Estados Unidos da América > Flórida > 2012 > O António Borié, na praia, segurando uma raia...
Guiné > Região do Oio > Mansoa > Comando de Agrupamento nº 16 (1964/66) > O 1º cabo cripto António Borié, "perto da ponte do rio Mansoa, da parte norte, por trás do clube Os Balantas, onde funcionava um cinema".
Guiné > Região do Oio > Mansoa > Comando de Agrupamento nº 16 (1964/66) > O 1º cabp cripto António Borié, "dentro do aquartelamento em construção"...
Fotos (e legendas): António Borié (2012). Todos os direitos reservados
1. Mensagem de ontem do nosso camaradaAntónio Borié, a viver há cerca de 40 anos nos EUA, atualmente na Florida:
Caro Luís
Muito obrigado pela tua pronta resposta.
Como dizes, somos camaradas, andamos na mesma guerra. E agradeço o convite e vamos tratar-nos por tu. É uma grande verdade, e já agora obrigado pelos votos de saúde, espero que sim, que seja a minha quarta juventude, e às vezes digo para mim, se em pequeno não tive oportunidade de brincar na praia e com a areia, agora sobra-me tempo para fazer isso!.
Luís, aquí mando duas fotos, uma dentro do aquartelamento em construção, e outra perto da ponte do rio mansôa, da parte norte, por trás do clube " Os Balantas", onde funcionava um cinema. que dava filmes de cowboys!. A outra fotografia é aqui na Florida.
Como dizes, tenho muitas histórias, que já não quero que sejam mais secretas. Eu relacionava-me bem com os meus camaradas, em especial do Batalhão de [Artilharia] 645, e de um pelotão de morteiros de que não me recorda o número, mas dormia na mesma camarata deles, e vivia todas as suas peripécias.
Muito obrigado pela tua pronta resposta.
Como dizes, somos camaradas, andamos na mesma guerra. E agradeço o convite e vamos tratar-nos por tu. É uma grande verdade, e já agora obrigado pelos votos de saúde, espero que sim, que seja a minha quarta juventude, e às vezes digo para mim, se em pequeno não tive oportunidade de brincar na praia e com a areia, agora sobra-me tempo para fazer isso!.
Luís, aquí mando duas fotos, uma dentro do aquartelamento em construção, e outra perto da ponte do rio mansôa, da parte norte, por trás do clube " Os Balantas", onde funcionava um cinema. que dava filmes de cowboys!. A outra fotografia é aqui na Florida.
Como dizes, tenho muitas histórias, que já não quero que sejam mais secretas. Eu relacionava-me bem com os meus camaradas, em especial do Batalhão de [Artilharia] 645, e de um pelotão de morteiros de que não me recorda o número, mas dormia na mesma camarata deles, e vivia todas as suas peripécias.
Esse pelotão teve três mortos, se não me engano, e eu chorei-os como se fossem meus irmãos. Eu tinha acesso a todos os reportes de toda a movimentação de tropas que se fazia na região do Oio, e é com esses que me vou lembrando, que escrevi o meu livro.
Não menciono nomes verídicos ou lugares. Mas toda a história se passou na região do Oio, e é verídica. Houve essas mortes e houve esses ataques e houve essas minas que rebentaram, e houve esses camaradas que desapareceram para sempre, embrulhados num camuflado todo roto e ensanguentado, e alguns, com um ar de crianças no rosto.
2. Comentário de L.G.:
António (ou Tony): A falar é que a gente se entende. Aprecio a tua frontalidade. E recebo-te de abraços abertos em nome dos 563 camaradas e amigos da Guiné que estão formalmente inscritos na nossa Tabanca Grande. Tu passas a ser o grã-tabanqueiro nº 564.
Não menciono nomes verídicos ou lugares. Mas toda a história se passou na região do Oio, e é verídica. Houve essas mortes e houve esses ataques e houve essas minas que rebentaram, e houve esses camaradas que desapareceram para sempre, embrulhados num camuflado todo roto e ensanguentado, e alguns, com um ar de crianças no rosto.
Aqui te mando uma história que se passou com tropas do pelotão de morteiros e de uma companhia do batalhão 645, que sairam de Mansôa, para um patrulhamento. Fazem parte do meu livro, onde existem muitas mais, umas tristes, outras menos tristes. Desculpa o meu português, pois já estou aqui há quarenta anos.
Um abraço, António.
