O António Graça Abreu (um dos que HOJE mais ironicamente fala dos Migs), escreveu NA ALTURA, no seu Diário, em 13 de Agosto de 1973:

"Mas fala-se em aviões para o PAIGC, Migs e tudo! Pelo sim, pelo não estou a arranjar, ou melhor, a mandar os soldados arranjar o abrigo subterrâneo nas traseiras da minha tabanca".

Ora, ele HOJE não acredita em bruxas, mas que NAQUELA ALTURA acreditava, acreditava!

Contamos também aqui com o testemunho valioso do nosso amigo Luís Gonçalves Vaz que estava em Bissau com o seu pai e diz:

"Propaganda"... e "contra-informação" a serviço do PAIGC, era intensa, e a dos Migs era a que assustava mais, pois nessa altura sentimo-nos "vulneráveis", mesmo na Ilha de Bissau, como tal, também eu e os meus manos, construímos dois bons abrigos antiaéreos (ao fundo do jardim lá da nossa casa perto do clube militar), não lhe faltando a cobertura aérea e alguns pequenos luxos no seu interior.... como um rádio, lanterna e água!"

E, já agora, não é que um dos objectivos da operação Mar Verde era precisamente: "Destruir os Migs do Paigc estacionados na Guiné Conacri"?

É caso para dizer: Eles (os MIGS) não existiam, mas que metiam medo, metiam!

Diga-se HOJE o que se disser!

Um abraço para todos

José Vermelho

antonio graça de abreu disse...

Caro amigo Vermelho

Em 73/74 não havia Migs do PAIGC. De resto, só apareceram em Bissau dois anos após a independência, creio que apenas um deles pilotado por um piloto guineense.
O nosso tenente-general António Martins de Matos, piloto dos nossos Fiats, 72/74, já explicou muito bem, num post aqui no blogue (é só procurar!) porque é que não encontrou nem havia Migs do PAIGC nos céus da Guiné.
O que havia, depois de Guileje, Guidage e Gadamael, era medo, cagaço, insegurança (a que naturalmente eu também não fui imune) e boatos que nunca mais acabavam.
Hoje, ainda há quem acredite mais nos boatos do que no que realmente acontecia.

Meu caro Luís Vaz

Não tínhamos anti-aéreas nenhumas em Cufar. Aquilo era tudo a céu aberto.

Meu caro Manuel Reis

Eu era alf.mil na pequena logística de um comando de operações, uma pessoa com importância insignificante e irrelevante.Sempre cumpri ordens.
O major Coutinho e Lima era um oficial de carreira e ficou na História da guerra na Guiné.

A publicação destes textos do meu Diário
é apenas da responsabilidade dos editores do blogue, nada pedi ao Luís, ao Carlos, ao Magalhães Ribeiro.

Abraço a todos.

António Graça de Abreu

Henrique Cerqueira disse...

Caros Camaradas
Em 1973 e quando estava na CCAÇ13 foram fornecidos aos graduados uns livrinhos tipo folheto com as gravuras de alguns tipo de Migs salvo erro o Mig19 e Mig21 não tenho bem a certeza se era assim a designação dos dos aviões.E a acompanhar essas gravuras vinham alguns conselhos (ridículos)que era para adaptarmos mira anti-aérea na metralhadora Draiz e ainda para quem tivesse familiares civis estivessem preparados para uma evacuação geral pois que haveria em Bissau um(s) navio para evacuar os civis.
Claro que só o facto dos conselhos em relação à metralhadora e respectiva mira nos deu um descrédito total em relação a esses possíveis factos.Lamento mesmo muito por ter perdido esse tal livrinho e até gostaria de tentar saber se alguém do nosso blog nesse ano tenha recebido o dito livrinho ou até algum camarada que tenha estado em Bissorã entre 72/74 se lembre desse famigerado livrinho.é que era tão ridículo que ás vezes até duvido que tenha recebido o dito livrinho.Na verdade eu como tinha a família comigo fui mesmo informado pelo comando do Batalhão para a possibilidade de ter de evacuar de urgência a família para Bissau e depois para a metrópole.
Bom isto foi mais uma pequena achega em relação aquele tempo mais conturbado entre 73 e Abril de 74,pois que a partir daí foi um turbilhão de acontecimentos que até nos baralha um pouco as narrativas desses mesmos acontecimentos e creio eu alguma confusão dos factos ,pois que tudo foi diferente em diversos locais da Guiné,daí eu dar muito crédito aos relatórios que o Luís Vaz tem vindo a publicar.
Um abraço a todos os tertulianos e isto que comentei é uma singela participação para este blog,pois que eu na Guiné estava era sempre à espera do dia do regresso e ansioso por tomar conhecimento do que viria a ser a nova vida em Portugal após a queda do Regime.
Henrique Cerqueira

Luís Gonçalves Vaz disse...

