Cherno Baldé (n. 1960), em Kiev, Ucrânia, quando estudante (1989)
Nasci aqui
por Cherno Baldé
Nasci aqui
Em Lamkebembe.
É pasto e campo,
Foi casa,
Em tempos nómadas.
Aqui me abriguei,
Em tempos de guerra-pátria.
Espaço enigma.
É a chuva.
Enredos, entre Sintchã e Santa.
Aqui plantei a última árvore
E minha única esperança.
Nasci aqui.
É Sunkudjumá.
É rio dormindo.
É bolanha.
Fossas e lianas.
São leitos secando.
É peixe escuro e lama.
Aqui lavramos arroz,
E a tristeza dos olhos.
Eu nasci aqui.
É Fajonquito.
Ponto incógnito.
São ruas, caminhos,
É deserto querido.
Labirintos, entre casas e corações,
Aqui começa o cemitério
Dos famintos da terra.
Fajonquito, 20/06/1985
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Nota do editor:
Últimpo poste da série > 4 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10325: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (37): Guerra de titãs, o Almeida Comando contra o Vilar Pára
Vd. alguns dos primeiros postes da série:
19 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4553: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (1): A primeira visão, aterradora, de um helicanhão
24 de Junho de 2009 > Guine 63/74 - P4567: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (2): Cambajú, uma janela para o mundo
25 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio
30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4611: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (4): O ataque dos meus primos a Cambajú e o meu pai que foi um herói
6 de julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4646: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (5): A família extensa, reunida em Fajonquito, em 1968
13 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4679: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (6): Uma gesta familiar, de Canhámina a Sinchã Samagaia, aliás, Luanda
21 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4714: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (7): As profecias do velho Marabu de Sumbundo
27 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4746: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (8): Misérias e grandezas de Fajonquito, 1970/75
5 de Agosto de 2009 >Guiné 63/74 - P4782: Memórias do Chico,menino e moço (Cherno Baldé) (9): Futebol, rivalidades, bajudas... e nacionalismos(s)
30 de Junho de 2010 >Guiné 63/74 - P6661: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (16): Canhámina, 1974: o fim do triângulo da vida e do poder do regulado de Sancorlã
4 comentários:
No rescaldo da guerra...por aqueles caminhos de terra vermelha, cheia de mangas e folhas mortas, corriam putos de olhos vivos e de barriga ao léu...serias um deles, Chico...hoje és muito mais ...e um poeta puro como a tua terra virgem.
Parabéns
....esqueci-me de assinar...
Joaquim Luis M.Mendes Gomes
Cherno, irmaozinho: A nossa terra, a pequena e a grande, a tabanca e o país, será sempre a mais mágica do mundo...porque é única. Estabelecemos com ela uma relação de amor-ódio ao longo da vida. Atrai-nos e repeles-nos. Essa vinculação é muito forte. Há quem lhe chame a "voz do sangue". Não gosto da expressão. E é forte por que está ligada, não tanto ao sítio onde nascemos (biologicamente falando) mas sobretudo onde fomos "meninos e moços" (mais felizes, menos felizes: a felicidade é um conceito de adulto...).
Parabéns pelo teu poema! Temos mais para publicar...
PS - mandei-te pelo Pepito, que já regressou a casa, o livro autografado sobre a CCAÇ 2317, que esteve em Gandembel/Ponte Balana (1968), oferta do autor, Idálio Reis, antigo alferes, hoje engenheiro agrónomo reformado. Tens de passar pela AD ou pela casa do Pepito, no bairro do Quelelé.
Caro Cherno
Temos então mais um poeta! Pois acho que fizeste bem em exprimires assim os teus sentimentos, as tuas memórias sobre os lugares da tua infância.
Gostei de ler.
Abraço
Hélder S.
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