2. Comentário de L.G.:
António (ou Tony): A falar é que a gente se entende. Aprecio a tua frontalidade. E recebo-te de abraços abertos em nome dos 563 camaradas e amigos da Guiné que estão formalmente inscritos na nossa Tabanca Grande. Tu passas a ser o grã-tabanqueiro nº 564.
Deixa-me só recordar-te as 10 regras elementares, de convívio, que estão em vigor entre nós, e que juramos respeitar, à sombra do nosso mágico, secular, grandioso, fraterno poilão...
Neste espaço, de informação e de conhecimento, mas também de partilha e de convívio, decidimos pautar o nosso comportamento (bloguístico) de acordo com algumas regras ou valores, sobretudo de natureza ética:
(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);
(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.);
(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);
(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);
(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;
(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;
(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);
(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;
(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;
(x) respeito pela propriedade intelectual, pelosdireitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.
Dito isto, espero que comemores os 100 anos aqui connosco, e que vás colaborando connosco na medida das tuas possibilidades, da disponibilidade de tempo, dos teus bons e maus humores, enfim, sempre que te der na tua real gana. Aqui fica a história que nos mandaste, e que é uma transcrição (legível) do teu livro (inédito) com as tuas memórias da região do Oio.
3. UMA ALDEIA DESTRUÍDA
por António Borié
O mês era Abril, e era a uma quinta-feira, por volta das dez horas da manhã. Seguia um grupo de militares, a pé. Este grupo, era composto, por tropas de uma companhia de intervenção e de um pelotão de morteiros. Iam com o camuflado, todo molhado e colado ao corpo. Dos joelhos para baixo, iam molhados por atravessarem pântanos, alguns com arroz, e a parte de cima do corpo, estava coberta de suor, pelo clima quente, húmido e abafado.
O mês era Abril, e era a uma quinta-feira, por volta das dez horas da manhã. Seguia um grupo de militares, a pé. Este grupo, era composto, por tropas de uma companhia de intervenção e de um pelotão de morteiros. Iam com o camuflado, todo molhado e colado ao corpo. Dos joelhos para baixo, iam molhados por atravessarem pântanos, alguns com arroz, e a parte de cima do corpo, estava coberta de suor, pelo clima quente, húmido e abafado.
Para alguns, o cantil da água era tão importante como a G-3. Bebiam, bebiam, e sempre que podiam enchiam, de novo o cantil, nos pântanos, ao de cima, com gentileza, para só entrar, no cantil, água mais ou menos limpa, sem mosquitos, ou outras espécies. Traziam uma embalagem de ração de combate, mas muitos preferiam um bocado de pão, mesmo rijo, como alguns comiam na sua aldeia, em Portugal, onde nasceram.
Tinham saído do aquartelamento, manhã cedo, ao começo da luz do dia. Saíram em viaturas auto, que os deixaram ao norte, a uns vinte quilómetros do aquartelamento, aproximadamente. Na frente iam uns tantos africanos, que faziam parte das forças armadas portuguesas, e que normalmente faziam de guias e tradutores, pois por vezes, havia contacto com as populações locais. Era uma operação de rotina, inspecionavam a zona por onde passavam, principalmente se havia vestígios do inimigo. Este grupo de militares era comandado por um alferes miliciano.
O Curvas, soldado atirador, alto e refilão, pois andava sempre contrariado, e quando recebia uma ordem, sempre tinha um argumento para refilar, gostava de mandar, devia ser general!. Ia ao lado do Trinta e Seis, soldado telegrafista. O Trinta e Seis, que não sabia quem lhe tinha posto o nome, mas todos diziam que era pela estatura do corpo, pois era baixo e forte, mesmo muito baixo e forte, e diziam que era o conjunto de números, derivado de uma dúzia. Por exemplo, o corpo inteiro eram doze, metade eram seis, um quarto eram três, e no conjunto dos números, começando por baixo, dava, três mais seis, e como ele era baixo e forte, juntaram os números três mais seis, deu no bonito nome de Trinta e Seis.
Era popular, e conhecido pelo Trinta e Seis, carregava uma aparelhagem às costas, com um telefone. Tinha posto pilhas novas antes de sairem, trabalhava perfeitamente. Ambos levavam a G-3, com carregadores à cinta, e duas granadas ofensivas, que lhe tinham sido distribuídas, pela manhã, antes de saírem. As granadas eram distribuídas, antes de qualquer operação, e eram entregues no final da mesma, se não tivesse havido contacto com o inimigo.