Devemos todos Agradeçer a Nossa Senhora (os crentes) ou em opção, aqueles que promoveram a Revolução dos Cravos,... pois faltava pouco para nos caírem em cima Bombardeamentos, para os quais não estávamos protegidos, nem mesmo os aquartelamentos no mato como aquele onde estava o Graça de Abreu, Cufar (eu pensava que tinham!!!!!!!!)....


Para quem tiver duvidas de que "Não há fumo sem fogo", no caso, de que não havia (pelo menos a caminho... pois mesmo do PAIGC só depois do 25 de Abril) Migs no poder do PAIGC, deve saber:

É evidente a escassez de meios do exercito português, face ao crescente armamento da guerrilha, por parte da União Soviética.



Nesta altura começa já a falar-se nos Migs da força aérea do PAIGC, sendo adquiridos mísseis terra ar franceses, para defender Bissau em 1974.



Aristides Pereira, na altura secretário- geral do PAIGC, confirma no seu livro "Uma luta, um partido, dois países", a chegada dos Migs do PAIGC em 1974:



"Do mesmo modo o contingente de pilotos que o PAIGC tinha mandado para formação na URSS chegara juntamente com os aviões Mig já depois do 25 de Abril"

Embora a Guiné-Conakry possuísse Migs, e se verificassem violações do espaço aéreo da Guiné, por estas forças, as quais tinham sido reforças com meios aéreos de outros países, nomeadamente pilotos argelinos pilotando Migs, como consequência da "invasão" de Conakry país em 22/11/1970, se o PAIGC a partir dai começa-se a lançar ataques contra os aquartelamentos da Guiné, seria o fim, pois estes não possuíam quaisquer meios de defesa antiaéreos, e bastariam uma bombas de napalm, para acabar com os pequenos aquartelamentos.

IN: http://paigc.com.sapo.pt/GuineStrella.html


Nota: Havia em cada aquartelamento, uma visão profunda dessa zona, mas de conjunto, e do futuro, só os QG em Bissau e a PIDE/DGS... Aconselho a leitura para mais informações, do Livro "A Força Aérea na Guerra em África", Luís Alves de Fraga, Prefácio

Grande Abraço:

Luís G. Vaz

Anónimo disse...

Caros Tabanqueiros

Posso perguntar:
Alguém viu os migs cruzar os céus da Guiné?
Os pilotos dos migs eram daGuiné Bissau, da outra Guiné, de Cuba, da Rússia?
Já agora eram pretos ou brancos, ou amarelos?
Que merda de perguntas!
E os que fizeram ou mandaram fazer os abrigos... foi por receio dos migs ou de alguma cagadela dos jagudis?
Esta sim, é uma pergunta interessante.

Um grande abraço

Carvalho de Mampatá

Antº Rosinha disse...

Não queria entrar nessa da Força Aérea do PAIGC ou seja Força Aérea da GB.

Mas como em paz a Guiné não tinha MIG, teria o PAIGC em Konakry?

Como trabalhei dois anos no prolongamento do aeroporto de Bissau, parte de 1980/82 e 83, conheci a Força Aérea e civil da Guiné Bissau.

A Guiné nesse tempo tinha um avião civil pilotado por um célebre piloto português, amigo dos governantes, chamado Pombo, que fez a guerra na nossa força aérea da Guiné. Fazia, quando havia combustível e peças, ligação a Dakar ou a Praia.

E, havia 2 MIG 21, que os soviéticos pilotavam, mantinham, e ninguem se aproximava deles fosse guineense ou algum dos portugueses que lá trabalhavamos.

Ou seja, aqueles MIG estavam apenas a serviço da estratégia soviética, que se adivinhava mais ou menos que era a protecção daquela zona aos seus navios tanto de pesca como a serviço da guerra fria.

Era o que se falava.

Só se dizia que estiveram a serviço do Governo da Guiné, para "amedrontar" os guineenses de Conakry, quando se falou que no ilheu do Poilão(?), fronteira, apareceu petróleo.

Como se via levantar e aterrar quase diariamente um certo tempo, os dois aviões ou em simultâneo e raramente sós, duas ou três vezes viu-se um piloto africano pilotar um dos aviões. Não se soube se era guinense ou não.

Mas nitidamente os russos não passavam aqueles aviões para a responsabilidade de nenhuma autoridade guineense.

Vinha um Tupolev semanalmente com pessoal para dar assistência`aos equipamentos militares em todo os quarteis e evidentemente para a logística de um número enorme de pessoas.