Tinham saído do aquartelamento, manhã cedo, ao começo da luz do dia. Saíram em viaturas auto, que os deixaram ao norte, a uns vinte quilómetros do aquartelamento, aproximadamente. Na frente iam uns tantos africanos, que faziam parte das forças armadas portuguesas, e que normalmente faziam de guias e tradutores, pois por vezes, havia contacto com as populações locais. Era uma operação de rotina, inspecionavam a zona por onde passavam, principalmente se havia vestígios do inimigo. Este grupo de militares era comandado por um alferes miliciano.
O Curvas, soldado atirador, alto e refilão, pois andava sempre contrariado, e quando recebia uma ordem, sempre tinha um argumento para refilar, gostava de mandar, devia ser general!. Ia ao lado do Trinta e Seis, soldado telegrafista. O Trinta e Seis, que não sabia quem lhe tinha posto o nome, mas todos diziam que era pela estatura do corpo, pois era baixo e forte, mesmo muito baixo e forte, e diziam que era o conjunto de números, derivado de uma dúzia. Por exemplo, o corpo inteiro eram doze, metade eram seis, um quarto eram três, e no conjunto dos números, começando por baixo, dava, três mais seis, e como ele era baixo e forte, juntaram os números três mais seis, deu no bonito nome de Trinta e Seis.
Era popular, e conhecido pelo Trinta e Seis, carregava uma aparelhagem às costas, com um telefone. Tinha posto pilhas novas antes de sairem, trabalhava perfeitamente. Ambos levavam a G-3, com carregadores à cinta, e duas granadas ofensivas, que lhe tinham sido distribuídas, pela manhã, antes de saírem. As granadas eram distribuídas, antes de qualquer operação, e eram entregues no final da mesma, se não tivesse havido contacto com o inimigo.
Quando se procedia à distribuição das granadas, alguém ficava à espera que a caixa ficasse vazia, para com a madeira da mesma, construir uma gaiola, para o seu piriquito, um banco, ou qualquer outro utensílio, portanto, quando eram entregues as granadas, no final da operação, iam para um canto da arrecadação de material de guerra.
Normalmente a G-3, era transportada, debaixo do braço direito, pronta a disparar, mas com o cano sempre em direcção do chão. O Curvas, que era alto e refilão, levava três granadas. Duas distribuídas pela manhã, e uma que ele nunca entregou, de operações anteriores, e dizia. a alguns que sabiam, que essa granada era dele. Portanto na sua ideia, a granada não era do exército. Era dele.
O alferes miliciano dizia constantemente, ao Trinta e Seis, para ir sempre próximo dele, pois em qualquer momento podia precisar do telefone. O Trinta e Seis não acatava a ordem, pois era amigo do Curvas, que era alto e refilão. Andavam sempre lado a lado, e protegiam-se. Saíram do pântano, e iam em terreno seco, com muita vejetação. A antena do rádio, que era mais alta do que ele, tocava em tudo, e o Trinta e Seis, furioso, dizia ao Curvas, que era alto e refilão.
- Porque carga de água é que o alferes traz o pessoal para um local destes, com tanto arvoredo, e tão difícil de avançar no terreno!? . Se fosse da parte da tarde, dizia que andava bêbado!.
Pois o alferes tinha fama de andar sobre influência [do álcool], lá no aquartelamento, mas era uma excelente pessoa.
Passado um certo tempo, deparam com uma aldeia, com umas tantas casas, circundadas por uma vedação, com estacas e ramos de árvores. Lá na frente, os soldados africanos entram na aldeia e falam alto, numa linguagem que ninguém entende. Neste momento, diz o Curvas, alto e refilão, (que acima de tudo, era rude, e sempre usava uma linguagem reles), para o Trinta e Seis.
- O que é que estes cabrões, estão a falar?. Estão a dar as boas vindas, ou a avisar a população para fugir, que os soldados estão próximos.
Era uma incógnita, que ninguém sabia responder.
Na aldeia havia somente, uma mulher, magra, já de uma certa idade, nua da cinta para cima, com argolas em volta do pescoço, servindo de enfeite, talvez. Estava sentada, ao lado de um cesto de arroz, com casca, com as mãos ao lado da cara, falando aflita, uma linguagem incompreeensível, e de vez em quando, tirava as mãos da cara, fazia gestos para a frente, ao mesmo tempo que balançava o corpo para a frente e para trás. Na sua frente, estavam duas crianças, também magras, e nuas.
Estas três pessoas, eram no momento, os habitantes da aldeia. Os soldados africanos, chamados pelo alferes, para traduzirem as palavras da mulher, diziam.
- Ela se lastima, por os soldados lhe terem morto os seus dois filhos, e diz para se irem embora, que aqui não há mais ninguém. Também diz que tem quatro filhas, que desapareceram certo dia pela madrugada, e que a visitam de vez em quando, pois neste momento eram guerrilheiras, transportadoras de material de guerra.
O Curvas, alto e refilão, diz para o Trinta e Seis.
- Se esta gaja não se cala, meto-lhe já dois tiros nos cornos!.
O alferes repreende o Curvas, alto refilão, que continua a argumentar, dizendo.
- É uma mentirosa, filha da puta!.
Só o Trinta e Seis, é que o acalma, e manda calar.
O alferes entra em contacto com o comando, contando a situação. Recebe ordens, da captura da mulher e as duas crianças, e em seguida queimar e destruir a aldeia.
Aqui começa o saque à aldeia. Os militares encontraram algumas armas, munições, e documentos, que estavam à superfície, e os africanos encarregavam-se dos objectos com algum valor, como panelas, tachos, roupas, às vezes até encontravam dinheiro, bicicletas, enfim, tudo o que alguns, entendessem que era útil.
Depois, era só deitar o fogo a tudo, e no espaço de uma a duas horas, com fogo controlado, deixava de haver aldeia. Esta aldeia era pequena, tinha somente oito casas. Durante o fogo, ouviram-se alguns rebentamentos, sinal de que havia mais algum material explosivo, talvez enterrado.
Os prisioneiros vieram para o hospital, na capitall da província. O Curvas, alto e refilão, começou o fogo, com o lançamento da sua granada preferida, para o meio da aldeia, ao mesmo tempo que gritava em plenos pulmões.
- Filhos da puta!.
O alferes repreendeu-o. Mas isso nele não produzia qualquer efeito, era alto e refilão, não acatava ordens, e queria mandar, devia ser general!.
O alferes miliciano dizia constantemente, ao Trinta e Seis, para ir sempre próximo dele, pois em qualquer momento podia precisar do telefone. O Trinta e Seis não acatava a ordem, pois era amigo do Curvas, que era alto e refilão. Andavam sempre lado a lado, e protegiam-se. Saíram do pântano, e iam em terreno seco, com muita vejetação. A antena do rádio, que era mais alta do que ele, tocava em tudo, e o Trinta e Seis, furioso, dizia ao Curvas, que era alto e refilão.
- Porque carga de água é que o alferes traz o pessoal para um local destes, com tanto arvoredo, e tão difícil de avançar no terreno!? . Se fosse da parte da tarde, dizia que andava bêbado!.
Pois o alferes tinha fama de andar sobre influência [do álcool], lá no aquartelamento, mas era uma excelente pessoa.
Passado um certo tempo, deparam com uma aldeia, com umas tantas casas, circundadas por uma vedação, com estacas e ramos de árvores. Lá na frente, os soldados africanos entram na aldeia e falam alto, numa linguagem que ninguém entende. Neste momento, diz o Curvas, alto e refilão, (que acima de tudo, era rude, e sempre usava uma linguagem reles), para o Trinta e Seis.
- O que é que estes cabrões, estão a falar?. Estão a dar as boas vindas, ou a avisar a população para fugir, que os soldados estão próximos.
Era uma incógnita, que ninguém sabia responder.
Na aldeia havia somente, uma mulher, magra, já de uma certa idade, nua da cinta para cima, com argolas em volta do pescoço, servindo de enfeite, talvez. Estava sentada, ao lado de um cesto de arroz, com casca, com as mãos ao lado da cara, falando aflita, uma linguagem incompreeensível, e de vez em quando, tirava as mãos da cara, fazia gestos para a frente, ao mesmo tempo que balançava o corpo para a frente e para trás. Na sua frente, estavam duas crianças, também magras, e nuas.
Estas três pessoas, eram no momento, os habitantes da aldeia. Os soldados africanos, chamados pelo alferes, para traduzirem as palavras da mulher, diziam.
- Ela se lastima, por os soldados lhe terem morto os seus dois filhos, e diz para se irem embora, que aqui não há mais ninguém. Também diz que tem quatro filhas, que desapareceram certo dia pela madrugada, e que a visitam de vez em quando, pois neste momento eram guerrilheiras, transportadoras de material de guerra.