E, até pareço um espião, tambem chegavam de navios soviéticos, material de guerra e até a fuselagem de um MIG completa, (são pequeninos), mas só soviético mexia naquilo que saía do barco,

(trabalhei 2 anos na ponte-cais nova, 1984/5/6).

Isto para dizer que a Russia tinha efectivamente aviões e podia espatifar tudo , mesmo sem bombas era fazer umas razantes como lhe vi fazer sobre o aeroporto, que dificilmente havia hipoteses de fazer frente.

Mas como deu para conhecer ainda um pouco aquela gente, apanhei a perestroika com alguns, pessoalmente não creio que arriscassem entrar com MIG e pilotos soviéticos dentro da Guiné.

E a guineenses não arriscavam entregar aquelas máquinas.

Um dia, perto de Safim, um desses aviões aterrou de emergência na estrada, falava-se em falta de combustível.

Atenção que com viaturas dificilmente arriscavam os seus camiões dentro da Guiné.

Chegavam alguns camiões militares para os quarteis nos tais barcos, não imaginam os cancros do tempo dos dinossauros, a gasolina que aquilo era.

Não creio que arriscassem entrar com aquilo numa picada da Guiné.

Só o cagaçal que aquilo fazia e o consumo de gasolina era proibitivo o uso daqueles monstros.

Vi alguns avariados(?)à saida dos quarteis com centenas de metros percorridos.

(trabalhei ao lado da artilharia, onde foi a Engenharia 3 anos)

Não era com armas que se perdia ou ganhava esta guerra.

Mas se os soviéticos entrassem com aquelas viaturas uns tantos quilometros dentra da Guiné, não regressavam por falta de gasolina.

Fora a guerra, tenho a dizer que os soviéticos foram os melhores promotores da lingua portuguesa que conheci na GUiné.

Aí foi uma pena que com a perestroika parece que desistiram da Guiné e da enorme embaixada.

Abraço

Luís Gonçalves Vaz disse...

Meu Caro camarigo António Rosinha:

Estou de "boca-aberta", afinal não precisamos das informações dos Serviços Secretos Franceses do C. Martins! Temos "agente próprio"!...
Falando sem brincar, em sua opinião de que maneira os Soviéticos tiveram o "Reembolso" de todo o apoio que deram ao PAIGC, durante uma década?
Gostei muito de ler o seu poste, caro António, o meu obrigado por partilhar connosco toda essa experiência, começa a ficar este tema "muito mais nítido".

Abraço Amigo

Luís G. Vaz

Anónimo disse...

Falou e disse A.Rosinha...ponto.

Caro Luís Vaz

Apesar da ironia dos serviços secretos franceses..tens muita imaginação...logo eu que detesto quase tudo o que é francês (ils sont trés chauviniste)..contrariamente à maioria da nossa "elite" intelectualoide.
Só te quero dizer que estou bem informado.
Acrescento o seguinte na altura a haver migs seriam migs 16, que eram essencialmente aviões de caça sem grande autonomia mas melhores em combate aéreo que os fiat g91 que eram aviões de ataque ao solo.
A guiné-conakry tinha aviões mig completamente inops por vontade expressa da "aventesma" do Sekou-Touré, que não confiava em ninguém a não ser na sua "guarda pretoriana".
Os únicos meios anti-aéreos existentes na Guiné era uma bateria anti-aérea de canhões da 2.º guerra em bissalanca, e as denominadas quadruplas (metralhadoras brownig) em Aldeia Formosa (Quebo).
Segundo afirmações de algumas altas identidades militares na altura (provavelmente o teu saudoso Pai também saberia)em relação aos boatos dos migs fantasmas ponderava-se a hipótese de adquirir Mirage f1 e baterias de misseis crotale, hipótese que nunca passou do papel.
Essa de arrasar os aquartelamentos com napalm por parte do paigc..é boa..pois ficávamos mesmo lá espera dentro do aquartelamento.. fizeram-no em gadamael lançando algumas granadas incendiárias..quase ninguém sabe mas nós também as tínhamos em gadamael..nunca lançamos nenhuma..ficaram reservadas para ... não digo.
O boato é uma das armas mais eficaz na guerra.

C.Martins

Anónimo disse...

PS

Armas do paigc eram pagas com os donativos de diferentes países.
As que deviam foram muito bem pagas após a independência...os "soviéticos" pura e simplesmente raparam tudo o que havia na plataforma continental com os seus enormes arrastões frigoríficos.
O povo da guiné viu o que era colonialismo a sério.
Qualquer comparação com o colonialismo "tuga" foi mera coincidência.
Ah.. os cubanos em Angola(internacionalismo proletário) roubaram os "machimbombos". Nem se deram ao trabalho de lhes tirar a matricula (vi eu em Cuba).

C.Martins

Luís Gonçalves Vaz disse...