O Curvas, alto e refilão, diz para o Trinta e Seis.
- Se esta gaja não se cala, meto-lhe já dois tiros nos cornos!.
O alferes repreende o Curvas, alto refilão, que continua a argumentar, dizendo.
- É uma mentirosa, filha da puta!.
Só o Trinta e Seis, é que o acalma, e manda calar.
O alferes entra em contacto com o comando, contando a situação. Recebe ordens, da captura da mulher e as duas crianças, e em seguida queimar e destruir a aldeia.
Aqui começa o saque à aldeia. Os militares encontraram algumas armas, munições, e documentos, que estavam à superfície, e os africanos encarregavam-se dos objectos com algum valor, como panelas, tachos, roupas, às vezes até encontravam dinheiro, bicicletas, enfim, tudo o que alguns, entendessem que era útil.
Depois, era só deitar o fogo a tudo, e no espaço de uma a duas horas, com fogo controlado, deixava de haver aldeia. Esta aldeia era pequena, tinha somente oito casas. Durante o fogo, ouviram-se alguns rebentamentos, sinal de que havia mais algum material explosivo, talvez enterrado.
Os prisioneiros vieram para o hospital, na capitall da província. O Curvas, alto e refilão, começou o fogo, com o lançamento da sua granada preferida, para o meio da aldeia, ao mesmo tempo que gritava em plenos pulmões.
- Filhos da puta!.
O alferes repreendeu-o. Mas isso nele não produzia qualquer efeito, era alto e refilão, não acatava ordens, e queria mandar, devia ser general!.
_________________
Nota do editor:
Último poste da série > 25 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10073: Tabanca Grande (346): Fernando Sucio, ex-Condutor Auto do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor:
Último poste da série > 25 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10073: Tabanca Grande (346): Fernando Sucio, ex-Condutor Auto do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74)
4 comentários:
António: A qualidade dos textos digitalizados que me mandaste não é boa... Tem de ter mais resolução. Tentei fazer o meu melhor mas a tia história não está "legível"... Volta a digitalizar as páginas com maior resolução... E aproveita as coisas boas da Florida e da América... LG
Tony:
Não foi minha intenção "xingar-te" com os 10 mandamentos do blogue... De tempos a tempos, é bom recordá-los, "urbi et orbi"...
Fazes bem, em todo o caso, não identificar os camaradas da história... que, espero, ainda deverão estar vivos, algures, no seu cantinho em Portugal ou na diáspora, como tu...
Procuramos, como mandam as nossas regras, respeitar o direito de todos e de cada um à reserva de imagem e à privacidade, se bem que todos os "atos de guerra" são "cenas" passadas em público...
Amigo Luis:
Vi com alguma satisfação que já, publicaste o texto da "Aldeia Destruda" [, que te mamdei em formato doc]. Pode ler-se perfeitamente, obrigado. ´
Entendo, e se as regras o permitem, que podes remover as páginas antigas e ilegíveis, pois irei tentar, se o tempo e a saúde mo permitirem, mandar-te um texto por semana. S
e estás de acordo, e as regras o permitirem, tentarei cumprir com os mandamentos da nossa Tabanca. Um abraço. Tony
Tony:
A tua colaboração é bem vinda, para mais em pleno verão (onde há uma quebra de produção: mete-se as férias, etc.)...
Vou abrir uma série para ti, com o teu nome... Aí poderás publicar as tuas histórias... Tens que me garantir um mínimo de seis... Não devem ser muito extensas: digamos, até 4/5 páginas... Se for preciso publica-se a Parte I e depois Parte II, em postes separados...
Arranja um título para a série... Posso ser o título do teu livro (inédito) ou algo parecido...
Como queres assinar ? Tony Borié ?
Podes também falar do teu regresso a Portugal e da tua integração nos EUA... (Depois de Portugal e do Brasil, é onde temos mais leitores: é bom que outros camaradas da diáspora te descubram).
Podes também contactar com qualquer um dos nossos dois co-editores de serviço, o Carlos Vinhal e o Eduardo Magalhães Ribeiro. Muita saúde, tudod e bom para ti e família, pensamento positivo!.
Luis
PS - Tens mais fotos da Guiné ? ou da Florida ? Se sim, digitaliza e manda...
Enviar um comentário