Caro C. Martins:

Ainda bem que tens sentido de humor! Eu também visitei essa bateria anti-aérea de canhões da 2.º guerra em bissalanca, pois tinha lá um primo furriel (meu primo Litos de Barcelos), mas pensava que haveria mais bases dessas pela Guiné.......... Agradeço-te as tuas informações, mas já podemos concluir que na altura, o PAIGC não tinha pilotos prontos, nem aviões migs próprios! Ainda bem! quanto ao NAPALM, temos de desenvolver o Assunto.

Abraço

L. G. Vaz

Antº Rosinha disse...

Luis G. Vaz, não fiques de "boca aberta" com o que digo, porque se ouvisses o que penso e não digo, o teu queixo caía.

Mas eu não preciso de relatórios pós 25 de Abril para justificar o 25 de Abril.

Só o facto de Salgueiro Maia ter actuado como um verdadeiro comandante militar, dignidade, profissionalismo, portuguesismo, já temos que agradecer aquele dia.

Mas o day after foi a maior falta respeito e banfdalheira de políticos e comandantes militares.

O dia 26 e seguintes é que foi o busilis, não só para nós tugas mas para os povos que "libertámos", nós ou os russos , já não sei.

Mas os comandantes militares jamais conseguirão explicar porque aguentaram tantos anos a guerra durante o marcelismo, pois Marcelo (e a PIDE), estava nas mãos deles.

E podem fazer mil relatórios que jamais explicarão ter ficado tudo em roda livre, até porque isso já está na nossa massa do sangue.

Luis G. Vaz, estive 24 meses na guerra como furriel e o meu melhor comandante foi um primeiro cabo, e mais novo 1 ano que eu.

E sobre a dúvida que escreveste sobre Amilcar ter sido assassinado a mando de Sínola, tenho a dizer que na Guiné, os guineenses deixam que seja o PAIGC, afirmar isso em dias festivos.

Um abraço

Luís Gonçalves Vaz disse...

Caro António Rosinha:

Ainda "sinto" muito fel na sua alma de Combatente, o que será natural, pois 24 meses no TO da Guiné é muito, sem duvida! Gosto de ler o que tem escrito, muito enriquece este Fórum. Mas há uma afirmação sua que me confunde, quando diz, "...sobre a dúvida que escreveste sobre Amilcar ter sido assassinado a mando de Sínola, tenho a dizer que na Guiné, os guineenses deixam que seja o PAIGC, afirmar isso em dias festivos...." Ora eu não me revejo nessa dúvida, deve estar a confundir com outro tertuliano! Para mim, a Verdade sobre a Morte do Comandante Amilcar Cabral é a seguinte:
"...O cenário: uma casa branca, isolada, de um só piso, um largo terreiro à volta, uma enorme mangueira em frente da casa, um telheiro que serve de garagem; em Conacri, capital da República da Guiné, de que é Presidente Séku Turé. O tempo: três da madrugada do dia 20 de Janeiro de 1973. A acção: um carro, um Volkswagen, que o condutor arruma no telheiro. Dois faróis projectam a luz para os ocupantes do veículo que são Amílcar Cabral e a sua segunda mulher, Ana Maria. Uma voz ríspida vem da noite e ordena que amarrem Amílcar. Este resiste. Não deixa que o atem. O comandante do assalto dispara. Atinge-o no fígado. Amílcar, sentado no chão, propõe que conversem. A resposta é uma rajada de metralhadora que acerta na cabeça do fundador do PAIGC. A morte é imediata. Os autores do atentado: Inocêncio Kani, que dispara primeiro, um veterano da guerrilha, ex-comandante da Marinha do PAIGC; membros do Partido, todos guineenses. ..."
In: http://www.vidaslusofonas.pt/amilcar_cabral.htm

Abraço:

L. G. Vaz

Henrique Cerqueira disse...

Caros Camaradas
Todos nós em relação á estória dos Migs,só vamos opinando porque a unica informação que tinha-mos na altura era o "Jornal da Caserna",pois que até os pides da altura eram uma data de inúteis,que só estavam nas cedes de batalhão para se orientarem com o seu ordenado mais as ajudas de custo e viverem como autênticos "nababos" e nós os milicianos e soldados andava-mos ao "som" dessa "corja"´daí que a grande maioria da tropa queria era que os dias corressem como o vento.
Bom eu alonguei no comentário mas era bom que alguns dos nossos tertulianos,nos seus comentários não baixassem o nível da conversa,pois que quem construiu abrigos e eu construí,não foi por causa dos "Jagudis"ou outra "cagadela" qualquer,mas sim poe causa dos RPGs,granadas de morteiros e outros afins.Por tal haja um pouco de descernimento .
Henrique Cerqueira